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Greta lembrou-se daqueles olhos azuis que não paravam de encará-la. Era impossível trabalhar com aqueles olhos a observando de longe o tempo todo.
- Greta, tem que prestar atenção! – Disse Deise, brigando com a jovem pela quinta vez.
Mas como ela poderia se concentrar? Cada vez que ela olhava em sua direção, ela encontrava seus olhos azuis a observando.
A garota balançou a cabeça na intenção de afastar seus pensamentos.
- Esse ou esse?
Saiu dos seus pensamentos com a voz da jovem um pouco mais velha que ela que segurava dois vestidos em suas mãos do mesmo modelo, só que de cores diferentes. Preto e vermelho. Greta ficou calada, não entendia nada do que ela estava mostrando.
A jovem bufou.
- Como você saberia, não sabe nada de moda. - Ela foi até o espelho. - Toda vez que te vejo sem esse uniforme, você está usando aquelas roupas que cobrem até sua alma. - Ela colocou um vestido de cada na frente do corpo.
- É uma forma de guardar meu corpo para que os homens não pequem, Srta. Louise – Disse Greta, pronunciando o que as irmãs do orfanato sempre ensinaram.
Louise olhou para Greta que estava sentada em uma poltrona no meio do quarto imenso.
- Greta, você é muito bonita, sabia, tem que vestir roupas que valorizem a sua beleza. – Disse Louise
Louise suspirou e finalmente escolheu um dos vestidos, deixando o outro de lado.
- Gosto desse, - O vermelho. - é mais fácil de tirar. - Sorriu para Greta. - Pode ir Greta, obrigada por arrumar meu quarto.
- De nada, com licença. - Saiu do quarto.
Greta não entendia essas pessoas da cidade. No orfanato onde onde morou tudo era tão mais simples. Apesar das dificuldades, havia uma certa simplicidade e honestidade naquela vida que ela sentia falta. Não havia necessidade de se preocupar com aparências ou com o que os outros pensavam. Eram todos iguais, todos lutando para sobreviver e encontrar um lugar no mundo. A jovem desejou nunca ter crescido.
- Greta não é?
Saiu dos seus eus pensamentos com uma voz grossa e rouca.
Era o Sr. Rafael.
- Sim, senhor – Disse ela.
- De onde você é? - Perguntou ele.
Sentiu seu coração acelerar, não sobre a pergunta em si, mas a maneira como ele a olhava e se dirigía a ela. Ela tentou manter a calma e responder de forma educada.
- Eu sou de uma pequena cidade do interior do Goiás, senhor. – Respondeu, mantendo sua voz firme.
Rafael assentiu, parecendo interessado.
- E como você veio parar aqui? - Ele perguntou, se aproximando um pouco da jovem.
Greta hesitou por um momento, não tinha certeza de quanto deveria compartilhar. Mas decidiu que não havia nada a esconder.
- Eu cresci em um orfanato, senhor. Quando completei dezoito anos, tive que sair e a Madre arrumou esse emprego, porque a sua mãe, A Sra. Julie faz caridade para o orfanato onde eu cresci e me deu essa oportunidade. – Explicou, olhando para ele.
Greta encontrou-se presa no olhar daquele homem. Seus olhos eram de um azul profundo e intenso, como o oceano em uma noite clara. Eles eram hipnotizantes, e Greta sentiu como se estivesse se afogando neles. Ela tentou desviar o olhar, mas algo a impedia. Havia algo naqueles olhos que a atraía, algo misterioso e sedutor. Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha e engoliu em seco. O homem sorriu ao ver a reação de Greta. Ele se aproximou ainda mais, diminuindo a distância entre eles. Greta podia sentir o calor de seu corpo e o cheiro de seu perfume, o que a deixava ainda mais nervosa.
- Gosta do que vê, Greta? - perguntou ele, com um sorriso malicioso nos lábios.
Greta sentiu suas bochechas corarem e rapidamente desviou o olhar, tentando esconder o rubor que sentia subindo pelas suas bochechas. Ela não sabia o que dizer ou fazer. Ela estava confusa e assustada, mas ao mesmo tempo, intrigada por aquele homem. Ela nunca tinha estado tão perto assim de um homem.
- Quantos namorados já teve, Greta?
- Namorados? – Arregalou os olhos. - Eu... Nunca tive u... Um namorado.
- Não acredito, uma menina tão bonita e inteligente como você, nunca teve um namorado.
Rafael ergueu sua mão para o queixo da jovem erguendo sua cabeça
- Já disse que quando estou falando gosto que olhem para mim.
Greta levantou a cabeça, olhando diretamente para Rafael. Seus olhos estavam sérios, mas não havia dureza neles. Ela engoliu em seco, sentindo um nó na garganta.
- Desculpe, Sr. Rafael. Eu... eu vou lembrar disso. – Eu ela, tentando manter a voz firme.
Ele assentiu, parecendo satisfeito com sua resposta.
- Bom. É importante manter contato visual quando alguém está falando com você, Greta. Mostra respeito e atenção. – Ele explicou, soltando seu queixo. - Você tem uns olhos lindos, gosto de olhar para eles.
- Obrigada! - Agradeceu. - Mas agora eu preciso trabalhar. - Sua voz saiu quase com um sussurro.
- É claro. - Ele assentiu dando passagem para que Greta passasse.
O homem apenas sorriu e a observou enquanto ela se afastava. Ele sabia que havia conseguido mexer com Greta, e isso o deixava satisfeito. Não ficaria entediado nessa cidade.
Greta respirou profundo, sentindo uma mistura de alívio. Quando chegou na cozinha, foi imediatamente beber água.
- O que foi, menina? - Nanda perguntou, com uma expressão curiosa. - Parece que viu um fantasma.
Bebeu toda a água do copo, se acalmando. Greta olhou para a senhora a sua frente. Estava relutante sobre a pergunta que iria fazer, mas logo decidiu.
- Nanda, acha que o Sr. Rafael olharia para uma pessoa feita eu?
Nanda suspirou.
- Quer um conselho? - Perguntou ela.
Greta balançou a cabeça, sim.
- Fique longe do Sr. Rafael. Greta, você é uma pessoa especial e merece alguém que te valorize e te ame de verdade. O Sr. Rafael pode ser um homem atraente e interessante, mas talvez não seja a melhor escolha para você. Você merece alguém que te respeite e te trate com carinho e amor verdadeiro. - Ela disse, com um olhar sério.
A jovem sentiu uma pontada no coração.
Lembrou-se das coisas que Rafael disse para ela, se perguntando porque as pessoas da cidade complicavam tudo. Mas talvez Nanda tinha razão, o Sr. Rafael não olharia para uma empregada.
- Obrigada, Nanda, pelo conselho.
Agora que Greta sabia o que merecia, se manteria longe de Rafael, ela não queria que ele machucasse seu coração.
***
Pegou a jarra vazia em suas mãos e caminhou em direção à cozinha da casa. Estava tão cansada. Greta sentiu um leve arrependimento de não ter feito isso mais cedo, mas sua mente estava tão ocupada com o trabalho e com o Sr. Rafael que acabou se distraindo. Ao entrar na cozinha, colocou a jarra na pia e começou a encher com água fresca. Estava quase dormindo em pé quando ouviu passos vindo em direção a cozinha.
Quem poderia estar acordado a essa hora?
Ao se virar, viu uma silhueta de alguém, e se aproximando mais ela pode ver que era o Sr. Rafael. Estava usando apenas uma calça moletom de cinza deixando seu peitoral de fora.
Greta virou-se para a pia, sentindo suas bochechas imediatamente esquentaram.
- B...boa noite – Desligou a torneira.
- Boa noite – Disse ele. - Vim apenas tomar água.
Deixou sua jarra de água de lado e foi ajudá-lo.
- Não se preocupe, Sr. Rafael. Estou aqui para ajudar. Deixe-me pegar um copo de água para o senhor. - Ofereceu pegando um copo e se dirigindo até a pia.
Enquanto enchia o copo com água, Greta sentiu o olhar do homem sobre ela. uma sensação estranha, mas tentou não dar muita importância.
- Obrigada, Greta. – Ele agradeceu, pegando o copo de suas mãos.
Engoliu em seco.
Não conseguia se sentir a vontade com aquele homem quase desnudo na sua frente
- Com licença. – Se virou.
- Por que foge de mim?
Greta se virou novamente para o homem ao ouvir sua voz, surpresa com a sua pergunta direta. Ficou momentaneamente sem palavras, tentando encontrar uma resposta adequada.
- Não... Eu...
Ele se aproximou.
- Não gosta da minha presença?
Ele sabia perfeitamente que não era isso.
Ela abaixou a cabeça.
- Olha para mim, Greta. – Disse meio autoritário. A jovem levantou a cabeça imediatamente. - Não gosta da minha presença?
- Acredito que devemos ter uma relação só de empregado e patrão. – Falou rapidamente. - Acho que não podemos ser amigos, sua família não iria gostar.
Rafael riu da sua inocência. - Amigos! - Ele não queria a amizade dela. - Você é engraçada.
Greta se sentiu ofendida.
Ela era engraçada para ele?
- Acho que quem tem que decidir isso sou eu, e como empregada, você deve obedecer as minhas ordens. – Seu tom de voz pareceu ameaçador.
Ela não iria competir.
- Sim, senhor. – Disse, apenas.
- Pode ir se deitar, imagino que esteja cansada.
- Com licença. - Agradeceu com um breve aceno de cabeça e se retirou da cozinha, seguindo em direção ao seu quarto.
Fechou a porta do seu quarto, e se permitiu respirar fundo, buscando acalmar suas emoções. Sentiu sede diante daquele situação.
- Burra! – Disse lembrando-se que esqueceu sua jarra com água.
Não iria voltar, de jeito nenhum. De alguma forma aquelas palavras e jeito com ele as disse, deixou Greta assustada, ela sentia no fundo do seu coração que aquilo não era coisa boa.