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ATO III (Lésnar)
As lágrimas, como pequenos rios de dor e arrependimento, traçam caminhos salgados por minha face, marcando a pele com o peso da decisão. Cada gota que escapa dos meus olhos é um lembrete pungente da escolha que fiz: deixar minha irmã, Réslar, entregue à sua sorte cruel. A força gravitacional do meu coração parece me puxar para trás, para ela, mas cada fibra do meu ser sabe que não posso, não devo olhar para trás. Virar-se significaria enfrentar a realidade esmagadora da minha ação: abandonar minha própria carne e sangue em um momento de desespero mortal.
O sol, impiedoso em sua jornada pelo céu, verte raios inclementes sobre mim, como se cada um fosse um julgamento ardente pelos meus atos. O calor onipresente torna-se um reflexo tangível do conflito que arde dentro de mim, um lembrete constante de Réslar, apesar de sua coragem, estando sozinha e vulnerável. Meu corpo, exausto e superaquecido, clama por descanso, uma pausa na tormenta emocional e física que me consome.
Em meio ao terreno hostil, meus olhos cansados avistam uma salvação temporária: uma entrada estreita, quase oculta, conduzindo a um buraco que promete um breve alívio. Com movimentos arrastados, cada passo uma batalha contra a exaustão, me arrasto em direção a essa promessa de refúgio. A entrada do buraco, escura e convidativa, é como um portal para outro mundo, um onde talvez eu possa escapar, mesmo que momentaneamente, do peso das minhas escolhas.
A umidade do interior do buraco me envolve em um abraço frio. A escuridão, no entanto, é mais do que a ausência de luz; é um véu que cobre meus pensamentos, uma cortina pesada que separa a realidade da ilusão de paz.
Neste refúgio úmido e sombrio, permito-me desabar, meu corpo encontrando o chão com uma resignação cansada. A terra fria e úmida sob mim é um leito improvisado, mas bem-vindo. Enquanto me encolho, abraçando meus joelhos contra o peito em um gesto de autoproteção, as emoções que eu luto para conter começam a emergir. A solidão, o medo, a tristeza: todas se manifestam em um chuva que ameaça me afogar.
Cada respiração é pesada com o peso do que eu fiz, e o que ainda preciso fazer. Na escuridão daquele buraco, sou ao mesmo tempo a caçadora e a caça, perseguindo a redenção e fugindo dos fantasmas do meu passado recente. Aqui, na solidão dessa escuridão, tenho que encontrar a força para continuar, para enfrentar o que virá a seguir.
Envolvida na quietude do esconderijo úmido, a urgência de uma missão crucial permeia meus pensamentos. - Preciso avisar os outros - murmuro para mim mesma, minhas mãos, trêmulas, vasculham a bolsa em busca de materiais para um meio de comunicação improvisado. Encontro uma estaca robusta e algumas pedras de areia, e começo a compor uma mensagem.
A estaca, agora transformada em um suporte para minha missiva, é cuidadosamente posicionada diante de mim. Cada grão de areia que coloco sobre ela moldando uma carta crítica para Theos. "Theos, suas suspeitas estavam certas," escrevo, a areia aderindo à estaca como se compreendesse a gravidade da mensagem. "Máterum planeja um ataque contra nós," continuo, minha escrita se tornando cada vez mais apressada à medida que escrevo.
"Alguns seres desconhecidos atacarão Zaranler em breve," adiciono, sentindo um arrepio de medo ao pensar nas criaturas e na ameaça que representam. "Nossas posições foram comprometidas; logo, informações são escassas, mas prometo enviar mais assim que possível." escrevo.
A carta, agora quase completa, é um testamento da nossa vulnerabilidade. "Quando esta mensagem lhe alcançar, é provável que tanto Réslar quanto eu estejamos nas mãos de Máterum." admito. "Mas imploro, não se detenha por nós." imploro com tinta invisível, "Priorize a segurança de Zilevo e dos demais. E por favor, seja cauteloso!"
A carta termina com uma observação que me atormenta: "suspeito que os seres desconhecidos possam ser os planetas desaparecidos. Máterum deve tê-los transformado em entidades vivas enquanto estávamos em Salacrum."
Com a carta completa, desamarro cuidadosamente meus longos cabelos, cortando uma mecha para atar a mensagem à estaca. As folhas vermelhas da bolsa são usadas para selar a carta.
Respiro fundo, fechando os olhos por um breve momento, sentindo a umidade fria do esconderijo em minha pele. Com um movimento suave das mãos, invoco o poder criacional dentro de mim, uma energia que flui dos meus dedos para a carta. - Que estas palavras cruzem os céus e encontrem Theos... antes que seja tarde demais - oro, observando o poder envolver a mensagem, transformando-a em algo mais do que palavras: um pedido de ajuda, um sinal de alerta.
Com um último olhar para a carta, envio-a através das dimensões, esperando que encontre Theos a tempo. A energia se esvai de mim, deixando-me exausta, mas com um sentimento de dever cumprido. Agora, resta apenas esperar e sobreviver, na esperança de que a ajuda chegue antes que seja tarde demais.
ATO IV (Lésnar)
Após um punhado de minutos angustiantes, desde que enviei a mensagem crucial, os sons abafados de vozes invadem a quietude da minha escondida toca.
- Estamos procurando por ela faz horas, acho melhor nós voltarmos - comenta uma voz rouca e cansada, tingida de frustração.
- E arriscar ouvir um sermão de Máterum por nossa falha? Nem pensar! - rebate uma voz feminina, firme e incisiva. Enquanto ela fala, o som de passos cautelosos se aproxima - Olhe! Aqui tem pegadas recentes na areia. Ela deve está por perto.
Meu coração acelera com a proximidade. Mantenho a respiração controlada, tentando não emitir um único som que possa me denunciar. Meus olhos varrem a escuridão do meu esconderijo, buscando qualquer sinal de que fui descoberta.
De dentro da caverna, observo furtivamente através de uma discreta abertura no teto, a fonte daquela voz feminina. A figura que se revela diante de mim é um contraste surpreendente em relação à sua companheira mais ríspida. Ela parece uma musa de um poema feito pelo Universo.
Seus cabelos, castanhos e ondulados, emolduram seu rosto com a suavidade de folhas ao sabor do vento outonal. Cada mecha joga sombras delicadas sobre suas feições. Seus olhos são duas amêndoas brilhantes, irradiando a calorosa tonalidade do âmbar, cercados por longos cílios e, encimados por sobrancelhas que desenham arcos perfeitos.
A pele da deusa é parda, sem mácula. Seu nariz é elegante e sutilmente desenhado e seus lábios em um contorno suave de cor pêssego. O queixo levemente apontado confere-lhe uma aparência delicada.
Observo enquanto ela vasculha o ambiente com olhos atentos, eu me encolho ainda mais no meu esconderijo, consciente do perigo que sua presença representa.
- Preciso atacá-las antes que elas me achem...- pensava, saindo precipitadamente do esconderijo ao perceber a criatura albina inclinar a cabeça para baixo, presumindo que havia me visto.
Em um momento de pura adrenalina, meus dedos trêmulos mergulham na bolsa e emergem com cinco shurikens de madeira.
A albina percebe minha presença, e seus olhos se estreitam em alerta. Sem hesitar, lanço as shurikens na direção da deusa ao lado dela.
- Cuidado, Korla! - A albina grita, avisando a deusa distraída que se vira e, num movimento quase coreografado, gira seu bastão e, intercepta e desvia as shurikens, uma após outra, pelo giro ininterrupto do bastão.
Mas esta dança de defesa não é sem suas consequências. Uma das shurikens, desviada com menos precisão, raspa a pele de seu braço, abrindo um talho que logo começa a se encher de sangue. A vermelhidão viva pintando a pele parda de Korla.
Korla, com um olhar calmo, examina o ferimento superficial em seu braço. O sangue escorre lentamente, uma trilha rubra descendo pelo seu antebraço. Apesar da dor, seus olhos não perdem o foco.
A albina, conhecida como Toihid, se posiciona diante de mim. Ela é maior que a maioria dos deuses que já vi, uma gigante de pele alva e músculos protuberantes. Seu rosto um contraste com a beleza de Korla, seu nariz achatado, orelhas pontiagudas, curvadas para trás, e testa curta, exalam uma ameaça selvagem. Seus lábios carnudos se curvam em um sorriso amarelado.
Não há cabelo para enfeitar sua cabeça, apenas a suavidade pura de sua pele que se estende até o alto crânio. Seus olhos são grandes e amendoados, sem vestígios de íris ou pupila. Acima desses olhos sem vida, não há sobrancelha.
Seu primeiro soco é um vulto, mirando minha cabeça. Com um mergulho desesperado, esquivo por pouco, sentindo o vento de seu punho passar raspando. Rapidamente me reequilibro e ataco, desferindo um chute lateral que é bloqueado por seus antebraços maciços.
O bloqueio de Toihid é eficiente, seus músculos se contraem, absorvendo o impacto do meu chute. Uma onda de dor irrompe pelo meu pé, uma consequência aguda da resistência monstruosa da albina.
Toihid, como um monstro desencadeado, lança-se sobre mim com um rugido de desafio. Seus socos são brutos. Desvio e bloqueio como posso, mas a cada contato, meus ossos tremem com o impacto. Toihid ri, uma risada de sadismo, como se estivesse se deliciando com minha luta desesperada e zombando da minha resistência.
De repente, um soco de Toihid encontra seu alvo. A força do golpe é monstruosa, atingindo meu estômago com a intensidade de um meteoro. O impacto é tão violento que o ar é expulso dos meus pulmões com um som abafado, deixando-me ofegante e dobrada em agonia, o gosto de sangue invade minha boca.
Aproveitando-se do meu momento de fraqueza, Toihid agarra meu cabelo, levantando-me como se eu fosse um troféu. Sinto cada fio de cabelo puxando meu couro cabeludo. Seus olhos estão fixos nos meus, um olhar de vitória predatória.
Com um esforço gigantesco, luto contra a agonia que domina meu corpo, reunindo cada fagulha de força que me resta. Meu punho, guiado por um instinto primal de sobrevivência, dispara em direção ao rosto de Toihid. O som do impacto é um estalo úmido, a sensação do osso encontrando carne e cartilagem. Sangue espirra, um vermelho vivo, marcando sua pele alva com a evidência da minha resistência.
Toihid, surpreendida pela minha investida, tropeça para trás, seus olhos se arregalando em raiva. Vejo o sangue escorrendo pelo seu rosto, salientando sua expressão de ódio visceral.
Mas a pausa é efêmera. Ela se recupera rapidamente e, com um grito ensurdecedor de ódio, avança novamente, sua fúria amplificada pela ferida que lhe causei. Seu punho, carregado com uma força selvagem, acerta meu crânio com brutalidade. Sinto o mundo girar violentamente enquanto meus ossos cedem sob a pressão do impacto. Um clarão de dor explode em minha cabeça, uma sensação de fragmentação que me arrasta para a inconsciência por breve momento, e quando percebo já estou no chão.
A areia embaçando minha visão já turva pelo sangue e suor. Uma dor latente em meu crânio ferido. Luto para manter a consciência, para não me perder na escuridão que se fecha ao meu redor.
Caída no chão, encaro a ameaçadora figura de Toihid erguendo-se sobre mim, uma sombra colossal que prenuncia a morte. Ela levanta seu punho, preparando-se para desferir o golpe fatal. No entanto, em um êxtase de adrenalina, reúno as últimas reservas de minha força e, chuto com toda a força em seu abdômen. A albina se contorce de dor, seu corpo maciço se afastando do meu.
Sem perder um segundo, rolo para longe e, atiro uma rajada de shurikens em Korla, que tenta se aproximar, mas, com habilidade surpreendente, ela gira seu bastão e, num movimento ágil, retira duas shurikens cravadas nele, lançando-as de volta contra mim.
Salto, formando um arco desajeitado no ar, enquanto desvio dos projéteis letais. Estendo meus dedos, tentando recuperar as armas no voo. Entretanto, antes que pudesse atingir o chão, Toihid aparece repentinamente, suas mãos enormes agarrando meu pescoço, suspendendo-me no ar.
- Achou mesmo que poderia fugir de mim? - Questiona Toihid, apertando meu pescoço. Sua força é avassaladora, seus dedos apertando como uma corda ao redor da minha garganta. Engasgo, lutando por cada lufada de ar enquanto me debato em suas garras. Seus olhos, sem cor, olham para mim com desdém, como se eu fosse uma criatura inferior que deveria ser abatida.
- Não mate ela, Toihid. Não se esqueça das ordens de Máterum - avisa Korla com a mão sobre o pequeno machucado na coxa esquerda.
- Não esqueça as ordens de Máterum, Toihid - Korla intervém, sua voz cautelosa. - Ela não deve morrer. - Sua mão pressiona o ferimento na coxa, o sangue formando uma mancha escura em seu traje.
Sinto a pressão em meu pescoço diminuir ligeiramente. Com um lampejo de esperança, contorço meu corpo em um esforço desesperado, meus pés batendo contra o tronco robusto de Toihid, mas é como chutar uma montanha. Ela ri da minha tentativa inútil, um som que faz meu sangue ferver.
- Não se preocupe, Korla. Só a machucarei um pouco - Toihid responde, sua voz em um tom de prazer perverso. Com um movimento brusco, ela me lança ao chão. O impacto é brutal, como se cada osso do meu corpo gritasse em uníssono. A areia se ergue ao meu redor enquanto luto para recuperar o fôlego.
Ao chão, cada respiração uma luta, enquanto a dor lateja em meu pescoço marcado. Nesse meio tempo, posiciono duas shurikens entre meus dedos, prontas para serem lançadas. Toihid se aproxima, sua postura arrogante e confiante, como se já soubesse o resultado dessa batalha.
Minha mente corre freneticamente em busca de um plano, - Como posso atacar um monstro com reflexos tão rápidos? - mas sou interrompida quando Toihid avança, seu punho como um projétil em minha direção. Intercepto seu golpe no último segundo, minha mão chocando-se contra seu punho. Com agilidade, apoio meu pé em sua coxa, sentindo o músculo tenso sob minha sola, e com um impulso, desfiro um chute em seu abdômen.
Toihid é empurrada para trás pela força do meu chute. Seu corpo maciço balança, e por um momento, seus olhos expressam uma centelha de surpresa. Ela recua, mas apenas por um instante, recuperando-se rapidamente. Sua expressão, antes confiante, agora mistura-se com uma fúria crescente.
Korla, observando a cena, exclama: - Sua resistência é admirável, - sua voz é calma, mas carrega um tom de aviso sombrio. - mas fútil, Lésnar! Não será pare a para nós duas! Renda-se, antes que se machuque mais - aproximando-se, rodopiando o bastão.
- Nunca! - Respondo.
Korla avança com uma agilidade felina, seus movimentos são como uma dança letal de violência controlada. Ela gira o bastão com maestria, o ar vibra com o zunido do bastão, cada movimento seu desenhando arcos mortais no espaço entre nós.
Esquivo ao máximo, mas ela não deixa brechas para recuar e, a dor e a exaustão começam a tomar conta.
Meus reflexos são testados ao extremo, esquivando-me de cada golpe por um triz. Mas ela não deixa brechas para recuar e, a dor e a exaustão começam a tomar conta, cada movimento meu se torna mais lento, mais arriscado.
Um golpe do bastão atinge meu antebraço, um som de madeira contra carne soa, uma dor aguda irrompe, irradiando pelo meu braço e, um fino filete de sangue escorre, um vermelho vivo.
Korla, com seu semblante sereno, murmura - Tão determinada, Lésnar, mas completamente superada - rodopiando o bastão. Cada movimento dela é um aviso claro: não há escapatória.
Eu me forço a continuar, a resistir, apesar do medo e da dor que me consomem. - Não posso desistir - penso, tentando manter a guarda alta. A luta é desesperada, uma batalha não apenas contra Korla, mas também contra meu próprio corpo, que grita por descanso.
Korla, percebendo minha exaustão, aumenta a intensidade de seus ataques. Cada golpe seu é mais rápido, mais feroz, um turbilhão de violência que não mostra sinais de desacelerar.
Eu recuo, cada passo trás um esforço doloroso. Meus pulmões queimam, meu coração bate descontroladamente. - Não posso cair agora - eu me forço a pensar, apesar da escuridão que começa a se fechar ao redor da minha visão, o mundo se tornando um borrão de dor e desespero.
Toihid, furiosa, se junta à batalha. Ela dispara contra mim, mas outra vez intercepto seu punho, segurando-a com uma força inexplicável. Com uma explosão de força, meu pé se lança contra o peito da albina. Os músculos de Toihid absorvem a força, mas, desta vez, o impulso é forte o suficiente para jogá-la para trás, o seu corpo colossal batendo no chão. A poeira se levanta ao redor dela, um halo de violência.
Korla, presenciando a queda da sua companheira, arremessa três shurikens, que estavam no chão, contra mim. Com um giro ágil, desvio das shurikens sem problemas, mas o ataque me força a me afastar de Toihid.
A Albina se ergue, consumida pela fúria. Seus dentes, amarelados e ameaçadores, rangem em um eco de raiva. - Não se meta, Korla! - Ela exclama, mantendo os olhos furiosos em mim. - Você vai morrer!
- Estou usando toda minha força, mas nem sequer arranhei essa besta - penso, executando um salto mortal para trás, esquivando do agarram de Toihid direcionado as minhas pernas. - Arf! Se ela me agarrar, será meu fim - reconheço, meus músculos gritando de dor a cada movimento, meu corpo respondendo com uma série de esquivas acrobáticas, desviando de outro agarram.
A adrenalina se torna minha aliada, pulsando em cada veia, cada célula vibrando em alerta máximo. Toihid ataca novamente, seus braços como guilhotinas buscando me quebrar ao meio. Com movimentos ágeis, esquivo de seus abraços mortais, cada um mais perigoso que o anterior, trazendo um vendaval de força que me empurra para trás.
A areia sob meus pés, antes firme, agora parece se mover contra mim, um desafio adicional à minha já exausta resistência.
Toihid, com um rugido de frustração, avança novamente, seu punho, um meteoro de força bruta, mira minha cabeça. No último segundo, me lanço para o lado, evitando por pouco o impacto que teria sido o fim. A terra treme com o impacto, criando uma cratera onde eu estava.
Pensamentos de desespero surgem em minha mente. - Não vou aguentar mais nenhum golpe. Não posso deixar que ela me acerte - a consciência da minha situação me enchendo de um terror frio. Minha respiração é ofegante, cada desvio um tributo à minha exaustão, mas a adrenalina da sobrevivência me mantém de pé. O sangue escorrendo de pequenos cortes, um testemunho silencioso da proximidade da morte.
Toihid também antecipa cada um dos meus movimentos. Quando desfiro um soco mirando seu rosto, ela se esquiva com uma destreza perturbadora, seus reflexos um borrão de velocidade. Em um contra-ataque feroz, ela dispara um chute poderoso em minha dorsal. Bloqueio o golpe com meus antebraços, mas o impacto é como um sentença final. Sinto os ossos dos meus antebraços vibrarem dolorosamente, uma sensação de quebra iminente invadindo cada nervo.
Empurrada para trás pelo golpe, sinto minha resistência desmoronar. Meus braços vacilam, e minha defesa se desfaz. Toihid, reconhecendo sua vantagem, avança para o golpe final, sua silhueta uma sombra ameaçadora que se aproxima rapidamente.
Com o pouco de força que me resta, impulsionada por um resquício de adrenalina e desespero, atiro uma rajada de shurikens em sua direção. Os projéteis são rápidos, mas Toihid, com um rugido, chama por sua companheira.
Korla, ágil e atenta, lança o bastão para Toihid, que o agarra no ar e, girando-o habilmente, criando uma barreira intransponível que desvia cada um dos meus projéteis.
As shurikens caem no chão, inúteis, enquanto Toihid, imparável, avança com o bastão girando. Desvio desesperadamente, mas cada movimento é um tributo à dor e exaustão. Por um instante fatal, minha consciência se apaga, o mundo escurecendo ao redor.
Contudo, no último momento, antes da escuridão total, minha mente clareia e percebo que estou caindo. Rolo na areia, um movimento instintivo de sobrevivência, evitando por pouco o golpe mortal do bastão de Toihid. Durante minha queda, meus olhos capturam um vislumbre de algo que poderia ser minha salvação, um fio de esperança em meio ao caos da batalha.
Minha mente corre freneticamente, tecendo um plano enquanto me esquivo e bloqueio os golpes imparáveis de Toihid. Cada ataque trazendo o risco de ser o último.
- Só preciso ganhar tempo, manter a luta por mais alguns minutos - murmuro para mim mesma, um mantra de esperança.
Diferente de mim, Toihid não mostra sinais de cansaço. Seus olhos, frios e desprovidos de cor, estão fixos em mim, calculando cada um dos meus passos. Sua força é esmagadora, seus golpes, um assalto constante contra meus sentidos.
Korla, um pouco afastada, observa a luta com seu olhar calmo. Sua postura é a de alguém que sabe que a vitória é certa. Seus olhos seguem cada movimento meu, antecipando o fim.
Dentro de mim a agonia supera qualquer outro sentimento - Não vou aguentar mais - penso, meus músculos doem, meus ossos gritam em desespero, mas ou continuo, ou é o fim. Cada esquiva é apenas um adiamento contra o destino que parece inevitável.
- Se eu apenas puder manter isso por mais alguns minutos - repito em minha mente, minha visão já borrada, apenas vendo o vulto branco que me ataca em contraste com o amarelado dourado da areia sob o Sol. - Preciso de uma brecha, um momento, qualquer coisa. - A esperança, tênue e frágil, persiste em meio à dor e exaustão. É essa esperança que me mantém em pé, lutando contra as sombras da derrota.
Embora cada músculo do meu corpo implore por descanso, uma força interior me mantém de pé, resistindo à exaustão. Levanto os olhos para Korla, minha adversária, sentada sobre uma imensa pedra de areia. Ela me observa atentamente. Apesar da nossa inimizade, há uma centelha de admiração em seu olhar, como se ela reconhecesse e valorizasse a tenacidade que demonstro.
A luz do sol se reflete sobre o sangue seco que mancha sua coxas. Mas Korla parece indiferente à dor e ao desconforto da ferida. Seu rosto mantém-se sereno e imperturbável. Sua expressão é uma máscara de concentração e calma, os traços impecáveis de uma deusa.
Seus olhos não se desviam, fixos em mim com intensidade. Posso sentir o peso de seu olhar, avaliando cada um dos meus movimentos, me lembrando a todo momento que, ainda que eu vença Toihid, ela está pronta para me enfrentar.
Mas, apesar disso, por um breve instante, Korla deixa escapar um olhar de compaixão para mim. Seus olhos não compactuando com a agressividade de Toihid. Ela inclina a cabeça ligeiramente, seus cabelos dançando ao vento, e suas palavras chegam até mim como um julgamento sombrio: - Desista, Lésnar. Toihid é mais veloz, mais forte. Você está apenas adiando o inevitável. - Suas palavras, embora cruéis, carregam uma verdade que sinto em cada músculo dolorido do meu corpo.
- Você é uma excelente guerreira, mas já está na hora de parar - seu tom é implacável, mas não sem uma pitada de respeito relutante. Ela reconhece minha bravura, mesmo enquanto destaca a futilidade de minha luta. Sua expressão é impassível, mas seus olhos traem uma ponta de admiração por minha persistência.
Eu, por outro lado, me encontro em um estado de exaustão extrema, meus músculos tremem sob o peso da dor e do cansaço. O suor mistura-se com a poeira e o sangue em minha pele, formando rastros sujos que marcam meu esforço. Minha respiração é ofegante, cada inspiração é uma luta. Apesar da verdade nas palavras de Korla, uma centelha rebelde de desafio ainda arde em meu peito. Meu olhar, embora nublado pela dor, ainda não me permite desistir.
Toihid, ainda imponente e ameaçadora, não se comove com a cena e persiste em seus ataques. Cada passo dela faz a areia vibrar sob meus pés, enquanto tento em vão manter distância, meus músculos exaustos mal respondendo aos meus comandos desesperados.
Eu recuo, mas ela é implacável. - Só preciso de mais tempo - Eu recuo, mas ela é implacável. "Só preciso de mais tempo", penso, mas Toihid, como se lesse meus pensamentos, se adianta com velocidade estonteante. Suas feições distorcidas em raiva e satisfação, ela grita: - Tola! - Seu punho se chocando contra meu peito com tamanha força que faz meu corpo sair do chão.
Enquanto voo pelo ar, o céu se torna uma aquarela de dor: tons de vermelho e azul se mesclam em minha visão turva. O choque com o solo é um martírio: cada osso do meu corpo protesta contra o abuso. Sinto o sabor do sangue inundando minha boca, enquanto a areia, misturada ao líquido vermelho e espesso, se aloja nos cantos de meus lábios rachados.
- Foi mais forte que pensei... - consigo pensar, antes que os dedos de Toihid enlacem meu pescoço.
Ela aperta com uma força desmedida, cada vez mais sufocante, esmagando minha traqueia. Minha visão se enche de manchas escuras, minha respiração se torna um sopro débil e agoniado.
Toihid olha para mim, seus olhos desprovidos de compaixão. Ela saboreia cada momento do meu sofrimento, um sorriso macabro se desenha em seus lábios enquanto aperta ainda mais. Sinto os ossos do meu pescoço rangendo sob a pressão, a agonia se intensifica até se tornar a única realidade que conheço.
Nesse momento de desesperança, sinto a consciência escapando, a escuridão se aproximando como um véu frio e impiedoso. Meus últimos pensamentos é uma súplica silenciosa por um resgate que sei que não virá. Enquanto a escuridão me envolve, a última coisa que vejo são os olhos frios e vazios de Toihid, a personificação do fim que veio me buscar.
ATO V (Réslar)
Encurralada e exausta, eu me abrigo entre as sombras das imensas pedras de areia. Cada respiração é uma batalha contra a agonia, enquanto o sangue que escorre de meus ferimentos pinta a areia de vermelho sombrio. Meus ossos, muitos fraturados, gritam por descanso, mas a vontade de sobreviver é mais forte.
Agonizantemente, encho a bolsa com areia, um peso adicional que promete ser útil em um confronto inevitável. - Ou me levanto, ou morrerei aqui - penso. O tempo é um luxo que não tenho; cada segundo perdido é um convite para a morte. Apoio as mãos trêmulas no chão frio e me arrasto, as costas raspando na parede áspera das pedras.
Com passos torturantes, avanço, cada movimento um triunfo da vontade sobre o corpo. Meu pensamento está focado em uma única missão: encontrar Lésnar. A cada passo, a realidade da minha situação me golpeia: estou no limite das minhas forças, e a cada momento, a morte se aproxima silenciosamente.
Um passo seguido de outro e mais outro; até, por fim, sair da área de pedras, onde me encontro com o fim. O mundo ao meu redor se torna um borrão, um cenário distante e irreal. A única coisa real é a dor, a exaustão e a resoluta recusa de me entregar ao destino que me persegue.
Dor excruciante envolve meu peito, como se cada fibra do meu ser estivesse sendo dilacerada. Minha visão, turva e instável, oscila entre a realidade e a escuridão. Olhando para baixo, meu coração se aperta ao ver a estaca ensanguentada, embebida em sangue e adornada por fios dos meus cabelos ruivos, cravada nas minhas costas. A queda sobre meus joelhos é mais do que física; é o peso da derrota, da dor insuportável e do medo paralisante.
- Achou mesmo que conseguiria me despistar tão facilmente? - A criatura sem alma zomba, sua voz exalando um prazer sádico enquanto retira a estaca das minhas costas. O som do metal cortando a carne e o jorro de sangue que se segue são quase tão torturantes quanto a dor física. Ela ri, uma risada cruel e desprezível, que ecoa em meus ouvidos. - Suas estacas foram um belo passatempo. Admito, você me surpreendeu - ele diz, brincando com a estaca ensanguentada e enrolando meus cabelos em torno de seus dedos. - Mas eu falei que pagaria por ter perfurado meu lindo abdômen. Não falei? - Seu sorriso sarcástico crescendo. - Diga-me, qual será seu último lamento? - Provoca, olhando-me com o sorriso sarcástico, esperando que eu suplique ou chore.
Reúno toda a força que resta em mim para amaldiçoar a criatura. - Eu vou te matar... Maldito... eu juro... No dia da sua morte, estarei lá para garantir que sofra como nunca! - prometo com uma voz de ódio, engolindo a melancolia e as lágrimas, recusando-me a dar a ele a satisfação de ver minha dor.
Meus lábios se apertam, tentando conter meus sentimentos sorumbáticos. - Lésnar, me perdoe... Não consegui cumprir sua última vontade - minha voz se quebra, um murmúrio carregado de pesar e remorso. Meus olhos se enchem de lágrimas, mas me recuso a deixá-las cair, mantendo minha dignidade até o fim.
A criatura solta uma gargalhada desdenhosa, seu sorriso torcido refletindo a maldade em seu coração. - Ah, então você planeja voltar dos mortos? Que piada! Vou ficar esperando.
De repente, ela agarra meus cabelos com brutalidade, puxando minha cabeça para trás, expondo meu pescoço vulnerável. Sem hesitação, ele crava a estaca ensanguentada cruelmente em meu pescoço.
ATO VI (Réslar)
Conforme a lâmina se aproximava do seu pescoço, Réslar sentiu uma mistura avassaladora de angústia, desespero e medo. Seu coração pulsava descontroladamente, ecoando em seus ouvidos como um tambor triste. Cada batida era uma lembrança dolorosa de tudo que estava preste a perder.
Seus pensamentos corriam em um turbilhão de imagens e memórias. Recordando as batalhas que travou, os momentos de alegria e os laços de amizade que construiu. Lembrou-se das promessas não cumpridas, dos sonhos não realizados. A sensação de resignação se misturou ao seu ímpeto de luta, sabendo que seu destino estava selado.
Enquanto o mundo parecia desacelerar ao seu redor, Réslar fixou seu olhar em Máterum. Ele não demonstrava alegria alguma com aquilo. A ponta da estaca, cada vez mais próxima, refletia o pavor e a tristeza que ele exalava. Assistindo, impotente, à cena que desenrolava diante de seus olhos. O choque e o desespero tomando conta dele, fazendo com que seu coração primordial se apertasse em agonia. Seus lábios se moveram em um grito silencioso de horror, enquanto as lágrimas inundavam os olhos que não viam água há décadas. Estendendo a mão, num gesto de impotência, desejando desesperadamente retroceder o tempo e impedir que a estaca encontrasse o pescoço de Réslar.
Em um instante, o Primordial percebeu o que estava preste a acontecer, mas era tarde demais para evitar. O ser mais poderoso de todos, o invencível Primordial, o infindável Universo, incapaz de evitar o destino trágico de sua amada filha.
Nesse último instante, Réslar fechou os olhos e, em meio à dor e agonia, manteve sua determinação intacta, aceitando o inevitável. Jurando a si mesma que, mesmo em sua morte, ela seria uma lembrança constante em Máterum; uma chama incandescente, mesmo diante da escuridão que se aproximava.
E então, o golpe é desferido. O mundo ao redor de Réslar desvanece em um silêncio absoluto, e em questões de milésimos, rompido apenas pelo grito angustiado e dilacerante de Máterum, um som que ecoa o lamento por um amor perdido, um grito que marca o fim de uma vida e o início de uma dor eterna:
- NÃOOOOOO!
A lâmina defronte seu pescoço. Gritara desesperado, embora palavras não fossem capazes de salvá-la. Guerra tola em prol de finita liberdade. Pai versus filhos. Amor versus ódio.
ATO VII (Lésnar)
A deusa dos planetas, Lésnar, subjugada por sua essência física, jaz em um estado de derrota física e espiritual. Cada golpe sofrido, cada gota de sangue e suor derramados ao longo da luta, parecem ter sido em vão. Uma sensação de desalento a envolve; mesmo que por um milagre ela consiga se desvencilhar das garras de Korla e Toihid, o que poderia fazer a seguir? Seu corpo está lacerado e exausto, tornando impossível qualquer tentativa de salvar Réslar ou até mesmo de escapar para lutar outro dia.
Mas, em meio ao desespero e à dor avassaladora, uma força desconhecida, mais profunda que o mero instinto de sobrevivência, começa a pulsar dentro dela. Não é o medo da morte que a impele a continuar, mas sim um sentimento mais profundo. O sentimento. É como se a essência de seu ser estivesse sendo chamada, uma voz que ressoa em seu coração e mente, trazendo uma chama de esperança em meio à escuridão.
- Lésnar - sussurra essa voz, uma melodia suave que corta a névoa da dor e do sofrimento. A voz do Sentimento, poderosa e inconfundível, chama por ela, reacendendo uma centelha de esperança em seu coração. Essa chamada não é algo que Lésnar possa ignorar; é um apelo à sua alma, uma convocação para se levantar e enfrentar o impossível.
Com esse chamado, Lésnar sente sua consciência voltar, trazendo consigo uma nova onda de energia. Seu corpo, embora ferido e debilitado, responde a esse chamado interno.
Ela sabe que as probabilidades estão contra ela, que a luta à frente é improvável de ser superada, mas com a voz do Sentimento chamando-a, no aguarde de seu retorno, ela está pronta para enfrentar o que vier, movida por algo mais poderoso do que o medo: o amor.
Enquanto a mão de Toihid aperta firmemente meu pescoço, a necessidade de sobreviver ultrapassa qualquer outra sensação. Desesperada, contorço meu corpo, envolvendo minhas pernas ao redor de seu braço. A dor aguda do meu movimento brusco é quase sufocante, mas a negação ao fim é mais forte. Com um alongamento violento, sinto e ouço o terrível estalo do braço de Toihid, um som que me causa tanto alívio quanto repulsa.
Aproveitando o momento de vulnerabilidade de Toihid, desfiro uma sequência de socos em seu rosto. Cada golpe desferido com toda a minha fúria e desespero, a sensação dos ossos de seu rosto cedendo sob meus punhos é tanto vingativa quanto horrível. Com um último soco, sinto seu corpo perder a consciência e cair ao chão, o sangue manchando a areia sob nós.
Antes que possa respirar aliviada, vejo Korla, em um movimento ágil e determinado, vindo em minha direção. Minha mente, embora turva pela dor e cansaço, reage rapidamente. Agarro as últimas shurikens e as arremesso, com uma velocidade superior a agilidade da deusa, atingindo suas coxas e barriga, caindo bruscamente no chão.
Enquanto ela cai de joelhos, um sentimento de triunfo amargo me invade. Estou de pé, mas mal consigo sustentar meu próprio peso. Meu corpo está coberto de cortes, hematomas e possíveis fraturas, cada movimento um lembrete da brutalidade da luta. Olho para Korla, caída e sangrando, e sinto uma mistura de satisfação e aversão pela violência que acabo de cometer. O sangue pinga das shurikens, a realidade da batalha se impondo sobre mim. Apesar da dor e exaustão, mantenho-me firme, ciente de que a luta ainda não acabou, mas permitindo-me sentir, por um breve momento, o alívio de ter sobrevivido a mais um confronto.
- Consegui... - Pensava.
*O amor é poderoso, mas não altera a realidade. O fim é o fim. O amor nos faz lutar, mas a luta será em vão. Persista. Lute. No fim, terá que aceitar"
Sinto o aperto de Toihid em meu pulso, enquanto ela se levanta com uma aura maligna correndo por entre seu corpo. Com uma força insuportável, ela me ergue do chão, elevando meu corpo no ar. O terror e a dor se entrelaçam ao sentir seu punho se chocar violentamente contra meu abdômen, esmagando não só a carne, mas também a esperança; marcando um novo nível de sofrimento.
Deitada no chão, vejo Korla, um espectro sangrento, mal conseguindo se manter sentada. Sua voz, fraca e tremula, mal se eleva acima de um sussurro: - Termina logo com isso.
Toihid, sem se conter, despeja toda sua ira sobre mim. Os socos continuam, implacáveis e brutais. Sinto meu rosto deformar sob a força de seus golpes, ossos se quebrando e carne se rasgando. A dor é indescritível, ultrapassando qualquer limite físico ou mental. Minha visão começa a se turvar, as imagens se obscurecendo.
A cada golpe, perco um pouco mais de mim mesma. Meu corpo, um mero objeto para a raiva de Toihid, não responde mais aos meus comandos. A sensação de despersonalização cresce enquanto a violência continua. A pergunta me assombra, ecoando em minha mente enquanto a escuridão se aproxima: - Será este o meu fim?
A consciência se esvai lentamente, o mundo ao redor se tornando mais distante a cada segundo. Os golpes de Toihid, agora apenas ecos distantes em um corpo que já não sente dor, continuam a cair sobre mim.
Minha visão se torna um carrossel caótico de sombras e luzes, oscilando perigosamente entre a realidade da batalha e o abismo da inconsciência. Cada piscar de olhos é uma luta contra a escuridão que se insinua. Sinto meu corpo afundar cada vez mais na escuridão que se alastra, a exaustão invadindo cada fibra do meu ser, me arrastando para um estado de letargia.
Neste abismo de desesperança, quando a escuridão quase se torna completa, uma voz irrompe a névoa do meu tormento. É a voz do Sentimento, a voz do meu amado, ressoando com uma clareza cristalina: - Não te deixarei morrer aqui! - Sua declaração reverbera em meu espírito, cortando a escuridão.
Seus braços, fortes e seguros, me erguem do chão, arrancando-me do abismo da derrota. - Me ame! Me odeie! Só não deixe de pensar em viver - ele ordena, sua voz uma âncora no caos. Seus olhos negros brilham, banindo as sombras que se acumulam ao meu redor, sua luz extirpadora desfazendo a escuridão que me envolve. - Lute!
Sua ordem penetra em meu âmago agindo como um bálsamo para minha alma cansada. Sinto uma onda de energia percorrer meu corpo, despertando-me outra vez de meu estado letárgico.
Minha mente, antes nublada pela dor e desespero, agora se concentra em uma única missão: lutar, sobreviver, viver. Sua ordem - Lute! - se torna o mantra que sustenta minha alma ferida.
Com um esforço feroz, consigo forçar as pálpebras pesadas a se abrirem. Fixando meu olhar em Toihid, a questão que me assombra é respondida. - Não vou morrer aqui! - declaro, a voz um sussurro rouco, mas impregnado de fúria, cada sílaba um desafio ao destino.
Canalizo toda a força que meu amado me deu e seguro os punhos de Toihid, mas a criatura, em um movimento brutal, me atinge com uma cabeçada, seu crânio colidindo com o meu com um estalo horrível. Sinto a dor gritar pelo meu crânio, mas, movida pela voz de sobrevivência, revido com um golpe similar. Nossas cabeças se chocam novamente, um impacto que ressoa com a violência crua de nossa
Cada cabeçada de Toihid é um golpe contra minha vontade, mas a presença de Zilevo, embora invisível, está ao meu lado, um clarão em meio ao caos. A cada vez que sinto desfalecer, a voz amorosa de Zilevo me chama de volta, um sussurro de encorajamento, trazendo-me de volta ao foco.
Meu corpo, já no limite da exaustão, responde com uma tenacidade oculta. O sangue escorre pelo meu rosto deformado, formando linhas vermelhas que marcam meu desafio. A dor já ultrapassou os limites do suportável, mas recuso-me a ceder.
Em um momento de pura desesperação e instinto, meus olhos capturam a visão do bastão abandonado no chão. Com um suspiro torturante, arrasto meu corpo dilacerado em direção a ele, sentindo cada músculo e ferida gritar em protesto. Minha mão, trêmula e ensanguentada, se fecha ao redor do bastão. Com uma explosão de adrenalina, golpeio o rosto de Toihid com toda a força que me resta. O bastão se parte com o impacto, fragmentos de madeira se misturando ao sangue que jorra do rosto da albina, que desaba ao meu lado, um monte de carne e sangue.
Enquanto permaneço em alerta, o ar ao meu redor começa a se transformar. Uma umidade familiar e venenosa enche o ambiente. Gotículas de água dançam no ar, criando uma névoa que me envolve em um abraço silencioso. - Na hora certa - penso com uma ponta de alívio amargo, sorrindo ao contemplar o nevoeiro Hungu se adensando lentamente, formando uma cortina opaca que envolve a área.
A visibilidade se torna cada vez mais escassa, transformando o campo de batalha em um mundo de sombras e silhuetas distorcidas. Com meu tempo convivendo por entre a névoa, sei exatamente como me mover por entre ela
Exausta e mal conseguindo me manter de pé, arrasto-me penosamente pelo chão úmido, aproveitando o nevoeiro para me camuflar. Escutando as queixas de Toihid: - APAREÇA! - ela berra, sua voz se perdendo entre as sombras líquidas.
Cada movimento sendo uma luta contra a exaustão, enquanto me esforço para usar a neblina como aliada, ocultando-me dos olhares de Toihid e Korla. A neblina, embora uma aliada no momento, torna difícil discernir a direção e a distância, mas ofereço cada grama de energia que me resta para escapar, deixando um rastro de sangue e agonia na areia úmida. Sob o manto da névoa, procuro por um refúgio, um lugar para me esconder, para sobreviver, enquanto o som dos meus perseguidores ecoa, distante e ameaçador.
Exaurida e com a respiração irregular, finalmente me distancio da presença ameaçadora de Toihid e Korla. Em um lugar mais seguro, quando permito que meu corpo castigado encontre um breve descanso na areia fria, a névoa se esvai lentamente ao meu redor, desvendando o cenário desolado da batalha, uma silhueta solitária emerge das sombras, emanando uma aura de melancolia profunda.
A figura se aproxima com passos hesitantes, cada movimento ressoando uma tristeza inominável. A luz fraca ilumina parcialmente seu rosto, permitindo-me vislumbrar as marcas da angústia que o assolam. O semblante do Universo, antes uma força primordial, embora velado pela penumbra, transmite uma emoção crua e pungente, refletindo meu próprio estado quebrantado.
Tento erguer meu corpo, mas a dor e o cansaço me dominam, limitando-me a um movimento trêmulo e fraco. Meus olhos, embaçados pelo sofrimento, encontram os seus, buscando alguma compreensão nesses olhos cinzentos e cheios de um luto silencioso. A conexão entre nossos olhares é mais eloquente que qualquer palavra; há um entendimento tácito do luto que nos une, uma comunhão na perda iminente que ainda não ousamos verbalizar.
Nesse momento de vulnerabilidade compartilhada, uma lágrima escapa de meus olhos, uma resposta muda à dor refletida naquele rosto. O Universo, diante de mim, parece tão vulnerável quanto me sinto, sua voz, ao quebrar o silêncio, soa quebrada e carregada de pesar. - Sinto muito, minha pequena - ele murmura, suas palavras carregadas de um peso que parece esmagar o pouco de força que me resta. Cada sílaba infundindo o ar com uma aura de perda e remorso, ressoando em meu coração ferido.