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Cerca de dois anos depois...
- Parece tensa hoje.
A voz rouca me atingiu e fechei os olhos, quando suas mãos
chegaram até meus ombros. Suspirei profundamente e me permiti ser
embalada por seu toque. Não estava sendo um bom dia. Sentia-me
engolfada por sentimentos e sensações que nunca imaginei, não para com
ele. Mas a quem queria enganar? Cael Marini era a definição de pecado
e problema no dicionário. Poderia até mesmo conferir. O pior de tudo,
era que passou a ser a definição de amor, em meu próprio.
A cada dia ficava mais difícil fingir que não sentia nada e que
aquele acordo firmado há cerca de dois anos era o bastante. Não era. Pelo
menos, não mais. O que doía, era saber que para ele funcionava. Então,
expulsar mulheres de seu apartamento e mandar lavar os lençóis que me
deitaria mais tarde, tornaram-se um dilema. Enquanto eu, queria mais.
Mais dele e principalmente, exclusividade.
Apenas sexo já não era o bastante.
- Gozou duas vezes e ainda parece longe daqui, Chia. -
Afastei-me de seu toque, e puxei o lençol ao redor do corpo. Sentia-me
vulnerável, e a cada instante, tornava-se ainda mais difícil. Assim que
fiquei de pé, parei alguns segundos apenas para olhá-lo.
Cael estava sentado no meio da enorme cama de seu quarto,
completamente nu, dentre os lençóis de cor cinza. Que por sinal,
chegaram da lavanderia no dia de hoje. Já que ele havia os usado em
algum dia da semana passada com outra ou até mesmo, outras. Às vezes
apenas me indagava do porquê me sujeitava a tal situação.
Por muito um longo período, convenci ao meu cérebro que
gostava do perigo, e que o sexo era o bastante. Não me importava o que
acontecia além do momento em que estava sob ou sobre seu corpo. Tola
mente de uma mulher que se apegou ao primeiro que deu um pouco mais
de atenção. Como fui entrar naquela fria?
Já completavam dois anos, e os efeitos do simples olhar de Cael
me deixavam sem ar. No momento em que fui remanejada internamente
na Marini Tecnologia, soube que ficaríamos próximos demais para minha
sanidade. Indicação de sua irmã mais nova, Anne Liv, que viajou para
fora do país um longo tempo. Foi assim, que caí no colo de Cael. Não
imaginava que seria, literalmente.
- Geralmente seus olhos se prendem em mim, não na parede. -
Sua voz soou rouca, e sabia que pensava a respeito de meu diferente
modus operandi.
Geralmente, era apenas divertido e prazeroso, para ambos. Por
aquilo, acabamos estendendo mesmo sem sequer conversar a respeito, o
que fazíamos. Horas jogados à frente da televisão maratonando uma nova
série, e que terminava com nós dois nus, entre bebidas e beijos, no chão
da sala ou qualquer outro cômodo. Éramos adultos o suficiente para
separar as coisas, e lembrava bem de como Cael encarava aquela
situação.
- Não precisamos disso. - Deu de ombros, e o encarei sem
entender. Não estava nos planos ir para a cama com meu novo chefe e
CEO da empresa, uma semana depois de começar a ser sua assistente.
Mas aconteceu... E pior, não me arrependia. - Mas podemos nos
divertir nesse tempo, o que acha? Anne sempre me contou que é uma
ótima profissional, então, apenas separaremos esses dois mundos e...
Podemos foder quando quisermos.
Sorri sem vontade, ao me lembrar daquele momento. O sexo fora
selvagem e incrível, e meu corpo era completamente receptivo para com
o seu. Não tinha porque negar, a não ser, o fato de poder ser demitida a
qualquer momento caso cruzasse alguma linha. Porém, não cruzaria.
Apaixonar-me por Cael não era uma opção. Mas quem disse que sabemos
todas as opções em pauta quando fazemos uma escolha? Foi aí, que
vendi minha alma para o prazer, e perdi meu coração.
Ele saía com outras e isso não me incomodava. Fazia o mesmo, e
por um longo tempo, fora completamente normal. Muitas vezes, julguei
que era uma mulher madura e de mente aberta para algumas questões.
Porém, percebi que os dias passaram a se arrastar nos últimos meses e
sequer conseguia estar com outro. Além de que estar próxima a Cael,
apenas como sua assistente, quando assistia mulheres saírem do
apartamento, doía. Percebi mais claramente, quando precisei trazer uma
papelada urgente, e o encontrei rindo junto a outra, na mesa de jantar. Na
mesa em que fodemos na noite anterior.
Era para ser aquilo – uma foda recorrente. Porém, nunca devia ter
misturado prazer e trabalho. Era uma péssima combinação.
- Dizem que quando uma mulher se cala, algo muito errado
aconteceu. - Sua voz soou imponente, e ele se levantou, puxando o robe
caído ao lado da cama e o vestindo.
Dei de ombros, e andei até a sacada do apartamento com vista
panorâmica para a bela cidade de São Paulo. Era a cobertura de um
prédio em zona de alto padrão da cidade, o que não me surpreendia, pelo
fato de ele ser um homem rico. Apertei o lençol ao redor do corpo, e
recebi o vento da madrugada, feliz por um lado, de que amanhã não teria
que trabalhar. Era minha folga, necessária depois de tantos meses
interruptos de trabalho árduo.
Meu coração deu um salto no peito, quando ele se juntou a mim,
parando ao lado, escorado contra o concreto que nos separava do céu e da
queda.
- Animada demais para sua folga?
Olhei-o e optei por assentir. Cael não me entendia, sequer sabia
me ler durante todo aquele tempo. Sabia que era o meu trabalho, estar a
disposição para tudo que ele precisasse. Além de assistente executiva na
empresa, era sua assistente pessoal. Uma espécie de Pepper Potts, que fez
o meu salário triplicar, assim como, começou a destruir meu emocional.
O homem ao meu lado não era Tony Stark, muito menos, considerava-me
importante.
Sorri sem vontade e repensei meus vinte e sete anos. Já era uma
mulher com uma boa quantia em dinheiro guardada no banco, um
apartamento próprio na área que mais gostava da cidade que sonhei como
lar, e um currículo impecável tanto pela universidade, quanto pelo meu
trabalho na Marini.
- Não fique triste, na segunda tudo recomeça. - sua voz soou e
ele sorriu levemente.
Por um longo tempo, iludi-me que aquele sorriso me pertencia.
Porém, era apenas o jeito Cael de conseguir o que queria ou fingir certa
intimidade. Só abri de fato minha mente, quando presenciei cenas como
aquelas em direção a outras. Não era exclusiva, tão pouco, diferente.
Seus olhos azuis pareciam tentar me ler, mas ainda, permanecia a
confusão nos olhos. Por um longo tempo, indaguei-me se era apenas
minha mente sonhadora com um CEO de livros e sua beleza. Ele era
lindo e um CEO, fatos incontestáveis.
Cabelos negros bem cortados, naquele típico aspecto "pós foda".
Os olhos azuis contrastavam com a barba sempre bem-feita, e os lábios
carnudos, como se implorando para serem mordidos. O corpo musculoso,
tonificado nos lugares certos e de um bronzeado que nunca consegui
entender de fato como conseguia. Ele era a personificação para mulheres
e homens caírem de joelhos. O problema, era que me transformei
justamente em uma daquelas pessoas. E pior, que não tinha mais
controle.
- Sabe que somos amigos, não é? - sua indagação me pegou de
surpresa, e senti que não dava mais para mentir para ele, e
principalmente, para mim mesma.
Não dava mais. Justamente, por querer mais.
- Somos? - rebati, e nossos olhares se encontraram. Notei a
confusão em seu semblante, como se tentando me entender. Ele não
conseguia.
Aquele sentimento em meu peito nasceu em algum momento, e
consegui ignorá-lo por um longo período. Mas nos últimos dois meses,
tornei-me apenas um fantasma de mim mesma. Acabei perdendo peso
por não ter apetite, devido ao fato de estar me sentindo tão perdida
naqueles sentimentos. Minha saúde mental, completamente devastada,
como se implorando para que apenas deixasse aquilo para trás. E era
aquilo que vinha trabalhando, convencer-me de que não precisava
daqueles momentos de sexo e falsa intimidade com ele. Que poderia
superar, e assim, voltar a sorrir de fato. Mesmo que ele sequer tivesse
ideia ou culpa, estar com ele, era minha salvação e inferno pessoal.
Precisava dar um basta ou simplesmente, confrontá-lo.
A parte romântica de meu ser, jurava que ia se surpreender, mas
no fim, admitiria que também me queria. No caso, que tentaria ser apenas
meu, e que depois daquilo, seu coração se tornaria também. Porém, quais
as chances reais daquilo acontecer? Talvez 0,01%. Se tinha algo que
conhecia sobre Cael naqueles dois anos, era que em seus 36 anos,
envolver-se seriamente com alguém não era um objetivo.
- Por que duvida disso?
- Você é meu chefe, e a gente fode o que? Uma a duas vezes por
semana? - indaguei, sentindo o amargo em minha boca ao admitir
aquilo em voz alta. - Isso não é uma definição de amizade.
Notei seu olhar azul mudar e ele endireitou o corpo, encarandome.
- Onde quer chegar com isso?
- Ao óbvio. - Dei de ombros, e agarrei-me mais ao lençol,
tentando não parecer tão exposta. - Não representamos nada um para o
outro.
Suspirei pesadamente, e era naquele momento, que ele me
puxaria para si e diria que estava completamente enganada. Que eu era
alguém para ele. Porém, como já esperava, ele sequer reagiu a minhas
palavras, dilacerando meu coração sem ao menos perceber.
- Compartilhamos bons momentos, no entanto. Séries, jantares,
filmes, jogos... - Comentou e cruzou os braços. - Não faço isso com
todas as mulheres que transo.
Sua fala saiu tranquila e senti a bile vir a garganta. Não dava
mesmo, para mensurar o quanto aquilo me machucava. Apenas tive uma
certeza: que não ficaríamos juntos, nunca mais.
- Acho que não existe muita diferença entre as mulheres que
fode. - Soltei, e me virei, adentrando seu quarto.
Deixei o lençol cair e fui até o canto esquerdo, onde minhas
roupas estavam jogadas. Apenas passei o vestido longo pelo corpo e vesti
a calcinha, focada em achar minhas meias e tênis em seguida.
- Por que deveria existir? - sua pergunta continuou meu
martírio e abaixei os olhos, encarando-o.
- Não consigo mais. - soltei de uma vez. - Nunca me deu
esperanças de que isso se tornaria um relacionamento, e tudo bem. Mas...
Eu me apaixonei, Cael. Eu te amo e não posso fingir que consigo te
dividir com o mundo dessa forma. Porque eu não posso.
Seus olhos se arregalaram, porém, a postura perfeita permaneceu.
Ali notei, que era como se ele tratasse de negócios, mesmo que
estivéssemos apenas nós, frente a frente. Fora a última noite em seus
braços e meu coração se partia ao ter certeza de que nada além do
esperado sairia de sua boca.
Diga que me ama, implorei internamente.
- Gouvêa vai te deixar em casa.
Suas palavras frias me atingiram de forma que punhais
adentraram minha pele. Uma lágrima desceu, antes que pudesse evitar, e
foi no exato momento que avistei meus tênis e meias. Praticamente
passei por ele como um furacão, pegando-os em mãos, sem sequer olhálo. Porém, no fundo, era como se precisasse. Necessitava lhe mostrar que
nos trataria como ele fizera, um mero negócio concluído.
- Isso é tudo, senhor Marini?
Ele sequer expressou algo, e apenas me deu as costas, adentrando
seu banheiro. Senti-me querer afundar naquele chão, ao mesmo tempo
que queria jogar o tênis em sua cabeça. Isso é tudo o cacete seu imbecil
de merda, segurei-me para não gritar. Porém, apenas me virei e segui
para fora daquele apartamento.
Rejeitada era como me sentia.
Rejeitada por aquele maldito CEO.