Capítulo 3 A.B.

Na saleta contígua, através do espelho falso, Elisabeth analisa a tentativa falha de Benn em tentar fazer um homem inocente confessar um crime que não cometeu. Era óbvio que o cidadão não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo.

-O que faz aqui Becker? - indaga Peterson.

-Quero ver o interrogatório.

Benn enxugava as mãos manchadas de sangue na toalha branca sobre a mesa de metal, que prendia os pulsos do homem, para iniciar uma nova sequência de ataques contra o interrogado.

-Uma dama não deve ver esse tipo de coisas. - murmura Paine, aparentemente preocupado.

Paine e Benn eram como unha e carne. De longe notava-se que ambas as amizades eram interesseiras. E foi isso que trouxe a ele uma grande estima de Peterson, já que Paine é sobrinho do chefe.

-Concordo plenamente. - diz Peterson.

- Já vi coisas piores. O que ele disse até agora? - indaga, mudando de assunto.

-Nada, repete e repete não ter feito nada.

-Paine, avise ao Agente Benn que pode parar por hoje. Ele não vai falar nada mesmo. - ordena Peterson.

-Sim, chefe.

Ele se retira da sala para transmitir a mensagem, enquanto Lizzie permanece arquitetando a melhor maneira de obter notícias sobre Kemil.

-No que está pensando Becker?

-Ham? Ah, problemas femininos chefe...

-Mulheres... sempre com problemas.

A anos ela utiliza a mesma desculpa em situações como essas, ou até mesmo para escapar do correio mais cedo, e Peterson e seus agentes pareciam ainda não ter sacado essa jogada. Eram imbecis o suficiente para sempre acreditar nessa mentira.

Aos poucos, a sede da OSCU foi esvaziando-se. Já estava tarde, e justamente por isso sua estadia ali já não era necessária. Pois segundo o seu chefe " Não é adequado que uma dama chegue tarde aos seus aposentos."

Ela retira as escutas da gaveta, foram feitas especialmente por Allan, e antes de sair, distribuiu uma em cada ambiente dá base. Assim, não necessitaria estar presentes em todas as instalações para saber o que se passava no local, e Allan, se manteria ocupado durantes as tardes. Lizzie não entendia de onde o cientista tirava ideias tão mirabolantes para criar suas invenções. E apesar de ser ótimo nesse requisito, o dom de Allan nunca fora criar utensílios, ele se dedicava à descoberta de novos elementos, que consequentemente, geravam novos objetos, na maioria das vezes, destinado ao governo.

A casa de Elisabeth ficava ao lado de uma cafeteria que produzia exelentes pães Franceses todas as manhãs e finais das tardes. Obviamente não eram originários do seu país natal, e nem carregavam o mesmo sabor, mas ela gostava de compra-los para o café da manhã. Isso trazia a sensação de estar mais perto de casa ao come-los

Elisabeth retira os sapatos assim que entrou no ambiente, procurando caminhar em silêncio pelos corredores do prédio. Por causa dos atrasos gerados pelo emprego, sua fama não é muito boa na vizinhança. Portanto, deveria diminuir os maus rumores se não quisesse ser " convidada a se retirar". São nessas horas, em que o árduo treinamento do general Clarke e os anos de experiência escapando o General Austen, eram aplicados.

Ouviu ruídos de descarga provenientes do banheiro assim que entrou em casa. Em seguida, a figura preguiçosa de Allan se fez presente, trajando apenas seu calção amarelo.

-Allan! Vista-se! - murmura, revirando os olhos.

-Que isso Lizzie, somos amigos!

-Agora Matte! Não tenho um pingo de vontade de ver o seu " corpinho". -debocha.

-É pra já... - suspira. -Pra sua informação: estou em forma!

-Pouco me interressa sua "forma" física, Matte.

Ela bufa irritada, sabendo que teria de aguenta-lo mais um tempo.

-Primeira regra de convivência: Não ande pelado pela casa!

-Não estava pelado, só sem camisa. Nunca viu um homem sem camisa?

-Isso não é dá sua conta. Coloquei as escutas na base. - diz, mudando de assunto.

-Que ótimo! Agora posso me divertir! Não aguentava mais olhar essas paredes. Falando nisso, consertei sua Radiola!

Becker caminha até as cortinas, fechando-as e apagando as luzes que iluminavam o cômodo, para acender o abajur e ligar a vitrola.

-Não é bom verem as luzes acesas à essa hora. - explica.

-Esperta. Como foi o seu dia de trabalho senhorita Austen?

-Sabe que não gosto que chame assim.-reprova irritada.

-Correção: Srt. Becker.

- Hoje recebemos a notícia de um sequestro...Acho que você conhecia, afinal ele era um cientista. - relata.

-Quem?

-Dr. Kemil, conhece? Lembro-me muito pouco da sua figura.

-Kemil? Que bom, Nunca gostei dele!

-Allan!

-É verdade! Ele não prestava, um perfeito racista e incrivelmente arrogante!

-Não é legal rir da desgraça dos outros! Apesar dê... se o cara realmente é assim...mereceu!

-Qual é Lizzie, não sejá hipócrita! Nós dois sabemos que você é pior do que eu!

-All...

-Já calei a boca. -se adianta.

-Pretendo descobrir mais sobre o caso de Kemil através das escutas, por isso, fique atento.

(...)

Logo pela manhã, o correio estava novamente um caos, agentes corriam de um lado ao outro levando notícias até o chefe.

Quando a novidade de que um dos principais cientistas americano foi sequestrado se espalhou, as estruturas da base se abalou, não sabiam ao certo quem vazou a informação.

Benn interrogava o mesmo homem à horas. No entanto, tudo o que ele fazia era alegar sua inocência.

-Becker! Chame o Agente Benn! - grita Peterson, de dentro da sua sala.

Elisabeth adentra sala de interrogatórios, bebericando aos poucos a xícara de café em mãos. Era o seu pior vício.

-O que faz aqui? - indaga irritado.

-Você já bateu nele durante horas e não disse nada, talvez seja a hora dar um tempo. - diz entediada. - Ou mudar de estratégia...mas duvido que você tenha cabeça o suficiente pra isso...

-Como se você entendesse alguma coisa de interrogatórios. - debocha.

-Peterson está chamando. - diz seca.

-Diga à ele que já vou.

-Ele quer falar com você, não comigo.

Afastando-se em passos duros e fluidos até a mesa de Campbell, ela se distanciou de Benn, antes o que o homem praguejasse alguma coisa e os dpis voltassem a brigar.

Aproximando-se do companheiro, notou que ele organizava uma dúzia de papeladas de possíveis suspeitos sobre a sua mesa de forma alfabética. Campbell era meio metódico por organização.

-Campbell?

Ele sorri, reconhecendo aquela voz doce e erguendo e rosto para a colega, fitando os seus olhos azuis com curiosidade.

-Agente Becker. -Salda. - O que a trás aqui?

-Busco uma boa conversa. - murmura tomando mais gole de café. - E então, como anda a lista de suspeitos?

-Nada bem... Na verdade, nenhum deles parecem se encaixar no perfil de um sequestrador.

-E quanto a casa do Doutor? Não encontraram nada?

-Nada muito relevante, era tudo uma bagunça, sempre pensei que cientistas fossem mais organizados... Mas a porta não parecia forçada, provavelmente entraram pela janela.

-É... Pode ser...

-Mas por que tanta curiosidade?

-Nada, só estou cansada de fazer tantos relatórios e decidi saber um pouco das notícias.

Os dois permanecem em silêncio por algum tempo, até finalmente o homem tomar a coragem de fazer o pedido.

-Compreendo... É... Elisabeth...?

Ela arqueia uma sobrancelha, esperando que Campbell contínuasse, estranhando ser chamada pelo nome.

-Tem planos para hoje a noite? - indaga.

-Esta me convidado para um encontro?

-Estou, quer dizer... Só como amigos... Pensei que gostaria de sair, já que você não parece o tipo de pessoa que sai todas as noites... Não que seja anti social, ou que não tenha amigos, eu só quis dizer que... - gagueja.

- Me desculpe Campbell, mas tenho que cuidar da minha vizinha, ela está doente, pobrezinha, tem tuberculose.

-Ah, sim, claro... Deixamos a saída para outro dia então. - sorri fraco, claramente decepcionado.

Ela sorri, e deixa aquela mesa para atrás, mas não antes de acenar um adeus com a cabeça para o colega. Ambos sabiam que a história de "vizinha com tuberculose" era uma mentira grotesca, mas por ter acabado de levar um fora, Campbell decidiu não insistir no assunto.

O caminho para casa fora novamente tranquilo, diferente dos outros dias, hoje seus horários batiam exatamente com os das outras moças do prédio. Portanto não houveram complicações para chegar ao 101.

Allan remexia em alguns aparelhos sobre a mesa dá cozinha, distraído e cantarolando uma música de ninar enquanto escutava a conversa dos agentes da base.

-Encontrou alguma coisa interessante? - questiona.

-Sim.

-O que está esperando pra me contar?

-Suponho que você já saiba... -catarola, querendo irrita-la. Ele se divertia muito fazendo isso.

-Fala logo, Matte!

            
            

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