Kendra - O Nascer da Fênix
img img Kendra - O Nascer da Fênix img Capítulo 5 Sangue e Suor
5
Capítulo 6 Pele em Brasas img
Capítulo 7 A Treze img
Capítulo 8 Fora da Masmorra img
Capítulo 9 Dignidade img
Capítulo 10 Grifo img
Capítulo 11 Morty Godfrey img
Capítulo 12 Cheio de Vida img
Capítulo 13 Trivialidades img
Capítulo 14 Missões img
Capítulo 15 Segurança img
Capítulo 16 Esperança img
Capítulo 17 Novo Lar img
Capítulo 18 Cão do Inferno img
Capítulo 19 Conquistas img
Capítulo 20 Justiça img
Capítulo 21 Uma Líder que Inspira img
Capítulo 22 Juramento de Sangue img
Capítulo 23 Yara img
Capítulo 24 A Clareza das Águas img
Capítulo 25 Príncipezinho img
Capítulo 26 Muito para Assimilar img
Capítulo 27 Protetora img
Capítulo 28 Próxima Parada img
Capítulo 29 O Funcionamento img
Capítulo 30 Ataque ao Lar img
Capítulo 31 Ólive img
Capítulo 32 Ele não é tal coisa aqui. img
Capítulo 33 Corvo img
Capítulo 34 Piche img
Capítulo 35 Revelações img
Capítulo 36 Eu. Não. Gosto. Dele. img
Capítulo 37 Viver com Emoção img
Capítulo 38 Noivo img
Capítulo 39 Novo mundo img
Capítulo 40 Boa noite, Majestade. img
Capítulo 41 Reverência img
Capítulo 42 Calmaria antes... img
Capítulo 43 Tempestade img
Capítulo 44 Escombros img
Capítulo 45 Traidora img
Capítulo 46 Epílogo img
img
  /  1
img

Capítulo 5 Sangue e Suor

Quero ajudá-la, quero berrar para que o Grande Mestre pare com aquilo. Mas eu não faço isso. Não posso. Não ainda.

Por trás de todo sangue, suor e lágrimas, identifico um leve cheiro de lírio e verbena. Uma de ar então. Talvez uma nove, mas é quase impossível identificar sua essência. Seus olhos violeta focam mim enquanto berra, e meu estômago já embrulhado, parece ficar do tamanho de um arroz.

Pela pequena fresta, não consigo ver a totalidade do espaço, mas tenho um vislumbre de diversas celas, lotadas de bruxas amarradas pelo braço acima da cabeça. Algumas com membros faltando, outras desmaiadas pela dor ou exaustão. Eu não sei.

- Se aproxime querida – soa a voz de Ryan.

Meu sangue congela e sinto minha pressão batendo nos pés. Ele me pegou. Quase fecho a porta e saio correndo. O que me impede é ver Ólive soltando uma faca menor que a de Ryan – também ensanguentada, e se aproximar com a confiança de uma pessoa que só pode estar familiarizada com o ambiente.

Agora é a vez do meu queixo cair.

- Posso tentar? – pergunta ela.

Mal posso acreditar no que estou vendo. Ryan entrega a faca que está usando para abrir talhos nas costas da bruxa para Ólive, que repete os movimentos anteriores do Grande Mestre como se o fizesse desde sempre. São os mesmo cabelos louros, os mesmos olhos azuis da menina que divide o quarto comigo, e mesmo assim, me recuso a acreditar.

- A sua parte do acordo está para ser concluída – Ryan fala com a cabeça voltada em sua direção.

Não posso ver suas feições, mas consigo visualizar cabelos grisalhos que combinam com o cavanhaque que ele mantém. Eles parecem conhecer bem um ao outro. Como se fossem... Amigos.

- Sim – ela responde. – E então o Rei cumprirá a dele.

O Rei?

- De fato – diz Ryan. – E nosso Rei costuma manter sua palavra.

- Suponho que sim.

O Grande Mestre a analisa.

- Você não é nobre só pelo sangue Ólive, você merece ser o que se tornará, e é por isso que o rei insistiu tanto para que fosse lapidada.

Ela estufa o peito diante do elogio. Essa pequena frase diz mais sobre Ólive do que eu soube durante toda a minha vida. Primeiro: ela é filha de nobres e está aqui voluntariamente. Segundo: ela se reporta ao Rei. A pessoa que eu mais odeio no mundo todo. E ela poderá sair daqui.

- Amanhã é a cerimônia de iniciação – diz Ólive.

A cerimônia de iniciação define as patentes dos soldados. De forma definitiva. É um grande evento e muitos acordos são feitos nesse dia.

- De fato – repete ele.

Já fiquei tempo demais aqui, preciso me afastar, começo a fechar a porta lentamente...

- Mas você ainda não é a melhor do acampamento – estagno onde estou. – Você terá que vencer Irina no dia da cerimônia.

- Sei disso – Ólive responde entredentes. – Mas ela é forte demais, rápida demais, inteligente demais. Não consigo encontrar pontos fracos, e os venho buscando há longos, dez anos.

É a vez do Grande Mestre estufar o peito. Um treinador feliz por ter treinado bem demais seu bichinho.

- De fato, Ólive, de fato. Irina é meu maior tesouro.

Os dois continuam conversando com naturalidade. Como se pessoas não estivessem sendo torturadas e brutalizadas. Já sei, bruxas não são pessoas. Mas quem disse isso? O sofrimento em seus rostos é o suficiente para ver que são em parte humanas, que tem sentimentos, dores e amarguras como qualquer um.

Deixo a masmorra com mais ódio do que eu já tinha dentro de mim. Se é que isso é possível. Está na hora de mostrar para que vim.

§§

Hoje é o dia da cerimônia de iniciação. Não sei o que esperar. Só sei que fui incapaz de ver a Ólive e não querer rasgar seu pescoço, e por isso, me mantive fora do quarto e das áreas de treinamento que ela costuma estar. Eu entrei apenas para dormir.

Treinei com o Tom , Cam e Sara, e a evitei ao máximo. Se ela tem que ganhar de mim para estar nas graças do rei, me esforçarei para que isso nunca aconteça. Nunca. Jamais.

- Irina! – é a voz de Cam. Olho para trás e o homem está caminhando em minha direção.

Se eu tivesse um tipo, seria esse. Mesmo de uniforme, seus músculos estão a mostra, seus cabelos são pretos e os olhos de um verde folha, lindo de morrer.

Estampa um sorriso luminoso por onde quer que vá. Ou seja, tem uma legião de fãs.

Que infelizmente, ele não pode corresponder, já que corre feito um cachorrinho atrás de Sara, que prefere meninas, enquanto Tom baba por Cam assim como todo mundo. A vida é incrivelmente cruel. E eu saboreio isso com o maior prazer.

- Sim? – pergunto arqueando as sobrancelhas em minha melhor expressão de: você vale meu tempo, humano?

- O Grande Mestre quer falar com você antes da iniciação – assinto em concordância e vou em direção à torre, mas sua voz me faz parar. – Vamos usar um uniforme de couro hoje,

espera só para ver como eu sou gostoso – arqueio novamente as sobrancelhas. – Não se preocupa – uma piscadinha. – Eu levo um balde para você.

E sai andando antes de levar uma patada. Quando estou longe de seu campo de visão me permito sorrir. Vou sentir falta dele.

Não bato antes de entrar na sala do Grande Mestre, que me recebe com um olhar surpreso pela intromissão. Mas logo sua expressão se suaviza ao ver de quem se trata, e abre um sorriso que direciona apenas a mim.

- Irina, que bom que veio tão rapidamente – ele aponta para a cadeira estofada à sua frente. – Como você está? Percebi que andou mais focada no treinamento.

- Sim senhor.

Ele cruza as mãos abaixo do queixo. Me analisando, na verdade, a palavra correta seria: negaceando.

- Um ciclo se fecha apenas para outro começar – você não sabe como, é quero dizer. – E hoje, acredito que vá ocupar a posição de destaque que você merece. Nunca ignorei o fato de que você permanece invicta há muitos anos – ele arqueia uma sobrancelha grossa. – Entre ambos os sexos. Suas caças são sempre bem-sucedidas e nunca foi incompetente. Serviu bem ao seu Rei.

- Certo.

                         

COPYRIGHT(©) 2022