- Pai, o senhor não vai acreditar - digo eufórica - Eu vendi a minha joia para o príncipe - dou pulinhos.
- Parabéns, filha! - meu pai me abraça.
- E foi justo a que você disse que estava sem graça demais - digo.
- É porque amo detalhes marcantes e cores, mas eu disse que era linda.
- Ele amou! - bato palmas.
- Vejo que você vai ficar mais tempo aqui comigo - fecho a cara.
- Ah não, detesto ter que atender as pessoas.
- Não quero que atenda, quero que crie sua coleção, faremos o lançamento, será o máximo, filha.
Fazer joias aqui com meu pai não é o que eu realmente quero, mas é o passatempo que criei para passar mais tempo com ele.
- Quer ganhar a custo das minhas obras primas, não é, pai?! - digo rindo.
Não é o que quero fazer, mas por enquanto estou chateada com o Josef e não terei treino, estou com muito tempo livre.
Vou logo trabalhar em algumas joias. Ainda bem que sei todos os processos.
[...]
Estou finalizando o meu primeiro colar para a coleção, quando o Josef chega.
- Anie? - ele diz baixinho.
Giro a cadeira que estou sentada e o encaro, ele está encostado no batente da porta.
- Seu pai disse que você estava aqui trabalhando na sua coleção, posso ver? - ele pergunta se aproximando de mim.
- Pode! - digo.
- Está lindo demais, vou ser o primeiro a querer comprar uma de suas joias - ele diz animado.
- Se for para dá para minha irmã, não estão a venda para você - digo.
Ele pega uma cadeira e se senta do meu lado.
- Por que não me contou antes? - pergunto.
- Fiquei com medo - diz olhando para o chão.
- Medo de quê, Josef, eu não entendo?- pergunto irritada.
- Eu não sei direito, é tudo novo para mim.
- Ah, e para mim foi muito normal ver meu melhor amigo beijando a minha irmã. Nossa, adorei.
- Eu devia ter te contado tudo, mas sua irmã implorou para que não contasse, ela queria que fosse um segredo nosso.
- Sim, devia, mas há quanto tempo isso? - pergunto seca.
- Anie, eu não podia... - interrompo-o.
- A quanto tempo, Josef Wilkman? - insisto.
- 2 meses - ele responde.
- Caramba, dois meses! Você está mentindo para mim há 2 meses - falo gritando de raiva.
- Anie!
- Não me chama assim. Isso se chama traição, Josef. Você mentiu esse tempo todo para mim, como pode? - dou um tapa nele e começo a chorar.
- Eu sinto muito por ter mentido para você, por ter escondido... - ele diz pegando em mim.
- Não, você não sente nada - falo.
- Eu não quero que fique assim comigo.
- Eu não estava, você que fez suas próprias escolhas - digo.
- Sacanagem! Faz as pazes comigo Anie, eu não vou suportar viver o resto da minha vida brigado com a minha melhor amiga.
- Sacanagem foi o que você fez! - aumento o tom - Mas vamos fazer as pazes, não porque você merece, mas porque eu te amo muito e não vou consegui ficar longe de você.
Ele me abraça bem forte.
- Eu te amo muito, Anie. Eu quero que me perdoe, e que saiba que nunca mais farei isso de novo - ele diz triste.
- Eu acho bom viu, nunca chorei tanto na minha vida por alguém, como eu chorei ontem. E eu também te amo, você é mais que um amigo, você é meu irmão de outra mãe, sabe disso.
Ficamos abraçados, até que meu pai chega e nos interrompe.
- Ops, interrompo-os?- ele pergunta.
- Interrompe sim, pai! - digo secando minhas lágrimas.
- Eu preciso ir! - ele diz olhando para mim - Te vejo amanhã para o treino? - ele pergunta baixinho.
- Claro! - levanto e dou outro abraço nele.
Ele sai me deixando sozinha com meu pai. Meu pai sorri, satisfeito por termos feito as pazes. Ele também ama o Josef. Nossa, ele é querido por todos em minha casa.
Sento-me novamente e desenho o meu próximo modelo de joia, e acabo desenhando um anel.
Quero logo ver como que será, e vou logo fazer, peço ajuda meu pai para escolher uma pedra. Mas entramos muito em desacordo.
Acabo estressada e vou para casa. No caminho penso em ir dá uma explorada onde fui ontem.
Chego em casa, tomo um banho e ponho uma calça e uma blusa de moletom fina, e um tênis. Antes vou à cozinha comer um pouco.
- Anellize?_ minha mãe me chama.
_ Oi, mãe _ me viro, e falo com um pedaço de torta na boca.
_ Onde já se viu comer besteira antes do jantar?
_ Mãe, trabalhei muito hoje, estou com muita fome _ mordo outro pedaço.
_ Você não faz nada além de atender pessoas, Anellize _ ela gosta de menosprezar minhas joias.
_ Eu faço joias também. Vendi uma para o príncipe, e meu pai vai fazer o lançamento da minha nova coleção.
_ Mas o quê? Filha, eu quero que você estude, faça uma faculdade e não que fique fazendo joias o dia todo.
_ Mas quem disse que eu quero, mãe?_ falo.
_ Não vem com esse papo de ser soldada. Eu não quero isso para você _ ela praticamente grita.
_ A senhora investe no sonho da Antonielle, mas não no meu. Muito justo isso de sua parte, hein?_ falo quase chorando.
_ O dá sua irmã não tem nem comparação ao seu _ que baque.
_ Você não me ama! _ grito.
_ Anellize, três coisas que você fez que me irrita, e você sabe _ ela começa a chegar perto de mim _ Primeiro, eu odeio quando você me trata com desrespeito, eu te ensinei a me chamar de "você"? Ensinei? _ nego com a cabeça _ Segundo, você gritou comigo! E terceiro, o seu sonho é uma droga, esqueça isso.
Preferia que ela tivesse me batido, ao invés de dizer tudo isso. Eu não consigo controlar as minhas lágrimas, elas descem e eu perco o controle. Saio da cozinha e quero sair de casa urgentemente.
Vou correndo para onde fui ontem. Agora lá se tornou o meu refúgio para chorar. Que maravilha!
Não acredito que a minha mãe falou aquilo comigo. Eu sempre soube que não era o que ela queria para mim, pois corre bastante risco, mas dizer tudo aquilo, foi golpe baixo.
Sento-me no chão e choro. Minha vida é uma droga. É meu melhor amigo mentindo para mim. É o meu pai me trancando em um galpão para fazer joias. Minha mãe sendo a pior mãe que existe.
_ Droga! Droga! Droga! _ grito, batendo minhas mãos no chão.
_ Você vai acabar quebrando o chão, minha querida _ uma voz feminina surge do nada.
_ Quem está aí?_ pergunto.
_ Oi, garota! _ surge da sombra uma mulher magra, alta, deve ter uns quarenta e poucos anos.
_ O que você quer comigo?_ pergunto.
_ Eu? Quero o que sempre procuro em moças solitárias como você.
_ Não entendi! _ ela se aproxima.
_ Quero seu dinheiro, docinho _ ela dá uma risada.
_ Eu não tenho dinheiro _ falo e ela se aproxima _ Não toque em mim.
_ Eu quero todo seu dinheiro _ ela está alterada, me levanto na hora.
_ Some daqui! _ digo, com os punhos fechados.
_ Só depois que você me der a droga do seu dinheiro! _ ela grita e fico mais assustada.
_ Mãe, deixa a garota em paz _ surge uma garota, no meio da escuridão.
A mulher dá uma risada maléfica.
_ Some daqui, filha _ ela passa a mão no cabelo decepcionada.
_ Ela me assustou _ digo para a garota.
_ Ela bebeu muito, desculpa. Quando ela bebe, fica assim, além do mais a gente está passando por necessidades, precisamos de grana _ diz a garota quase chorando por causa da cena.
_ Se você não chegasse, eu ia bater na sua mãe _ digo.
_ Ei, eu só quero seu dinheiro _ a mulher grita.
_ Você não ousaria bater nela? _ assinto _ Essa louca é minha mãe, não é ladra de verdade, nem do mal. Só estamos passando por momentos difíceis e ela não está sabendo lidar.
_ Eu não sabia, ela já chegou querendo dinheiro, gritando comigo _ falo.
_ Vai para casa, Lio _ uma voz familiar surge. Chegou o salvador da pátria.
_ Que droga é essa?_ a mulher pergunta.