Peguei um táxi até a rodoviária mais próxima da minha cidade e aguardei até o horário do embarque. Seria a minha primeira viagem de ônibus mas não poderia reclamar na situação onde me encontrava era melhor do que ficar na mesma casa de Silvia.
Precisei chegar um pouco cedo na rodoviária já que minha passagem era para as onze horas da noite com horário previsto de chegar às nove e quarenta e cinco da manhã. Fiquei mais de duas horas esperando o meu embarque e quase esgotei toda a bateria do meu celular. Meu iPhone não era uma dos novos mas também não era um dos mais velhos que já tinha trocado há dois anos atrás mas a bateria não aguentava nem um dia inteiro se mexesse muito.
Por muita sorte assim que embarquei vi que no ônibus tinha Wi-Fi e tomada para carregar.
- Tempos modernos – falo comigo mesmo e já conecto o carregador enviando uma mensagem para Guto.
"Embarcando, até amanhã cedo"
Provavelmente aquele horário ele já devia está dormindo já que era de costume eles dormirem cedo e acordar cedo.
Ninguém se sentou do meu lado em nenhuma das paradas que o ônibus fez e por um momento fiquei aliviada. Olhei mais um pouco minha redes sociais e decidi que tentaria dormir um pouco.
Acabei capotando sendo acordada por um solavanco que o ônibus deu, acredito que passou por algum buraco na entrada. Pela janela vi que já estava dentro de uma cidade e já era dia. Peguei meu celular para ver as horas e assustei. Nove e quarenta. Eu já estava chegando.
Tentei arrumar meus cabelos amassados com os dedos e não conseguir desistindo e fazendo um coque meio frouxo nele. Vi quando o ônibus começou a estacionar numa rodoviária bem simples diferente da de SP. Aproveitei a internet e enviei uma mensagem para Guto avisando que havia chegado.
O motorista logo liberou para descemos do ônibus e deixei que as pessoa apressadas descessem primeiro, ficando por último. Quando sai do ônibus com ar condicionado e sentir o vapor quente da cidade na pele vi que não me adaptaria tão fácil já que São Paulo não costumava ser tão quente assim. Minha mala já estava pelo lado de fora do bagageiro e encarei o motorista que apenas me aguardava.
- Obrigado – digo mas não escuto nada de volta – mal educado. Será que todo mundo desse lugar é assim? – me questiono.
Caminhei até um banco próximo arrastando minha mala e me sentei para aguardar Guto. Nossa devia fazer uns quarenta grau naquela cidade porque senti suor escorrer pelas minhas costas e nada do meu amigo aparecer. Comecei a me arrepender da decisão por conta do calor que era demais e o sinal. Meu celular não tinha sinal e lembrei que por consequência também ficaria sem internet.
- Que legal, não tem sinal – resmungo e guardo o aparelho de volta na bolsa de mão – onde está você Guto?
Faço a pergunta quando ouço meu nome.
- Maria Luísa – olho para trás e vejo ele vim.
Augusto tinha a mesma idade que eu, bonito, mesma altura, cabelos baixo, e nesse momento usava uma calça apertada, camisa e chapéu. O que o deixava ainda mais bonito.
- Augusto – falo seu nome já que insistia em dizer o meu.
- Não acredito que vivi para te ver andar de ônibus – brinca antes de me abraçar.
- Na minha situação no momento não posso me dar o luxo – respondo já me soltando do abraço.
- Venha, vamos sair desse sol quente – diz já pegando minha mala – desculpa o atraso, Marcos precisou usar a caminhonete antes.
- Tudo bem – respondo.
- Você chegou numa época boa – puxa assunto.
- Ah é? – pergunto me abanando e curiosa.
- Vai começar as festas juninas e quase todos os dias tem festa em fazendas diferentes.
- Nossa que legal, faz tanto tempo que não vou em uma festa assim – o que não deixa de ser verdade.
- Malu, me desculpe mas você não tem cara de que vai nesse tipos de festas – fala e lhe encaro.
- Não sou essa patricinha que você pinta não Guto – ele gargalha.
- Vamos só ver – diz e alcançamos a caminhonete que ele tinha dito.
Era uma vermelha bem velhinha e desgasta por causa do sol. Assim que adentramos o carro estava pelando de tão quente.
- Minha nossa senhora que carro quente – digo sem pensar.
- Perdão esqueci de deixar as janelas abertas – pedi Augusto.
- Eu que peço desculpa Guto por minha língua solta – sorrio e vejo ele colocar minha mala na traseira da caminhonete.
- Marcos sempre fala que precisamos troca de carro mas nunca troca, foi de nosso pai e ele não quer se desfazer.
- Não precisa se desafazer já que tem tanto apego assim – digo.
- Meu avô diz que não passa de uma lata velha – dou uma gargalhada.
- Eu prefiro não opinar – dou de ombros e vejo ele adentrar o carro pelo lado do motorista.
- Meia hora estamos na fazenda, você poderá descansar antes do almoço – ouço ele dizer.
- Tranquilo, até que dormir bem na viagem.
- Maria Luísa de ônibus e ainda dormiu? – ele me olha rápido e volta a vista para estrada.
- Que ver pensa que eu sou uma dondoca – falo.
- Era quando eu conheci – diz e pisca para mim.
- Mentiroso. Nunca fui – cruzo os braços e faço um bico brincando.
- Verdade, você é a pessoa mais humilde que já conheci – sinto minha bochechas esquentarem.
- E você o cara mais incrível – ele me olha e sorrir.
- Acho que você vai gostar da fazenda.
- Claro que eu vou – digo e vejo ele entrar numa estrada de terra.
- Se não quiser poeira nesse rosto lindo, acho melhor fechar o vidro – ele diz no momento que começa a entrar o poeirão.
Era tudo bem diferente da grande São Paulo, mas eu não podia reclamar eles estava me acolhendo na sua fazenda sem cobrar nada.
Conversamos mais algumas coisas sobre os meses que não se vimos e logo avistei uma placa escrito "Fazenda Avelar".
- Vocês mesmo que cuida da fazenda? – pergunto.
- Eu fico na parte administrativa, Marcos gosta de por a mão na massa, mas temos peão que fazem muita coisa também – Guto responde e vejo o casarão.
Ao se aproximar vejo o quanto ela consegui ser linda por fora e tudo indica que passou por uma reforma recentemente. E não é atoa que é chamada de casarão, pois a casa e enorme e percebo ter um andar acima.
Augusto estaciona na frente da casa e vai até a parte de trás pegar minha mala enquanto eu desço ainda admirando a beleza.
- Ela é linda Guto – digo assim que sinto sua presença ao meu lado.
- Vamos entrar – ele diz e vejo duas pessoas paradas na varanda da casa.
Um é mais velho e está sentado numa cadeira de corda que deve ser o avô e tem outro homem de costas conversando com ele que deve ser o Marcos. Meu olhos vão direto para a bunda dele. Que bunda redondinha e linda. Sinto minhas bochechas esquentarem assim que ele se vira e me pega no flagra. Se ele era bonito de costa, meu Deus que homem bonito de frente. Malhado, uma barba por fazer, as calças parecida com que Augusto estava usando, uma camisa xadrez com alguns botões abertos, bota e chapéu. Nunca tinha visto o homem tão bonito na vida até aquele momento.
- Ai está ele – o homem diz para Guto – Por onde andou pirralho? – pergunta sem nem olhar para mim novamente.
- Eu avisei que ia da uma saidinha – Guto responde – Maria Luísa esse mal humorado é o Marcos, meu irmão – diz virando para mim.
- Malu – estico minha mão sorrindo para cumprimentar, mas meu sorriso vai morrendo quando ele não estica a sua para toca na minha e vejo seus olhos recai sobre a minha mala.
- Ta achando que aqui é alguma pousada para sair abrigando qualquer pessoa Augusto? – fala direcionado ao irmão.
- E-eu não quero incomodar – falo assim que ouço – eu posso ir para a cidade Guto – sinto já meus olhos arderem para as lágrimas caírem de tanta humilhação.
- Claro que não Malu – Augusto diz.
- Já não basta o tanto de boca que alimentamos não é mesmo Augusto Avelar – ele continua e antes que eu possa segurar sinto a lágrimas cair. Meu Deus quanta humilhação.
- Já chega Marcos, essa casa é minha e eu autorizei que a moça viesse – ouço a voz do senhor.
- Ah eu cansei, vocês nunca aprendem – diz e sai pisando duro até a caminhonete.
- Desculpe minha filha – ele diz – não sei onde foi que meu filho errou com esse dai – aponto para o cara bonito e ignorante que saiu pisando duro sem nem me dizer um oi.
- Eu não quero ser um incômodo, eu posso achar um lugar na cidade...
- Com que dinheiro Maria Luísa? – Augusto pergunta. Durante o trajeto eu havia contado sobre a situação da minha herança e quem não tinha nenhum real no bolso.
- Eu me viro Guto, só não quero causar briga entre vocês – digo.
- Não se preocupe minha filha – o senhor torna a falar – esse daí é assim todos os dias desde que Cecília abandonou ele – Cecília? Uma namorada talvez? Noiva? Esposa? Não entraria no assunto até porque não me diz respeito – Afinal eu sou João.
- Muito prazer seu João, Malu – digo.
- Seu João não, só João – diz e aceno.
- Tudo bem só João – Digo. Augusto e João rir.
- Leve a moça até o quarto de hóspede Augusto, talvez queria descansar antes do almoço.
- Sim vô – sorrio para os dois e antes de entrar na casa dou uma olhada para onde a caminhonete estava estacionada antes.
- Não liga para o Marcos, ele é azedo assim mesmo mas depois que conhece a pessoa vira um amor.
- Se eu ver que estou incomodando eu vou embora Guto, não vou ser incômodo para vocês.
- Meu avô já disse a casa é dele – subindo as escadas e nem tinha percebido que estava em frente há uma porta – Aqui será seu quarto – Augusto abre a porta e dentro – espero que possa dar uma descansada.
- Obrigado.
- Vou resolver umas coisas antes do almoço mas se precisar pode mandar mensagem.
- Eu não tenho internet – falo meio sem jeito.m – e nem sinal.
- Deixa eu colocar a senha do Wi-Fi da fazenda – pego meu celular na bolsa e lhe entrego. Rapidinho ele coloca a senha e me devolve – prontinho.
- Obrigado de novo – ele sorrir e começa a sair fechando a porta.
Olho o quarto melhor, tem uma cama enorme toda arrumada, um guarda roupa branco de porta de abrir, uma penteadeira com espelho enorme. Tudo muito bem organizado, limpo e cheiroso. No quarto também tinha um banheiro simples mas que para mim já era o suficiente.
Sento na cama e penso na cena quando cheguei. O cara nem me conhecia e já me tratou daquela maneira, o que as pessoas tinham contra mim? Nunca fui mal com ninguém, sou educada. Eu ia aguentar até conseguiria mas se fosse demais para mim eu iria embora sem nem pensar. Já aguentei Silvia por muitos anos e não seria um cowboy metido a besta que me faria ficar calada.