Capítulo 3 Aiko

O sussurro de Ryuji ecoava em sua mente. Ainda podia sentir a respiração dele perto de sua orelha e isso lhe causava arrepios de rejeição. O vento puxava seus lisos cabelos pretos enquanto caminhava pela calçada, desesperada e preocupada.

Era incrivelmente injusto como uma simples frase podia arruinar a manhã de alguém, não tinha a menor ideia de como Ryuji tinha informações sigilosas ao seu respeito. As mãos atadas a irritava, odiava o fato de estar contra parede. Preciso dar um jeito nele..., pensou ela, enquanto caminhava, apressada. Aiko encontrava-se perdida naquele momento, pensando em como seguir sua campanha política e como de alguma forma, silenciar aquele linguarudo do Ryuji. ...Ou Masato pode dar um jeito nele.

Aquela ideia a agradava e ela exibiu um sorriso malicioso no canto da boca. Só pelo simples fato de Masato substituí-lo como braço direito era suficiente para desarmá-lo, para ela, quem é que dá a mínima para opinião de um mero soldado raso? E ela estava a caminho de convencer a pessoa perfeita. Naquele cenário ajudar seu irmão, agora, era coisa do passado, seus interesses pessoais estavam acima dos dele.

– Senhorita Aiko, senhorita Aiko! – A voz de um homem desconhecido chamando atrás dela a trouxe de volta para a realidade.

Quando se virou para ver, estranhou o pequeno grupo de pessoas que se formou em seu encalço. Estava tão distraída em seus pensamentos que nem percebeu aquelas pessoas se aproximando. Era só o que me faltava...

– Senhorita Aiko, por gentileza, poderia nos dizer se já possui uma estratégia para a reta final da eleição? - perguntou o repórter, colocando o seu celular perto de seu rosto esperando uma resposta. Aiko voltou a caminhar, e com um sorriso forçado continuou:

– Mesmo estando longe, sim, temos estratégias que garantem nossa vitória nessa eleição - disse ela, caminhando um pouco mais rápido.

Os flashes de luz vindo das câmeras ao seu redor a entorpecia, e aquele monte de gente ao seu redor a incomodava, nunca gostou de multidões, não em cima dela.

– Senhorita Aiko, acredita que os casos de corrupção envolvendo indiretamente seu partido influenciará nos resultados dos votos? - perguntou outro repórter ao seu lado, lutando para ficar próximo dela na multidão.

Aquela pergunta a irritou tanto que decidiu não responder, até andar alguns passos e perceber que aquela não era a melhor resposta naquele momento. O silêncio, de alguma forma poderia levantar suspeitas, o mínimo que fosse era suficiente para criar uma manchete falsa ao seu respeito, e ela já tinha problemas de mais, então parou e aproximou-se do gravador do repórter.

– Não há envolvimento de corrupção em meu partido, já foi feita uma minuciosa investigação e já temos provas de que tudo não passou de boatos e coincidências... e não, isso com certeza não irá atrapalhar nossa vitória. Respondeu ela com voz firme, e voltou a andar.

Os repórteres ainda insistiam em segui-la. Senhorita Aiko! A voz deles ressoava dentro de sua cabeça com um turbilhão de pensamentos. Senhorita Aiko... Ela começou a caminhar rapidamente, aflita. Precisava fugir urgente, qualquer lugar era melhor que aquele. Senhorita Aiko... A voz daquelas pessoas lembrava a de Ryuji por algum motivo, eles aproximavam-se com suas perguntas como urubus atrás de carniça, prontos para arrancar dela qualquer informação útil para suas manchetes. Senhorita Aiko... Senhorita Aiko... Senhorita Aiko... Correr já não adiantava mais, eles vinham de todas as direções. Já desarmada a sensação de impotência reinou. Sua visão começou a distorcer-se e de repente, ficou tudo escuro por um instante.

O silêncio pairou. Ela observava a multidão se desfazer em poucos segundos ali do chão. Angustiada, respirava profundamente sem parar, sentia seu coração na garganta e uma involuntária vontade de chorar que não entendia. Olhou para os lados.

– Minha mochila... - disse ela, sua voz soava baixa - cadê minha mochila? - a sugestão de lágrimas nos olhos ofuscava sua visão.

Levantou-se e percorreu os olhos no chão ao seu redor, desesperada. Dentro de sua mochila estava seu notebook, nele continha muitas informações valiosas que pessoas más intencionadas matariam para conseguir, inclusive ela. Sentiu percorrer no rosto a primeira lágrima enquanto procurava, ela precisava mesmo daquela mochila.

– Está procurando por isso? - Perguntou uma mulher, com sua mochila na mão.

Era uma simples civil, entregou a mochila sem rodeios, e Aiko sentiu-se aliviada, não conseguia agradecer, as palavras não saiam. A mulher colocou os cabelos de Aiko atrás da orelha e retirou mais uma lágrima que se formou embaixo do olho, esforçou-se para agradecer e com muita luta as palavras saíram.

– Não precisa agradecer...

Observava a mulher apenas do pescoço para baixo, não parecia ser velha e usava roupas vermelhas muito marcantes, não demorou para ir embora. Uma mulher estranha a salvou, ela gostaria de encontrá-la novamente para compensar sua boa ação.

Aiko respirava fundo tentando assimilar o ocorrido. Não estava preparada para esse tipo de situação, isso nunca aconteceu antes. Abraçando fortemente sua mochila, continuou o seu caminho.

Um tempo depois, finalmente chegou. O arranha-céu de alto padrão sempre a impressionava, precisava da sombra de sua mão por cima dos olhos para ver toda a extensão revestida de janelas azuis. Rapidamente chegou à recepção.

– Não posso liberar o acesso até para senhora – disse a recepcionista – A senhora precisa marcar um horário com ele. Sinto muito, Senhora Aiko, mas eu não posso.

Pensou em insistir, mas sabia que era inútil, Aiko compreendia o lado da recepcionista, mas ela realmente precisava falar com ele. Novamente aquela sensação de impotência, de tudo estar fora de seu alcance, odiava aquilo. Por que eu não consigo tudo o que eu quero? Sentiu as lágrimas novamente aos olhos, mas respirou profundamente para acalmar-se. Você não é mais criança Aiko Tanaka, não conseguirá as coisas chorando...

– Senhorita Aiko...

Ela reconhecia aquela voz. Pela primeira vez naquela manhã Aiko tinha o prazer de virar-se para ver alguém que realmente lhe interessava. Ela passou as mãos no rosto, e novamente colocou aquele típico sorriso forçado no rosto.

– Sr. Marcos.

Marcos era um homem alto, quase um metro e noventa de músculos e pele negra. Seu cabelo cacheado era impecavelmente sempre arrumado. Nas poucas vezes que se encontraram, ele deixava um rastro de odor másculo por onde ia. Isso a encantava de tal forma que ela não sabia explicar. Naquele momento, o coração batia forte por outro motivo.

– A que devo a honra de sua ilustre visita? - Aiko respondeu com seu olhar sugestivo. – Certo, então poderia me acompanhar até meu escritório?

Era aquilo que ela deseja ouvir naquele momento, finalmente as coisas estavam indo como planejado. Se tudo desse certo, Aiko teria um forte aliado tanto na política quanto dentro da máfia informando sobre os assuntos de Masato.

Quando entraram, passaram por um raio x, daqueles semelhantes a um aeroporto, só que um pouco menor. Retirou o notebook de dentro e passou. Marcos observava atentamente o olhar um pouco desconfiado, Aiko não entendeu.

– Sente-se senhora Aiko Tanaka. Fique à vontade, percebi que estava um pouco tensa quando cheguei.

– Tensa? Eu? Não se preocupe, estou bem.

Marcos puxou uma cadeira giratória frente à mesa e ela sentou-se. Deixou a mochila em seu colo e ele logo lhe entregou uma xícara de café que perfumava o ambiente com seu saboroso aroma. Tomou um gole do café e sentiu a mão dele acariciar seu ombro. Marcos colocou seus cabelos para frente e avançou para a nuca, massageando-a com os polegares em movimentos circulares. Aiko fechou os entregou-se ao pequeno prazer sem pudor, a cada movimentos ela soltava gemidos sutis de alívio para os estresses daquela manhã. Tomou mais um gole do café e Marcos já massageava com as mãos cheias dos ombros ao trapézio.

Você transou com ele igual transou com Takeshi? De repente, a maldita voz de Ryuji voltara em sua mente para perturbá-la e ela abriu os olhos.

– Não foi para isso que vim aqui senhor Marcos.

– Eu sei que não. Mas a senhorita precisa disso, temos a manhã toda, então relaxe.

– Gostaria de verdade, mas infelizmente não tenho a manhã toda. Eu preciso ir direto ao ponto.

Marcos rapidamente girou a cadeira para trás onde estava e ela derrubou um pouco de café sobre a mochila. Por algum motivo, Aiko não se importava mais, ela já tinha se rendido. Ele estava a poucos centímetros de distância de seu rosto que queimava de timidez.

– Vamos direto ao ponto então.

            
            

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