Capítulo 2 Masato

O acaso não o favoreceu naquela noite no cassino. A péssima sugestão de Ryuji fez Masato se arrepender amargamente. O aglomerado de pessoas chamou sua atenção e ele também se arrependeu por isso, quando se aproximou. A sequência de arrependimentos aumentou quando viu Takeshi olhando para ele com aquele maldito sorriso de canto da boca. Pensou em recuar no mesmo instante, mas hesitou, não podia sair logo de lá ou se consideraria um verdadeiro covarde. Caminho sem volta...Pensou ele.

Masato era um "Wakagashira", um dos principais tenentes de Hiroshi, o líder da máfia, e Takeshi era um simples "Capo", e estava muito abaixo deles na hierarquia do crime. Mas seu ar de superioridade e excesso de confiança intimidava seus líderes de alguma forma, muitas vezes dizendo nas entrelinhas que eles não durariam muito no cargo.

Assim como os presentes ali ao redor da mesa, Masato ficava incrédulo e suspirava profundamente de reprovação a cada vitória de Takeshi. Era incrivelmente suspeito como as cartas certas sempre iam parar em sua mão.

– Ele está trapaceando, não é possível! - disse um homem ao lado de Ryuji - é impossível estatisticamente falando ganhar tantas vezes assim.

Aquele homem disse exatamente o que Masato pensava, mas lá no fundo, não tinha coragem para dizer. O rapaz não aparentava ter mais de trinta, mas sua feição jovem era desbaratinado pela cara enrugada devido a raiva que sentia naquele momento, em conjunto de centenas de cigarro tragados e litros de álcool na corrente sanguínea. Takeshi não disse nada, apenas apontou com a mão para o lugar vago a mesa para desafiá-lo. O rapaz recuou um passo hesitante e Masato arqueou uma sobrancelha, queria ver a atitude daquele rapaz e ver onde aquilo tudo ia dar.

– Está disposto a perder quanto até provar que estou trapaceando? - perguntou Takeshi.

O rapaz olhava para Takeshi com uma sugestão de nervosismo em seu rosto, o ambiente permanecia carregado de hostilidade latente. O tilintar de taças, risadas altas e conversas baixas espalhadas pelo cassino pareciam ter parado naquele instante só para ouvi-los. Mas o rapaz era inteligente mesmo um pouco bêbado, decidiu engolir seu orgulho e virou-se para ir em bora.

No dia seguinte, Masato acordou determinado, arrumou sua cama e seu cabelo, trocou de roupa, escovou os dentes e saiu rumo a um café que ficava na esquina do prédio onde morava. Fez o pedido rotineiro, chá-mate gelado e croissant. Sentou-se ao lado da janela, para observar lá fora o aglomerado de carros parados no semáforo da grande metrópole. Não demorou muito para seu pedido ficar pronto, naquele dia o café estava mais vazio que o normal. Quando voltou para sua mesa com o pedido, ela estava sentada em seu lugar o esperando.

– Aiko, bom dia. - O sorriso dela era visto a quilômetros de distância – qual o motivo de tanta alegria?

Ele sabia que aquele sentimento era raro em sua irmã, quando sentou-se ela logo pegou seu notebook de dentro da bolsa.

– Olha só Masato – disse ela, mostrando em sua tela – As intenções de voto estão aumentando a cada dia, se eu mantiver esse ritmo, com certeza irei vencer. – A felicidade de Aiko era palpável.

Masato não disse nada, queria pelo menos esboçar uma pequena alegria pela conquista da irmã, mas não conseguia esquecer a humilhação da noite passada, apenas tomou um gole de seu chá e mordeu seu croissant.

– O que houve Masato? - perguntou ela, não tão animada quanto antes, percebera que algo o incomodava.

Fico contente que esteja dando tudo certo para você irmã. Mas ao mesmo tempo, tenho a sensação de que estou ficando para trás. Eu não sei... explicar, estou com raiva, e sinto uma angústia aqui dentro. - Ele apontou com o indicador para seu coração.

– Por muito tempo me sentia assim também Masato, na verdade há noites em que ainda me sinto. A sensação de a corrida já ter iniciado e você ainda nem saiu da largada... - ela suspirou profundamente e olhou nos olhos dele – Seja lá qual seu plano, vai dar certo.

– É quase impossível dar certo o que tenho em mente, minha querida irmã. Eu não sou igual a ele, não tenho astúcia e nem um por cento de sua sorte, ou seja lá o que ele possui. - Aiko apenas franziu a testa e perguntou:

– De quem está falando?

– Takeshi, é claro – disse um homem, no banco de trás deles, levantou-se e juntou-se a eles. Masato não demonstrou estar surpreso, diferente de Aiko, a cara de Ryuji estava um pouco enxada, parecia que não tinha dormido bem à noite. – Sua única maneira de conseguir é firmando sua liderança. Você precisa conspirar contra ele, e dar um jeito em Hiroshi também, se deseja ser o oyabun.

Masato batia o dedo indicador rapidamente em seu copo de nervosismo, naquele instante encontrava-se sem saída, não tinha a menor ideia de como fazer isso.

– Takeshi é um verdadeiro merda que ama chamar atenção. Ele é uma ameaça direta aos meus planos de liderar a Yakusa devido à sua influência. E por mais que eu odeie admitir, não posso menosprezar suas habilidades. - disse Masato.

– Acredito que está superestimando Takeshi – rebateu Ryuji – ele é inegavelmente inteligente, mas é Hiroshi a quem não se deve menosprezar. Ele é o oyabun!

– São muitos obstáculos... De qualquer direção há um inimigo. – disse Masato, olhou lá para fora com desinteresse – Preciso de um bom plano para lidar com eles.

O silêncio reinou um instante, Masato terminou seu chá e percebeu que Ryuji não desviava o olhar de Aiko, que observava atentamente para seu notebook. Mas hesitou em perguntar o que tanto chamava-lhe atenção em sua irmã.

– Você precisa na verdade é de um aliado poderoso, irmão - disse Aiko, Masato e Ryuji se entreolharam.

– Um aliado igual a você? - perguntou Ryuji insinuando algo, sua voz soou grave, um tanto ameaçadora.

– Sou uma excelente aliada! Faço parte da liderança de um dos maiores partidos do Japão e milhares confiam em mim! – rebateu Aiko, irritada. Ryuji esboçava um sorriso de canto da boca, Aiko ficou mais brava quando percebeu que caiu no jogo dele, mas respirou fundo acalmando-se e continuou – Eu conheço uma pessoa que pode ajudar.

– E será que podemos confiar, Masato? – perguntou Ryuji – estamos numa situação delicada que pode piorar. A crescente fama de Takeshi pode facilmente se tornar influência e ele usará todas as armas. – Mas antes de Masato dizer algo, Aiko disparou:

– Você é meu irmão... e mais, pela situação atual, você não está com direito de negar ajuda.

– Na verdade, posso negar a ajuda de quem atrapalha – rebateu Masato, Aiko semicerrou os olhos por um instante indignada, não era essa a resposta que ela esperava.

– Eu garanto para você que irá me agradecer futuramente. Ele é um aliado poderoso e leal para o que lhe convém, ele tem influência e muito dinheiro. Coisas que pelo cargo que você deseja ocupar meu querido irmão, nunca são de mais.

– Você fala com firmeza sobre esse tal aliado... – disse Ryuji.

Ele se aproximou e sussurrou algo no ouvido dela. A feição de Aiko mudou no mesmo instante, estava pálida, parecia que tinha visto um fantasma. Ela não disse mais nada, apenas levantou-se apanhou suas coisas e saiu. Masato não entendeu nada, segurou forte no braço de Ryuji e perguntou:

– O que disse a ela?

– Apenas algo para garantir lealdade total desse tal aliado. - Ryuji olhou para ele, Masato levemente fez que sim, com a cabeça.

            
            

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