Capítulo 2 Miseravel

"Por favor", implorou Elisa, olhando nos olhos da dona com desespero. "Eu sou uma ótima garçonete."

"E você ainda não se formou no ensino médio", a dona, uma mulher de meia-idade com enormes pérolas, fez uma careta. "Aqui não aceitamos gente como você."

Elisa franziu os lábios e amassou o currículo na mão. "E é por isso que seu negócio está falhando", respondeu ela, fazendo o rosto da senhora ficar vermelho.

"O que você acabou de dizer?", ela exclamou com raiva.

Era quase ridículo, mas Elisa não teve tempo para rir, pois teve que sair correndo antes que a senhora causasse uma cena.

"Volte aqui, sua pestinha!", gritou, mas Elisa já tinha saído do pequeno restaurante.

Ela olhou para o chão e chutou uma pequena pedra inocente no canto da estrada.

"Que vida de merda", murmurou baixinho enquanto tirava um papel do bolso. "Lá vai minha última parada", disse, riscando o nome do restaurante que supostamente estava contratando uma nova garçonete.

Ela não sabia que tinha que ser pelo menos uma formada no ensino médio para ser qualificada como uma de suas trabalhadoras.

Neste ponto, ela já tinha vontade de desistir. Ela já tinha dois empregos, pelo amor de Deus! Trabalhava em uma loja de conveniência ao amanhecer e como assistente de florista durante a manhã. Queria tentar a sorte para conseguir um trabalho noturno no restaurante, mas a sorte não estava do seu lado.

Elisa olhou para o seu telefone e sorriu ao ver o sorriso brilhante de seu irmão no fundo de tela. Ele era a razão pela qual ela estava trabalhando em tantos empregos no momento. Depois de ser diagnosticado com leucemia há apenas um mês, ele precisa começar o tratamento o mais rápido possível. Mas com o dinheiro que ela tinha atualmente, sabia que precisava aceitar mais empregos para pagar pelo tratamento dele.

Ela não podia desistir, então começou a caminhar mais uma vez, esperando encontrar um cartaz de "contratação" dos restaurantes da área.

Ela sorriu encantada quando finalmente viu um cartaz de "contratação" após horas de caminhada. No entanto, parou rapidamente quando seu telefone de repente tocou.

Ela atendeu o telefone com a testa levemente franzida.

"Mãe?"

"Elisa", disse sua mãe em um tom preocupado.

"O que aconteceu?", ela perguntou imediatamente.

"Eu não sei o que fazer, Elisa". De repente, ela desabou e...

"Calma, mãe", disse ela, embora se sentisse mais frenética do que nunca. "Me diga o que aconteceu".

"É o Cameron", finalmente disse sua mãe. "Ele está no hospital neste momento".

"Merda", ela xingou entre dentes, seu coração batendo freneticamente. "Estou a caminho."

Enquanto isso, na residência luxuosa da Villa Palermo.

"Querido", Leonardo saudou pelo telefone. "Você não vai vir para casa hoje?" ele perguntou.

"Você sabe que tenho uma sessão de fotos hoje, amor", disse Alina com uma voz doce, o que instantaneamente fez Leonardo sorrir. "Vou para casa amanhã".

Ele pigarreou ao lembrar da conversa que teve com seus pais há alguns momentos.

"Termine com essa mulher e comece sua própria família, Leo. Você não está ficando mais jovem, e tenho certeza de que já quer herdar nosso negócio familiar", foi o que sua mãe tinha dito.

"Você pensou sobre o que te perguntei ontem?", ele perguntou.

Alina suspirou. "Não posso, Leo", disse ela. "Eu não quero ter seu filho ainda. Minha carreira como modelo está apenas começando. Não posso arruinar meu corpo por um bebê".

Ele franziu os lábios, mas murmurou em resposta. Era compreensível. Sua namorada de 24 anos é apenas uma novata na indústria de modelagem, enquanto ele já era um jovem de 28 anos com um nome estabelecido como conglomerado.

"Tudo bem", disse ele. "Acho que te vejo amanhã, então?"

"Até amanhã, amor", disse Alina, voltando à sua forma flertadora. "Mal posso esperar para te ver e provavelmente... nos divertir um pouco".

Ele sorriu e balançou a cabeça. Ele já sabia qual seria a definição de "diversão" para Alina.

"Mal posso esperar", disse ele antes de finalmente desligar o telefone. No entanto, mesmo após sua doce conversa, ele não conseguia tirar da cabeça as palavras de sua mãe.

Com isso, ele ligou para um de seus amigos mais próximos, Javier.

"Vamos beber", disse ele sem nenhuma introdução.

"O quê?", perguntou Javier, obviamente acordado de seu sono. "Eu estava dormindo, seu merdinha".

Ele riu enquanto pegava as chaves de sua nova Harley Davidson.

"Chame os outros e me encontre no clube noturno de sempre".

"Seja lá o que for, cara", disse Javier com um bocejo. "Vou voltar a dormir".

"Eu pago", disse ele enquanto ligava sua moto.

"Bem, por que você não disse antes?", exclamou Javier, seu humor mudou.

"Estou a caminho".

Leo sorriu enquanto acelerava seu motor. "Era o que eu pensava".

Ele chegou ao clube noturno e ficou surpreso ao ver que todos os seus amigos já estavam lá.

"E aí, cara?", saudou Javier. "Já pedimos algumas bebidas."

Ele pegou um copo e o encheu com licor forte, bebendo o líquido diretamente em sua garganta.

"Mais devagar", disse Dylan, um de seus amigos. "Por que você nos chamou para beber?"

"O de sempre", disse Leo, tomando outro gole.

Javier riu e balançou a cabeça. "Não me diga, é sobre começar uma família de novo? Seus pais ainda estão nisso?"

"Sim", disse Leo. "E acho que desta vez eles estão falando sério. Eles não querem me dar a companhia até que eu tenha minha própria família".

"O quê!?", exclamou Maxi. "Isso é uma merda, cara! Você tem trabalhado na sua empresa desde que nos formamos".

Ele deu de ombros indiferentemente. "Nem sei".

"Bem, você falou sobre isso com a Alina?", perguntou Javier. "Vocês estão juntos há dois anos".

"Esse é outro problema", disse Leo. "Alina ainda não está pronta para ter uma família. Ela quer se concentrar na carreira agora que as maiores marcas estão reconhecendo ela. E não acho que meus pais aprovem ela também. Eles realmente nunca gostaram dela".

Dylan estalou a língua. "Bem, você tem razão nisso. Sua mãe praticamente não fala quando ela está por perto".

Leo suspirou de frustração enquanto tomava outro gole. "Já não sei mais o que fazer, poderia deixar a empresa".

"Você não pode fazer isso, cara!", disse Maxi. "Pense em todos os sacrifícios que você fez. A empresa praticamente é sua. Só faltam os documentos legais".

"Então, o que você sugere que eu faça?", perguntou Leo.

Seus três amigos ficaram em silêncio.

"Que tal isso?", disse Dylan de repente.

Todos voltaram sua atenção para o amigo mais jovem.

"Vocês sabem sobre as substitutas, certo?"

"Sim, mulheres que carregam os bebês de outro casal", respondeu Javier.

"Exato", disse Dylan. "E as mães substitutas se tornaram muito comuns hoje em dia. Você só paga um dinheiro para elas e elas terão um filho para você".

"Você está dizendo que o Leo deveria ter uma substituta?", perguntou Javier. "Isso é absurdo, cara".

"Talvez eu tenha que concordar com o Javier nisso", disse Maxi. "E você está esquecendo o fato importante de que os pais do Leo não gostam da Alina".

"Simples!", disse Dylan. "Só case com a mãe substituta também. Depois, após dar à luz e transferir os documentos legais da empresa para o Leo, vocês dois podem pedir o divórcio. Tenho certeza de que a Alina não se importaria, também, já que ela não quer engravidar, certo?"

"Você está louco", disse Maxi. "Mas odeio que você tenha um bom ponto".

Dylan sorriu orgulhosamente. "Esta é definitivamente a única maneira de fazer isso, Não há outra maneira melhor".

Javier suspirou e se virou para Leo. "O que você acha, Leo? Acho que é uma loucura, mas e se realmente funcionar?"

Ele franziu os lábios antes de se levantar. "Estou indo para casa".

"O quê?", exclamou Dylan. "Você nem ficou aqui por uma hora".

"Coloque na minha conta", disse ele, tirando a carteira e passando-a para Javier. "Me devolva amanhã".

Ele estava prestes a sair quando Dylan o chamou. "Espera", disse ele. "Então, o que você acha da minha ideia?"

Ele zombou e balançou a cabeça. "Você está completamente louco".

Saiu do bar sem olhar para trás e dirigiu de volta para casa.

Estava um pouco bêbado pelo álcool, mas ainda muito consciente de seu entorno.

Naquele momento, as palavras de seus amigos ressoavam no fundo de sua mente.

"Uma substituta, hein?", murmurou baixinho.

Naquele momento, ouviu um forte buzinaço vindo do outro lado da estrada. Levantou a cabeça e viu um caminhão vindo em sua direção.

"Merda", ele xingou alto, e então a próxima coisa que soube foi que tudo ficou preto.