Capítulo 3 Girls Just Wanna Have Fun

"That's all they really want, some fun.

When the working day is done, girls they wanna have fun."

- Dylan e Luke? Sério? - Sabrina perguntou, sua voz mais elevada que o normal enquanto tentava superar a música alta do lugar. - Mas eles eram melhores amigos até o mês passado.

- Bem, são adolescentes. Geralmente, isso explica tudo. Nós éramos infernais naquela época. - Avery encarou a amiga por alguns instantes antes de continuar. - Mas, nesse caso, eu sinto que tem algo a mais. Só não sei o que é. Ainda.

As duas estavam no Hunter's, um bar com ótimas bebidas e um atendimento mais que simpático. A melhor forma que elas conheciam para começar a semana da maneira correta. Principalmente, porque o dono era irmão mais velho da Morgan, Hunter Avery.

Nada menos que o chefe daquele clã de desajustados.

Muito sério, muito responsável e infinitamente amoroso, ele era o respeitável dono do lugar a cerca de cinco anos e o gerenciava pessoalmente. Todos dias e sem falta, exceto pela surpreendente ausência naquela noite em especial.

- Oh, então você vai dar um jeito. - Não era uma pergunta. A morena cutucou a amiga de uma forma engraçada antes de prosseguir, fazendo Morgan questionar quanto álcool havia naquele drinque rosa-fosforescente dela. - Quando coloca algo na cabeça, só para quando consegue o que quer. Inclusive, se fizer isso até esse sábado, serei eternamente grata.

- Você tem mais fé em mim do que seria recomendável. - A resposta foi seguida de um pequeno gole de Whisky.

- Está brincando? Você é a pessoa mais obstinada que conheço. - Saby abriu o tipo de sorriso que a ruiva conhecia desde a infância, cheio de uma estranha mistura de implicância e carinho. - E eu cresci com você e seus irmãos, então esse é um baita elogio.

- Cheira mais como uma crítica, mas se é o que você diz, vamos fingir que "cabeça dura" não era a palavra que pretendia usar nessa frase. - Morgan debochou, recebendo um leve empurrão da morena que ainda levava o mesmo sorriso nos lábios. - Mas o que tem de especial no sábado, afinal?

- Não temos mais nenhum assunto na lista? - Clarke conferiu o próprio check list mental de assuntos importantes entre elas. - Nenhuma novidade? Nada de tretas, questões de família ou novos gostosões em potencial?

- Nenhuma que eu lembre, nada que você não saiba e nenhum que valha qualquer investimento. - Ela deu de ombros, observando a empolgação da amiga com curiosidade. Era quase como ver uma bomba prestes a detonar. A mesma tensão, mas, provavelmente, menos fatal. - Então, eu diria que já sabemos tudo sobre o fim de semana uma da outra, é quase como se estivéssemos lá.

- Isso! Finalmente vamos ao ponto alto da noite! - Morgan ergueu uma sobrancelha, silenciosamente mandando a amiga à merda com o olhar. - Bom, é a verdade. Passei o resto da tarde me coçando pra te contar sobre a ligação da Brothers Grant!

- Eu imaginei, estava mesmo me perguntando quanto tempo você aguentaria antes de contar. - O gesto obsceno que recebeu de Sabrina também não surpreendeu a ruiva. - Por mim, você podia ter começado dai, seria bem mais interessante que sua ultima manobra pra se livrar de desconhecidos depois do sexo.

- Ei! - A exclamação indignada quase convenceu Morgan, mas a morena já levava o costumeiro olhar sacana. - Meus métodos são tão bons quanto meu desempenho na noite anterior. Isso rende as melhores histórias.

- Considerando que eu conheço todos os seus métodos, acho que sou qualificada para dizer que você já esteve melhor. - Ela comentou despreocupada, acenando para o garçom e pedindo uma segunda rodada. - Quanto ao seu desempenho, vou ter que confiar em você.

- Que isso, Morgana? Eu te pegaria tranquilamente, se quiser descobrir em primeira mão. - Elas trocaram um sorriso fácil, enquanto Morgan ruborizava, inconscientemente. - Mas sua curiosidade sexual não é o ponto aqui.

- Não fui eu que falei sobre isso, só pra constar.

Saby ignorou a ruiva e sua risadinha despreocupada, falando com uma empolgação que era maior que ela mesma.

- Me ligaram para marcar uma visita à Fundação, porque o próximo evento da Brothers grant vai ser em prol da Corpo e Alma. - Ela batucou a mesa onde estávamos, numa estranha imitação do soar de tambores imaginários, a qual Morgan já estava acostumada a presenciar. - Thomas fucking Ried me ligou. Tipo, ele mesmo. Em pessoa e pessoalmente.

- Isso pareceu só um pouco repetitivo, querida. - Naquele ponto, Avery já gargalhava, completamente submersa na empolgação da amiga. - Espero que você tenha se agarrado ao pouco de dignidade que te resta, em vez de tietar o cara.

Em resposta, a morena soltou um suspiro ruidoso e murmurou algo como um "por favor" bem condescendente.

- Droga! Você fez pior que isso, né? - O reconhecimento de Morgan fez a outra erguer os ombros, abrindo um sorriso constrangido. - O que seria pior do que tietar nosso futuro patrocinador como a fã surtada, que claramente existe dentro de você?

- Eu mandei ele a merda. - Ela tentou uma resposta baixinha, torcendo para a música abafar suas palavras. Entretanto, a ruiva entendeu a frase mais do que gostaria, de modo que Saby resolveu soltar o resto de uma vez. - E desliguei na cara dele.

- Mas que porra... - A exclamação tinha, para além da incredulidade, uma duvida real. Ambas esperavam isso a meses, então uma ligação da Brothers Grant não seria nenhuma surpresa. - Por que você faria isso?

- Eu pensei que fosse o desgraçado do seu irmão! - A morena confessou com evidente indignação. - O Carter vem me sacaneando durante o último mês inteiro, passando trotes pro meu telefone. Da última vez ele era o balconista gatinho daquela Starbucks da 6th avenida. Na semana passada, ele me fez acreditar que era a ganhadora de um sorteio na The Strand Bookstore e eu nem tinha me inscrito. Como aquele desocupado consegue tantos números de telefone diferentes, ein?

- 'Ta me zoando, Sabrina?

- Foi vacilo, eu sei, mas to te contando. Podia ficar caladinha, fingindo que nada aconteceu, ou mentir. Até porque eu resolvi tudinho. - Clarke se apressou em explicar a situação, vendo a irritação sumir do rosto da amiga, dando lugar a um erguer de sobrancelha característico. Provavelmente, a morena teria que melhorar suas desculpas. - Ainda assim, decidi honrar nossos votos de honestidade. Isso, certamente, é o mais importante aqui.

- Caramba! Essa relação de gato e rato que você tem com o Carter ainda vai acabar comigo. - A ruiva resmungou, tomando um gole da nova dose de Whisky. - É o pior tipo de preliminar que eu já vi.

- Preliminar uma ova! Vira essa boca pra lá. - Saby fez um sinal da cruz meio estranho, lançando um olhar sujo para Morgan. - Quer ouvir sobre a ligação ou não?

- Claro, Fletcher Reede. Prossiga.

- Depois da merda feita, eu percebi que a ligação foi pro numero da Fundação, não pro meu pessoal. Seu irmão é um otário, não se ofenda, mas ele não brincaria com a Corpo e Alma. - Avery ficou contente que, ao menos, a amiga também chegara a essa conclusão, ainda que com um pouco de atraso. - Então, em toda a minha gloriosa inteligência, eu percebi que tinha desligado na cara do Thomas Ried verdadeiro.

- Como faz pra adiantar o papo, bruxinha? - Eis o momento que se repetia na maioria das conversas entre elas, quando Sabrina se estendia em detalhes, além do que a curiosidade de Morgan poderia suportar. - Tem algum botão ou algo assim?

- Você não é tão ousada quanto imagina pra conhecer todos os meus botões, Morgana. - Mais uma vez, o rosto dela avermelhou, embora a ruiva continuasse sorrindo, completamente acostumada com o senso de humor obsceno da amiga. - Em todo caso, houve um curto momento de pânico, enquanto eu decidia se o meu orgulho valia de alguma coisa. Então, uns dois segundos depois, eu resolvi ligar e implorar o perdão de um completo desconhecido. Foda-se, quem precisa de dignidade, afinal?

- Eu não! To muito satisfeita com esse Whisky e um patrocínio pra Fundação.

- Mas eu nem precisei chorar. - Sabrina continuou, ela mesma ainda estava surpresa com a própria sorte. - Ele me atendeu rapidinho e até foi super compreensivo. Ficou meio confuso a princípio, porque eu posso ter entrado no 220 volts por alguns instantes, mas Thomas Ried é muito simpático.

- Oh, graças a Deus. - Ela soltou um longo suspiro. - Porque foi tudo da boca pra fora. Seria como vender a alma ao diabo se ele fosse um babaca.

- Sossega o coração, irmã. - A morena balançou a cabeça, agitando as tranças tingidas de rosa. - A conversa foi rapidinha depois disso. Ele nos deu parabéns e marcamos a visita da equipe da Brothers Grant para esse sábado. Eles vão passar um tempo nos acompanhando, só para checar alguns números e ver o dia a dia do projeto.

- Mal posso esperar. - Não era apenas a frase que transbordava ansiedade, a mulher inteira parecia elétrica com as notícias. - Vou ensaiar as melhores músicas e concertos com todas as turmas nesta semana. Podemos reencenar a peça da primavera e organizar alguns amistosos entre as equipes de esporte. Teremos pouco tempo, mas vamos fazer funcionar.

- Esse é o pensamento. - Saby confirmou, contagiada pela energia da companheira. - O comunicado já 'tá pronto e vai ser enviado amanhã, assim que começar o horário comercial.

- Então, eu proponho um brinde! - Morgan ergueu o copo, com poucos goles de Whisky restantes. - À sua loucura e coragem de se arriscar, você faz nossa irmandade mais forte, bruxinha.

- Espera. - Clarke parou, prestes a encostar sua taça vazia na da ruiva. - Podemos brindar à irmandade sem a Samantha aqui?

- Não sei, a falta dela é como um feito inédito. - Elas riram, enquanto Sabrina lambia o açúcar rosa na borda do próprio copo.

- Bom, não to a fim de descobrir, então é melhor ligar pra ela.

- Tá louca? São... - Levemente alcoolizada, Morgan levou alguns instantes para lembrar como checar as horas em seu relógio de pulso e acrescer o fuso horário. - São três horas da madrugada em Manchester.

- Bom, não dá pra beber sem brindar e não posso brindar sem a bruxa boa aqui, isso supera qualquer fuso horário. - Saby falou tudo com certo pesar, enquanto observava o fundo da taça vazia. - É matemática básica, pode conferir.

- Também não dá pra beber se não tem nada no seu copo, só uma dica. - A ruiva acrescentou, tomando o resto da própria bebida. - Mas, provavelmente, eu deveria ligar mesmo. Seu argumento fez algum sentido pra mim, isso é sinal de que precisamos da boa influência de uma mente sóbria.

- Ótimo, você liga e eu pego a saideira.

Samantha não estaria no melhor humor, sendo acordada à essa hora, mas já estava acostumada ao ritmo das amigas e, principalmente, sempre tinha alguma bebida guardada para esses momentos.

Finalmente o tipo de agitação que Morgan estava procurando.

            
            

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