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"Sometimes the stars decide to reflect in petals in the dirt,
When I look in your eyes I forget all about what hurts."
Thomas observava o lugar com uma crescente tensão.
Não tinha se passado muito mais que uma hora, desde que ele e os irmãos chegaram à velha construção no Bronx, mas a cada instante, o ator tinha mais certeza de que precisava de uma parada.
Acontece que, nesse curto espaço de tempo, o mais velho já tinha se encarregado de três ligações da assessoria de mídia e estava respondendo o quinto email, quando Simon confiscou seu telefone.
Pessoalmente, Thomas não dava a mínima para o que a imprensa noticiava, mas tinha uma compreensão profunda de como aquele mundo se movia.
Trabalhando a tanto tempo nesse ramo, ele sabia que um homem nunca sairia tão afetado de uma situação dessas, mas não podia dizer o mesmo de uma mulher no começo da carreira.
Então, ainda que só desejasse paz, ele passava o dia apagando pequenos focos de incêndio e recebendo notícias da assessoria que, secretamente, tinha cedido à Ravenna. Para não mencionar todo o tempo que perdia com as propostas dos mais diversos veículos de mídia, que atormentavam seu empresário. Todos loucos por uma entrevista com o ator.
Aparentemente, Sunny havia conseguido o que queria. Já que a obra do demônio que ela chamava de autobiografia, transformou a vida dele numa bela bagunça.
Assim, quando o assessor publicitário voltou, dessa vez acompanhado, Thomas estava ansioso para começar - e, sinceramente, terminar - as gravações.
- Senhores, essa é Sabrina Clarke. - Cory disse, apontando a bela negra, que era quase tão alta quanto ele.
Dona de um sorriso fácil e olhos enérgicos, a mulher cumprimentou os irmãos com um aperto firme, revelando parte do braço tatuado sob o elegante terno de alfaiataria.
- A senhorita Clarke é uma das voluntárias da Fundação, além de responsável por este evento. - O assessor continuou.
- É um prazer conhecê-los.
Diante daquela pose de "sorriam e acenem", Thomas concluiu que ninguém desconfiaria, que aquela mulher, tão séria e toda alinhada num terninho caro, havia protagonizado um louco episódio ao telefone.
O ator não julgava, claro. Certamente, estava acostumado a reações estranhas - talvez piores que aquela -, mas precisava admitir que imaginou uma Sabrina diferente.
Ainda assim, a coisa toda rendeu boas gargalhadas entre os irmãos, o que veio a calhar depois da semana que ele teve.
- Por favor, me chamem de Sabrina. - Ela emendou. - Sou uma das responsáveis pelo setor de marketing e investimentos da Fundação.
- Fico feliz em conhecê-la pessoalmente, Sabrina. - Simon se adiantou, com um sorriso sacana crescendo em sua boca. - É muito bom por um rosto à doce voz que ouvimos ao telefone.
Os olhos da morena se arregalaram levemente e Thomas podia jurar que palavras como Carter e morte sangrenta foram ditas, ainda que não passassem de um sussurro rápido.
Mesmo assim, a mulher nem piscou. Dando uma ligeira olhada para Cory e seu rosto inexpressivo, ela manteve a postura solene e, quando voltou a falar, não se dirigia a nenhum dos homens na sala.
- Pode entrar, querida. Estávamos apenas te esperando.
Seguindo o olhar de Sabrina, um pequeno sorriso ficou preso nos lábios de Thomas, diante da visão daquela ruiva em seus jeans escuros e expressão confusa. Não foi preciso muito para que reconhecesse a pequena figura de olhos claros que atravessava a sala.
De fato, ele ficou absorto naquela mulher. Estava tão atento aos seus movimentos e ao som que os saltos de seu coturno faziam sobre o chão de madeira, que despertou assustado, com o irmão cutucando suas costelas.
- Você mandou mensagem a uma hora e depois não atendeu nenhuma ligação. - Mesmo sem perceber, Thomas ainda registrou aquela voz familiar, saindo dos lábios vermelhos.
Confuso com seu pequeno momento, o ator encarou Simon e se deparou com o próprio gato de Cheshire. O mais novo não teceu comentários, mas isso não impediu a vermelhidão que tomou conta do rosto de Thomas, perante o sorriso estranho do irmão.
- Ainda vai precisar de mim, Saby? - Morgan perguntou ao se aproximar da amiga.
- Você não imagina o quanto. - Naquela altura do campeonato, a ruiva não deveria, mas estranhou o comportamento de Sabrina.
Erguendo as sobrancelhas para a ênfase naquelas palavras, ela tomou seu tempo observando a situação.
Claro que reconheceu Thomas Reid e seus irmãos de imediato. O ator esteve em mais capas de revistas, na última semana, do que ela poderia contar. Além disso, sabia exatamente como era o rosto do seu patrocinador.
Só não imaginava que a realidade fosse tão melhor que as fotos.
Cedendo ao desejo de examinar o homem - no que, provavelmente, seria a única oportunidade de fazê-lo pessoalmente - ela o encarou de cima a baixo, muito satisfeita com o que via.
Mesmo que continuasse confusa com toda a situação.
- Essa é Morgan Avery, coordenadora das produções artísticas e nossa supervisora de ensino.
Quando a voz de Saby a trouxe de volta à realidade, ela se adiantou em cumprimentar os irmãos com um sorriso polido, conforme eram apresentados.
- Ela vai acompanhá-los durante a visita e as gravações de hoje. - Sabrina anunciou.
Seu tom era claro e tranquilo, como se tudo aquilo estivesse combinado desde o início.
- Vou? - A ruiva, por outro lado, não conseguiu esconder a surpresa, recebendo uma cotovelada quase discreta. - Vou, claro. Vocês estão em boas mãos, eu conheço cada canto desse lugar.
Olhando ao redor, Morgan começou a imaginar todas as coisas que, supostamente, aconteceram para estar ao lado daqueles homens hoje, mais de um mês antes do combinado.
Além disso, a ruiva também aproveitou o instante para acrescentar aquela situação à lista de dívidas que Sabrina tinha com ela.
- Morgan Avery. - Peter disse, chamando sua atenção. - Você era a pianista do vídeo que recebemos, certo?
- Eu mesma. - Ela abriu um sorriso educado.
- Aquilo ficou ótimo. - Henry admitiu. - O arranjo também é seu?
- Sim. - A ruiva concordou. - Nós costumamos trabalhar com covers e autorais, para promover nossos musicistas, e A Million Dreams pareceu bem apropriada para a ocasião. Então, trabalhei a melodia para se encaixar com nossa orquestra de seniores.
- Realmente, muito bom. - O elogio partiu de Simon, que ainda encarava o irmão mais velho com um olhar sacana. - O Thomas aqui, não conseguiu tirar a melodia da cabeça pelo resto da semana. - Ele passou o braço pelos ombros do ator, dando um aperto brincalhão enquanto insistia. - Não foi mesmo, Tommy?
O moreno virou-se pro irmão com uma expressão de poucos amigos, como se o xingasse silenciosamente. Mesmo assim, quando se dirigiu a Morgan, um sorriso gentil se espalhava aos poucos em seus lábios.
- Você é mesmo muito talentosa, Avery. - Thomas comentou com simplicidade, ainda que seu tom fosse mais grave do que pretendia.
Eles se encararam por um momento, como se estivessem presos em alguma competição bizarra. Finalmente, quando conseguiu falar, Morgan ficou surpresa com a serenidade da própria voz, comparada a euforia que sentia por dentro.
- Obrigada, senhor Reid. - Ela agradeceu ao moreno, para logo se voltar aos demais. - Por que não organizam o equipamento, enquanto eu troco uma palavrinha com a Sabrina? Então, nós poderemos começar.
A ruiva recebeu alguns acenos de concordância e, rapidamente, seguiu para o corredor, com Saby à reboque.
Por todo o percurso, continuou sentindo o olhar do ator sobre si.
- O que acabou de acontecer? - A ruiva sussurrou quando ambas alcançaram o corredor. - São os Reid naquela sala.
- E você percebeu que tinha mais gente lá, além do gostosão Thomas Reid?
- Sabe, às vezes, eu te vejo nesse mood profissional e esqueço que você só pensa putaria. - A ruiva murmurou, revirando os olhos. - Então, vai me explicar o que houve?
- Ih, olha lá! Você sempre fica irritadinha quando não quer admitir o óbvio. - Sabrina quase cantarolou. Fora do feitio de trabalho, ela se negava a perder uma chance de implicar com a ruiva.
Morgan, por sua vez, se limitou a encará-la, muito concentrada em não se deixar contagiar pelo sorriso da amiga.
- Tudo bem! - Ela se deu por vencida, voltando a sussurrar para Morgan. - Obviamente, aqueles são os Reid. Já o aprendiz de Vic Sage, é o assessor deles. O cara não é exatamente o mestre das expressões, ou dos avisos com antecedência.
Sabrina comentou entredentes, dando uma pequena olhada. Só para checar que ninguém as ouvia.
- Ele me ligou hoje, super cedo, dizendo que um conflito de compromissos fez com que a agenda de eventos da Brothers Grant fosse adiantada.
- Então, anteciparam a visita dos Reid em quase dois meses? - Morgan quis saber.
- Pois é! - A ruiva se pegou sorrindo, enquanto Sabrina se garantia que os homens na sala ainda estavam distraídos, depois do seu grito. - Eles só confirmaram o voo nessa madrugada, então o aviso veio bem em cima da hora.
- Isso atrapalhou muito o seu cronograma?
- Mais do que muito. A assessoria manteve a programação de inventário e avaliação fiscal da Fundação para hoje. Então, ainda vou ficar presa com os engravatados por horas. - Saby respondeu. - Por mais que me doa, não posso entreter os irmãos gostosos até as apresentações da tarde.
Morgan lançou um olhar atravessado para a amiga e sua mania de se arrastar nas explicações. Não importava se a pergunta poderia ser respondida em uma única frase ou se precisava de um longo monólogo, ela sempre escolhia o segundo.
- Então, como suas manhãs costumam ser livres...
Sabrina hesitou, vendo a ruiva franzir o cenho.
Sabia muito bem o que Morgan pensava sobre estar em frente às câmeras. Inclusive, esse foi um dos maiores problemas quando gravaram o vídeo para a Brothers Grant. Ainda assim, ela estava de mãos atadas.
- Eu até pediria a outra pessoa, mas a Samantha ainda está em Manchester e quase todos os professores estão ocupados com os últimos detalhes pras apresentações. - Ela disse, soltando um suspiro cansado em seguida. - Só sobrou a Sarah, Morgana. Então, por favor, não me faça pedir isso a ela.
- Eu gostaria de dizer que você está mais prolixa a cada dia que passa, mas o "Ela vai acompanhá-los durante a visita e as gravações de hoje", foi surpreendentemente direto. - Sabrina franziu as sobrancelhas para a imitação da ruiva, mas não pode disfarçar a expectativa no próprio olhar.
- Isso é um sim?
- Pra pergunta que você nem fez? Claro. - Morgan assegurou, olhando-a de lado. - Vou andar com os patrocinadores por aí, impedir que as crianças enlouqueçam por um astro do cinema e jogar meu charme por mais dinheiro para Fundação. Vai ser moleza.
- Graças a Deus! - Sabrina se pendurou nos ombros da ruiva, acertando um beijo na bochecha sardenta. - Eu não confiaria o menor dos segredos à Sarah e a maior parte dessa visita está acontecendo na encolha.
- Ninguém pode saber que os Reid estão aqui?
- Basicamente. - A mulher deu de ombros, revelando uma careta ansiosa. - Não é, exatamente, uma regra. Tá mais pra um pedido, daqueles feitos com bastante persistência.
- Eles sabem que nossos alunos são crianças, certo? - Morgan deixou a cabeça pender para o lado, observando a reação da parceira. - Provavelmente, todos eles já assistiram, ao menos, um filme do Thomas Reid e não perderiam a chance de conseguir uma foto ou autógrafo.
- Nem me fale sobre isso. - Sabrina passou a mão nos cabelos, alisando o elaborado coque de tranças cor de rosa.
Saby sentia-se esgotada e o dia estava apenas começando. Realmente, ela não entendia como Morgan gostava tanto desse caos diário.
Claro que ela agradecia a família, pela oportunidade de fazer administração em uma das melhores universidades do país. De outro modo, não poderia contribuir tanto com a Fundação.
Ainda assim, se ela tivesse convencido a mãe de que nunca assumiria os negócios da família, talvez tivesse mais tempo para si mesma, o trabalho voluntário e sua arte.
Certamente, teria mais paz de espírito e paciência.
- Eu ainda estou pensando como resolver. Pelo menos, os alunos terão ensaios por toda a manhã, vai ser fácil evitá-los. - Sabrina continuou. - Ainda não sei o que fazer com as apresentações. Pensando bem, talvez chamar o Adam seja uma opção. Assim nós podemos fazer uma transmissão ao vivo e deixar os Brothers Gatos assistindo em alguma sala.
- Que tal o novo auditório? - A Morgan sugeriu, pesando os prós e contras. - Eles vão assistir às demonstrações de esportes da cabine do comentarista, certo?
- Me pareceu a única solução.
- Ótimo, a ideia é a mesma. É só levar as apresentações pro auditório e colocar os patrocinadores na sala de controle. - Ela continuou. - O Carter ainda não terminou as coxias, mas a sala está pronta, desde a semana passada, e fica de frente pro palco.
- Talvez fique um pouco apertado, mas essa foi a melhor ideia até agora. - O rosto de Sabrina se desmanchou em alívio e ela apertou a ruiva num novo abraço. - Você tem asinhas, bebê!
Dessa vez, Morgan não pode conter a própria risada.
Saby vivenciava suas emoções tão livremente, que era difícil não se deixar contagiar por ela. Era como um super poder estranho e a morena sabia disso.
Tanto que, constantemente, o usava para enrolar as amigas.
- Onde você pensa que vai, Sabrina? - Morgan questionou, quando a mulher começou a se afastar, indo na direção contrária à que vieram.
- Vou colocar o seu plano em prática, óbvio! - A mulher respondeu com simplicidade, dando de ombros. - Tenho pouco mais de meia hora para a primeira reunião do dia.
- Espera, mas e os Reid? - Morgan questionou, se adiantando poucos passos na direção de Saby. - Você não vai dizer mais nada a eles ou aparecer um pouquinho nesse vídeo?
- Por mais que me doa, eu não tenho tempo nem pra mais uma espiadinha neles.
Morgan acreditou na tristeza daquelas palavras, mas tinha certeza que a intenção não era profissional.
Nem um pouco.
- Então, vou deixá-los em suas mãos capazes.
- Sabe, definitivamente, você está caindo na escala de amizade. - A ruiva tentou sussurrar o mais alto que pode, com medo que alguém a ouvisse. - Sério, a Samantha tá liderando. Sozinha!
- Desculpe. O que disse? - Morgan quase sorriu, com a cara deslavada da morena. - Já estou muito longe pra te ouvir.
- Mas é uma vaca mesmo. - Ela murmurou, ainda prendendo a risada enquanto Sabrina se afastava.
Dando meia volta, Morgan começou a enumerar as poucas coisas que não faria em nome da Fundação. Não estava exatamente frustrada que aquela situação não se encaixasse em sua lista mental. Embora, obviamente, não diria que estava feliz com o que a aguardava.
Bem, de certo, havia um motivo para a Saby lidar com o marketing do lugar e deixar a Morgan por trás das câmeras.
- Sabrina, no que você me meteu dessa vez?
Dando uma boa olhada na quantidade de equipamentos que seriam usados, Morgan ainda pensou em desistir.
Talvez Sarah não fosse a pior das opções, no fim das contas. Até porque, a ruiva sempre achou que Sabrina tinha uma implicância mal justificada com a mulher.
Então, ainda observando o que a aguardava, ela encontrou aqueles olhos castanhos outra vez. Pensando bem, aquilo não poderia ser tão ruim quanto se supunha.
Bom, era isso que ela esperava.