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CAPÍTULO 03
_Agora a menina vai chorar! Precisava disso, Pedro? Interveio João com os olhos vermelhos e inchados. -Olha menina, pouco me importa que você seja negra, roxa, amarela ou branca! A gente não quer é contato. Viemos pra cá à força e queremos fugir. Só isso.
Alice, que até então estava só chorando e calada, perguntou:
_ Aqui é bom?
Eu não sei! Nunca estive em outro lugar!
Pelo menos que eu me lembre!
O que aconteceu com sua família?
Minha mãe me abandonou ainda bebê e eu
nem me lembro dela! Muitas famílias vêm aqui para adotar um filho, mas nunca me levaram!
Eu não disse? É porque você é preta! Gritou
Pedro irritado!
Paula começou a chorar! Ela não sabia que a cor da sua pele era problema! Bem que ela já havia percebido que os branquinhos que chegavam sempre recebiam carinho dos cuidadores, mas não demoravam em ir embora para novos lares. Alice me consolou e disse:
_ Estamos aqui porque meu pai matou a minha mãe!
O quê?? Perguntei atônita. Mas matar é
pecado. Aprendi isso na igreja em que nos levam aos domingos!
Agora foi a vez de Alice chorar! João então continuou...
_ Meu pai sempre foi um monstro conosco. Batia em minha mãe e em nós por qualquer motivo! Bebia todo dinheiro que ganhava e nos deixava passar fome. Não temos parentes aqui no Rio de Janeiro. Morávamos em um barraco na maior favela daqui. Quando minha mãe resolveu deixá-lo e tentar voltar para Maceió onde vive a família dela, ele não aceitou. Esperou que dormíssemos e esfaqueou minha mãe. Ela não teve chance! Acordou gritando para que fugíssemos. Os vizinhos nos acudiram e chamaram a polícia. Ele fugiu antes deles chegarem. Minha mãe já estava morta quando o socorro chegou. Uma moça veio conversar conosco. Uma tal psicóloga. Conseguiram contato dos meus avós em Maceió. São pobres demais para ficar conosco. E também tinham mágoa por minha mãe ter fugido com meu pai para cá. Não temos avós
paternos. Ninguém nos quis; e aqui estamos.
Terminado o relato, lágrimas caíam dos olhos de João e Pedro. Alice chorava copiosamente. A mãe foi sepultada como indigente e nem puderam se despedir .