Capítulo 4 A MALDIÇÃO DA PELE

CAPÍTULO 04

Nesse momento, a tal psicóloga, junto com os cuidadores chamaram os irmãos para uma conversa. Paula sabia do que se tratava. Explicaria sobre o funcionamento do abrigo: os deveres e direitos. Na verdade, Paula nunca soube quais eram os direitos: achava que era a escola e a igreja aos domingos. Ela começou a pensar sobre ser negrinha e foi conversar com outros internos da mesma cor que ela; só que mais velhos.

-Henrique, você está com dez anos. Chegou aqui com dois, como você me contou. Por que nunca encontrou um lar?

- Duas vezes quase fui adotado. As mulheres vieram aqui sem os maridos. Uma vez eu tinha três anos, na outra, tinha quatro. Elas gostavam de mim! Traziam- me doces, presentes... Nos dois casos, depois de algumas visitas, trouxeram os maridos para me conhecer! Aí tudo desandou. Um usou a desculpa de que queria uma criança mais nova a acabaram levando um bebê lindo, de olhos claros, que havia acabado de chegar! Vi o olhar triste que a senhora me deu, mas apoiou o marido. O outro foi mais direto: não queria um filho preto. Foi rude com a esposa e nem adotou ninguém.

Paula conversou com outros tantos. E a resposta era a mesma. Então Paula chorou! Passou a odiar sua pele! Chegou a perguntar a uma cuidadora como poderia clarear sua pele e ouviu um "aguenta que dói menos "

Como pode uma cor doer tanto! Por que o amor poderia ser exclusivo para quem tem pele clara? Paula se perguntava.

            
            

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