Capítulo 2 Um grande arranjo.

O encanto do inverno em Westport, era marcado pela bela paisagem com tons de ciano que compunham o céu ao longo do horizonte. Para uns a estação tinha um certo ar melancólico, mas para Katherine Winstone, era a mais exuberante.

A jovem atravessou o jardim com passadas largas e apressadas, para chegar ao canteiro onde havia plantado seus heléboros, uma vez que era apaixonada pela jardinagem. Com toda sua ansiedade, nem chegou a tomar o chá que sua mãe havia preparado junto de sua irmã mais nova, e apenas seguiu para vê-las desabrochar no encanto nevado.

Segurando a barra de seu vestido, ela o levantou para se ajoelhar diante do pequeno canteiro em volta de algumas pedras. Os seus joelhos afundaram no gramado úmido, grudando um pouco de lama ali, mas Katherine não pareceu se importar, seu olhar estava vidrado nas pequenas flores de encanto amarelo como o nascer do sol.

Com sua mão direita erguida, ela segurou uma das pétalas, sentindo a maciez e a delicadeza na ponta de seus dedos, que até fez com que ela sequer notasse a presença de sua irmã, que se aproximou devagar.

- Não deveria estar se arrumando para conhecer seu futuro esposo? - Leatrice perguntou e pousou sua mão direita sobre o ombro da irmã - O papai falou que ele viria hoje, mais a tarde.

- Eu não vou me casar com alguém que não conheço - Katherine disse olhando para sua irmã por cima do ombro - Nem sei que cor são seus olhos.

- Mas nós o vimos uma vez - A jovem irmã retorceu o lábio, tentando lembrar do homem - Tem alguns anos, eu acho.

Katherine se levantou depressa e bateu as mãos sobre os joelhos sujos e se prontificou diante da sua irmã. A jovem à frente, balançou sua cabeça fazendo com que os fios acobreados, passassem de seus ombros para as costas, dando a visão das alças de seu vestido, azul perolado.

A mais velha das irmãs, forçou um sorriso e agarrou a mão da outra, arrastando-a para outro canto do jardim e fazendo-a se sentar em um dos bancos de ferro, e ficou de pé olhando para ela por alguns segundos.

- Eu me lembraria se o tivesse visto, sabe que tenho uma memória muito boa - Katherine cruzou seus braços abaixo de seu peito - E se eu o vi alguma vez e não me lembro disso, só poderia significar que sua face é tão horrenda que me causou um trauma.

Leatrice levou uma de suas mãos à boca para conter o riso, com as falas de sua irmã.

- E não posso me casar com alguém assim - Ela gesticulou no ar e insistiu novamente - Não vou me casar.

- Mas o papai... - Leatrice tentou falar, mas sua irmã a interrompeu.

- Se o papai insistir, então farei com que o senhor Thornfield desista de mim - Ela disse e sorriu de forma travessa - E sei como fazer isso.

Katherine desceu com suas mãos até os joelhos e beliscava a região, ainda sentindo o local sujo pela lama. Dando algumas batidinhas na parte de sua perna, para depois estender sua mão para sua irmã mais nova, e seguiram o caminho de volta para dentro do casarão.

***

enina.

- Como não, Amélia? - Katherine perguntou e se virou apoiando seus braços na parte de trás da cadeira - Meu pai nem quis me ouvir sobre o que eu achava sobre isso, só me expulsou do escritório dele.

- Com ele foi da mesma forma - Amélia lembrou - E também com seu irmão Kaleb.

Katherine retorceu os lábios, lembrando o que de fato havia acontecido.

Seu irmão teve a chance de escolher, bateu o pé e decidiu se casar com uma jovem camponesa por quem se apaixonou, e independente de sua família e posses, estava com ela e seu pai apenas teve que aceitar. O fato é que agora toda a responsabilidade de garantir um bom casamento caiu sobre o colo da jovem.

E com relação ao seu pai, ele amava sua mãe. Mesmo com toda aquela face rígida e seu temperamento forte, ele nunca conseguia esconder o quanto ficava feliz quando ela lhe preparava um chá e tocava em seus cabelos ou acariciava suas bochechas.

Ela tinha em mente fazer algo parecido com o que seu irmão fez, e com sorte se livraria do homem. Talvez ele corresse por léguas para distante dela, e apenas com esse pensamento, uma pequena faísca de esperança brotou no peito da jovem, e uma lâmpada acendia no topo de sua cabeça.

- O amor é uma flor que desabrocha, mesmo no mais castigado tempo - Amélia disse, segurando firme a escova contra o peito. - Talvez acabe gostando dele no final - ela deu de ombros.

- Você está parecendo Leatrice - Katherine apontou e olhou para seus sapatos brilhantes - Nem em mil anos poderia sequer pensar em ser ou estar apaixonada por Thomas Thornfield.

A senhora à sua frente, com aquelas palavras saindo de sua boca, fazia Katherine lembrar de sua irmã mais nova, apegada a livros de romance, sonhando com uma espécie de príncipe num cavalo branco, que conquista a donzela com seu encanto.

Mas para a jovem não soava assim,

Amélia desprendeu seus braços para as laterais de seu corpo e manteve uma expressão séria, encarando a jovem à sua frente e logo voltou a pentear seus cabelos.

- Mas é com ele que você vai casar - Ela afirmou - Seu pai já decidiu isso.

A mulher terminava as últimas mechas da parte de trás, e Katherine passou um bom tempo quieta e pensativa, enquanto a outra fazia tranças na parte de trás de seu cabelo, e prendia o penteado em um lindo broche.

Meredith - mãe de Katherine e Leatrice - entrou nos aposentos da filha, carregando um vestido em mãos. O sorriso no rosto da matriarca e os pequenos rodopios com o vestido em mãos, denotava o quanto ela estava feliz com os acontecimentos.

Katherine via sua mãe quase dançando pelo quarto, carregando o vestido que lembrava o céu à meia-noite, com adornos brilhantes. Suspeitava que a mãe queria que ela parecesse como a filha de um nobre rei.

- Esse vestido vai ficar perfeito em você, combina com a cor de seus cabelos e olhos - Meredith disse segurando o vestido à frente do corpo de sua filha sentada - Me ajude a vesti-la, Amélia.

- Sim, senhora.

A jovem se sentia como uma boneca de pano sendo puxada de um lado para o outro, pela sua mãe e a senhora que a acompanhava. As duas tentavam ajustar a peça de roupa interna no corpo de Katherine, para realçar sua silhueta, a deixar ainda mais a mulher de forma esbelta.

- Isso deve servir - Meredith disse espetando um broche na parte de trás, fazendo a jovem saltar para frente - E pronto.

Meredith fez sua filha dar um giro para que ela pudesse ver melhor, e de fato a moça estava apresentável. Seus cabelos em longos cachos caiam sobre os ombros e pequenas mechas que pulava para a parte de trás, dava um toque delicado, e o seu vestido azul royal, fazia uma menção a sensualidade da jovem.

Katherine desviou o olhar da mãe para o espelho do outro lado do quarto. O seu reflexo exposto ali, lhe agradava, mas não a deixava feliz. Ela levou suas mãos até a altura dos ombros e jogou as mechas de seu cabelo para as costas.

- Você está tão linda - Sua mãe disse e beliscou sua bochecha de forma suave - E o vestido combinou com você.

- Belíssima - Amélia disse e Katherine sorriu com o elogio - Agora preciso voltar para a cozinha.

- Eu estou indo com você - Meredith avisou para a outra senhora - Quando seu noivo e seu pai chegarem, virei buscá-la.

A matriarca acenou e virou as costas para sua filha. Olhando novamente seu reflexo no espelho, Katherine tentava pensar em algo rápido, ela tivera uma ideia mais cedo, e só precisaria chegar até o andar de baixo sem ser notada ou seria impedida do que iria fazer.

Caminhando até o meio do quarto, a jovem se esgueirou um pouco pela janela, para ter a visão do grande jardim lá embaixo. E como havia imaginado, não havia ninguém naquela área, e isso lhe fez sorrir de forma travessa.

Estendendo suas mãos até o meio da saia de seu vestido, ela levantou um pouco e andou até a porta do quarto, abrindo-a tentando não fazer muito barulho. O corredor estava vazio também, todos deviam estar à frente do casarão cuidando dos preparativos da recepção.

Katherine andava na ponta dos pés, e para sua sorte, o tapete que se estendia pelo corredor abafava seus passos, ela agradeceu mentalmente a sua mãe por ter insistindo com seu pai, para colocá-lo ali.

Tentando não esbarrar nas porcelanas de sua mãe, que eram postas estrategicamente ao lado da janela, ela desviava, pois de vez em quando a barra de seu vestido se prendia a um pedaço do mármore que as segurava.

Quando alcançou as escadas, podia ver a movimentação lá embaixo, alguns ajudantes de seu pai faziam o carregamento de algumas caixas para o escritório, que só imaginava que poderia ser as novas pedras vindas do oriente, que logo iriam se tornar belas joias.

Esperando até que o terceiro homem sumisse de seu campo de visão, ela desceu as escadas depressa e atravessou o grande salão, segurando firme a barra do vestido. À esquerda do recinto havia uma grande entrada e corredor que dava na cozinha, e à direita, uma imensa porta que ao atravessar teria a vista do jardim.

Katherine partiu em disparada em direção ao gramado, e o pisava com força assim que o alcançou.

Ela olhou para baixo, e seus lindos sapatos brilhantes ganharam um tom marrom pela lama e logo depois soltava a barra de seu vestido e o mesmo caia sobre o gramado úmido e sujava as pontas brancas dele.

Com um sorriso de canto, arqueou sua sobrancelha e correu em direção a uma poça que ficava próxima ao balanço onde gostava de passar suas tardes. Agora pulando dentro dela, os respingos de lama grudaram em seu vestido e seus cabelos se bagunçaram durante o processo.

Podia imaginar que Thomas, ao ver a cena dantesca de uma jovem desarrumada e que mais parecia ter saído de um mausoléu, não fosse tão atraente e sequer iria levar adiante o casamento com alguém assim. Ou talvez poderia pensar que a jovem tinha certos problemas mentais, o que seria ainda melhor, pensou.

Quando retornava para dentro do casarão, pôde ver sua irmã lhe encarando fixamente, e sua mãe que surgia logo atrás com a boca aberta e olhos arregalados se questionando sobre o que teria acontecido com sua filha.

- O que aconteceu com você, Katherine? - Meredith passou por Leatrice e agarrou os braços de sua outra filha. - Por Deus, seu pai está no salão e recebendo o senhor Thornfield e seu filho.

- Eu estava pegando algumas flores, e tropecei na poça de lama - Mentiu.

- Como vamos passar por eles com você assim? - A matriarca indagou apreensiva.

- Podem dar a volta no casarão - sugeriu Leatrice.

Katherine não deixaria que sua encenação fosse em vão, e caminhou até o salão e podia ouvir a voz de seu pai e a de mais dois homens que o acompanhavam. Ela quase chutou o ar para chamar a atenção dos senhores e ignorava sua mãe que vinha logo atrás bufando.

Seus olhos caíram sobre o homem que lhe viu primeiro. Os cabelos de tom negros, que tinha pequenos cachos que quase caia sobre os olhos, que lembrava o céu azul, em uma noite fria, e sim gélidos. Seu queixo quadriculado denotava sua masculinidade, e Katherine se questionava se alguma vez notou isso em outro homem.

Dando um passo para trás, quando ele semicerrou os olhos, ela bateu contra o corpo de sua mãe, que atraiu o olhar de seu pai e do outro homem de cabelos grisalhos, com uma roupa engomada de linho.

- Minha nossa, o que aconteceu com você? - Seu pai perguntou, mas ela ainda encarava o homem - Katherine!

- Me desculpem - Meredith se adiantou - Katherine sofreu um acidente no jardim.

- Se machucou? - O outro senhor indagou vindo mais para frente.

A jovem só meneou a cabeça, gesticulando que não. E deu um breve sorriso de canto convencida para o homem que se manteve quieto, a estudando. Após um breve momento ele levou a mão para o rosto e riu, o que fez o sangue da moça gelar em suas veias e depois lançar um olhar ameaçador na direção dele.

- Aproveitem o chá - Meredith disse e agarrou o braço da filha - Vou levar ela para se limpar, descemos em breve.

Com um olhar feroz, Katherine seguiu sua mãe, tinha certeza que não estava completamente vencida, ainda tinha tempo para fazer Thomas Thornfield desistir, e isso seria até o final daquela tarde.