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Vendo seu sobrinho tão empolgado, ficou curioso por conhecer os novos amigos de quem ele não parava de comentar. Já estava acostumado a ser apresentado aos amigos dele, pois o sobrinho gostava de se gabar do tio jogador do time oficial da cidade, mas estes meninos despertaram um interesse diferente no sobrinho, de querer treinar também.
Sua irmã Fabíola, havia voltado para a cidade onde nasceram, então, como já jogava pela cidade, voltou a morar na casa de sua mãe, falecida há alguns anos. Não gostava de ficar muito longe de sua irmã, sua melhor conselheira. Quando soube que o cunhado seria transferido de volta, pediu a casa para o inquilino e mudou-se também.
-Teremos que passar na casa dos amigos do Breno- disse Fabíola ao olhar o celular.
-Por quê mamãe?- Breno se manifestou.
-A mãe dele não está bem e eles não poderiam ir ao parque hoje, então me ofereci para levá-los conosco - aproveitando que o garoto saiu correndo e vibrando falou para o irmão:
- Ela é viúva, não sei há quanto tempo, mas ficar doente com dois meninos em casa num domingo é muito difícil.
-Com certeza- disse Lipe pensando na irmã que já reclamava da energia de um- então vamos levar esta molecada para gastar energia!
Saíram no carro de Lipe. Breno não conseguia ficar quieto de empolgação. Ao parar na frente da casa, sua irmã desceu e seu sobrinho abriu a janela para esperar os amigos. Logo, dois garotos com mochilas e bola pulavam na calçada. Sua irmã se despediu da moça loura e então entraram no carro.
Dando um "oi" aos meninos e não obtendo resposta, olhou pelo retrovisor e viu dois rostinhos com a boca aberta olhando para ele.
- E aí moçada? -tentou mais uma vez.
-Oii- disseram em um coro meio envergonhado, enquanto Breno pulava no banco ao lado.
- Este é meu tio gente!
-uhum- Léo não conseguia nem falar.
-Nossa! Agora entendi o que a mamãe falou da fé! - soltou Lucca de repente.
"Que garoto estranho" pensou Lipe. O que fé tem a ver com isso?
-uhum- repetiu o outro.
-Não tô entendendo nada gente!- Breno falou.
-É que eu falei pra mamãe que um dia você iria nos apresentar seu tio, mas ela falou que pessoas famosas não tem muito tempo e hoje ela falou que nossa fé é muito grande. Acho que é porque ela sabia que seu tio viria né?
Compreendendo melhor a fala do garoto, Lipe achou uma gracinha.
-E nós vamos treinar juntos hoje hein!- falou para ver a reação deles.
-Uhuuuuu - o coro foi animado.
Jogaram por uma hora e meia sem cansar, entre uma parada e outra, por causa de alguém que queria tirar uma foto com Lipe ou que este autografasse algo.
Lipe achou que o irmão mais velho tinha jeito, o mais novo ainda não tinha concentração e somente se divertia, mas Léo levava a sério, esquecendo-se até que, naquele momento, era somente para brincar. Gostou que o interesse de seu sobrinho por jogar foi despertado e decidiu investir na amizade dele com os garotos, decidindo fazer todo o possível para manter este interesse e quem sabe, no futuro, seu sobrinho continuasse seu legado, já que não tinha filhos e estava longe de ver isso acontecer.
Vendo que não tinham intensão de parar, Fabíola os chamou para lanchar. Logo, os quatros sentaram-se no gramado com suas garrafas de água para recuperarem o fôlego.
- Valeu hein moçada, semana que vem tem mais!- Lipe disse.
-Ual! Você vai vir jogar conosco de novo tio? - Breno se impressionou.
-Sim, virei, agora moro pertinho lembra?
-Que legal! A mamãe nem vai acreditar!- Lucca disse todo empolgado.
-É mesmo, não vamos contar, igual ela fez, então, quando ela vier semana que vem, vai ficar igual a nós - Léo planejou.
- Tá bom - concordou Lucca.
- Ela gosta de futebol? -Perguntou Lipe.
-Acho que gosta porque nós gostamos, mas não entende igual o meu pai -Léo falou e ficou meio pensativo.
-Sinto muito pelo seu pai -Lipe decidiu não fugir do assunto, assim dali pra frente não teriam constrangimentos.
-Obrigado - Léo murmurou.
-Fez um ano que ele foi morar com Deus. Nós achamos que Jesus fez uma festa pra ele lá, né Léo?! - Lucca falou e Léo bagunçando seu cabelo, como os mais velhos fazem com os mais novos, concordou:
-É sim, irmão- e parando olhou para Lipe- você poderia autografar esta bola para deixarmos com as coisas que guardamos do papai?
Achando toda esta conversa incrível, pela facilidade dos meninos conversarem sobre o pai falecido, meio emocionado, falou com a voz meio embargada:
-Claro, me dê aqui - pegou a bola da mão de Léo e autografou-a com a caneta que sua irmã já lhe oferecia.
-Obrigada!- disseram em coro os dois irmãos.
Na volta, ficou pensando em como a mãe deles devia ser uma boa mãe, dando esta abertura para os meninos falarem do pai e suporem como ele está. Pensou em como devia doer para ela ter que manter a conversa leve e no nível das crianças. Também lembrou-se de sua mãe, que os criou, sua irmã e ele, sozinha, já que o pai os havia deixado quando Lipe era um bebê ainda. Ficou com saudade e a garganta embargada.
Estacionando em frente a casa dos garotos, se despediu e sua irmã foi entregá-los. Seu sobrinho, no carro com ele, já planejava a próxima semana e não parava de falar. Olhando para o portão, onde a mulher recebia os filhos, não pode deixar de notar que ainda era jovem e sua silhueta bonita. Não conseguiu ver seu rosto direito, pois ela se virou para conversar com Fabíola, mas teve a impressão de conhecê-la, já que crescera na cidade e num bairro próximo. Também, por ter passado sua adolescência entre o futebol e as garotas, não era de surpreender se talvez já a conhecesse.
- Como se chama a mãe de seus amigos Breno?
-tia Léia - respondeu o sobrinho surpreendendo-o.
Pensando que este nome não era muito comum, lembrou-se da dona do nome que conhecera. "Será ela mesmo?"