Minha irmã entreolha para mim, lançando um olhar de cúmplice. Está feliz por a outra não ter conseguido conquista-ló com a comida.
- Posso fazer, se quiser.- procuro criar uma intimidade, estando meio sem graça. Mantenho a minha cabeça abaixada, numa posição submissa.
- Não precisa, Latifah. Shukran! - brevemente me nota, e aquilo faz o meu coração ficar mais acelerado.
- Vou me deitar, habibi.- Layla se despede, terminando de enxugar seus pés. - Boa noite!
- Boa noite, querida.
Assim que minha irmã passa ao redor da terceira esposa, para ao seu lado:
- Yalla! - ordena, brigando.- Derrame esse chá e vá se deitar. Ande!
- Obedeça, Layla, Zahra.
- Como quiser.
Cabisbaixa, a moça se vai para cozinha. Após, Layla sobe as escadas, acenando com a cabeça para que eu tome alguma atitude.
– Said, quer que eu ligue o som?
- La'. Vá para o quarto, Latifah.– num tom seco, ecoa- E me espere lá.- sinto um arrepio.
Desde que fui abusada sexualmente, nenhum outro homem me tocou. Estou fazendo esse sacrifício por Layla e por Said, eles são pessoas boas e merecem ter um filho.
- Certo.
Me retiro, indo em direção ao quarto.
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21:30 PM.

Fico o aguardando vir, enquanto ando de um lado pro outro. Estou uma pilha de nervos.
A porta se abre de repente e meu peito sobe e desce. A minha respiração fica mais descompensada, com a sua presença.
- Tire.- são essas palavras que saem pela sua boca.
E mesmo constrangida, vou me despindo em sua frente. Me sinto super desconfortável, mas estou fazendo esse sacrifício por Layla.
E quando me joga sobre cama, ficando em cima de mim, é tudo muito rápido. Os movimentos de vai e vem gera um barulho agonizante, é como se eu fosse um objeto qualquer. Não há uma delicadeza, ou algo romântico. Até tento, mas daí o meu cunhado diz:
- Sem beijos.
Aperto os meus dedos sobre o lençol, chorando só para mim mesma ao ouvir o ruído da cama. Minha vontade é de empurrá-lo para longe de mim.
Por mais que Said não tenha culpa, sinto nojo do meu próprio corpo. Porque estou revivendo com essa cena o estupro que sofri.
Said se cansa e cai pro outro lado, apenas me viro para um canto que não me veja chorar.
- Latifah.- seu tom percorre aflito, ao me chamar.- Eu te machuquei?
- Não Said, estou bem.- aos soluços, garanto.- Vou ficar bem.
- Se é porque eu não te beijei....
- Não é por isso.
- E o quê é?
- Nunca vou ser feliz, Said, eu nunca vou ser amada.
- Latifah, não diga isso.
- É verdade. Este momento, foi apenas para satisfazer a vontade de Layla.
- Se eu não quisesse, eu não estaria.- ergo o meu olhar choroso para cima.
- Você só está cumprindo com a sua obrigação.
- Você não é uma obrigação, você é a minha segunda esposa.- seus olhos refletem, contendo brilho forte ao enfatizar as palavras. – Me desculpe pelo que vou fazer.
Puxa-me para os seus braços, colando os nossos lábios pela primeira vez. Fico anestesiada com o contato, tomada por um frio na barriga. Seus lábios pedem passagem aos meus, beijando-me literalmente. É algo tão profano e proibido, que fico tão entorpecida com o gosto doce do nosso beijo.
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Pov's Latifah.
Na manhã seguinte......
Ao despertar, passo a mão ao redor do colchão, e o encontro vazio. Fico triste, sentindo as lágrimas se formarem em volta dos meus olhos.
- Salamaleico.- engulo em seco, ao vê-lo saindo do banheiro.
- Alaikum as-as-salam. - cumprimento-o de volta, tímida, com a cabeça abaixada.
- Achou que eu já tivesse ido, Latifah?
Assinto com a cabeça.
- Se arrume, iremos sair.
- Sair?- fico surpresa, olhando-o pros seus olhos de imediato.
- Na a'm.
Deixo transparecer um leve sorriso meigo. Minhas íris azuis chegam a brilhar de entusiasmo.
- Irei tomar um meu café, te esperarei lá embaixo.- se vira, mas antes retoma até onde estou. - Não demore, Latifah.
Minha respiração fica mais descompensada. Fecho os olhos, quando novamente me beija igual ontem à noite. Seus lábios são sedutores, e ao se unir aos meus, causa aquele frio na barriga.
Mas ao mesmo tempo que aquilo é bom para mim, sinto um bloqueio.... Fico com medo de qual será a reação da Layla, não acho que minha irmã possa aceitar tão bem.
E assim que Said sai, ela entra. É como se já tivesse o esperando sair.
- Conte-me, tudo!- se joga em cima da cama, tão ansiosa.- Funcionou?
- Eu não sei.- falo receosa, sem conseguir nem olhá-la na cara.- Foi tudo muito rápido.
- Latifah, você tinha que ter passado a noite com ele.
- E eu passei.- revelo.- Mas não da forma que você imagina.- sua alegria se desfaz e Layla se desanima.
- Allah! Allah! - murmura para si. - Amanhã se inicia o mês de Ramadã, Said não vai tocar em nenhuma de nós, porque é o mês sagrado. Teremos que torcer que nenhuma daquelas duas tenham engravidado primeiro.
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Pov's Zafira.
Vomito no vaso sanitário, estou tão enjoada. Daqui a pouco alguém aparece e vão acabar desconfiando.
- Zafira, está tudo bem aí?
Por que esse muçulmano tinha que aparece justo agora?
- S s-sim.
Volto a vomitar.
- Tem certeza?- o tom rouco ecoa intrigado.- Abra essa porta imediatamente!- bate, e rapidamente dou a descarga, me recompondo.
Obedeço a ordem, tendo que se deparar..... Com o indivíduo que analisa cada canto do meu rosto.
- Está pálida.- põe a mão na minha testa, soando preocupado.- Não está com febre.
- Só estou um pouco cansada.- minto, e na mesma hora sinto o enjoo e acabo vomitando sobre ele.
A minha farsa é exposta, quando a voz feminina ecoa:
- Por Allah, só pode está... grávida.- uma das suas esposas adentram, constatando.
Me acabo de vomitar e ele não se move do canto, talvez esteja pensando de qual maneira me jogará ao vento. Espero ele dizer: eu te repúdio, três vezes, mas não acontece, é como se.... já soubesse.
–Fui abençoado!- sorri, reverenciando a Allah, ao levantar as mãos para cima- Latifah, vá chamar Layla. Mande ela preparar o melhor banquete, nesta casa chegará um bebê. Allah ouviu nossas orações.
Meu olhar é de total medo.
Assim que mulher de hijab preto sai às pressas, Said ergue a mão para cima:
- Pode me bater, mas este filho não é seu! Esse bebê que está na minha barriga, é de outro homem.