Capítulo 5 Uma película constante

Nunca pensei que ele cumpriria sua palavra, minha surpresa foi tão grande ao entrar na loja na terça-feira, ele me enviou muitos buquês de rosas vermelhas, me aproximei do maior e li o cartão - "Não vou parar até você me dar um encontro" - «Amílcar Ferrer»

Esta mensagem estava escrita em um cartão preto com letras douradas. Não sei o que esse homem acha que é, mas seu gesto me impressiona. Obviamente não vou dizer a ele. À tarde, tenho que atendê-lo novamente, mas apenas peço o pedido e saio, não agradeço nem falo mais do que o necessário.

Nunca pensei que ele cumpriria sua palavra, passou um mês desde a primeira vez que nos vimos na cafeteria e todos os dias religiosamente ele vai ao local por um cappuccino, além de receber todas as manhãs as mesmas flores. Eu estava começando a sentir curiosidade por ele, ele era um homem que claramente tinha dinheiro, sempre que vinha ele era acompanhado por escoltas, além de usar uma loção que poderia deixar qualquer um louco. Ele era detalhista e bastante conservador; no entanto, nunca se deve confiar, eu havia aprendido isso da pior maneira.

Os dias se passaram e tudo continuou igual. Ele vinha, deixava flores. Estamos em novembro e está fazendo um frio muito cruel. O Natal está se aproximando, e esses dias me deixam triste. Este ano vou ter que comemorar sozinha. Ana decidiu ir de férias com o namorado. Não tive a chance de falar com ela novamente. Quando estava em casa, eu tinha que fazer hora extra, mas supunha que estava tudo bem. Amanhã, 17 de novembro, eu faria 24 anos, estava animada. Sempre ganhava um pequeno bolo na cafeteria, eu adorava esses gestos, me faziam sentir viva.

Meu telefone vibra em meu uniforme, me notificando que recebi uma mensagem. Estou em meu tempo de descanso, então decido abri-la. "Número desconhecido". Me dê uma chance, tudo valerá a pena. A.F. Mas como ele conseguiu meu número? Em momento algum eu o dei. Odeio quando invadem minha privacidade. Decido responder. "Como você conseguiu meu número? Com certeza você ultrapassa os limites. Se quer as coisas, ganhe-as de forma correta." "Número desconhecido". Sua adorável chefe me deu seu número. Não acho que seja pecado querer sair com você. Tente só uma vez. Me dê seu lindo sorriso. A.F. Decido não responder. Não vou cair em seus jogos. Esse homem me deixava nervosa, mas seus gestos me encantavam. Meu tempo de descanso acabou, eu tinha que voltar ao trabalho. E assim era meu dia a dia. Quando chegava em casa, sempre estava sozinha. Ana estava conhecendo a família do namorado. Eu realmente desejava toda a felicidade do mundo a ela, mas algo não parecia se encaixar. Estava preocupada, mas ninguém aprende com os erros dos outros, minha avó sempre dizia isso. Para aprender, é preciso cair.

Fim da memória. Recordar sempre era doloroso, então decido voltar à realidade e procurar todos os cartões que tinha guardado. Eu havia lido em um livro que se você pegasse um papel, escrevesse seu desejo mais profundo e o queimasse, deixando-o voar para o céu, isso se tornaria realidade, não custava tentar. Então peguei todos os cartões que ele me havia dado e escrevi em letras maiúsculas com uma caligrafia perfeita "QUERO TE ESQUECER E SEGUIR MINHA VIDA".

Peguei meu isqueiro, abri a janela e, com lágrimas nos olhos, queimei um por um cada cartão. Com eles, iam embora todas as frases que ele havia me dito. Com as chamas, todas as promessas e juramentos que fizemos se apagaram. Com esse ato, parte do meu sofrimento se foi porque, por mais que quisesse enganar, o amava. Apesar de tudo o que ele havia feito, eu o amava profundamente. Nosso amor havia ultrapassado barreiras, ele estava gravado em minha pele.

Volto para a cozinha, preciso tomar alguma coisa. Vou direto para a geladeira, pego uma Coca-Cola e vejo o calendário. Hoje era 16 de novembro. Amanhã faria 29 anos. Há 5 anos, ele me havia dado um dos melhores aniversários que já tive. Nunca teria palavras precisas para explicar como me fez sentir. Ele me deu a lua para depois me deixar na escuridão.

Há 5 anos atrás... O alarme desperta anunciando que um novo dia começou, e não era um dia qualquer, era o grande dia do meu aniversário. Agradeci a Deus por me dar a oportunidade de estar viva e no caminho certo. Levantei correndo, tomei um banho gelado; sempre gostei de sentir a picada da água fria em minha pele, precisava ficar ativa. Sequei meu corpo e cabelo, vesti meu uniforme, prendi meu longo cabelo em um coque alto e estava pronta.

Quando chego ao trabalho, minha surpresa é grande, hoje não havia flores. Lá no fundo, sinto uma decepção. Pensei que ele iria se destacar hoje, mas não. Outro dia normal. Apesar de ainda não termos saído juntos, não sei ao certo o que penso. "Bom dia, chefe", "Oh, querida, bom dia, feliz aniversário", ela me abraça forte. "Muito obrigada, chefe, hoje celebramos a vida", "É verdade, querida, mas precisamos começar nossa rotina de sempre. Você está pronta?", "Sim, senhora". Movia-me com graça e elegância pelo local, atendendo os pedidos, tentando não pensar nele. Na hora do almoço, minha chefe e minhas colegas me presentearam com uma refeição deliciosa junto com elas. Não esperava um gesto tão bonito. A Senhora Sandra me deu um colar com a inicial do meu nome, muito bonito. Quando fui agradecê-la, meu telefone toca avisando que recebi uma mensagem de texto. Meu coração acelera e decido conferir.

"ANA". "Querida Rose, feliz aniversário. Que tudo de bom que esse universo tem seja para você. Agradeço a Deus por te colocar em meu caminho e me dar uma irmã de vida. Não importa que não tenhamos o mesmo sangue, você sempre será minha irmã. Te amo"." Seu texto me toca, uma lágrima acaba rolando pela minha bochecha, porque o senti mais como uma despedida do que uma felicitação. Com um gosto amargo na boca, respondo, "Querida, obrigada pelas belas palavras. Pena que você não está aqui comigo para celebrar este aniversário. Conta-me como você está? Por que sinto como se estivesse se despedindo? Você sabe que sempre estarei aqui para você. Também te amo." Sua resposta não chega, então guardo o telefone e vou para o banheiro, arrumo meu coque e uniforme. Quando saio para atender aos clientes novamente, meu olhar se dirige para a porta, e vejo ele. Hoje estava vestindo um terno preto e uma gravata vermelha, seu cabelo tão rebelde como sempre. Ele me procura com o olhar e me encontra. Não sei se por instinto ou por vergonha, baixo a cabeça e tento escapar, mas é tarde demais, ele vem em minha direção.

"Parabéns para a mulher que dominou todos e cada um dos meus sonhos. Chame de coincidência ou destino, eu tinha que te conhecer naquele bar naquela noite. Desde que te vi, meu coração voltou a viver. Deixe-me te presentear com um lindo jantar de aniversário. Te espero na saída às 20h. Por favor, apenas uma chance." Ele não me deixa responder, se vira e vai embora, me deixando com um nó na garganta. Pode soar clichê, mas sinto aquelas tão famosas borboletas no estômago.