Bianca levou um choque com suas palavras, era inevitável, mesmo sem muito conhecimento ela sabia que isso não era bom, ela se encostou em kaike, enquanto tentava manter seu equilíbrio, o doutor deu um passo à frente, mas parou quando kaike a segurou.
Liam alcançou uma cadeira e a posicionou próximo de Bianca, enquanto com suas pernas bambas ela se sentou. Ela estava pálida, sua respiração estava pesada, enquanto ela segurava suas mãos trêmulas sobre seu colo. Ela recebeu um copo de água de uma enfermeira e um gole foi tomado, enquanto ela devolvia.
- Tudo bem mãezinha? - Liam estava em sua postura médica, mas foi inevitável não perceber a preocupação em sua voz.
Bianca olhou rapidamente em volta percebendo que outros pais estavam olhando, ela ficou envergonhada ao abaixar sua cabeça e assentiu. Liam engoliu em seco e deu continuidade as suas palavras.
- O exame de sangue também deu alterado. Mas estamos trabalhando para a melhora do pequeno. A princípio eu posso falar que ele está instável, para uma avaliação mais profunda.
Bianca observou outro pediatra se aproximando, ele parou ao lado de Liam e completou.
- É isso papais, seu filho tem paralisia cerebral. - O olhar do médico se voltou para a incubadora. - Pelo estado em que ele se encontra, não podemos dar muito tempo de vida a ele.
O coração de Bianca já estava acelerado, com aquelas palavras ele parecia que iria saltar pela garganta daquela mãe, ela começou a chorar desesperadamente, cobrindo seu rosto com suas mãos. Um suspiro foi ouvido de Kaike, enquanto Liam encarou aquele médico parado ao seu lado, sabemos que há profissionais que não deveriam exercer tal profissão se não tem empatia por quem está ali, mesmo que com um fio de esperança.
- A culpa é minha! - Bianca soluçou. Suas palavras pareciam mais um julgamento para si mesma, até que ela levantou seu olhar lacrimejado para Liam e repetiu. - A culpa é minha doutor?
Liam sentiu um soco no estômago, o outro pediatra olhou para cima e kaike parecia impaciente. Enquanto Liam respirou fundo e tentou controlar a situação
- Não é sua culpa! - ele falou calmamente. - Essas situações podem acontecer por diferentes fatores, mas posso afirmar que não foi sua culpa. - Liam olhou para kaike, mas seu olhar voltou para Bianca, ele viu suas lágrimas caindo lentamente pelo seu rosto. - Você teve um parto normal, ainda não estava nas semanas para o nascimento. Quando você deu entrada no hospital o médico deveria ter feito uma cesariana de emergência, quando percebeu que o parto seria inevitável.
- Mais..., mas... - A voz de Bianca falhava, em meio a sua dor. - Eu... Antes do Gabriel...
- Ela teve um aborto! - Kaike interrompeu as palavras de Bianca e falou apressadamente.
Liam olhou para kaike, enquanto Bianca abaixou sua cabeça em derrota.
- Não tem nada haver. Cada caso, cada gestação é diferente uma da outra. - Liam percebeu um levantar de sobrancelha de kaike, mas continuou. - Um aborto sofrido anteriormente, não justifica a falta de oxigênio que aconteceu durante o parto. Pelos dados da gestação que observamos, ela estava ocorrendo tranquilamente. O que prejudicou o pequeno Gabriel foi a falta de uma cesariana de emergência!
- É minha. - Bianca falou baixo, chamando a atenção dos três homens presentes. - Eu senti dor, eu sabia que havia algo errado e mesmo assim esperei. - Lágrimas pingaram em seu colo, enquanto ela mexia em seus dedos.
- Não teria como você saber mãe! - Liam falou gentilmente, enquanto kaike o encarou. - Você estava confiando em profissionais que estudaram para estarem lá. Não se culpe. Agora o melhor que devemos fazer é... - Liam olhou para kaike. - Cuidar para que Gabriel saia daqui logo.
O coração de Liam estava apertado, mas ele não poderia fazer mais do que confortar aquela mãe com suas palavras, esse era o trabalho dele. Manter os pais informados da situação real, mas o quão longe ele pudesse deixá-los da morte ele faria. O instável para ele era um fio de esperança...
- Doutor Liam? - uma enfermeira se aproximou.
Liam teve que se retirar para atender um bebê do outro lado da sala, assim que seus aparelhos começaram a se desregular, ele pediu licença ao casal e saiu apressado. Bianca levantou seu olhar e percebeu que mais enfermeiros estavam o seguindo e os pais que estavam daquele lado, foram levados para perto deles. Onde teria uma menor visão do que estava acontecendo. A mãe daquela criança tremia em pânico, enquanto seu parceiro a abraçava em conforto. O olhar de Bianca saiu deles e parou em kaike parado ao seu lado. Ele parecia rígido
Com o seu coração em pedaços, Bianca ansiava por um abraço, mas não aconteceu. Ela fechou seus olhos, enquanto ouvia o barulho dos aparelhos do bebê e imaginou que aquela correria também aconteceu com o seu filho, lágrimas silenciosas escorreram por suas bochechas e ela se sentiu abraçada por uma força maior. Naquele momento ela sabia que mesmo parecendo, nunca estaria sozinha.
Ela se levantou voltando sua atenção a incubadora de Gabriel e sua mão se encostou naquele aparelho, ela sorriu em meio ao soluço, Bianca sentiu uma outra mão sobre a sua. Sua cabeça se moveu para o lado e kaike estava ali. Ele sorriu fraco e disse:
- A gente ainda vai levar ele pra casa.
- Você promete? - Um brilho de esperança surgiu nos olhos de Bianca. Enquanto ela ansiava para que todos prometessem e essa promessa fosse cumprida.
- Claro! - kaike olhou para seu filho. - Ele é forte... - sua voz se embargou. - Logo. Logo vamos estar vindo buscar ele! - kaike sorriu com a incerteza de suas palavras.
Mas Bianca se agarrou nelas, como se a sua vida e a do seu filho dependesse daquilo... O que eles não sabiam era que o quadro de Gabriel estava sendo bem delicado, ninguém sabia como ele iria reagir. Por esse motivo a palavra instável estava sendo muito usada. Enquanto eles estavam ali os aparelhos do outro bebê, começou a voltar ao normal e o clima pesado foi diminuindo. O outro médico que estava perto deles, também havia se retirado.
Mas naquele momento o único que se aproximou novamente foi Liam... Bianca olhou para ele e perguntou:
- Doutor por que ele não se mexe?
Liam colocou seu estetoscópio, em volta do seu pescoço o deixando cair sobre seu peito, enquanto olhou para Gabriel e disse:
- Ele está sedado. É necessário para manter a intubação, é um procedimento um pouco evasivo, mas é a melhor opção, até para fazer os exames necessários. Mas conforme formos observando sua melhora, vamos diminuindo a sedação, até tirá-la completamente. - Liam olhou para o casal. - Agora vamos por etapas, até ele ficar livre dos aparelhos.
As palavras dele foram como outra chama de esperança, Bianca sorriu. Ela sentiu que pelo menos um médico acreditava na recuperação do seu filho e isso para ela era o melhor dia da sua vida. Sua esperança estava sendo alimentada.
Aquelas palavras seriam o gatilho que fariam ela acordar todas as manhãs, porque Bianca sabia que além dela e do pai, um médico estava acreditando na recuperação de Gabriel, e pela sua atenção ela sabia que ele iria fazer de tudo para isso acontecer.
O casal tirou suas dúvidas e como sempre Liam foi atencioso ao respondê-las. Os deixando curtir seus últimos segundos ao lado de Gabriel antes do horário terminar, Bianca olhou para seu filho, com um olhar de mãe orgulhosa, pois ela sabia o quão guerreiro ele já estava sendo.
Kaike e Bianca esperaram até o último segundo ao lado do seu filho, até a enfermeira passar avisando que o horário de visitas havia encerrado, com a esperança aforada em seus corações os pais se despediram do filho e deixaram ele aos cuidados dos médicos e enfermeiros.
Com um sentimento de solidão e já se sentindo uma péssima mãe ao deixar Gabriel ali, Bianca respirou fundo tentando imaginar quando estaria de volta, assim que eles saíram do hospital, Bianca sorriu olhando para kaike, enquanto perguntou:
- Quando vamos voltar?
- Eu não sei! - Kaike respondeu atravessando a rua e seguindo para o carro.
Foi como um banho de água fria, Bianca vacilou em seus passos e um carro acionou a buzina para ela, enquanto seu sorriso se tornou vago. Ela voltou a caminhar até o carro, com o seu coração menor do que um grão de arroz, ela estava sentindo o peso da distância e da sua idade. Ela não poderia ir sozinha, ela não sabia dirigir, e não tinha conhecimento da cidade, ela tinha a esperança deles voltarem no dia seguinte, mas kaike afastou elas com uma única frase.
'Mas sabemos que para uma mãe, nada é impossível...'