Capítulo 3 Nostalgia

Os meses se passaram sem maiores problemas. A unica preocupação era em arrumar tudo com antecedencia. Cyndi se lembrava de quando Renan nasceu e toda a dificuldade que passaram. Mas desta vez as coisas estavam melhores um pouco. Ciro pegou uma grande reforma em um bairro muito bom. Ia transformar uma mansão numa escola, trabalho pra quase um ano. Claro que era longe mas o valor da obra compensava. A cada quinzena tinha provisão Ora vale, ora pagamento, mas pelo menos a dispensa do mes estava cheia.

Por vezes até uma guloseima a mais Ciro comprava, mas as contas de agua e luz ainda era Cyndi que pagava. O gas dependia de quando acabava. mas tudo era dividido. A única coisa que não mudou foi a implicancia de Ciro toda vez que Cyndi separava o valor do carnê do INPS ,mas agora faltava pouco para o bebê nascer e tambem , devido a gravidez, a possibilidade da hernia no umbigo voltar, o problema no coração, só fez com que Cyndi se aproximasse mais da tão sonhada aposentadoria. Ela não era velha, mas era uma guerreira, experiente, contida. Não tinha medo de arregaçar as mangas. Mesmo com um barrigão, ela não parou de buscar suas encomendas de roupas e nunca deixou suas clientes na mão.

__Cindy . Você precisa sossegar um pouco, senão essa criança nasce na rua.

__Até parece mamãe, desde quando gravidez ê doença?

__Não é, mas você tem tres crianças pra cuidar, ainda pequenas. E se acontece alguma coisa no caminho, o que eu vou fazer?

__Se a senhora acha que não dá pra olhar, é so falar mamãe. Eles ficam bem sozinhos. Ana tem 8 anos e Renan 4. Desde que eram pequenos eu só pedia pra que olhasse , caso tivesse algum problema mesmo.

__Graças a Deus nunca aconteceu nada mas vai saber

__E Rosa, bem dizer, já mora com voces mesmo.

__Ela é o xodó do teu pai. Depois que a Teca casou, ela virou a caçula.

__Pois é. Mas se tá pesado pra senhora...

__Quer saber, faz o que achar melhor, disse dona Emi bufando,. Nem quando você era nova não conseguia te por rédia, imagina agora , mulher feita com uma penca de filhos?

__Mamãe. Tive a quem puxar. Esta casa que o diga né.

__Só porque eu tive que ajudar teu pai construir essa casa, não quer dizer que todo mundo pode.

__Pois é. A senhora tinha 15 dias de operada amarrou um lençol na barriga e foi carregar tijolo. Só parava pra trocar a Teca e dar de mamar. Eu tinha uns 7 ou 8 anos mas ainda lembro. Eu só vou até a cidade comprar roupas, e não tijolo.

__Voce não tem jeito. Vai logo e volta logo porque se sabe que eu gosto de tirar uma pestana depois do almoço e enquanto vc não chegar eu não sossego.

__Ta certo. Agora são quase 8 horas da manhã. As criancas já estão na escola desde 7e meia. As lojas abrem 8 e meia. Pego o onibus e chego quando tiver abrindo, compro tudo e volto antes do meio dia. Tudo bem pra senhora assim?

__Fazer o que? Vai logo, vai com Deus e cuidade hein?

__Ta bom. fica com Deus. Volto logo.

Assim que Cyndi saiu , dona Emi sentou e começou a relembrar o passado. Quantas mudanças de casa até comprar o terreno, construção tijolo por tijolo. Quanto tempo o Tony doente numa cama, paralitico. Sua entrada na igreja carregado e saida andando. De dono de vila de casas a ter que morar num barraco de tabua, numa construção,. onde a Auxiliadora nasceu. O trabalho arduo depois do milagre. As crianças pequenas. A ultima gravidez de risco, cesariana as pressas no mesmo tempo que a filha mais velha engravidara pela segunda vez., tambem de risco por ter útero infantil. Sem poder ajudar ou ser ajudada. Ao olhar para a casa pronta, filhos criados, netos e bisnetos e mais chegando. Tudo isso lhe trouxe um sentimento de nostalgia. Mas essas eram suas memorias. Cyndi estava construindo as dela.

Neste momento, a dona Cotinha, vizinha antiga, aparece na casa de dona Emi esbaforida, com meio metro de lingua pra fora.

__Corre dona Emi. Cade seu Tony?

__Bom dia pra senhora tambem dona Cotinha. O que é que a senhora quer com meu marido a essa hora?

__É a Cyndi. Ela tava no ponto esperando o onibus e eu tava voltando da padaria. Parei pra um dedo de prosa mas de repente ela começou a sentir dor. Sentou no banco e pediu pra eu chamar. Acho que chegou a hora da criança nascer.

__Obrigada, dona Cotinha. Eu vou chamar o Tony la na horta

__E eu vou ficar com a comadre Cindy até voceis chegar. mas não demora muito que eu não sei fazer parto. Té mais.

Assim que dona Cotinha saiu, dona Emi põe a cara na janela e grita

__O Toooony. Vem depressa que a Cyndi ta parindo lá no ponto de onibus. To indo na frente pra parar o carro de aluguel. Pega o dinheiro e se apressa. Corre homem, senão invez de levar o dinheiro pra pagar o carro você vai levar é a bacia de agua quente pra banhar a criança

E la se foi seu Tony, trocando de camisa, lavando as mãos, pegando o dinheiro e sendo empurrado pela dona Emi tudo ao mesmo tempo, ao encontro de Cyndi.

__Tal mãe, tal filha. Que hora estas crianças resolvem nascer viu.

__Que se ta falando aí. Se apresse homem!

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