Quando a tarde chegou, minha indecisão persistia, mas o desejo de vê-lo novamente foi mais forte. Eu não conseguia tirá-lo da cabeça, nem por um instante. Era como se houvesse algo além da mera curiosidade, algo que me empurrava para aquele encontro.
Vesti-me com uma calça preta, uma camiseta branca e um colete xadrez, e segui em direção à floresta, onde ele havia prometido estar. Coloquei meu MP3, e a melodia de "Sweet Sacrifice" do Evanescence embalou meus passos enquanto eu procurava por ele.
O doce aroma de seu sangue invadiu minhas narinas, fazendo meu coração, ou o que restava dele, acelerar. Seu coração batia forte, revelando sua inquietação. Decidi surpreendê-lo, aparecendo de repente atrás dele e murmurando:
- Estava me procurando?
Ele se virou, assustado, e eu pude ver o pavor em seus olhos, misturado com uma estranha sensação de alívio.
- Sim - respondeu ele, com uma voz trêmula. - Você veio.
- Sim, estou aqui. Agora, me diga, o que você quer? - perguntei, já impaciente.
- Te conhecer melhor - disse ele, com uma honestidade que me desconcertou. Será que ele realmente queria entender a escuridão que habitava em mim?
- Você quer me conhecer melhor? - repeti, surpresa. - Não acha meio imprudente se aproximar de uma vampira?
- Não.
Eu estava perplexa. Ele estava brincando com o perigo, e parecia não se importar. Aproximei-me dele, sentindo a tentação do seu sangue aumentar.
- Você sabe que, ao se tornar meu amigo, corre um grande risco de morte? - avisei, com um tom sério.
Ele deu de ombros, desafiador.
- Estou pouco me lixando - respondeu ele, com um sorriso que me fez questionar sua sanidade. - Me chamo William... William Moseley. E você?
- Jane... Jane Vanthorn - disse, sem conseguir disfarçar o espanto.
- Lindo nome. Mas, claro, tinha que ser, já que você é linda - disse ele, aproximando-se perigosamente de mim.
- Afaste-se - ordenei, mas ele ignorou.
- Não - murmurou ele, enquanto seus lábios se aproximavam dos meus. Antes que pudesse detê-lo, meu instinto vampírico se manifestou, e sem querer, o torturei com meu poder.
- Ai! - gritou ele, caindo no chão de dor.
- Desculpe, esse é meu dom. Eu posso torturar as pessoas com a mente - expliquei, sentindo-me estranhamente culpada. Rapidamente, ajudei-o a se levantar.
- Incrível - disse ele, ainda ofegante.
- Incrível? - repeti, incrédula. - Você acha isso incrível? Ser um monstro? Ser uma assassina? Viver para sempre?
- Acho - respondeu ele, com convicção. - E, por algum motivo, eu sinto que você não me machucaria.
Eu me afastei, subindo em uma árvore para observar a situação com mais clareza.
- Não te machucar? Você não tem ideia do perigo que está correndo ao se aproximar de mim. Eu posso te matar a qualquer momento!
- Então, por que não fez isso até agora?
Essa pergunta ecoou em minha mente. Eu realmente não sabia a resposta. Sentei-me em um galho e refleti antes de responder.
- Eu não sei.
- Talvez pelo mesmo motivo que eu confio em você - sugeriu ele, subindo na árvore ao meu lado.
- Pode ser - admiti, embora ainda não estivesse certa do que estava acontecendo comigo.
- Viu? - disse ele, sorrindo. - Por que então se aproxima de mim?
- Seu sangue me atrai. Ele é doce, viciante, como uma droga. Se você se aproxima, sinto uma vontade incontrolável de morder seu pescoço e beber o sangue que corre em suas veias. Agora, posso fazer minhas perguntas?
- À vontade - disse ele, ignorando meu aviso e sentando-se ao meu lado.
- Quantos anos você tem?
- Vinte.
Vinte anos. Ele era mais velho que eu, ou melhor, mais velho que a idade que eu aparentava ter, pois, na verdade, eu tinha séculos de existência.
- Se eu fosse humana, teria cerca de dezesseis anos, mas com a eternidade... tenho séculos de vida.
- Meu Deus - exclamou ele, surpreso. - E nesse tempo todo, você não encontrou ninguém para viver a eternidade com você?
- Eu que faço as perguntas agora - retruquei, sorrindo ao vê-lo sorrir também. - Não... Não encontrei ninguém até agora. Talvez eu não seja muito boa em conquistar alguém.
- Isso é impossível! Você me conquistou desde o primeiro dia em que te vi.
- Talvez eu conquiste as pessoas, mas depois... sou muito má com elas.
- Você as mata.
- Exatamente.
- Então, por que não está me maltratando?
- Acho que porque você não é um homem de se jogar fora - admiti, enquanto ele sorria maliciosamente.
- Nunca imaginei encontrar uma vampira na minha vida... Será o destino?
- Talvez seja - respondi, sentindo meu coração, ou o que restava dele, acelerar. Antes que pudesse processar meus próprios pensamentos, ele se inclinou e me beijou.
Foi um beijo suave, mas cheio de uma intensidade que derreteu todas as minhas defesas. Meus lábios responderam instintivamente, como se estivessem esperando por aquele momento há séculos. Quando ele se afastou, sua boca deixou um rastro de beijos pelo meu pescoço, despertando em mim um desejo esquecido, algo que eu não sabia que ainda era capaz de sentir. Pela primeira vez em tanto tempo, eu me sentia viva.
Ele me envolveu em seus braços, e por um instante, o mundo parecia fazer sentido novamente.
- Você é o primeiro homem a me fazer sentir como uma adolescente outra vez - confessei, com um sorriso que não consegui conter.
Ele acariciou meu rosto com uma ternura inesperada e sussurrou:
- Espero te fazer sentir humana novamente.
E, então, seus lábios encontraram os meus mais uma vez, em um beijo que prometia eternidade e redenção.
- Posso te encontrar novamente amanhã? Aqui? - A voz dele carregava uma ansiedade doce, um pedido que parecia ter mais peso do que as palavras indicavam.
- Sim, a hora que quiser - respondi, ainda envolta pela emoção que o momento trouxe. Minha mente ainda estava nublada pelo calor do beijo, e a ideia de vê-lo novamente parecia a única coisa que fazia sentido naquele instante.
- Preciso voltar para casa - ele disse, com um leve suspiro. - Meu irmão não sabe que estou aqui.
Franzi a testa, curiosa.
- Você mora com seu irmão?
- Sim, por enquanto. Vim da Escócia para cá para estudar fotografia.
- Fotografia? - Minha voz carregava admiração genuína. - Isso é fascinante.
Ele sorriu, claramente satisfeito com meu interesse.
- Estou cursando fotografia. É algo que sempre me encantou. Isso me ajuda a fugir um pouquinho do que me aguarda no futuro.
- Como assim?
- Eu sou um príncipe.
Não consigo acreditar em suas palavras, mas percebo que ele não estava mentindo.
- Faço parte da família real da Noruega - explica. - Estou na linha da sucessão, mas meu irmão mais velho será o próximo rei, já eu e meu irmão que estamos aqui na Itália, apenas temos o título de príncipe, e alguns deveres é claro.
- Mesmo com séculos de vida, ainda tive o privilégio de conhecer uma família real humana.
- Existe família real no seu mundo?
- Sim, e eu faço parte dela.
- Então somos seres reais. Quem sabe um dia, podemos viver juntos.
A proposta me atingiu como um trovão. Ele realmente estava considerando a ideia de dividir a vida comigo? De me integrar ao seu mundo humano?
- Quem sabe... - murmurei, ainda surpresa. - Mas serei sincera, não sei se meu mestre permitiria.
- Eu entendo - ele disse, com um aceno de cabeça, mas seus olhos mostravam que, talvez, ele já estivesse planejando uma forma de mudar isso.
Descemos da árvore em silêncio, mas a conexão entre nós parecia mais forte a cada passo. Ao chegar ao chão, ele se virou para mim, segurando minha mão gelada com uma suavidade que contrastava com o calor que ele emanava.
- Até amanhã - sussurrou ele, inclinando-se para me beijar novamente, seus lábios trazendo um conforto inesperado.
- Até - respondi, com o coração agitado.
Observei-o se afastar, cada passo dele parecia arrancar um pedaço de mim, e só quando ele desapareceu entre as árvores que me permiti suspirar. Voltei para casa com um sorriso que eu não conseguia esconder, um sorriso que parecia iluminado por algo muito além do que eu compreendia naquele momento.
Assim que entrei, Alex me abordou, notando a mudança em meu humor.
- Oi, irmãzinha. Por que está tão feliz? - Ele perguntou, desconfiado.
Olhei para ele, ainda perdida em pensamentos.
- Acho que hoje foi o melhor dia da minha vida.
Passei por ele, indo direto para meu quarto, onde o silêncio me envolveu.
Nunca imaginei que me apaixonaria por um humano, mas o destino, com seu jeito irônico, me levou até ele. Só espero não acabar destruindo o que mal começou.