/0/12730/coverbig.jpg?v=8a0340f6e1222c27cd146ad87ca7eaeb)
Durante toda a semana Laura se pegava revivendo aquele momento no mínimo "estranho" com o tal Lucas. Esse mesmo!
Esse cara cuja imagem aparecia na sua mente em momento aleatórios.
Sim.
Laura, que nem tinha uma boa memória, de repente se lembrava com riqueza de detalhes aquele momento.
Precisava conversar sobre isso com alguém.
Após o ultimo atendimento ela tirou o jaleco e pegou o celular.
Mensagem: "Gabi, tem tempo pra um café?"
Gabriele: "Oi Laura. Sim, estou em casa, quer passar aqui?"
Laura: "Está sozinha? É papo sigiloso, rsrsrs"
Gabriele: "Sim, o Junior está viajando a trabalho e os meninos saíram pra namorar."
Laura: "Estou indo, bjo."
Aproximadamente 20 minutos Laura estaciona sua tracker preta na porta da casa da amiga/terapeuta.
Sim, elas tinham se formado juntas e desde então a amizade tinha se fortalecido ainda mais.
Gabriele era uma "irmã" postiça. Um presente da vida para sua vida. Elas se entendiam e se ajudavam sem julgamentos.
-Bem vinda amiga! - Gabriele a recebeu com um abraço e aquele sorriso tão singular. - Eu fiquei preocupada, pensando o que pode ser tão importante a ponto da minha amiga cancelar o beach tênis? - ela riu.
-Então... estou realmente precisando conversar.
-Vem, vamos à mesa. - convidou Gabriele.
A mesa era o lugar preferido delas. Sempre que estavam à mesa, as conversas eram profundas e edificantes.
Laura colocou café na xícara a sua frente e respirou fundo após o primeiro gole.
-Gabi, ando me perguntando por que estou com o Nando.
-E você já sabe a resposta?
-Não. Ainda não.
-Desde que nos conhecemos você sempre disse que saberia quando a pessoa certa chegasse. Não é ele né?!
Laura desviou o olhar para a xícara em suas mãos.
-Eu gostaria que fosse Gabi. Ele é tão gentil, educado, nós gostamos das mesmas coisas. Mas...
-Mas não é ele! Talvez seja hora de você pensar na possibilidade de terminar esse namoro.
-Não é um namoro Gabi.
-Você não quer chamar de namoro, mas o que é então? Se vocês são exclusivos um do outro há 3 meses, se encontram quase todos os dias e fazem quase tudo juntos, isso é uma relação, é um namoro.
Laura não respondeu nada, apenas internalizou o que ouviu. A amiga tinha razão.
-Por que eu tenho a impressão de que teve alguma coisa que gerou essa dúvida sobre seu relacionamento com o Fernando?
Laura a olhou por trás da xícara, de uma forma que confirmava a suspeita de Gabi.
-Não é certo eu estar com Nando sem estar apaixonada por ele. - ela desviou o assunto e Gabi não insistiu. Sabia que na hora certa ela falaria.
-Você consegue ver um futuro com ele? Planeja isso?
-Não, infelizmente não.
-Então precisa ser honesta com ele e não perder o tempo de ambos em algo que não vai vingar.
-Não tenho motivos para terminar, como vou fazer isso?
-Laura, você não precisa ter motivos, apenas seja sincera sobre seus sentimentos.
Laura respirou fundo, e olhou para Gabi.
-Eu vou falar com ele. Esse final de semana resolvo isso.
-Ele gosta muito de você e antes de tudo ele é seu amigo. - disse a amiga colocando a mão sobre a dela.
-Sim. Obrigada por me ouvir.
-Pra isso somos amigas. Me conta, como foi o cocktail de inauguração?
-Ah foi muito bom. Nós sentimos falta de vocês. O hotel está lindo, você teria gostado de ver.
Gabi percebeu que Laura ficou desconfortável na cadeira quando ela tocou no assunto.
-Eu queria muito ir, mas o Junior chegou tarde e não animou. Tinha muita gente conhecida lá?
Laura não ouviu. Estava perdida com o olhar fixo na xícara em suas mãos.
-Laura... - chamou novamente. - Laura... terra chamandoooo- brincou.
-Desculpa, não ouvi. Eu... - ela se ajeitou na cadeira e olhou para a amiga. - Eu quase beijei um estranho, acredita?
-Como assim? - Gabi perguntou fazendo cara de espanto.
-Ai, que mico! - Laura tapou o rosto com as duas mãos demonstrando o quanto estava constrangida.
-Conta, amiga!
-Vi um cara de costas e achei que era o Nando. Abracei ele e quase o beijei.
A amiga se divertia enquanto ela contava os detalhes.
-E quem é esse homem?
-Lucas. - ela pronunciou o nome dele desviando o olhar. Mas tinha algo ali.
-Esse homem mexeu com você, não é?
Laura olhou a amiga nos olhos com sinceridade e respondeu quase num sussurro.
-Ele não sai da minha cabeça. Eu não estou entendendo o que se passa.
-Como assim amiga? Explica.
-Se nem eu entendo como eu posso te explicar...?
-Tente!
-As imagens do que aconteceu ficam passando como um filme na minha mente.
-E o que você sente quando se lembra?
-Tudo que eu deveria sentir com o Nando e não sinto...
-Você fala de química?
-Também. Mas não só. Ele me olhou de uma maneira que eu não sei explicar, mas parece que o olhar dele atravessou minha alma. Quando o abracei senti o calor do corpo dele e o cheiro dele...e senti como se eu estivesse em casa.
-Meu Deus! Você está apaixonada, amiga!
-Como posso estar apaixonada por alguém que vi uma única vez? Um estranho.
-O amor não avisa quando vai chegar. O que você sabe sobre ele?
-Apenas o nome.
-Como ele é? Descreva.
-Ele é loiro, tem os olhos castanhos muito claros, quase cor de mel, e eu não pude deixar de ver a mão dele quando segurou no meu braço...ele tem as mãos mais lindas que eu já vi.
-Uau! Ele é alto e forte como o Fernando, por isso confundiu?
-Eu confundi porque tinha pouca luz e eu já não enxergo bem a noite né? Mas ele é mais alto que o Nando, e apesar de ter o corpo bem definido, não é musculoso, sabe? Não são músculos de academia, entende?
-Não viu ele com alguém conhecido?
-Só vi ele conversando com o pai do Nando. Tinha muita gente, e depois do meu "mico" não o vi mais. Graças a Deus. - disse ela tapando o rosto novamente com as mãos.
-E perguntar para o Fernando não é boa ideia.
-Hun Hun - concordou Laura.
-Lucas os resultados dos exames chegaram, você quer olhar agora ou deixo no seu escritório? - perguntou seu ajudante Túlio.
Lucas pegou o envelope sem olhar para o rapaz e sem dizer uma palavra. Estava nervoso e cansado. Aquela semana tinha sido difícil, 3 éguas resolveram parir na mesma semana e fazia 3 noites que ele não dormia direito, e pra piorar, nos momentos mais improváveis e impróprios sua mente lhe trazia as imagens daquela mulher enlaçando-o pelo pescoço a espera de um beijo, ou ainda o calor do corpo dela em suas costas e as lindas mãos atrevidas em teu peito. Cada vez que lembrava desses momentos sentia como se estivesse sem ar. Como se estivesse se afogando naqueles olhos, mergulhando o rosto naqueles cabelos.
-Algum problema doutor? - perguntou o rapaz sem entender a cara amarrada do patrão , que olhava para o papel em suas mãos como se estivesse escrito em aramaico.
-Não Túlio, os resultados estão bons, pode soltar a Baliza e deixe ela se exercitar sozinha por uma hora.
Lucas permaneceu ali, de pé, debruçado sobre a tábua da cerca de madeira, olhando para o nada, pois a arena estava vazia. Seus pensamentos estavam confusos e ele se sentia completamente perdido. Durante toda aquela semana ele estava tentando entender o que estava se passando com ele.
-Lucas, filho! - Desirè gritou de longe. - Entra, fiz um café.
Ele soltou um suspiro forte e pesaroso. Lidar com sentimentos nunca havia sido um problema, mas depois do fracasso do casamento ele havia se trancado.
Deixou o chapéu no chapeleiro perto da porta da cozinha, bateu as botinas no chão para tirar a terra e entrou passando as mãos pelos cabelos.
-Fiz pão de queijo pra você, filho.
-Valeu tia Dê. - disse ele pegando um pão de queijo quentinho.
-Como estão os potrinhos que nasceram essa semana? - perguntou Desire puxando conversa.
-Estão bem. Todos nasceram saudáveis. - ele respondeu sem entusiasmo.
-O que você tem Lucas? Está nervoso e preocupado a semana toda. Fale comigo, filho.
-Não é nada tia. Sou estou cansado, preciso dormir.
-Eu conheço você menino, sei que alguma coisa está preocupando você.
Ele sorriu, ironicamente, imaginando a cara que a tia ia fazer se ele dissesse: Não paro de pensar na namorada do meu primo.
-Não se preocupa tia, vou melhorar depois de um banho e uma boa noite de sono. - disse ele se levantando e subido as escadas que levava para a sua suíte no segundo andar. Ele entrou debaixo do chuveiro disposto a tomar um longo banho para relaxar os músculos tensos pelo esforço e má posição para realizar os partos. Mas, ele fechava os olhos e sentia o cheiro de Laura. Laura! Nunca tinha prestado atenção na beleza desse nome Laura. Queria sentir aquele corpo colado ao seu novamente, sentir o rastro de fogo que aquelas mãos desenhavam ao se movimentar no seu peito. Ah como ela é cheirosa! Ele esfregou o rosto e abriu os olhos antes que fosse tarde demais. Nunca tinha sentido nada parecido com aquilo por mulher nenhuma, nem mesmo pela ex-mulher por quem foi muito apaixonado. Ele tinha que parar de pensar nela, afinal era namorada do Fernando, seu primo e amigo. De frente para o espelho, com a toalha na cintura, ele se encarou, passou as mãos pelos cabelos e suspirou, então perguntou para si mesmo: O que está acontecendo, Lucas?
Em seguida respondeu: Tentando entender o que se passa.