- Estou esperando outra pessoa, Sr. McKay - Lyla disse, sua expressão fria. Faolán estreitou os olhos para ela. Ele sentiu ciúme e também mágoa. Ela nem parecia a mesma mulher que se rendeu aos beijos dele na noite anterior.
- Quem é ele?
Lyla o olhou com a boca torcida.
- Não me lembro de lhe dever uma explicação - Ela respondeu calmamente e depois apontou para o garçom.
- Você é minha companheira, como diabos você não me deve explicações? - Ele deixou escapar, antes que pudesse pensar melhor em suas palavras.
Ela olhou para ele com uma carranca. Lyla abriu a boca para falar, mas foi interrompida pelo garçom.
- Senhorita, em que posso ser útil? - O homem baixo e magro perguntou, com o nariz arrebitado.
- Água, por favor.
- E para o cavalheiro? - O garçom voltou-se para Faolán.
- Para mim pode ser...
- Ele não vai receber nada, porque já está de saída. Por enquanto é tudo. Obrigada - Ela interrompeu Faolán com firmeza.
O funcionário do restaurante olhou de um para o outro, mas não quis causar confusão. Ele já conhecia Lyla e sabia que ela era uma mulher séria e muito poderosa. Ele curvou-se ligeiramente e depois foi embora.
- Eu não vou embora - Faolán disse, recostando-se na cadeira, parecendo à vontade.
- Não sei o que você quer dizer com "companheira", mas também, não estou interessada. Tenho um almoço de negócios e você está me atrapalhando.
- Ah, negócios... - Ele disse calmamente - Quanto a "companheira", preciso conversar com você sobre isso. A sós - Ele disse, passando os olhos ao redor.
- Já lhe disse isso antes e vou repetir: não tenho nada a dizer, senhor. Se continuar me pressionando para que eu tome uma decisão sobre a terra, não vai gostar dos resultados. Eu odeio ser incomodada com coisas triviais - Ela disse e tomou um gole da água que o garçom tinha acabado de servir, sem dizer uma palavra, para não incomodar os clientes à mesa, principalmente "a senhorita Haynes".
- E eu já disse que isso não tem nada a ver com a terra. É um assunto pessoal entre você e eu.
- Não importa. Eu não quero saber. Se não for sobre negócios, então meu interesse nesse assunto é inexistente. Por favor, saia e deixe-me cuidar dos meus negócios, que nada tem a ver com o senhor - Ela colocou o dedo indicador entre os olhos, parecendo cansada.
- Eu vou, mas com uma condição - Faolán disse, inclinando-se para ela. Lyla olhou para ele - Você me dará a oportunidade de explicar uma situação que mudará a sua vida e a minha.
Lyla não queria ouvir. Ela já sabia do que se tratava e, se eles parassem para conversar sobre aquilo, seria muito inconveniente. Ele iria querer marcá-la e tê-la ao lado dele para toda a vida. Mesmo que Lyla não o visse como um inimigo, ela jamais poderia se relacionar com uma pessoa, humana ou não.
- Okay, okay - Ela acabou respondendo, apenas para que Faolán se fosse fali.
Faolán levantou-se e ficou ao lado dela. Ela levantou os olhos para ele, sem entender o que ele estava fazendo. O Alfa colocou os dedos sob o queixo dela e levantou-o, inclinando-se e dando um beijo suave em seus lábios. A eletricidade entre eles estava presente quando ele a tocou, mas quando se beijaram, a tensão foi quase tangível.
Faolán pegou a mão de Lyla e colocou um pedaço de papel com um poema escrito.
- Aguardarei seu contato até às cinco horas de hoje, senão falarei com você pessoalmente, de novo, como fiz hoje. Até mais, minha rainha - Ele beijou a mão que ainda segurava e saiu.
Faolán ponderou se poderia ficar ali, em outra mesa, observando, mas então chegou à conclusão de que Lyla não ficaria feliz com aquilo. Ainda que a vontade fosse de grudar nela, Faolán sabia que apenas irritaria mais e mais a companheira dele. Portanto, ele saiu do restaurante, entrou no carro e voltou para a solidão do hotel.
- Vamos de mais um banho frio. Me parece errado bater uma pensando naquela fêmea maravilhosa.
" - Ela é perfeita..." - Lonn disse, suspirando de paixão.
Tocar aquela mulher era um dos melhores afrodisíacos para Faolán.
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Lyla não conseguiu se concentrar na reunião de negócios e, uma vez terminada, não voltou para a empresa; em vez disso, ela foi direto para sua casa. Ela escolheu morar em Sycamore Hills porque o fato das casas serem distantes umas das outras, acabava garantindo a privacidade que ela tanto precisava.
Sua casa era quase toda feita de pedra. O que não era pedra preta foi pintado numa cor entre o bege e o branco. A porta da frente era larga e alta, de madeira preta, com porta francesa de ferro forjado. As janelas do chão ao teto conferiam à casa um aspecto mais moderno, contrastando com o material pétreo do exterior. Considerando tudo, a casa era linda e agradável.
Ela estacionou o carro na garagem e abriu a porta da casa. Tudo o que Lyla queria era tomar um banho para relaxar a mente. Sim, porque o corpo não relaxava com isso. Um dos pontos negativos de ser um vampiro.
Após o banho, o plano era ligar para uma das pessoas em quem ela confiava para beber seu sangue. Ela não gostava muito de "roubar" o sangue de ninguém, morder sem avisar, muito menos matar.
Algum tempo atrás, Lyla entrou naqueles locais onde os humanos adoravam fingir ser vampiros ou seus amantes, e assim, ela os atraiu. Ela já tinha seus doadores fixos, então esse tipo de comportamento de sua parte só era necessário quando os doadores desapareciam por medo ou quando morriam por qualquer causa que não fosse ela.
- Ah, finalmente cheguei em casa! Agora, um banho bem gostoso é tudo que preciso! - Lyla tirou os sapatos, sorridente.
- É muito bom você tomar banho, porque você cheira como um cachorro - A voz melodiosa de Morana ecoou no quarto, fazendo Lyla pular para trás.
- Caramba, Morana! Você quase me matou, aqui! - Lyla disse, colocando a mão no peito.
A mulher de cabelos escuros riu, jogando a cabeça para trás, enquanto se acomodava mais na poltrona reclinável da sala.
- Eu amo seu senso de humor, querida - Morana disse, sorridente - Se você estivesse viva, provavelmente teria apenas uma arritmia e nada mais. Mas chega de brincadeiras. Vamos ao que interessa.
Lyla odiava ser lembrada de que seu corpo estava sem vida. Não exatamente, já que ela estava entre o outro mundo e este, mas, de qualquer forma, ela não poderia ser classificada como "viva", de todo jeito.
- Provavelmente - Lyla sorriu amarelo e pigarreou - A que devo o prazer da sua visita?
- Você me ligou para avisar que estava com problemas, então sua querida "tia" veio ajudar a adorada e amada sobrinha - Morana disse, passando os dedos pelos longos cabelos negros - Venha, a banheira está pronta para você.
Com um suspiro, Lyla seguiu Morana escada acima, onde ficava o quarto da ruiva. A suíte master era toda branca e quase todos os móveis eram pretos e bege. Sem fotos, sem nada. Totalmente sem "personalidade".
Elas foram ao banheiro por uma porta falsa, por dentro do guarda-roupa. O lugar cheirava a ervas, e uma delas era bem conhecida de Lyla: acônito.
- Ele provavelmente já deve ter percebido que há algo diferente em você, por causa do acônito. Ao tomar banho com o extrato desta planta, a proteção fica mais eficaz, porém, você deve tomar cuidado com o seu cheiro.
- Ele não vai me atacar. - Lyla disse.
- Ah, é mesmo? E como você pode ter tanta certeza? Ele é um lobo - Morana perguntou, com as sobrancelhas levantadas. Lyla sentiu um alarme soando em sua cabeça, então ela não compartilhou a informação sobre o vínculo que a ligava a Faolán.
- Ele é educado. E talvez eventualmente tente usar sua influência Alfa para me subjugar, mas não me atacará. Ele parece estar acostumado a lidar com humanos.
- Hmm, interessante - Foi tudo o que Morana disse, antes de enfiar a mão na água que enchia a banheira, verificando a temperatura. Ela fez sinal para Lyla tirar a roupa e saiu do banheiro antes que a ruiva começasse a se despir. Morana sabia que a garota odiava ficar nua na frente de qualquer um.
Enquanto Lyla mergulhava seu corpo na água azulada da banheira de porcelana branca com torneiras douradas, ela não conseguia parar de pensar em um certo lobisomem. Ao mesmo tempo que ela olhou para ele e viu Feargus, ela não viu! Lyla podia ver um belo exemplar que tinha um corpo bem construído - mesmo que ela só o tivesse visto completamente vestido, assim lhe parecia -, traços perfeitos e um perfume que a deixava tonta de desejo.
Ela não entendia como seu corpo, que nem estava vivo, poderia ser atraído pelo de Faolán. Lyla não sabia como funcionava esse vínculo de companheiro. Ela estava ciente de que lobisomens e humanos poderiam ter esse tipo de conexão, mas vampiros e lobisomens? Eles nem deveriam ser amigos, para início de conversa!
Suspirando profundamente, Lyla se levantou e saiu da banheira, enxugou-se, vestiu o roupão branco e foi para o quarto. Morana estava lá, sentada na cama.
- Agora, querida, vamos falar do lindo Alfa que decidiu aparecer e invadir seus pensamentos. - Morana disse, olhando para Lyla com olhos mais negros que a noite sem estrelas.
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Faolán saiu do banho, nu. Ele estava enxugando o cabelo quando ouviu o telefone vibrar na mesinha de cabeceira. Ele colocou a toalha sobre a pequena escrivaninha e pegou o telefone. Ele sorriu ao ver quem era.
- Oi, meu amor! É tão emocionante quando a pessoa que amamos nos liga...- Ele respondeu, tentando ser engraçado.
- Pare com essas piadinhas ridículas! Você disse que se eu não lhe desse uma resposta até as cinco horas, você faria mais uma de suas inconvenientes aparições. Não tenho paciência para esse tipo de show. Amanhã durante o dia, vou marcar uma reunião do Conselho de Acionistas, para conversar sobre os assuntos relativos às terras. E amanhã à noite jantaremos juntos, e você VAI me dizer o que diabos você quer - Ela disse, totalmente irritada.
Faolán engoliu em seco. Ele não gostou do tom dela. Se havia uma coisa que um lobisomem detestava era magoar de alguma forma a companheira dele.
- Hmm. E se eu estiver ocupado amanhã à noite? - Ele disse brincando, pois ela estava ordenando que ele se encontrasse com ela para jantar, não deixando espaço para ele negociar.
- Tenho muito trabalho a fazer, mas vou lhe dar uma concessão do meu tempo. Mas, se você estiver ocupado amanhã, esqueça. Vou entrar em contato apenas para repassar o que foi decidido na reunião e pronto - Ela disse e estava prestes a desligar o telefone, mas ele percebeu que havia cometido um erro.
- Não! Eu estava brincando,eu tô livre amanhã de noite. Sempre que você quiser - Ele se atropelou com as palavras e Lonn o xingou, dizendo que ele era um idiota. Lyla bufou do outro lado da linha.
- Esteja ciente de que não gosto de piadas e nem de lidar com bobos da Corte. Amanhã estarei esperando por você no mesmo restaurante de ontem. Oito horas. NÃO se atrase.
Antes que Faolán pudesse responder, ela desligou na cara dele.
"- Você quase estragou tudo, seu idiota!" - Lonn praticamente gritou, irritado.
- Tá, tá! Como eu poderia suspeitar que o senso de humor dela é praticamente inexistente? - Faolán se sentou na cama - Ela muda de humor do nada...
" - Se você ainda não entendeu como ela funciona, você é mais imbecil do que eu pensava." - Lonn declarou, com um suspiro.
Faolán não estava com vontade de ser repreendido pelo lobo em sua cabeça. Em vez disso, ele se deitou na cama, sorrindo, colocou as mãos atrás da cabeça e se perguntou como seria o jantar da noite seguinte. Ele diria a ela que eles eram companheiros.
- Ela me quer, como eu a quero. Não tenho dúvidas - Faolán sorriu e mordeu o lábio inferior - Só tenho que usar as palavras certas. Lyla vai entender e nos aceitar.
"Por favor, não estrague tudo!" - Lonn choramingou e Faolán fez uma careta, mas logo sorriu e puxou o travesseiro ao lado dele para um abraço.
- Vai dar tudo certo, Lonn. Teremos a nossa companheira enviada pela Deusa!
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Quando Lyla desligou o telefone, Morana estava olhando para ela, com curiosidade nos olhos.
- Por que você está me olhando desse jeito? - Lyla a questionou.