Capítulo 6 Pergunta boba

- Você parece diferente. Não sei como explicar exatamente - Morana respondeu, olhando para Lyla da cabeça aos pés. A ruiva engoliu em seco.

- Ah... preciso me alimentar, Morana. Vou ligar para um dos meus doadores - Lyla declarou, tentando mudar de assunto. Morana parou de olhar para ela de repente, como se tivesse acabado de sair de algum tipo de transe e logo ficasse desinteressada na moça.

- Tudo bem. Vou preparar algo para comer e, claro, para o seu convidado também. Uma pessoa precisa estar mais do que bem alimentada para poder sustentar a sede de um vampiro - Morana disse, sorrindo. E, enquanto se afastava, ela estalou a língua.

Lyla sabia que ela só fazia isso quando estava chateada com alguma coisa.

"Espero que ela não suspeite da minha ligação com Faolán," ela torceu mentalmente. Apesar de estar com Morana ao seu lado por todos aqueles séculos, Lyla não confiava na bruxa.

Lyla ligou para o doador e, menos de uma hora depois, um homem corpulento e acima do peso apareceu em sua porta. Ele era grande, como ela preferia. Afinal, alguém pequeno ofereceria menos sangue, e o risco da pessoa morrer era muito maior, se Lyla não parasse no momento certo.

Aquele homem era obcecado por vampiros e sonhava em um dia se tornar um deles, acreditando que uma vez que tivesse esse status, ele se tornaria bonito e todas as mulheres cairiam aos seus pés.

Lyla não tinha intenção de transformá-lo, porém, ela o manteve em um mundo encantado, usando o poder mental que tinha sobre os humanos. Enquanto ele permanecesse assim, ela teria comida e não precisaria caçar.

Morana deu ao homem um prato cheio de sanduíches, e Lyla fez uma nota mental para perguntar-lhe sobre os ingredientes, após a hora da alimentação.

Depois que Lyla se alimentou dele, ele saiu contente, flutuando nas emoções que ela havia implantado em sua mente.

Quando Lyla se transformou em vampira, ela acordou com a garganta seca e se sentindo muito estranha. Ela se levantou e Morana disse onde estava Feargus. Lyla, cujo nome de nascimento era Ríona, foi atrás dele. Ela matou muitos homens, bebendo o sangue de seus corpos, antes de chegar até ao objeto do seu ódio.

Segundo Morana, a mordida do vampiro causava uma certa alucinação nas vítimas, fazendo com que elas não sentissem tanta dor. E então ela não mordeu Feargus, mas arrancou seu coração, para que ele agonizasse até a morte. Ela não sabia, mas Morana não gostou disso.

Ríona havia retornado ao local onde ocorreu a morte de seu amado. Porém, por mais que Morana tivesse dito a ela que era possível transformar alguém em vampiro, era preciso beber o sangue dos mortos-vivos. Beber o suficiente para que houvesse uma contaminação generalizada no organismo do indivíduo. O problema era que Cian já estava morto, e como seu coração não bombeava mais sangue para todo o corpo, era inútil mordê-lo ou injetar nele o sangue amaldiçoado de Ríona.

"- Querida, não fique assim. A alma dele retornará a este mundo em algum momento. Como eu disse, você poderá viver eternamente, com uma aparência jovial, como a de agora. Ele irá te amar assim como ele fez nesta vida que lhe foi tirada - Morana havia dito, quando Ríona chorava com o corpo do amante nos braços - Você poderá mordê-lo e ambos viverão felizes para sempre."

Lyla esperou 600 anos e, no final, o destino decidiu amarrar sua alma ao homem que matou seu amado, como se fosse uma macabra piada interna entre as forças supremas deste universo.

- Você foi muito rápida com aquele gorducho - Morana disse, encostando-se no batente da porta da cozinha.

Lyla ainda estava parada na porta da frente, absorta em seus pensamentos, com a mão descansando na maçaneta. A voz de Morana a acordou.

- Ah, sim. Não gosto de demorar mais do que o necessário. Só me alimento porque preciso e você sabe disso - Lyla disse e viu que Morana estava com um prato vazio na mão, enquanto mordia um sanduíche que segurava com a outra mão - Onde você conseguiu essas coisas? - Lyla perguntou.

- Ah, que pergunta boba. Comprei os ingredientes na loja, vindo para cá - Morana disse, como se fosse óbvio.

- Eu não sabia que você fazia compras como uma pessoa comum.

- Hum - Na verdade, Morana havia convocado os ingredientes do supermercado, com magia. Ela odiava caminhar entre humanos. E ficar na fila do supermercado estava definitivamente fora de seus planos.

- Vou para a cama. Sinta-se em casa, como sempre. Você já sabe onde fica o seu quarto - Lyla disse, indo para as escadas.

- Você acabou sendo uma péssima anfitriã. Não é como se você realmente precisasse dormir. Mas você prefere ir e me deixar aqui, abandonada, tendo que lidar sozinha com essas tecnologias estranhas - Morana reclamou, fazendo beicinho. Lyla odiava quando a bruxa faqzia aquela chantagem emocional barata. Morana simplesmente não queria que Lyla ficasse sozinha pensando, já que Morana não tinha acesso à mente de vampiros. Pelo menos isso era bom naquela existência vazia, do ponto de vista de Lyla.

- Certo. Você quer assistir a um filme? - Lyla perguntou, ao que Morana assentiu.

Eles assistiram a um filme romântico cafona, o que foi muito estranho. Morana nem gostava de lidar com os avanços tecnológicos humanos e com certeza não era muito romântica, mas ainda assim escolheu aquele tipo de filme. Lyla tinha certeza de que a bruxa havia feito aquilo apenas para ser inconveniente. Ela muito provavelmente nem queria assistir nada, mas perturbar os outros era diversão para a morena.

**************************************************************************************

Faolán dormiu e sonhou com o encontro que teria com Lyla. No mundo dos sonhos, a ruiva prontamente o aceitou e ofereceu seu pescoço para que ele a marcasse como sua fêmea.

Quando o celular tocou na mesinha de cabeceira, acordando-o, Faolán tentou manter os olhos fechados, esperando poder voltar ao sonho, ignorando completamente o celular.

- Ugh... Ok, estou acordado! - Ele gritou, pegou o aparelho, ainda com os olhos fechados, e colocou-o no ouvido - Que foi?! - ele atendeu, mal-humorado.

- Faolán, estamos com sérios problemas - Era Kieran e sua voz não parecia nada boa. Quase nunca chamava Faolán pelo nome, o que só poderia significar que a situação era realmente muito grave. Faolán abriu os olhos e sentou-se de vez.

- O que aconteceu? - Ele perguntou, preocupado.

- Os rogues estão atacando. Eles atacaram ontem, quando escureceu. E ainda estão nos cercando. Você precisa voltar aqui - Kieran disse. Faolán praguejou mentalmente e Lonn ficou nervoso. Ele não queria abandonar sua fêmea, entretanto, a matilha precisava de ajuda, e era seu trabalho como Alfa garantir a segurança daquelas pessoas.

- Vou pegar minhas coisas e ir para o aeroporto - Faolán disse e desligou o telefone.

Rogues eram como eles chamavam de lobos que não pertenciam exatamente a uma matilha, apesar do fato de estarem juntos. Não havia hierarquia entre eles como havia nas matilhas. Eram nômades, indo de território em território em busca de comida e, claro, atacando matilhas para obtê-la. E se o local fosse bem situado, eles tentariam se instalar ali, conseguindo eventualmente estruturar uma matilha formal. A maioria deles não tinha o juízo no lugar e, claro, as matilhas deles acabavam não vingando, fazendo-os voltar a serem lobos solitários.

Faolán fez as malas rapidamente e, enquanto esperava a finalização da compra da passagem, decidiu mandar uma mensagem para Lyla. Ele não ligou para ela porque eram três da manhã e ela provavelmente estava dormindo.

FAOLÁN: Amor, não poderei encontrá-la amanhã. Houve uma emergência com as pessoas que protejo e tive que voltar para Wyoming. Manterei vocês atualizados sobre tudo o que está acontecendo e quando retornarei a Fort Wayne. Vou sentir saudades. Com amor, seu Faolán.

Ele clicou em "enviar" e, após se certificar de que a mensagem foi realmente enviada, voltou sua atenção para a atendente e, assim que foi liberado, entrou em seu carro alugado, levou-o de volta para a locadora, dentro do aeroporto. Por ser de madrugada, não havia qualquer fila. Assim que verificaram que não havia avaria no carro, Faolán foi liberado.

*************************************************************************************************

Lyla finalmente se livrou de Morana e subiu para seu quarto. O problema era: ela não percebeu que o celular não estava onde havia deixado antes, em cima da mesa do quarto, mas sim na mesinha de centro da sala.

Morana olhou para o aparelho e leu a mensagem de texto recebida por um "Lobo Grudento". Ao ver a assinatura, ela sabia que ele era o Alfa da matilha que queria as terras do Wyoming, a reencarnação de Feargus. A bruxa simplesmente excluiu notificação dele. Infelizmente, ela não podia apagar a conversa toda, ou Lyla desconfiaria.