NAS TERRAS DE MACUNAIMA – PARTE 1
img img NAS TERRAS DE MACUNAIMA – PARTE 1 img Capítulo 3 PRAZER PEDRO
3
Capítulo 6 SANGUESSUGAS img
Capítulo 7 SEU ALÉCIO img
Capítulo 8 CANAIMÉ img
Capítulo 9 TRINCO DA PORTA img
Capítulo 10 MATA VERDE img
Capítulo 11 BARRA MANSA DA MATA img
Capítulo 12 QUE BICHO É ESTE img
Capítulo 13 OITO PEQUENAS PATINHAS img
Capítulo 14 FAZER SOBRINHOS! img
Capítulo 15 MUITO MAIS QUE UM PIQUENIQUE img
Capítulo 16 BANHO DE REALIDADE img
Capítulo 17 ESTAMOS NAMORANDO img
Capítulo 18 UM POUCO DE LEITE img
Capítulo 19 SONHO VS PESADELO img
Capítulo 20 ENCOSTA DO PAJÉ img
Capítulo 21 PEDRO DISTRAÍDO img
Capítulo 22 VOCÊ É A ÚNICA PARA MIM img
Capítulo 23 FESTA DAS UVAS img
Capítulo 24 MARIA AMÉLIA img
Capítulo 25 A ONÇA CAÇANDO img
Capítulo 26 A CRUVIANA img
Capítulo 27 VOLTAR PARA A FAZENDA img
Capítulo 28 CIUMENTO img
Capítulo 29 A PARTILHA img
Capítulo 30 PERDIDA NA FLORESTA img
Capítulo 31 A PARTIDA img
Capítulo 32 DESPEDIDA img
Capítulo 33 SÓ PRECISO FICAR COM VOCÊ img
Capítulo 34 PRÉVIA DE NAS TERRAS DE MAKUNAIMA - PARTE 2 img
img
  /  1
img

Capítulo 3 PRAZER PEDRO

Nesse momento a Ana só não esperava não estar mais sozinha. A uma certa distância está Pedro José que se aproximou sem que a moça percebesse. Ele que é um rapaz loiro, olhos esverdeados, com 1.85 m de altura e por volta de 36 anos. Estava montando em seu cavalo cinza.

O rapaz veio ao seu resgate enviado por seu Vicente.

- Uma boa hora que fico feliz de estar só. Isolada no meio do nada. – Ela sorri ironicamente.

- Tudo bem por aí? Dona, vim aqui para ajud ...

- NÃOOOOOO!!! - Nem deu tempo de ele terminar a frase, escuta um grito tão alto que seu cavalo se assusta e dá uma empinada ficando sobre as duas patas traseiras.

E o Pedro tem que segurar com firmeza por alguns segundos para não cair do cavalo que ficou empinado pelas e assim que consegue voltar para a posição normal com o cavalo nas quatro patas.

- Calma dona! Eu só vim para ajudar. Você está passando mal? Vou levar a senhora pro posto de saúde mais perto.

- Não é isso, senhor. Pensei que não ia encontrar ninguém por perto tão rápido. Nada contra sua ajuda. É que eu estou ... horrível! - Lamenta a moça olhando para baixo.

- E, qual é o problema? Tem alguma parte do seu corpo quebrada dona? Foi picada por algum animal venenoso? Ou coisa poir?

- Não senhor, não quebrei nada além de um dos meus saltos.

- Pronto! Se sujar de lama por estas bandas até que é normal. Se você está inteira, então tá tudo bem. – Ele sorri.

- Não para mim, que vim da cidade e gosto de estar arrumada. Você não entenderia. – Suspira dizendo em tom triste.

E, se vira olhando diretamente para Pedro.

- O senhor é... O senhor é branco!? Como pode!?

- Sou mesmo. E não tenho culpa de ter nascido assim.

- Me desculpe o mau jeito. É que pensei que por aqui só tivessem indígenas.

- Para pensar assim. Bem se nota que a senhora não é daqui, rs.

- Olha moço, me desculpe mesmo. Que vergonha! Já estou indo. Não precisa me ajudar que vou chegar à fazenda mais próxima loguinho. Seu Vicente disse que era em menos de cinco quilômetros. Até mais! Fui. – Ela fala saindo constrangida.

- Dona, se eu fosse você não iria por aí. É perto de um igarapé e quando chove aparecem cobr ...

Justamente o que Ana mais temia aconteceu.

Apareceu uma sucuri bem grande atravessando a estrada em direção ao igarapé.

- Socorrooo! Vou fugir para as montanhas. Uma anaconda. Meu pior pesadelo aconteceu. - Ana foge desesperada, cai e perde o último salto.

Pedro para olhando atentamente aquela cena hilária e desesperadora ao mesmo tempo.

- Isso é que dá, não ouvir as pessoas que conhecem o lugar. – Ele solta uma enorme gargalhada, em seguida desce do seu cavalo, faz um carinho no Cinzento. Vai caminhado devagar até a Ana, segura-a pelos ombros e olhando fixamente em seus olhos percebeu que a moça estava realmente desesperada e chorando.

"Fiquei com vergonha de ter rido dela, sei que foi engraçado, mas ela tá desesperada. Tadinha!" - Ele fica um pouco constrangido com a sua risada de antes.

E Pedro mira seus olhos esverdeados diretamente para a Ana.

- Dona, como se chama?

- Moço juro que é um bicho enorme. Uma cobra gigante, ali! – Ela diz apontando para o igarapé.

- Moça, escute. Como se chama? – Repetiu ele.

- Ana. Me chamo Ana Luz, senhor.

- Olhe bem dona, não precisa ter medo. Aquela cobra que atravessou a estrada é uma sucuri. Tem algumas por aqui, ela só está seguindo em direção ao igarapé, não tem veneno e não ataca como nos filmes. Fique calminha!

Ela tenta obedecer ao comando e respira fundo.

- Outra coisa. Esta daí só tem uns quatro metros. Ela é o filhote da outra que vimos ano passado que deve ter uns ... nove metros, talvez.

- Como é possível ter cobras desse tamanho no mundo!? Que língua o senhor está falando? O que é sucuri? O que é igarapé? Nove metros! Senhorrr! – Ela fala com os olhos castanhos arregalados de medo.

- Então, dona. A sucuri é a cobra que atravessou a estrada, agorinha. E, igarapé é o mesmo que riacho em outros lugares do Brasil.

- Há, entendi, agora devo aprender outro idioma. – Ela ainda está tremendo de medo.

- Não é bem assim.

- Não acredito que tenha bicho pré-histórico por aqui. Aqui deve ser mesmo o fim do mundo mesmo!

- Ela não é pré-histórica. E, acabou de passar bem na nossa frente.

- Morro de medo de cobras de qualquer tamanho. Preciso muito ir embora daqui!

- Dona, por favor! Olhe para mim.

Ela se vira e encara em seus olhos esverdeados quase piscar.

- Agora que finalmente consegui sua atenção. Vim aqui por que seu Vicente me disse para ajudar a passageira dele. Pois, o jipe atolou e ele não conseguiu o trator. Talvez só consiga retirar o veículo somente amanhã.

- Como o senhor se chama mesmo?

- Eu me chamo Pedro José, sempre ajudo nesses períodos de chuva. Vamos subir no meu cavalo que eu a levo para o sítio dos meus pais ou outro lugar que preferir. E amanhã, a dona volta para ver o resgate do seu jipe.

- Obrigada moço. Aceito sua carona para qualquer lugar, contanto que me leve para longe desses bichos. O senhor tem um nome interessante. Só que eu nunca andei a cavalo. Como faço para subir? – Ana ainda fala com voz assustada.

- Coloque o pé no estribo e faça um pouco de pressão. Segure aqui no meu punho e mãos que te puxo.

- Olha não tenho segundas intenções, moço. Tenho mesmo, muito pavor de animais grandes, principalmente de cobras. Mas como não tenho outra opção, vou aceitar sua carona neste cavalo enorme.

- Meu cavalo é grande. Mas não é dos maiores, rs.

- Outra coisa, moço. Não costumo conhecer nem a família dos meus namorados. – Ela solta um riso nervoso.

- Nesse caso, dona. Minha família já está acostumada com os meus resgates. Nesse período de chuvas sempre que alguém precisa de ajuda eu e meu cavalo costumamos ir aos lugares mais difíceis para buscar seja lá quem for.

Ela já está sentada no cavalo na frente do Pedro, ele cobriu a Ana com uma manta e eles estão andando em um trote suave.

- Sabe de uma coisa, moço. Quando eu fico nervosa ou com medo digo muitas coisas esquisitas. Exatamente como agora. E, faço umas brincadeiras bem chatas. Tudo bem?

- Sem problema mesmo. Dona Ana, pode ficar à vontade contanto que você não fique mais assustada tal como ainda agora. Pode fazer estas brincadeiras que não vou levar a mal.

Um tempo depois, Ana ainda montada no cavalo bem encostada em Pedro, depois do frio que passou parece estar um pouco mais aquecida e confortável aconchegada na manta e em seus braços.

- E, para onde a moça está indo? Se é que posso saber.

- Vim aqui a trabalho. Vou à Fazenda Bonança resolver, ou melhor tentar resolver a disputa de terras entre os donos de duas fazendas.

- Por acaso a outra se chama Fazenda Sossego?

- Sim. Como você sabe disso?

- Por que meu pai é Jaime da Silva, dono da fazenda Sossego. E, seu Alécio Costa está cobrando um metro de nossas terras dizendo que é a herança de seus filhos Sandro e Quiara. Já fazem uns anos que ele diz que tem o direito de tirar esse pedaço de nossas terras. Mas não é possível, pois meu pai veio morar aqui em Roraima na época que o garimpo estava em alta na década de 1980, e isso já faz mais de 40 anos e a Fazenda Bonança só foi existir na década dos anos 1990.

- A conversa está sendo bem construtiva para conhecer o outro lado da história. Mas, até que se prove o contrário, estou aqui para advogar em prol do seu Alécio e descobrir quem realmente está falando a verdade.

E, olhando para cima. – Nossa! Mas já anoiteceu!

- Sim. Anoiteceu rápido, né. Moça você prefere ir para casa dos meus pais ou vai para os nossos vizinhos?

- Vou ficar na casa dos seus pais. Afinal você disse que eles não se incomodam com as pessoas que você resgata. Lá, pelo menos não vou passar vergonha de estar todas desgrenhada, rs.

- Você se preocupa muito com coisas pequenas. Com toda essa chuva o pior que você fez foi andar de salto, e, de vestido. Posso lhe assegurar que é uma tremenda visão. Prova na hora que você é de fora. Que não conhece muito ou quase nada por aqui. Mas que ficou graciosa, a dona ficou.

- Moço nem sei se quer me elogiar ou me humilhar. Agora sobre o salto, quando seu Vicente me avisou já era tarde. E, que culpa tenho eu que quando cheguei estava o maior sol. Nas primeiras rotas tinha até asfalto. Vim totalmente desavisada. E, desde que entrei nessa estrada não para de chover uma única hora sequer. Como uma terra pode ser tão hostil!?

- Olha moça, se você souber aproveitar vai ver que nas Terras de Makunaima tem muito o que se aproveitar. Aqui é tudo de bom! Só tem que aprender observar de perto.

- Não acredito muito. Talvez o senhor possa me ajudar. Se eu parar para conhecer, quem sabe noto algo de interessante por aqui. Lógico, além das cobras gigantes. – Falou em tom triste.

- Olha aí, uma luz no fim da tempestade. Então, além das cobras temos o *jacaré açu (que significa exatamente grande), a onça pintada, o tamanduá bandeira, entre outros bichos. Em todo caso é só não mexer, tocar ou invadir o território deles que tudo fica bem.

- Melhor parar de querer me animar seu Pedro, o senhor não está me ajudando muito. Parece que só existem bichos apavorantes.

- Jurava que estava ajudando dona. - Pedro sorri e sente uma pequena injeção de ânimo e algo a mais por causa do corpo que estar de encontro ao seu.

"Depois que levei um fora de minha noiva a três anos ainda não devo ter sentimentos por ninguém." – Em sua mente ele faz de tudo para proteger o coração de novas decepções.

- Moço, nesse exato momento eu iria estar na praia curtindo um cruzeiro com minha amiga Melissa e estou passando um frio e um grande perrengue para tentar resolver o problema das terras.

- Parece que a dona está mesmo bem longe de onde deveria estar.

- Ou talvez esteja onde eu preciso estar, cowboy.

Ana segue cavalgando encostada quase aconchegada ao corpo do rapaz.

"O que será isso? Será que ele está armado?" – Pensou ela.

- Sabe Pedro, tenho uma curiosidade. É que você, posso lhe chamar assim?

- Pode, sem problemas, dona.

- Como você veio morar por aqui? Foi desde pequeno? Pois, parece conhecer o bastante desta região.

- Então, é uma curiosidade muito comum de quem vem de fora. Ter um cara loiro, morando no meio do mato e perdido na selva, rs. Pena que não. Eu nasci aqui, meu pai é que veio de fora, do Nordeste, como falei. E, gostou tanto dessas terras que ficou. Conheceu minha mãe que veio do Sul do Brasil e se firmou onde é a fazenda Sossego. Olha, sempre que alguém tem esta curiosidade já noto logo, é forasteiro ou forasteira como no seu caso, sendo até repetitivo.

- Devo estar fora do meu juízo perfeito para cometer tanta gafe perto do senhor. Me desculpe mesmo. Não queria ofender. É o pouco que chega de informações na cidade para pessoas forasteiras como eu.

- Não se preocupe, dona. Não me ofendeu, já estou acostumado.

- Falta muito para chegar? Apesar do frio preciso tomar um banho quente. Vocês têm água quente por aqui, né?

- Claro que sim. Já passamos da fase da invenção do ... como chama mesmo? Há, do fogo. Tem até comida e para sua surpresa é cosida, rs.

- Tá vendo, que vergonha. É uma gafe atrás da outra. Pedro não me leve a mal, estou em um dia ruim. Ou melhor, péssimo. E sigo, com palavras contraditórias explicando.

Nesse momento, ele estava concentrado no cheiro da lama e da mulher que estava na sua frente, imaginando-a em um banho quente.

"Melhor eu focar em outra coisa quem sabe algo na beira da estrada, senão quem vai cometer uma gafe será eu." – Pensou ele.

- E- Estamos quase chegando na casa dos seus "sogros", rs. - Falou com um sorriso maroto.

- Olha, nem tivemos um primeiro encontro e já quer me apresentar aos seus pais. Não seja apressadinho. Que eu não estou em um dia bom!

- Olha dona, nem imagino o porquê deste dia ter sido ruim. O clima está até agradável com esta chuvinha.

Sentindo um ânimo repentino acontece risos altos dos dois.

***

• O jacaré-açu é o maior jacaré da América do Sul, podendo chegar a 6 metros de comprimento e pesar até 300 quilos.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022