Vivo caminhando
à procura de algo que não vem
enquanto a noite é alta
o silêncio é profundo
o céu sem estrelas
me diz de outro mundo.
Num triste sussurro
o vento aparece
trazendo uma voz,
lamentos e prece...
Baladas sem ritmo, sem nome, atroz
doces cantigas,
palavras antigas
momentos passados,
destinos traçados,
no coração de alguém
sou apenas ninguém
chorando, amando,
solitário esperando
a Solidão que não vai
o Amor que não vem...
Ipuã, Primavera de 1966.
É BOM TE CHAMAR DE MARIA
É bom te chamar de Maria
Maria de todos os tempos
Maria, meu sonho encantado
Maria, de meus momentos!
É bom te chamar de Maria
Maria, de doces lembranças
Maria, luz de minha vida
Maria, minha esperança!
É bom te chamar de Maria
Maria que a todos conduz
Maria, doce Maria
Maria, mãe de Jesus!
É bom te chamar de Maria
Maria, com todo louvor
Maria de minha saudade
Maria, meu grande amor!
(Para Maria, onde estiver...)
Cravinhos, Primavera de 2008.
EU SOU APENAS...
É noite...
E novamente esse silêncio triste, esse vazio...
Uma ausência sentida...
Uma saudade amarga.
Uma vontade imensa de te envolver
na minha ternura...
Ah, se soubesses
a falta que tens feito,
a dor tremida
que punge-me o peito,
a tristeza que a tudo escurece,
a solidão que fica,
a dor que permanece...
Sou apenas aquele que ficou
entre restos de sonhos desfeitos,
lembranças de um amor quase perfeito
que o destino separou...
Vinhedo, Primavera de 2008.
EU VI A CRUZ
Há muitas cruzes nos caminhos de Bom Jesus...
Eu vi a cruz
Tão alva e bela,
Sinal da presença dela
Nesse rincão goiano.
Após todos esses anos
Só a lembrança ficou
Ao lado de uma saudade
Que o tempo não apagou.
Nesse alvorecer de luz,
Nessa madrugada fria,
Momento de nostalgia,
Nesse caminho que me conduz...
Eu vi a cruz:
Pequena e singela,
Derradeira presença da minha 'bela',
Por essas bandas de Bom Jesus!
(Para Maria Isabel, com saudade...)
Rio Verde (GO), Primavera de 2008.
FELIZ
Ah, vida feliz!...
Em cada canto, um poema
Em cada abraço, uma ternura
Em cada riso, um beijo meu...
Que importa
Se há tantos 'queria ter' e não temos...
Se há tantos 'queria ir e não fomos...
Se há tantos 'queria ver e não vimos...
O que realmente importa
É que a vida é feliz
E o riso é de graça.
O amor é aprendiz
Há flores na praça
É tudo o que sempre quis...
Vinhedo, Primavera de 2009.
GRITO DE ESTRELAS
Hoje estou com vontade diferente
de ser outra gente
de outro bando e lugar.
Estou com vontade de andar
caminhar [vagar,voar,]
ser infinito enquanto posso...
Quero libertar de
minhas janelas,
e conhecer a imensidão
dos amanhãs, que
são forjados
nas oficinas do tempo,
que ficam escondidas
em lugar nenhum.
Quero escapar,
dos caminhos que existem
dentro das coisas transparentes,
que refletem os cansaços e as indecisões.
Quero viver a vida
em slow motion
no abrigo dos corações invertidos,
pintados como trens
que de repente param
em nenhuma estação...
E assim,
como do fundo da música
brotam as notas
que, ora são lembranças,
ora esperanças,
emudeço o grito,
na pauta do silêncio e da amargura...
E quando a noite vier,
cantarei alguma coisa para dormir,
no silêncio das paredes,
que refletem fantasmas
de minha alma...
Vinhedo, Primavera de 2008.
MANHÃS
Queria ser como as manhãs
Que surgem radiosas
Por entre serras
A embalar o doce sono do menino
Que sonha com um mundo sem guerras.
Queria ser como a andorinha
Que busca horizontes
A voar sem medo
E que depois, mais tarde se aninha
Num mundo de paz,
De amor sem segredo.
Manhãs, sonhar,
Voar, amar,
Caminhar:
Tudo isso queria ser,
Fazer, viver
Enquanto não saio de minha janela.
A manhã já se foi e também meu sonhar;
Fico a esperar o tempo correr
No silêncio, uma saudade dela...
Vinhedo, Primavera de 2008.
Minha alma
Minha alma é um anjo
Que corre com o vento
Que dorme ao relento
E adora sonhar.
Nas noitinhas ele voa
Nas asas do tempo
E enche de cores
Os céus de luar.
Diz que me ama
Me adora e a sorrir
Sempre me chama
Para brincar.
Felizes cantamos,
Corremos, pulamos
E de mãos dadas esperamos
O amanhã chegar...
Minha alma é um anjo
Que vive comigo,
Que mora em meu peito
Num eterno sonhar...
Cravinhos, Primavera de 2008.
REFLEXOS DA ALMA
"A moral, propriamente dita, não é a
doutrina que nos ensina como sermos
felizes, mas como devemos tornar-nos
dignos da felicidade." (I. Kant)
No tempo
que eu
não te conhecia,
aprendi numa lousa
de palavras andantes,
que se movimentavam
na casa do silêncio
e da escuridão...
Foi assim que comecei
a descobrir que
Felicidade,
é uma ave passageira,
que voa horizontes
no coração de poucos seres,
e que muda e se transmuda...
...
Nestes tempos
de escassos valores,
prefiro alimentar cães
a levar flores
na porta das igrejas...
Oh, Felicidade, Felicidade!
Senhora e escrava
dos meus caprichos!
Que cantos tua lira inspira
nos recantos cheios de ilusão?
...
Gostaria de falar sobre a alegria
refletida nos teus olhos...
Mas, tenho somente a mim
neste mar de solidão...
Míseros restos de alma
na brevidade do tempo...
...
Existiram épocas
de fragrâncias coloridas,
nas vozes claras
dos pomares,
que abrigavam
tropéis
azuis e rosa,
à beira do riacho,
na casa das palavras
de ternura e mansidão...
...
Uma vez
vislumbrei
entre brumas,
nos portais
das tendas de luz,
a face do Invisível
que gera o Tudo
o destino, a sorte
a vida, a morte!
...
Decidi caminhar
no pó das estradas,
e sentir o aroma
do araçá dos longes...
... e olhar pro céu
para encontrar despojos,
a troco de vinténs,
na seca do destino.
...
Aquela casa,
escondida numa curva,
sugeria prazeres
que meu sonho ansiava.
E eram os mesmos, os vinténs
que aplacavam a sede e a fome.
E tudo era tão bom...
...
Não se é permitido
hastear sonhos coloridos,
nas janelas das casas
de tijolos amarelos...
E as bocas dos canhões
brilharam infâmias
no tempo da escuridão...
...
Ó Felicidade...
tão frágil,
tão ligeira,
tão depressa
é o teu passar!
Senhora do efêmero,
que determina
o destino de quem
vive a sonhar...
Vinhedo, Primavera de 2008.
TEU JEITO
Ainda que eu falasse dos amores eternos,
não seria o bastante...
Ainda que eu andasse por mil caminhos,
não seria o suficiente...
Ainda que eu escutasse todas as canções da terra e do
céu, não retratariam a beleza do meu amor...
Este teu jeito doce de me amar
me leva à loucura.
Bebo do veneno da paixão
e me entorpeço com a ternura do teu amor.
Sou prisioneiro dos teus carinhos:
Ao mesmo tempo que desço aos infernos,
tenho um céu aos meus pés...
Ah, o meu amor!
Abre-me as portas do coração
e me dá sonhos para sonhar.
Fecha os olhos à razão
e nos mares da fantasia
navegam meus sonhos e minha ilusão.
Incendeia meu espírito
com as chamas do meu padecer...
Renova minha alma
dando calma ao meu viver...
Ipuã, Primavera de 2009.
TEU NOME
Eu te esperei na manhã florida e perfumada
Na tarde ensolarada e no longo anoitecer
Foste a promessa de um amor sem fronteiras
Deste-me a esperança de uma vida verdadeira
Eras o meu tudo e todo o meu viver...
Contigo trilhei muitos caminhos pela vida
Juntos enfrentamos procelas terríveis
E juntos navegamos por mares pacíficos
Na mesma mesa bebemos o amargor da saudade
E brindamos aos nossos sonhos e à nossa felicidade!
E agora este vazio, esta ausência dolorida
Esta falta de você na minha vida
Este não-sei-o-quê que massacra e me consome
Inventei mil caminhos para te encontrar
E mesmo assim não ouso revelar teu nome...
Vinhedo, Primavera de 2008.
VISÕES
Há dentro de mim
um deserto clamando por encontros.
Restos de crepúsculos deixados
nos dias de lucidez.
No abrigo da minha alma
restam vagas lembranças
de amores idos:
espectros de saudade
refletem minhas paixões.
Nos caminhos tardios,
meus rastros cansados
vislumbram a distância
da minha insensatez...
Vinhedo, Primavera de 2008.