DISFARCE
Queria gritar:
Amo!
Mas o silêncio é maior...
E assim
Lá se vai a vida
O tempo voa
E há essa distância
Que só aumenta
A solidão...
Queria falar
Mas é segredo
Que desde muito cedo
Mora neste coração de amor e dor...
É melhor ficar calado
Vivendo de paixão
amargurado
Neste mundo de ilusão...
Vinhedo, Inverno de 2009.
DIVAGAÇÕES EM BUSCA DE UM TEMA
Como são engraçados os caminhos...
Assaz interessantes as perspectivas...
A vida é plena e transbordante do novo...
É preciso esvaziar o velho para dar lugar
Àquele que nasce, ao que vem, ao que chega.
Será mesmo que o destino
Conduz aquele que quer
E arrasta aquele que não quer?
O ontem passou.
E agora tudo o que quero
É um sorriso...
É preciso viver
Gostando da vida...
É preciso amar
É preciso ser...
É preciso dar vivas à alegria
E, sobretudo, ser feliz!...
Vinhedo, Inverno de 2009.
INDEFINIÇÃO...
(pequena fantasia em compasso de valsa)
I
Quanto tempo...
e somente
a monotonia
de uma solidão interminável...
II
Abro minha janela pela noite adentro.
Nos luares tardios faço meu ninho.
Restam ternuras inúteis
daqueles que eu tenho pena e dó.
III
Noites sem vozes vagam pelos cantos
e sonhos lembram sal e bênção.
Onde estão as palavras mansas
das tristezas que ousam sorrir?
IV
Eu te procurei nas estrelas
e nos olhares dos viajantes...
Mas ficaste perdida
no meio da noite
e as coisas impossíveis
te fizeram prisioneira
dos pensamentos
sem acordo, sem razão.
E havia perfume de rosas no ar...
Vinhedo, Inverno de 2009.
INÚTIL
Ó solidão!
O que trazes no teu silêncio contagioso?
O que ocultas na tua boca muda? Levaste
De mim o teu baú das ilusões
Deixando-me vazio e inútil perante o olhar do mundo...
Minhas mãos ficaram invisíveis de toda cor
Meus sonhos não mais visitam os caminhos do amanhã...
Não há mais flores na minha janela
Nem mais lembranças nas asas do vento
Nenhuma saudade habita minhas memórias...
Não consigo mais ver a palavra:
Como poderei enxergar a minha alma?
Vinhedo, Inverno de 2009.
LIÇÕES DE INFINITO
Para você, mil vezes tudo de novo faria
E no sonho, a ternura dos encontros
As marcas do tempo têm o hálito das flores
E amores se escondem na simplicidade dos dias
A mente cansada viaja por entre nuvens e ilusões
E reflete imagens que o tempo não apaga
De ausências a vida é sufocada no pó das estradas
E o aroma das manhãs não pernoita nas janelas
De coisas do agora vivem apinhados os recantos
E a saudade não mora mais aqui...
Vinhedo, Inverno de 2008.
PEQUENA CANÇÃO NOTURNA
A lua bela
brilha no céu, aleluia!
O riso da criança
enche de ternura e graça
a singela flor
no jardim da praça.
Meu coração dá boas vindas à alegria.
É tão bom fazer sorrir
a quem nos ama...
E a saudade
viaja de graça
nas entrelinhas
de um pobre poema de amor...
Vinhedo, Inverno de 2008.
PÍNCAROS PROFUNDOS
Perdidos
nas mensagens intangíveis
meandros linfáticos
de olhares impossíveis
Sinfonias de prece
se elevam em silêncio
enquanto
ruídos distantes
passos vacilantes
em busca das grandezas adormecidas
renascem na quietude
singular existente
à procura
incessante do Amor
nos píncaros profundos
dos labirintos eternos!
Ipuã, Inverno de 1968.
PROMESSAS PROIBIDAS
Prolóquios sublimes
divagam em prantos
nas procuras vacilantes
das grandezas ausentes...
Pinceladas de aurora
nas cores proejadas
de mares distantes...
Liberdades acalentadas
em primevos perdidos...
Mentiras desmoronadas
castelos ruídos...
Nos anseios da espera
apenas vozes sussurram
em palingenesias
pansofias pantagruélicas
promessas proibidas!...
Ipuã, Inverno de 1968.
TARDE
Quando o sol se põe
pinta uma saudade avermelhada
no meu coração.
Cores de ausência voam
nas asas das borboletas
que chegam, passam e vão...
Há em tudo uma vontade lânguida
de refugiar entre minhas dúvidas.
Estou perdido no labirinto dos desejos
que me guardam prisioneiro
na torre da ilusão.
Minhas procuras encontram
o vazio da indiferença.
Sou barco, porto e tempestade.
Jaz na pedra que me retém
uma réstia de luz
nua e fria
na tarde vazia...
Vinhedo, Inverno de 2009.
VAGA MÚSICA
(O amor no perfume das flores)
O brilho do olhar
da mulher amada
reflete a luz das estrelas...
O amor está gritando
no silêncio da noite fria
e de mãos dadas
ele canta
a mais bela canção...
Na imensidão azul
desfilam cores e paixões.
Na memória das árvores
restam sonhos embalados
pelo vento da noite.
Passou o Outono:
O frio congela a alma
e o amor concede
flores de um tempo esquecido...
Na parede da casa adormecida
a policromia do vazio
reflete a solidão...
Águas de Lindóia, Inverno de 2008.
VIDA DE SONHO
"Quando crescer, estarei muito velho para sonhar..."
Hoje acordei
com uma vontade imensa
de lhe contar minhas alegrias.
Queria lhe falar
do amor que preenche com ternura
a vida da gente,
trazendo o sonho
e a vontade de viver...
Com a felicidade no coração,
queria lhe dizer
que a paz impera
por toda esta terra...
Queria lhe contar
que as crianças
são portadoras da esperança
e o sorriso está
em todo lugar...
Eu sei que você
até dançaria a'tarantella'...
... e ternamente
me chamaria de menino...
Mas, infelizmente,
faz tanto tempo
que você se foi,
que decidi
inventar essa história de sonho
só para me sentir um pouco feliz...
(Para minha Mãe, com saudade...)
Vinhedo, Inverno de 2009.