ENTRE NÓS
Entre nós
Nem mesmo uma nuvem,
Nem mesmo a paisagem,
Nada mais...
Entre nós
Nem esse vento macio
Que passa sem alarde
Enquanto vai embora a tarde...
Entre nós
Restos de sonhos perdidos
Marcas de ternura esquecida
Promessas que não se cumprem jamais...
Entre nós
Essa distância chamada saudade,
Essa solidão que a tudo invade,
Esse silêncio que martiriza...
Entre nós
Eternas lembranças,
Pobres versos de esperança,
Num adeus que se eterniza...
Vinhedo, Outono de 2009.
ENTRE PENAS E AMORES
Neste mundo pleno de dores,
Penso eu, quem não as têm?
Procuro viver uma vida de amores,
E é isto que me faz tanto bem.
A minha escolha é ser feliz.
E sempre vivi sob esta bandeira.
De vez em quando alguém me diz:
Que para mim a vida é uma brincadeira.
Eu tenho as minhas dores, por certo.
E também sofro dos males deste mundo.
Mas sempre vejo as coisas como um lago
[aberto,
Livre de ondas, calmo, num azul profundo.
Para aquele que se esfalfa em penas,
Um recado eu gostaria de deixar:
Ame a Deus, sorria pra vida, torne-a serena,
E verá que viver é apenas uma questão de
[amar.
Vinhedo, Outono de 2008.
FABRICANTE DE SONHOS
Vou para bem longe...
Perto das estrelas,
Livre das preocupações.
Não tenho ontem.
Navego pela imensidão.
Voando com o vento
A deixar o amanhã para trás.
Cruzo os caminhos da fantasia
Para bem longe daqui.
Sou viajante do infinito
Sou fabricante de sonhos...
Vinhedo, Outono de 2009.
FLORESCER
Tento ser poeta
a caminhar em linha reta
e...
... descansar nas curvas
do meu amor.
"Piano, piano
si va lontano"
diz o ditado italiano;
pois é certo
que correria
não é pressa,
mas aquele
que chega atrasado
perde o trem
perde o dia
e o dinheiro também,
e é preciso se apressar
pra não perder o lugar...
O tempo é cada vez
mais veloz
nesta tal globalização,
e a vida é ligeira
que dificulta os olás,
e os abraços
cibernéticos
se resumem em FWDs
(ocos, amorfos, vazios)
distanciando a vida
que floresce
e refloresce
e um dia
desaparece...
Vinhedo, Outono de 2008.
MADRUGADA
Madrugada
instante de sonho
procuras em vão
silêncio presente
palavras ausentes
que não voltarão...
Madrugada
sonho que finda
restos de saudade
esperas inúteis
momentos perdidos
de felicidade...
Madrugada
porto do dia
estrela cadente
vento parado
música distante
amor ausente...
Ipuã, Outono de 1968.
NOVA ERA
A moda agora
é ser nova era;
sem essa de espera;
eu quero é fluir
curtir
e depois, partir
o pão
na estação
primavera-verão
do seu coração;
que vai no avião
desafiando o ar;
nas palavras
do meu celular
que fala sozinho,
nas asas do vento
que corre sem tempo
nas trilhas da luz;
da minha 'home page'
de cores 'new age',
enquanto um piloto
de chips e de cruz
me leva pra longe
do antes e do depois,
nesta história
que só tem nós dois...
Vinhedo, Outono de 2008.
NUNCA MAIS
Início de maio, tarde quieta e fria.
Uma multidão caminha a passos lentos
enquanto sinos dobram tristemente:
'nunca mais, nunca mais a tua voz'
'nunca mais, nunca mais o teu olhar...'
E tudo é tristeza que se arrasta
que se aninha nos cantos da alma
e se projeta no caminhar dolente
de toda esse povo, essa gente.
E o dobre continua em tom plangente:
'nunca mais vou te ver naquele rio'
'nunca mais naquele banco do jardim...'
'nunca mais, nunca mais, nunca mais'
'terei teu olhar em mim...'
(Para meu irmão Sérgio, com saudade)
Vinhedo, Outono de 2008.
OUVI ESTRELAS
Ouvi estrelas
na quietude imensa
sussurros outonais apenas
Senti calor
num sol sem luz
Gerei palavras
nas águas de azul
Ouvi estrelas
na prece do vento
Compus um sonho
no sono dolente
Evoquei serenatas
na sinfonia da lua
Ouvi estrelas
no segredo dos desertos
Cantei no silêncio
das flores colhidas
Ouvi estrelas
dizendo baixinho
palavras de amor...
Ipuã, Outono de 1968.
PACÍFICOS PROGRESSOS
A esperança que surge
na aurora da vida
Lembranças que ficam
nos poentes mortais
As noites sem lua
e os luares que brilham
O sol que aquece
O frio que consome
O amor vacilante
que espera o momento
Resumos sublimes
na dor que redime
Pacíficos progressos
que nascem em festa
pincelando a vida
na policromia eterna!
Ipuã, Outono de 1968.
PALAVRAS
Prometa-me que irás cuidar,
prometa-me que entenderás...
Mesmo nos tropeços e nas quedas
saberei que tu estarás...
Prometa-me beber
quando eu tiver sede;
e ser doação
quando eu tiver fome;
e rir quando houver alegria...
E dar teu ombro para descansar
quando doer minha cabeça...
Prometa-me um oásis de amor,
mesmo que seja
num deserto de lágrimas,
uma pedra brilhante,
num campo de sangue e dor...
Podes prometer-me um amigo?...
Quando o tempo escurecer,
e a impossibilidade dos encontros
fazer de mim alguém sozinho como agora;
E quando as luzes da cidade
bocejarem distâncias depois de mim,
e espreguiçarem estrelas num céu vazio:
Eu terei socorro e guarida!
E como um sono que é festejado
com a certeza dos sonhos,
eu saberei que quando acordar
tu estarás comigo.
Preciso abraçar-te agora:
minhas mãos estão tão vazias
como minha vida...
O fascínio das procuras terminou
e as paixões se desvaneceram
no ocaso das caravanas...
Eu nasci de um sol poente
e agora me sinto
como se assim também fosse...
Estou perdido
nestas estradas,
que são todas iguais
a levar-me a lugar nenhum...
...
Prometa-me, hoje, amanhã e sempre,
porque é nisto que acredito,
e é só isto que eu tenho.
Prometa-me estas coisas
e, se teu coração abrigar um sim
- Você pode!
E eu te prometerei a Lua,
mesmo que não possa dar-te!
(Para meu irmão Francisco com saudade!)
Vinhedo, Outono de 2008.
PÁRAMO
Senti um 'nadinha' de saudade
Despontar nas auroras vacilantes
Busquei inquieto – mas debalde –
Esperanças nas ladeiras estelares
Evoquei chegadas
No porto das partidas
Caminhei imune por entre sonhos inanes
E no gáudio dos bons tempos
Enquanto a brisa trazia
Neblinas de ilusões caladas
Nos bosques floridos de risos
- solstícios de outonos proibidos -
Procurei o amor
Singular, distante, discreto
Na imensidão silenciosa
De meu deserto...
Ipuã, Outono de 1968.
PEQUENAS POBREZAS
Povoai os abismos
de incertezas
Penhorai as dores
nos neologismos
Plantai sementes
de ingratidão
nos encontros perdidos
das prisões eternas
Cantai em sorrisos
os males da hipertrofia
buscando encontrar
restos de aurora
nos funerais do crepúsculo
Decolai nos labirintos
da decomposição dos defeitos
e, ocultando
em segredo
as belezas imortais
achareis na
imensidão vazia
pequenas pobrezas!
Ipuã, Outono de 1968.
POR VOCÊ
Vou ser poeta
Por Você!
Vou buscar a mais linda paisagem
Pra Você!
Vou viver cada segundo
Pensando em Você!
Vou sonhar todos os meus sonhos
Com Você!
Vou abrir minha janela
Pra ver Você!
Vou ser a própria poesia
Pra viver com Você!
Vinhedo, Outono de 2008.
PRIMAVERAS PERFUMADAS
Há em mim
desejos sublimes
ofertando-me esperanças...
Tesouros ocultos de felicidade
à espera que o tempo passe...
Há em mim
saudades peregrinas
ressuscitando fantasmas...
Restos de tardes mortas
esquecidas no meu passado...
Há em mim
procuras vacilantes, temerosas
trazendo-me, no silêncio dos meus passos
primaveras perfumadas
enfeitadas com flores que não nasceram...
Ipuã, Outono de 1968.
QUERO
Quero te amar
no teu silêncio
e na tua hora mais alegre
Quero te encontrar
na tua procura
e na candura dos teus sonhos
Quero te ouvir
na tua lembrança
e no teu agora mais feliz
Quero te ver
na tua serenidade
e na doçura do teu olhar
Quero te querer
no teu desejo mais sublime
e na tua vontade mais pura
Quero estar contigo
nas horas todas
de todos os tempos
Quero...
Vinhedo, Outono de 2008.
TALVEZ
Poderia
ser verdade
se falasse
de auroras
esquecidas nos jardins
além do céu e da terra
Bastaria
uma palavra
se experimentasse
o sabor das esperas
Sonharia
os mesmos sonhos
se encontrasse
as cores
do amanhã
Cantaria
a mesma canção
se amasse
os mesmos abraços
Viveria
em paz!
Vinhedo, Outono de 2008.
VIDA
"Aonde quer que eu vá
eu descubro que um poeta
esteve lá antes de mim..." ( S. Freud )
Ah, essa vontade que tenho...
Que há muito tempo
vive guardada em meu peito.
É saudade que não tem mais jeito.
É minha vida, meu alento,
às vezes, apenas tormento...
Chegar até aqui
e sentir os dias
cheios de quisera.
Uma vida de espera.
Se fosse aquilo que era...
Talvez...
Ir para onde?
Voltar?
para quê?
Os dias
repletos de porques.
As noites vazias,
escuras e frias
guardam
as lembranças na alma;
choram
solidão
pelos cantos...
Lá fora
Fervilham os sinais da alegria
Vida, manancial de energia
Que vem
Que vive
Que passa
Que vai...
Ir
Ir para onde?
Se tenho um peito que esconde
as dores que a vida trouxe.
Ah, quem me dera que fosse
capaz de olhar pela janela
e sentir dela uma presença doce...
Chegar até aqui
e ver os meus sonhos desfeitos,,
minha vida em fracasso...
Se tivesse meus passos refeitos,
cuidaria dos meus preceitos
e teria os teus abraços...
Ó solidão!
Que vive comigo,
Que me chama de amigo...
Frequenta minhas horas,
Minhas tardes vazias,
Meus egos, minhas dores,
Meus temores...
Há muitas cruzes na estrada
por onde passa o tempo...
Vejo a vida na vidraça
desse cárcere de vento...
Fui mago, rei da quimera.
Estive aqui, ali, acolá.
Semeei ventos nas tempestades.
Nas terras do Deus dará
colhi apenas saudades...
Prisioneiro dos meus erros,
sorrio, enquanto o coração chora:
Minha dor não mostro a ninguém...
Sou apenas um pouco de mim mesmo
que vive, lamenta e sofre
as dores das derrotas
nas noites de solidão...
Vinhedo, Outono de 2009.