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A primeira coisa que Anna Maria fez ao entrar no terraço foi pegar seu celular na clutch. Respirando fundo, sua cor foi voltando ao normal enquanto ela ligava para sua melhor amiga, Ana Carolina, bebeu de uma só vez sua bebida, deixando o copo no parapeito.
- Carol?
- Oi, Anna - respondeu Ana Carolina do outro lado da linha.
- Você ainda está trabalhando?
- Siiim.
- Mas é véspera de Natal! - Anna estava chateada.
- Anna, eu já te disse que essa conta é muito importante para a minha carreira - a voz de Carolina parecia firme.
- Falta muito para acabar? - ela tentava fazer manha.
- Eu não vou para a ceia de Natal da Clara!
- Então é isso? Você e a Clara brigaram de novo? - ela parecia um pouco brava.
- Não, estamos muito bem, que eu saiba. Só não gosto de festas extravagantes. Não é meu mundo, é o de vocês.
- Nem eu nem a Clara estamos aproveitando. Ela está tendo que cumprimentar todos que chegam, já que os pais dela são os anfitriões, e eu estou sem você, Rapha e Clara. Sem vocês, essas festas são tão chatas. A Clara já perguntou de você.
- Sinto muito, mas eu não vou. Diga à Clara que fiquei presa no trabalho e que outro dia marcamos de sair.
- Você já furou cinco encontros com as amigas. Ela reclamou que não te viu por um mês inteiro. Com certeza não vai se contentar com uma simples saída.
- Foram imprevistos...
- Carol, já faz um mês. Estou preocupada. Você está bem? Não está pulando refeições?
- Estou bem, não se preocupe. É só trabalho, trabalho e trabalho.
- O Rapha também não vem. Está em uma viagem de negócios. Vocês me abandonaram na véspera de Natal.
- Não faz drama, Anna. O que ele te disse?
- Trabalho, trabalho e trabalho - as duas disseram ao mesmo tempo, rindo.
- Preciso desligar agora. Aproveite a festa. Se eu conseguir, passo na sua casa amanhã.
- Tem almoço na casa da Clara amanhã.
- Vou na sua casa à noite - ela suspirou do outro lado.
- Aviso a Clara?
- O que você acha?
- Que não?!
- É isso aí, te vejo amanhã.
- Até amanhã. - Anna desligou o celular e já fez outra chamada. - Rapha, você volta quando?
- Anna? Sabe que horas são aqui? - Raphael parecia sonolento do outro lado da linha.
- Desculpa, eu não me liguei.
- Tudo bem. Aconteceu alguma coisa?
- Estou taaaaão entediada. A Carol não veio, e a Clara não pode ficar por perto tão cedo.
- A Carol não foi... E como ela está? - ele parecia preocupado.
- Você sabe, ela está se fazendo de durona, mas se enterrou no trabalho, trabalhando na véspera de Natal. Ela acha que eu não ia perceber? Ela vai em casa amanhã. - Por fim, ela suspirou. - Pior que ela sempre foi assim. Mesmo antes, ela e você são dois workaholics.
- Pelo menos ela está pensando em outra coisa. Você também se cuida. Quando eu chegar de viagem, vou na sua casa. Agora vou dormir. São duas da manhã, estou morto e tenho uma reunião cedo.
- Desculpa.
- Sem problemas. Se precisar, me liga, mas só se precisar meeeesmo, não por tédio. Agora vai fazer amigos e me deixa dormir. Boa noite.
- Boa noite. - Ela desligou fazendo bico.
- Desculpe. - Disse Pedro, saindo das sombras. - Eu achei que você estava me seguindo até aqui, por isso tentei ficar escondido no canto escuro, mas acabei escutando suas conversas. Você realmente não estava dando em cima de mim?!
- Claro que não!
- Desculpe. É que minha namorada não pode vir, e a Clara começou a dizer que, como ela nunca viu minha namorada, pode ser que ela não exista. Começou a me apresentar para várias pessoas e...
- Algumas acabaram dando em cima de você.
- É.
- Olha, nem todo mundo é igual, e a Clara estava brincando. Ela respeita muito o namoro dos outros, só queria te apresentar novas pessoas. Disse que você não conhece muita gente por aqui.
- É verdade.
- Então, se tem alguém a quem você deve desculpas, é à minha prima. Agora, se me der licença... - Ela disse brava, odiando que ele tivesse mal interpretado sua prima. Estava mais brava por Clara do que por si mesma. - Vou tentar ir embora antes de ser pega pela Clara. - Essa última parte ela falou baixinho, mas foi ouvida por ele.
Quando Anna estava saindo da varanda, viu Clara se aproximando, trazendo mais um jovem que ela não conhecia. Anna Maria começou a se arrepender de ter ido à festa e também de se enraivecer pela prima, que estava prestes a lhe pregar outra peça com mais um desconhecido.
Pedro, saindo também da varanda, viu a cena que estava prestes a se desenrolar e resolveu ajudar, ao mesmo tempo em que se ajudava.
- Me acompanhe - sussurrou ele no ouvido de Anna, colocando a mão em seu ombro.
- Nossa, Clara, vamos ter de ir embora. Eu e a Anna estávamos conversando no terraço, quando ela pisou em falso e torceu o pé. Vou levá-la ao médico.
Clara imediatamente soltou o braço do homem ao seu lado e se apressou até sua prima.
- Meu Deus, está tudo bem? Com esse salto, é muito perigoso. Você acha que ela quebrou? - Ela estava genuinamente preocupada, com os olhos esbugalhados. - E agora? Seus pais ainda não chegaram e o motorista... Eu vou...
- Fique tranquila que eu mesmo levo ela. Se eu levar, ela vai ser atendida de imediato, então não se preocupe e aproveite a festa.
Anna Maria ficou sem reação, apenas olhando de um para o outro enquanto a mentira do recém-conhecido a colocava em uma situação desconfortável.
- Está doendo muito, Anna. Quer que eu te ajude a apoiar? Vou com vocês? - Clara parecia muito preocupada.
- Não, não precisa - ela parecia sem graça. - Só deve ter sido uma torção. - Ela disfarçou, pisando leve com um dos pés no chão fazendo uma careta.
- Vamos?
- Ah... sim. - Anna fingiu mancar até a saída, sendo sustentada por Pedro.
- Ah, esperem! - se alarmou Clara.
Os dois ficaram paralisados com o novo chamado, achando que tinham sido pegos na mentira. Se entreolharam disfarçadamente, e Pedro olhou para trás, disfarçando.
- O que foi?
- O que eu digo para os seus pais, Anna?
- Não precisa dizer nada - ela respondeu, aliviada, virando a cabeça. - Se for algo grave, eu ligo avisando eles, mas acho que foi só uma torção.
- Se eu não disser algo, sua mãe vai ficar uma fera.
- Verdade, diga que eu torci o pé, mas que já fui cuidada e voltei para casa. Não quero preocupá-los, principalmente na véspera de Natal.
- Certo, assim que for atendida, me ligue. Vou ficar de olho no celular.
- Agora vamos - Pedro apressou Anna. - Não esquece de mancar - ele sussurrou para que somente ela escutasse.
Ambos saíram do salão devagar. Clara ficou olhando na direção deles até que saíram, tendo que falar com os demais convidados, forçando um sorriso o tempo todo. Ela estava chateada por não poder ajudar sua prima, mas, como anfitriã, tinha de ajudar seus pais, principalmente porque estavam em uma briga e sem se falar.