Capítulo 2 Luna Calante

Uma Semana Antes...

25 de outubro de 2022

Lorenzo Moretti

Eu estava sentado em meu escritório em Lugano, encarando o jornal espalhado sobre a mesa. As manchetes gritavam, manchando o papel com uma notícia que eu já esperava, mas que, mesmo assim, conseguiu me enfurecer. Lá estava o anúncio, estampado em letras grossas e irritantes: "Giada Ravelli noiva de Stefano Ricci, gerente de vendas do Grupo Ravelli." A xícara de café ao meu lado estava fria, intocada, enquanto o calor da raiva subia dentro de mim, inchando o peito como um balão prestes a estourar.

Minha mão se fechou em um punho, e antes que eu percebesse, golpeei a mesa com força. O impacto ressoou pela sala, um som seco que quase combinava com o estalo da madeira, e Luciano, que estava jogado no sofá ao fundo, deu um salto, derrubando o tablet que segurava no colo.

- Merda, Lorenzo! - Luciano exclamou, levantando-se de um pulo, seus olhos arregalados. - Se continuar assim, vai acabar quebrando a mesa inteira... e nem você consegue comprar paciência suficiente pra segurar essa raiva!

Ele riu de maneira tensa, mas meu olhar fixo deixou claro que não era momento para piadas.

- Giada não perde por esperar - murmurei, sentindo o gosto amargo das palavras se espalhar pela boca. - Isso é uma provocação clara. Ela sabe exatamente o que está fazendo ao anunciar esse noivado com o gerente de vendas do pai dela. Ele sempre foi apaixonado por ela... ridículo.

Luciano soltou uma risada curta, cruzando os braços com uma expressão de quem via muito mais além do que eu estava disposto a admitir.

- Claro que é provocação, Lorenzo. Ela queria se casar com você e você vivia fugindo. O que esperava? Só queria a fusão das empresas, e achou que ela ficaria satisfeita com isso? Que visão romântica a sua...

O sorriso que curvei nos lábios era frio, carregado de um sarcasmo quase amargo.

- Eu a satisfazia o bastante - retruquei, minha voz seca, sem deixar espaço para dúvida. - E deixei claro desde o início que casamento não estava nos meus planos. Ela sabia onde estava pisando.

- Sabia? - Luciano deu de ombros, erguendo as sobrancelhas. - Parece que ela queria muito mais que isso. Agora vai se casar com o pobre coitado do Stefano. E você, meu irmão, como vai lidar com isso? Porque está claro que ela conseguiu mexer com você.

Me recostei na cadeira, deixando o peso das palavras dele fluir pelo ambiente. Ele estava certo, Giada tinha conseguido me irritar, e a irritação me fazia pensar em mil formas de reagir. Os dedos tamborilavam no braço da poltrona, enquanto eu processava a situação.

- Ainda não sei como - admiti, sentindo a tensão dos músculos começar a se dissolver -, mas vou pagá-la na mesma moeda.

Luciano, sempre o provocador, arqueou uma sobrancelha, me desafiando.

- Vai ser complicado - ele disse, sua voz carregada de malícia. - Você só dormia com Giada, sem dar a ela mais que isso. Vai precisar encontrar uma mulher à altura dela... o que não é tarefa fácil.

Revirei os olhos com o tom zombeteiro de Luciano, mas sabia que, por trás da brincadeira, havia uma verdade incômoda. Luciano era meu irmão mais novo, mas sabia como me provocar nos piores momentos, e aquilo me irritava.

Ele se levantou abruptamente, desligando meu notebook com um clique impaciente.

- Mas se você realmente quer provocá-la, eu estou dentro. Que tal uma noitada em Campione d'Italia antes de sua viagem a Mônaco? Um pouco de diversão antes de resolver seus problemas.

O sorriso dele era cheio de segundas intenções, e eu sabia que Luciano já tinha algo em mente. Ele sempre tinha. E, no fundo, eu sabia que uma distração era exatamente o que eu precisava.

A boate em Campione d'Italia estava lotada quando chegamos. O som grave da música reverberava no ar, preenchendo o ambiente com uma vibração quase palpável. As luzes piscavam e cortavam o salão com um brilho ofuscante, enquanto corpos se moviam no palco como sombras sensuais. Sentei-me em uma mesa reservada, onde podia observar o cenário ao redor. Homens de terno, mulheres movendo-se com uma sensualidade exagerada, e bebidas caras que passavam de mão em mão.

Foi então que a vi. Luna Calante, era o nome que anunciaram. Uma mulher que dominava o palco com uma presença quase etérea. Seus olhos estavam ocultos por uma máscara que lhe conferia um ar de mistério. Cada movimento que ela fazia, cada curva que seu corpo desenhava, parecia projetado para seduzir. Ela dançava como se soubesse que o mundo estava a observando, mas com a confiança de quem comandava cada olhar. Havia algo nela que instantaneamente prendeu minha atenção.

Luciano já havia desaparecido em direção a uma sala VIP, distraído com seu próprio entretenimento. Mas eu não conseguia tirar os olhos de Luna. A forma como ela se movia parecia me chamar, me provocar. Não era o tipo de homem que pagava por prazer - sempre havia mulheres dispostas a vir para a minha cama, mesmo quando eu não estava disponível. Mas por Luna Calante, eu estava disposto a abrir uma exceção.

- Quero contratá-la para uma dança privada - disse ao garçom que se aproximou, sem desviar o olhar do palco.

Ele fez uma reverência discreta, mas seu tom era firme e claro.

- Ela já está ocupada esta noite, senhor.

O fato de ela estar indisponível só fez aumentar minha determinação. Era como se a máscara e os mistérios que ela carregava fossem feitos sob medida para me provocar. Peguei meu celular e enviei uma mensagem rápida a Dario, meu assistente fiel.

"Descubra tudo sobre a mulher mascarada da boate Moulin Rouge. Seu nome artístico, Luna Calante. Quero um dossiê completo antes de minha viagem para Mônaco."

Eu precisava saber mais sobre ela. Muito mais.

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Alguns dias depois, me encontrava no banco traseiro do meu carro, com uma garrafa de uísque ao lado e o dossiê que Dario havia preparado em minhas mãos. Rasguei o envelope com um misto de curiosidade e apreensão. Malena Bossi, 22 anos. O nome verdadeiro de Luna Calante. Cristo, ela era mais jovem do que eu esperava. Eu tinha dez anos a mais que ela, e o bom senso gritava para que eu deixasse isso de lado. Mas havia algo dentro de mim, algo que me impedia de seguir o caminho lógico.

O relatório era detalhado. Durante o dia, Malena trabalhava em uma cafeteria simples. À noite, transformava-se em stripper, e, para alguns clientes selecionados, uma acompanhante de luxo. Mas o que mais me impactou foi descobrir que, além de sua vida dupla, ela ainda cuidava da mãe doente em um hospital público.

Aquilo mexeu comigo. O que Luna fazia na boate era apenas uma fração da realidade dura que ela enfrentava. As fotos anexadas ao dossiê mostravam uma jovem que carregava nos olhos o peso de quem conhecia o cansaço e a luta pela sobrevivência. Ver aquelas imagens me deixou desconfortável de um jeito que eu não esperava.

Por um instante, considerei deixar tudo de lado. Ela não era o tipo de mulher que eu escolheria para os meus planos. Mas, ao mesmo tempo, eu não conseguia fechar o dossiê e seguir adiante. Algo me prendia a ela - talvez fosse o destino ou talvez fosse o uísque que queimava minha garganta.

Não importava. A decisão já havia sido tomada. Eu tiraria Malena daquela boate, daquela vida. Ela precisava de ajuda. E, de certa forma, eu também precisava dela. Saí do carro, deixando que a brisa fria de Campione d'Italia acariciasse meu rosto enquanto avançava em direção à boate. Eu estava ali por ela, movido por um desejo sombrio que eu não fazia questão de esconder. Não havia espaço para culpa, muito menos para arrependimento. Corrompê-la? Talvez. Mas eu lhe daria algo que nenhum daqueles homens que a desejavam se importavam em oferecer: uma nova vida.