Capítulo 5 Despedida

Capítulo 5

Lorenzo Moretti

Observei as fotos que Julia havia me enviado. Escolhi mais algumas roupas para Malena e providenciei para que chegassem a ela junto com um celular novo. Ela era uma mulher incrivelmente bonita, e sua beleza natural não precisava de roupas caras ou acessórios para ser realçada. Mas, para a mentira que estávamos prestes a encenar, eu precisava que ela fosse socialmente apresentável, perfeitamente adequada ao nosso círculo. Além disso, tomei a precaução de apagar qualquer rastro do seu passado, protegendo sua privacidade. Conhecia bem Giada, minha ex-noiva, e sabia que seu primeiro passo seria investigar Malena.

As batidas na porta do meu escritório foram seguidas pela entrada repentina de meu irmão, que sequer esperou pela minha autorização.

- Vi as fotos de Malena - começou Luciano, já se sentando à minha frente. - Não acredito que você realmente está levando essa farsa adiante. Parece arriscado demais.

Ele me encarou com aquele olhar desafiador que conhecia bem.

- Ela é muito bonita, irresistível até. Mas, Lorenzo, ela não nasceu no nosso meio. Você sabe que a alta sociedade pode ser cruel. Se alguém descobrir que vocês têm um contrato e de onde ela veio, isso vai te atingir mais do que ajudar. Não seria mais fácil escolher a filha de algum magnata? Uma daquelas que dariam tudo para se enfiar na sua cama?

- Seria mais fácil - admiti, cruzando os braços. - Mas com elas viriam outros problemas. Elas cobrariam sentimentos, compromissos reais que não estou disposto a dar. Você sabe disso. Malena precisa de dinheiro e, por isso, estou comprando o tempo dela. Sexo não é parte das exigências, mas se acontecer, será um benefício agradável. Vamos nos divertir e, ao fim do contrato, cada um segue seu caminho.

Luciano soltou um riso amargo, balançando a cabeça.

- Às vezes me pergunto se você tem um coração. Deus, Lorenzo, você é cruel e frio. Ir para a cama com ela pode ter consequências, inclusive sentimentos. E não apenas para ela. Você também não está imune, por mais que duvide que algo ainda bata nesse seu peito.

Ele me lançou um olhar de descrença.

- Isso não vai acontecer, pode acreditar. - Dei de ombros, certo da minha própria lógica. - Malena está acostumada com homens que a veneram e pagam pelo seu tempo. Nosso relacionamento é um negócio. E, como você mesmo disse, eu não tenho coração. Meu único objetivo aqui é atingir Giada e expandir a Moretti Motors como a maior montadora do mundo.

- Tudo é dinheiro para você... - Luciano me olhou com desdém.

- Não te vejo reclamando quando gasta milhões em festas pelo mundo, regadas a álcool, sexo e muito mais. - Respondi com um sorriso cínico, lembrando das loucuras recentes dele.

- Foram minhas últimas festas, posso te garantir. - Seu tom mudou, mais sério. - Tudo saiu do meu controle, e agora estou pagando o preço. - Ele se referia à mulher misteriosa com quem passara semanas na Grécia, e que o havia enganado.

- É impossível que você não tenha nenhuma foto dela, nenhuma imagem de câmeras de segurança dos lugares que frequentaram. Ela realmente usou uma identidade falsa?

- Ao que tudo indica, sim. E o pior é como tudo aconteceu. Mas eu ainda vou encontrá-la. Só te aconselho a não cometer o mesmo erro. Fique longe de se envolver demais com Malena. Alguém vai sair machucado dessa história se você não tomar cuidado.

Luciano estava sensível demais ultimamente. Desde que começara a buscar essa mulher, ele havia mudado. Jamais deixaria isso acontecer comigo. Tudo entre mim e Malena estava muito bem delineado. Ela sabia que eu tinha uma ex-noiva, e não havia feito perguntas. Estávamos em terreno seguro.

**Dias depois...**

Malena Bossi

Coloquei a xícara de café sobre a mesa de centro e olhei mais uma vez para as fotos do dossiê que recebi. Minha tarefa era memorizar os rostos, os nomes, as profissões e as posições que cada um ocupava na vida de Lorenzo.

Os últimos dias foram exaustivos: compras intermináveis, cortes de cabelo, aulas de etiqueta... Tudo parecia um exagero. E era. Mas fazia parte do contrato. Eu estava feliz porque a enfermeira que cuidava da minha mãe durante meses havia sido transferida junto com ela para o hospital em Zurique. Maria, sempre atenciosa, me contou que recebeu uma excelente proposta para acompanhar o tratamento de minha mãe.

Tudo isso vinha de Lorenzo. E, embora me sentisse grata, lamentava não poder viajar à Espanha para ver Sofia. Enviei dinheiro para minha prima Alessia, matriculei as crianças em uma escola particular e ajudei a investir em melhorias para a pequena cafeteria que ela e seu marido Pablo administravam. Eles eram pessoas boas, e agora eu poderia retribuir um pouco do que fizeram por mim.

Virei outra página do dossiê e vi a foto da ex-namorada de Lorenzo novamente. Todo aquele teatro era por causa dela. A mulher, de traços delicados e impecavelmente vestida, sorria ao lado dele. Algo na foto me incomodava. Eu me sentia culpada por fingir algo. Talvez ele devesse simplesmente conversar com ela e acertar as coisas. Que tipo de mulher aceitaria voltar para um ex que a provocava desfilando com outra?

Balancei a cabeça, afastando os pensamentos. A história absurda que Lorenzo inventara sobre como nos conhecemos ainda me fazia rir por dentro. Segundo ele, nosso encontro aconteceu numa ópera em Milão, quando uma confusão nos levou a sentarmos na mesma cabine. Dali, começamos a nos frequentar, compartilhando uma suposta paixão por óperas, arte, joias, cavalos e, claro, carros exclusivos. Tudo tão surreal que, às vezes, era difícil decorar os detalhes, mas me sentia pronta para qualquer teste que ele quisesse fazer antes da viagem.

O celular vibrou na mesa, e peguei o aparelho. Era uma mensagem de Lorenzo:

"Em meia hora o carro estará pronto para levá-la ao heliporto. Ele a levará até sua mãe. Achei que gostaria de vê-la antes da nossa viagem amanhã. Você voltará ainda hoje de Zurique, minha equipe a acompanhará em todo o trajeto. Tenha um bom dia e uma boa noite, Malena. Nos vemos amanhã."

Sorri. Achei que só veria minha mãe quando o contrato terminasse ou em situações de urgência. Foi gentil da parte dele permitir essa visita, então respondi:

"Obrigada pela gentileza. Tenha um bom dia e durma bem. Nos vemos amanhã."

Ele não respondeu, mas estava feliz. Levantei-me rapidamente para organizar minhas coisas. Minha mãe não sabia exatamente o que eu faria, apenas que era um trabalho. Não queria que ela sentisse desgosto pelo que eu fazia para sustentar nossa família.

Uma hora e meia depois, entrei no quarto do hospital onde ela estava sendo tratada. Maria estava alimentando-a quando cheguei. Apesar de pálida e magra, minha mãe parecia mais forte, com uma energia renovada.

- Filha, estou tão feliz em te ver - disse ela, sorrindo.

Agradeci a Maria com um aceno antes de abraçar minha mãe.

- Filha, não posso ficar aqui. Tudo neste hospital é muito caro. Você vai acabar com suas economias. Use o dinheiro para você e Sofia. Me deixe em um hospital público e vá viver na Espanha. Eu não tenho mais jeito...

- Mãe, por favor, não fale assim. - Respirei fundo, segurando o choro. - Meu patrão é um homem generoso e ofereceu ajudar no seu tratamento. Faz parte de um projeto da empresa dele ajudar pessoas em necessidade. Quando soube das dificuldades que eu estava tendo para pagar por um tratamento especializado, ele interveio.

- Gostaria de agradecê-lo, mas me preocupa o que ele vai querer em troca...

Minha mãe acreditava que eu era apenas sua secretária. Foi a maneira mais fácil de justificar caso ela visse alguma notícia ou foto minha com Lorenzo, o poderoso CEO da Moretti Motors.

- Não se preocupe. Só estou fazendo algumas horas extras, nada muito diferente do que já fiz antes. Queria ter certeza de que tudo daria certo antes de contar para você. Apenas foque em seguir o tratamento. E, se precisar de mim, peça para Maria me ligar. Quanto a Sofia, ela está sendo bem cuidada. Pablo e Alessia mandam fotos o tempo todo, e Maria pode te mostrar. Sofia está começando a falar e está feliz na escolinha.

Tentei tranquilizá-la, abraçando-a mais forte. Não queria que ela focasse na minha viagem com Lorenzo, então comecei a perguntar sobre o tratamento. Mesmo dizendo que já não tinha esperanças, ela admitiu que estava melhor e que os médicos estavam otimistas com a nova medicação. Eles acreditavam que o tumor começaria a regredir nas próximas semanas.

Para mim, tudo aquilo parecia um milagre. Segurei firme a ideia de que, ao final do contrato, nossa vida mudaria completamente - não apenas financeiramente, mas principalmente pela recuperação da minha mãe.

Segurei as lágrimas e a abracei mais uma vez, dizendo o quanto a amava e ouvindo o mesmo dela.