Capítulo 4 O que me pertence

Capítulo 4

Naquela noite...

Malena Bossi

Eu retirava a maquiagem dentro do táxi que me levava ao hospital onde minha mãe estava internada.

Havia feito um espetáculo antes de receber o telefonema de Maria, avisando que minha mãe estava muito mal. O medo da morte me acompanhava todos os dias. Eu sabia que eles faziam o mínimo por ela. Não era um hospital especializado, e o seguro de saúde, que já custava uma fortuna, não cobria boa parte do tratamento. Eu sentia que, por estar com pagamentos atrasados, tudo se arrastava para a minha mãe.

Assim que desci do táxi, apressei o passo pelos corredores até chegar ao elevador, apertando os botões mais rápido do que podia.

As portas se abriram no andar onde o quarto dela ficava, e corri pelo corredor até entrar e vê-la novamente ligada ao aparelho de oxigênio, inconsciente.

- Sinto muito, Malena. Liguei porque ela continuava a te chamar - Maria disse gentilmente.

Eu devia tanto àquela mulher que mal podia explicar. Acenei para ela, incapaz de falar, enquanto as lágrimas transbordavam em meu rosto.

Alisei com delicadeza o braço magro da minha mãe. A pele estava fria, e a sensação era terrível. Ela estava indo embora, sem a chance de um tratamento digno.

Abracei Maria, que tentou consolar meu choro, que ficou ainda mais intenso. Batidas na porta me fizeram afastar dos braços que tentavam me dar conforto. O médico da minha mãe entrou. Ele me olhou com tristeza antes de falar:

- Boa noite, senhorita Malena. Lamento muito, mas estou fazendo o possível dentro do que o seguro de saúde cobriu para o tratamento dela.

Eu sabia que a culpa não era dele, era assim que o sistema funcionava. Me aproximei dele, que fez sinal para sairmos do quarto, e o acompanhei.

- Vou tentar falar com alguns colegas do hospital de Zurique. Talvez eles possam abrir uma exceção... Ela teria muitas chances lá. Pacientes com esse novo medicamento estão conseguindo reduzir o tumor, com 99% de chances de cura.

- Vou conseguir o dinheiro, farei isso o mais rápido possível.

Ele apenas assentiu. Eu repetia aquela frase todas as vezes que ele me explicava a importância de levá-la para aquele hospital.

Uma hora depois, fui gentilmente convidada a me retirar, pois o horário de visitas já havia terminado. Desconsolada, segui para o ponto de ônibus, sem me importar com os olhares das pessoas que viam meu rosto inchado de chorar e os resquícios de maquiagem.

Assim que entrei no ônibus, escrevi uma mensagem, sem me importar com o avançar da hora.

"Aceito me encontrar com você amanhã de manhã para conversarmos mais sobre o nosso acordo."

Enviei a mensagem, esperando que ele ainda não tivesse encontrado outra mulher para aquela proposta.

Não houve resposta. Quando cheguei em casa, o desespero voltou com força, até o telefone vibrar, me tirando da tristeza profunda.

"Amanhã, às 8h, no meu quarto do hotel."

Não houve mais nada. Nenhuma palavra, nenhuma pergunta. Mas ao menos era uma possibilidade de falar mais sobre a proposta maluca que poderia me dar uma nova chance de vida em todos os sentidos.

Lorenzo Moretti

Desde a mensagem da noite passada, não consegui tirar Malena da cabeça. De certa forma, eu sabia que o que a trouxera até mim naquela manhã era puro desespero, combinado à necessidade financeira. Sentia-me um canalha por isso, não podia negar. Mas aprendi ao longo do tempo que, no mundo do dinheiro e do poder, não há espaço para piedade. Às vezes, é preciso usar a cabeça e ignorar os efeitos colaterais.

Observei Malena, que mais uma vez revisava o contrato, ainda hesitante. Seus olhos dançavam pelas palavras como se procurassem algo que pudesse lhe trazer segurança, mas também vi as olheiras sob seus lindos olhos e o rubor em suas bochechas - marcas evidentes de uma noite mal dormida.

Mas, que diabos... não deveria me importar com isso. No entanto, me importava. Ver o sofrimento estampado em seu rosto, sabendo que poderia ceder ao meu desejo e ser mimada, protegida e cercada pela segurança de uma nova vida ao meu lado, era frustrante. Não deveria ser difícil para ela. Estaria ao meu lado como minha namorada, envolvida em um mundo de luxo, sem a obrigação de mais nada. Mesmo o sexo, se acontecesse, seria consensual. Eu jamais a forçaria.

O advogado encarava Malena, e me movi para chamar sua atenção enquanto me aproximava.

- Está tudo bem, Malena? - perguntei, minha voz firme, mas com uma leve curiosidade.

Ela ergueu os olhos, ainda incrivelmente límpidos, e pude ver o brilho de lágrimas que ela lutava para conter. Mordi o lábio, esperando o momento em que ela finalmente desabaria, mas, em vez disso, ela respirou fundo e fechou os olhos por um segundo.

Malena Bossi

Engoli o choro pela milésima vez desde que entrei no quarto de Lorenzo naquela manhã. Ele estava taciturno, observando-me enquanto seu advogado repassava o contrato comigo. Relia cada página, uma a uma, até que a voz impaciente de Lorenzo quebrou o silêncio, perguntando sobre o que eu achava do acordo.

- Parece tudo certo, mas gostaria de acrescentar uma garantia... - comecei.

- Posso aumentar o valor, isso não é problema - ele me interrompeu, direto.

- Não se trata disso - continuei. - Quero uma segurança para mim. Não vou fazer sexo forçado, e não farei nada com ninguém além de você.

Seu olhar se tornou ainda mais penetrante, um misto de perigo e provocação, enquanto ele se inclinava levemente sobre a mesa.

- Não se preocupe, podemos incluir isso no contrato - disse, com um sorriso que fez o sangue ferver em minhas veias. - Mas saiba que eu não compartilho o que me pertence. Durante a vigência do contrato, você será minha namorada, minha noiva...

- Noiva? - questionei, surpresa.

- Parte da encenação, nada além disso. Mas, se houver sexo, garanto que será prazeroso para ambos. Não se preocupe, não tenho fetiches estranhos e não quero te machucar, garota.

Ele parecia se divertir com a confusão que me causava. Suas palavras eram provocantes e calculadas. Agradeci mentalmente pelos meses como Luna Calante, dançando naquela boate. Lá, aprendi a esconder minhas inseguranças, meus medos, e a não demonstrar fraqueza, mesmo quando algo me afetava profundamente.

Lorenzo era o tipo de homem acostumado a ter tudo o que queria. O luxo do quarto, a maneira impecável como se vestia, tudo gritava poder. Lembrei-me da breve pesquisa que fiz sobre ele naquela manhã, nos poucos minutos de pausa na cafeteria. A família Moretti não era apenas rica; eles controlavam uma das montadoras de carros de luxo mais prestigiadas do mundo, a Moretti Motors. Seus veículos de alto desempenho competiam com gigantes como Ferrari e Lamborghini. Era intimidador ver o poder que o nome Moretti carregava, e, mesmo assim, ali estava ele, no mesmo ambiente que eu, propondo um contrato maluco - mas financeiramente irresistível.

- Espero que as mudanças sejam feitas, e eu assinarei. Quando minha mãe será transferida? - perguntei, tentando manter o tom firme.

Lorenzo não perdeu tempo.

- Assim que assinarmos, farei a ligação para a clínica e sua mãe será transferida imediatamente. Posso providenciar um carro para que você a acompanhe e converse com o médico. Também sugiro que esteja de acordo com as aulas de etiqueta e as compras que precisaremos fazer antes da viagem - disse ele, como se tratasse de simples formalidades.

- Li sobre as aulas e as aquisições, e estou de acordo. Vi que precisarei viajar com você, mas não imaginei que seria tão rápido...

- Nossa primeira viagem será para Mônaco. Passaremos alguns dias lá. Você tem passaporte válido, espero.

- Tenho - murmurei, enquanto o advogado digitava as últimas alterações no contrato.

Poucos minutos depois, tudo estava pronto. Lorenzo foi o primeiro a assinar e, em seguida, me passou o documento, dando-me tempo para revisá-lo mais uma vez. Após ler tudo novamente, ele me entregou uma caneta elegante para assinar meu nome.

Assinei cada página que exigia minha assinatura, e o advogado me entregou uma cópia, reforçando a importância do sigilo.

Lorenzo, então, pegou o celular e, após dar algumas instruções rápidas, voltou sua atenção para mim.

- O carro está esperando por você. Assim que chegar ao hospital, sua mãe será transferida de helicóptero para Zurique, na Suíça. Você retornará hoje mesmo a Campione d'Italia. Amanhã, tire o dia para organizar suas coisas. Seu apartamento continuará sendo pago, para que se sinta segura. Com o dono da boate, eu mesmo resolvo. Concentre-se apenas em arrumar tudo. Depois de amanhã, às 8h, alguém irá te buscar para as aulas e as compras necessárias. Acompanhei todo o processo, mesmo à distância. Na sexta-feira, dia 11, partiremos para Mônaco. Durante esses dias, você receberá um dossiê completo com nossa "história", além de informações sobre as pessoas que poderemos encontrar - clientes, amigos, familiares.

Minha cabeça girava com tanta informação, mas apenas assenti. Ele me entregou um envelope, e quando o abri, vi um cartão de banco e algumas instruções. A conta estava no meu nome.

- Esta é sua conta, mas quero que saiba que não precisará gastar nada enquanto estiver comigo. Esse dinheiro é para quando nossa parceria terminar. Durante o tempo em que estivermos juntos, eu serei seu provedor. Qualquer coisa que precisar será providenciada por mim. Não apenas nas compras, mas tudo o que você desejar será seu, Malena.

Minha maior curiosidade escapou sem que eu percebesse.

- Por que me escolheu?

Lorenzo me olhou diretamente, e por um momento, suas palavras pareceram sinceras.

- Não tenho uma resposta exata. Nossos caminhos se cruzaram naquela boate. Te vi uma semana antes de nossa primeira interação e fiquei intrigado com a mulher misteriosa por trás da máscara. Quando as coisas começaram a se encaixar, percebi uma oportunidade. E você tem razão, estou me aproveitando da sua dificuldade financeira, mas também estou te oferecendo uma saída, Malena.

Suas palavras não me ofenderam. Dançar naquele palco, ser vista como um objeto por tantos homens, era mais degradante do que ser o "objeto" de apenas um, especialmente quando ele me oferecia a chance de sair daquela vida para sempre.

- Obrigada pela sinceridade - respondi, estendendo a mão para ele, que a apertou firmemente, segurando-a por alguns segundos antes de me acompanhar até a porta.

Quando saí do hotel, um carro já me esperava. Entrei e, logo em seguida, recebi uma ligação do hospital. Tudo estava sendo organizado, e a enfermeira que cuidava da minha mãe estava emocionada por finalmente ver uma chance de melhora.

As lágrimas que eu segurava desde cedo finalmente escorreram. Despedi-me ao telefone, avisando que chegaria em breve. Enquanto as luzes da cidade dançavam pela janela do carro, as lágrimas continuavam a cair - um misto de medo e, acima de tudo, gratidão. Pela primeira vez em muitos anos, eu estava vendo uma possibilidade real de mudança para nossa vida.