Capítulo 5 Vendo com meus próprios olhos

Olivia

Deitei-me na minha cama e olhei para o teto pensando seriamente como dormir essa noite. Muita coisa aconteceu e eu me sinto cansada, mas não consigo dormir. Em um momento, eu estava morrendo enquanto amaldiçoava mentalmente a Sarah e Robert e no instante seguinte, eu estava de volta aos meus vinte e um anos e com todas as minhas memórias intactas. É evidente que eu quero acabar com aqueles dois agora mesmo, mas ainda é doloroso e difícil acreditar que eu fui usada de tal forma.

Levantei da minha cama depois de tentar dormir por horas e caminhei pelo corredor, querendo acreditar que o que eu passei foi apenas um sonho ruim e que nada disso aconteceu, que Sarah não me usou e que Robert não me traiu com minha melhor amiga. Instintivamente, parei na frente do quarto de Robert e estava prestes a abrir a porta, quando ouvi um gemido vindo de dentro, minha mão paralisou imediatamente, encostei o ouvido na porta e ouvi mais uma vez o som de gemidos, eu não queria acreditar mesmo sabendo o que estava acontecendo lá dentro, no entanto, eu sabia que precisava ver com meus próprios olhos para aceitar a dura verdade de uma vez por todas. Abri uma pequena fresta da porta e vi na penumbra do quarto, dois corpos se movimentando na cama, havia um abajur aceso que oferecia iluminação suficiente, para que eu visse com nitidez seus rostos. Sarah estava montada em Robert e cavalgava vigorosamente com os olhos fechados e gemia junto com ele, que sussurrava coisas obscenas para ela. Tampei minha boca enquanto as lágrimas caiam rápidas e silenciosas pelo meu rosto. Fechei a porta com cuidado e corri para o meu quarto apressada. Eu estava ciente do que os dois faziam pelas minhas costas, mas ver foi uma confirmação dolorosa. Me joguei na cama e chorei desoladamente com o rosto enterrado no travesseiro, abafando meus soluços dolorosos para que eles não ouvissem nada.

Adormeci depois de tanto chorar e acordei tarde no dia seguinte, meus olhos estavam bastante inchados e minha cabeça doía bastante, cambaleei para fora da cama a procura de algo que aliviasse minha dor. Assim que engoli um comprimido, lavei o rosto com água fria e contemplei o meu reflexo no espelho. Deus, eu estava terrivelmente péssima. Minha aparência era desgrenhada, meus olhos inchados e avermelhados, olheiras escuras, cabelo bagunçado, rosto oleoso, uma bagunça total.

Eu nunca fui uma pessoa particularmente vaidosa, na verdade, nunca me importei em me arrumar e cuidar da minha aparência, Sarah sempre dizia que eu não precisava fazer nada, que era bonita do jeito que era e que quem quisesse gostar de mim, precisava aceitar o meu jeito. Por esse motivo, eu achei que tudo estava bem em não me cuidar, não ir ao salão cuidar dos meus cabelos e unhas ou comprar roupas bonitas, eu simplesmente me acomodei e acreditei em tudo o que Sarah disse cegamente.

Quão ridícula eu fui?

Tenho raiva de mim mesma agora.

Eu não sou feia, só estou terrivelmente acomodada e desgrenhada. Em um rompante, deixei o banheiro e fui até o armário onde minhas roupas estavam guardadas, uma por uma, tirei cada peça e olhei com atenção, fazendo careta para as estampas chamativas e estranhas, parecia que eu não tinha uma peça de roupa normal, era tudo demais para mim e totalmente de péssimo gosto. Minhas roupas são tão feias que eu quero me contorcer de agonia, não faz o meu estilo, no entanto, eu ainda não sei qual é o meu estilo, mas eu vou descobrir em breve e definitivamente, não tem nada a ver com essas roupas que uso atualmente. A diferença entre mim e Sarah é gritante, parece que eu ainda estou perdida em algum lugar da adolescência com minhas roupas estranhas e meus óculos falsos, enquanto Sarah se tornou uma mulher linda e fatal, com curvas exuberantes, seios fartos e sorriso sedutor e roupas adequadas. Eu claramente sou um patinho feio.

Sentei na minha mesa e agarrei uma caneta e um bloco de notas, comecei a anotar tudo o que eu precisava mudar e quando seria o momento adequado para isso, também aproveitei e anotei eventos importantes dos quais eu me lembrava e suas respectivas datas. Se eu queria fazer as coisas darem certo, eu precisava ser meticulosa.

Satisfeita com minha lista de prioridades, guardei-a em um lugar que apenas eu conhecia e joguei todas as roupas de volta para o armário e fechei. Lavei o rosto com água fria e quando minha barriga roncou, deixei o quarto e saí à procura de comida. O cheiro de bacon fritando me atingiu no momento em que abri a porta da cozinha. Robert estava cozinhando e sorriu quando me viu na porta.

- Bom dia! - cumprimenta com um sorriso largo no rosto.

Aposto que deve ser bom para você que passou a noite com Sarah.

- Bom dia. O cheiro está bom. - me aproximei e beijei seu rosto como sempre fazia.

É importante manter os velhos hábitos para que não desconfiem de mim.

Sentei na ilha da cozinha e logo um prato fumegante de ovos com bacon estava na minha frente, junto com torradas, linguiça, suco e frutas cortadas. Tenho que admitir que, apesar de ser um traidor, Robert cozinha muito bem.

- Eu vou sair desse apartamento. - aviso entre uma colherada e outra.

Robert fica parado por alguns instantes, mas logo depois volta a fazer suas coisas.

- Por que isso agora? - pergunta em tom desinteressado.

- Bem, eu estive pensando por muito tempo e está na hora de voltar para casa, e eu também quero dar mais espaço para Sarah, eu nunca a vi com alguém e tenho a impressão que morar comigo pode estar atrapalhando-a e eu não quero isso, quero que ela encontre alguém e seja tão feliz como nós dois. - sorrio brilhantemente para enfatizar minhas palavras.

- Entendo. - Robert balança a cabeça e começa a comer.

- Só lamento que não poderei ficar com você sempre que eu quiser, já que meu pai é muito rígido e seria um problema se ele nos pegar juntos no mesmo quarto. - invento.

É evidente que eu estou mentindo, meu pai é rígido até certo ponto, mas não dessa forma, mas ele não precisa saber disso e é o pretexto perfeito para que ele não me toque nunca mais. Beijar e abraçar já é difícil o suficiente, principalmente depois de ver com meus próprios olhos a sua traição.

- Eu entendo o que você está dizendo, espero conseguir mudar essa situação logo. - diz.

- Sim, eu também. - concordo.

Até parece, idiota.