Capítulo 4 O príncipe herdeiro

Todos sabiam? Não. Sofi me contaria. Stanley também. Pelo menos eu acho que as pessoas que eu mais confiava nesse mundo me contariam. Mas meu pai, porque meu pai me mentiria. Não, não, não, não, não. Isso não tá acontecendo. Não tá. É tudo da minha cabeça. Eu sinto que é da minha cabeça. Eu sinto. Eu sei que é.

Tento ao máximo controlar minha respiração. Sinto que meu coração vai saltar pela boca, não consigo pensar. Só sei chorar. Estou sentada no canto de uma espécie de biblioteca, abraçada em meus joelhos, afundada no meio deles.

Esse maldito vestido, estava me sufocando. Queria arranca-lo de minha pele. O que mamãe me mandaria fazer agora? Correr? Fugir? Mas para onde, a minha vida já estava programada.

Ouço a porta se abrir e fechar logo em seguida. Subo os meus olhos e vejo o herdeiro caminhar de um lado para o outro.

- Até aquele bastardo do meu irmão! Nem sangue real ele tem, mas na hora de arrumarem uma esposa para ele foi bem rápido. Malditos! Eles irão me pagar. Juram que aquele velho vai viver para sempre. Eu serei rei. Eu. - O ouço falar enquanto caminha de um lado para o outro.

Meu choro se vai rápido quando vejo Nash invejar Finn. Ele logo me percebe ali e fica em silêncio. Ele me olha com olhar de pena, e logo se senta ao meu lado no chão. Uma perna estendida no chão e a outra ele deixou dobrada. Desfaz o nó de sua gravada e se espoja na parede que eu estava escostada.

- Voce não sabia, não é? - Ele pergunta me olhando fixamente. Faço um não lento com a cabeça.

Ele fica em silêncio junto comigo olhando para o escuro.

- Porque bastardo? - Pergunto.

- O que?

- Porque o chamou de bastardo?

- Ah. - Ele coça a nuca. - Você não sabe nada mesmo. - Ele suspira profundamente. - Finn é filho do amante da rainha. Minha mãe.

Fico boquiaberta.

- Eu nem imaginava. - Fala baixinho.

Eu não sabia explicar porque. Mas eu não queria falar. Eu tava engasgada com tudo aquilo que eu havia passado. Tudo. Eu sei que ninguém tinha culpa, na verdade, meu pai tinha, eu tinha direito de saber sobre o meu próprio casamento.

- É. - Ele fala em um tom baixo. - Eu não sabia de seu casamento. Nem voce. Foi surpresa para todos talvez. - Sinto uma lágrima cair de meus olhos.

- Eu achei que meu pai deixaria eu me casar por amor. - Falo com a voz de choro, e me segurando para não chorar.

Ouço Nash soltar uma risadinha pequena. Ele devia achar loucura eu acreditar que me casaria por amor, afinal qual nobre ama o seu parceiro?

- Casamentos são apenas negócios. - Ele diz. Eu podia sentir uma pontada de tristeza em sua voz. - O amor é brinde. Se existir.

- É. - Digo sentindo mais lágrimas virem. Ele me olha, e seu olhar é de pena.

Dessa vez, eu o olho também. E ficamos ali, parados. Trocando olhares profundos. Aqueles olhos azuis, azuis como o céu. Aquela boca na medida correta e aquele cabelo comprido, mais não muito, no tamanho ideal. Com uma personalidade tão difícil, mas ao mesmo tempo acolhedora.

Vejo seu olhar descer para minha boca, e acabo por fazer o mesmo. Descer o olhar para boca. Como se eu fosse realmente beijar o príncipe herdeiro. Que doideira. Quando dou por mim, já estamos perto demais, centímetros um da boca do outro. Eu daria o meu primeiro beijo? em uma biblioteca? com um príncipe arrogante e mesquinho?

Quando ele percebe que se beijariamos, e eu percebo tambem, se afastamos. Achei que ele fosse se alevantar e sair, mas não. Nenhuma palavra é dita, ele apenas passa seu braço por volta de meus ombros, e eu entendo o recado, deito sobre seu peito enquanto pela primeira vez em minha vida, me sinto protegida. É um tipo de um abraço, é bom. Fico ouvindo seu coração bater e sua respiração ficar suave, fecho meus olhos e sinto a paz passar por meu corpo, sinto uma conexão que jamais achei que fosse existir. Dou um sorrisinho e me aconchego ainda mais em seu abraço.

Uns 10 minutos ou 20 minutos, ficamos exatamente daquele jeito. Até que vejo um monte de soldados entrarem. Tomo um susto. Quase pulo. Acabo por me agarrar em Nash que me abraça com os dois braços me protegendo, afundo meu rosto em seu peito e sinto o seu cheiro maravilhoso.

- Parem! - Nash grita.

- Príncipe herdeiro. - Ouço um dos homens falar. Não reconhecia a voz. - Estávamos procurando a filha do general. Ele está doido atrás dele.

- Saiam. Saiam. - Eu digo baixinho.

Sinto Nash passar a mão em meu cabelo e sinto vontade de não sair de ali.

- Eu a levo. - Ele diz alto. - Agora se retirem. A assustaram. - Diz apertando ainda mais o seu abraço.

- Como quiser Majestade. - O homem diz. - O general a espera na saída do salão. - Ouço a porta fechar novamente.

Sinto Nash desapertar o abraço, e eu solto ele. O olho nos olhos, e fico ali o admirando. O vejo sorrir e ele por fim se alevanta.

- Eu te levo, moça assustada. - Da a mão para me ajudar a alevantar.

Arqueio uma sobrancelha e não aceito. Me alevanto sozinha e caminho furiosa na frente. E quando paro para abrir a porta, olho para trás e está Nash parado me olhando sem entender.

- Voce não vem? Guardião. - Dou um sorriso pequeno.

E ele corre atrás de mim dando uma risadinha.

- Que dama mais estranha. - Ele diz ao abrir a porta.

Ao sairmos, posso ver alguns guardas ali perto. E sinto os olhares irem todos para mim, e Nash. Que nem se quer da bola em ser visto, com quem seria sua futura cunhada. Eu fico parada olhando os guardas, o que pensariam de mim? Uma dama sem postura, sem senso algum em estar trancada em uma biblioteca com seu cunhado. Isso iria dar uma fofoca.

- Vem. - Pega na minha mão e a puxa.

Eu caminho junto dele, talvez ele esteja mais rápido que eu. Me sinto arrastada. Não o conseguia acompanhar, Nash era mais alto que eu, mais forte e mais ágil.

- O principezinho! Eu não consigo caminhar na sua velocidade. Eu sou baixa e estou de salto! - Digo e ele para bruscamente.

- Para você querida, é Nash. - E sorri. - Voce não vai gostar disso. Já aviso, querida. - Fico o olhando confusa.

Ele podia me chamar de May né? Quando penso falar isso, ele põe uma das mãos em minhas costas e a outra em minha perna. E me pega no colo.

- Que?! - Falo enquanto sou carregada nos braços do príncipe herdeiro.

Aí meu deus! Isso vai ser horrível, o falatorio.

- Nash! Me solta. As pessoas vão falar. Você sabe que vão. - Falo esperançosa que ele vá me soltar. Mas ele não dá indícios que vá fazer isso.

- Fica quietinha, querida. Chegaremos lá, rapidinho. - Ele diz.

E realmente, chegamos lá rapidinho. Mas para sair desse maldito castelo pelo salao é necessário passar por todas aquelas pessoas, TODAS. E eu ali, sendo carregada por Nash, o príncipe herdeiro. O que falaria? que me machuquei? mas não tinha sangue, e nem estava mancando.

Nash não dá bola. Passa por todos me segurando, todos, suas irmãs, por Rae e por Finn. Podia ver os olhos de Finn se arregalarem. E eu acho que de todos que ali estavam do mesmo jeito.

- Voce vai conseguir me carregar pela escada? Me deixe andar! - Digo e ele sorri.

- Querida, eu sou forte e lindo. Não se preocupe. - Reviro os olhos.

Arrogante.

E ele realmente consegue me carregar, não parece nem sequer fazer esforço. E em minutos já estamos na parte de fora do salao. Avisto meu pai, Sofi, Stanley e Wiliiam. Os quatro parados, com os olhos arregalados.

Meu pai caminha até nosso encontro rápido e carrancudo. Sofi parecia que ia desmaiar e Stanley solta uma risada frenética.

- Solte minha filha! - Meu pai ordena.

Nash não parece nem se importar com as ordens de meu pai. E continua a caminhar até a carruagem. Meu pai fica parado olhando quanta insolência.

- Pronto, querida. - Diz me largando em frente a carruagem.

- Obrigada. - Digo apertando meus lábios em um sinal de vergonha.

- Quando precisar... - Ele diz dando uma piscadela.

E sai andando para outra entrada do castelo. Vejo meu pai caminhar até a carruagem. E antes que qualquer um ali pudesse falar, eu falo:

- Wiliam irá comigo. Apenas wiliam. - Digo entrando na carruagem e vejo wiliam entrar logo atrás.

Sofi e Stanley ficam parados sem entender. Meu pai chega e tenta falar algo, mas eu fecho a porta da carruagem em sua fuça. E peço para o cocheiro andar.

- Nash? - Ele solta uma risada. - Voce gosta dos príncipes.

- Mais uma palavra e eu te mando descer também! - Ele faz um sinal de quem vai parar com as mãos e ri novamente.

Que noite estranha. Mas o príncipe herdeiro era um tanto querido, talvez fosse melhor do que eu imaginava.

            
            

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