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Ensaio para um pequeno inventário
Tudo o que ultimamente tenho amado
Foram apenas papéis velhos guardados
Na gaveta do criado,
ao lado da minha cama...
...
Às vezes – chuva miúda de verão
Que vem e que passa
Deixando pelos caminhos todos
Alegria para as pequenas flores
E também para as ervas daninhas
Que vicejam aqui e ali
Em todo lugar...
...
Outras vezes me encontro maravilhado
Com toda a beleza que há
No entardecer...
...
Então...
Saio por aí
...
Vou me encontrar
Para não me perder...
E depois, de tudo isso
Disse alguém
Que o amor também envelhece
Com o tempo muda de cor
Não tem o mesmo sabor
Nem os prazeres de outrora...
Escrever para quê?
[Se um dia vamos morrer...]
...
Escrever para viver
Para nunca morrer
Escrever...
Queixas
Lamentos
Sucessos
Fracassos
Alegrias
As dores
Os amores...
Escrever para quem?...
Vinhedo, Primavera de 2009.
Cantiga para passar o tempo...
Ah, esse vento que passa
Essa chuva que cai
A manhã que surge
A tarde que morre
A vida que vai...
Às vezes,
O frio
Impiedoso
Esse ar triste,
Saudoso...
Sonhos,
Esperanças,
Lembranças...
E depois esse fogo
Que crepita na alma
Que queima e arde
Numa voraz paixão...
Ah, tudo passa...
Passam as flores na praça
Passa a água do rio
Passam os carnavais
Os felizes natais
E tudo o mais...
Passam os pássaros no céu
O rosto e o véu
Passa o riso
Passa o vento
Passa a chuva
Passa a vida
Passa tudo o que se vê...
E depois...
De certo tempo
Esse lamento
Sem você!...
Vinhedo, Primavera de 2009.
Quero...
Quero a ternura leve
Qual vento macio
A flor pequenina
Que enfeita a colina
Nas tardes de abril...
Quero o afago de mãos
No encontro das almas
A essência do olhar
Em meio às águas calmas
Quero o sorriso mais terno
A voz mais doce
O amor sempre eterno, quero!
Vinhedo, Primavera de 2009.
Vento...
Vivi como vento que passa
Não aquele que arrasta
Mas aquele que beija suavemente
Os lábios da mulher amada
Que envolve e que abraça,
E que de repente se aquieta
Sucumbido aos caprichos da paixão...
Por muito tempo fui promessa em segredo
Suave murmúrio nas tardes cansadas
Qual canto de adeus em terna oração...
Agora nada mais sou
Do que vento que passou
Arrastando alma e coração...
Vinhedo, Primavera de 2009.
Andança...
Ainda ontem
Passei por aquele lugar
Outra vez, com esperança,
De pelo menos,
Mais uma vez te encontrar...
Tolice...
Vã ilusão...
Continuarei a viver
Enganando o próprio coração...
Os tempos passaram
A vida mudou
Somente a saudade
É que ficou...
Vinhedo, Primavera de 2009.
Sonho Mudo
Demais é tua ausência na minha vida
Este vazio que não preenche jamais
Esta dor que nunca tem fim
Tão dolorida que de resto nada é demais...
Brilha o sol nas manhãs sonolentas
Fadas coloridas fogem dos meus sonhos
Preciso encontrar a minha vida
Nesse caminho onde nada brilha...
Grito teu nome e não há respostas
Somente este vazio inunda minha solidão
O silêncio permanece na distância
Nas profundezas da alma ecoa meu grito...
Meu sonho tem mil bocas
E nenhuma ousa falar teu nome
Tua ternura dorme nas minhas lembranças
E o amor eterno vive no meu sonho.
Vinhedo, Primavera de 2008.
Minha herança
Na distância da minha saudade
Eu amei a ternura da sua lembrança
Como um rio que passa em silêncio
Fiz o meu caminho e o meu viver
Do clarão das estrelas fiz minha luz
Como flor rasteira e simples
Conservei minha fragrância e minha quietude
Amei o longe e as montanhas
Em busca das colinas verdejantes
Vou andando por aí, ao léu
Contento-me com a chuva miúda
Que cai nas manhãs de solidão...
Vinhedo, Primavera de 2008.
Deixa que a vida te possua sem medo e sem promessa...
É tarde...
O pensamento vagueia
por momentos sublimes e mágicos:
oferendas da vida,
que caminham com as lembranças...
Lá fora,
açoita a escuridão
um vento desumano.
Dentro de mim,
fria e triste,
chora uma saudade silenciosa...
Vinhedo, Primavera de 2008.
E a vida passa...
Às vezes penso nas insignificâncias
que aumentam
à medida que a vida
faz o caminho de volta...
De que valeram os sorrisos
sempre calados pela dor,
Abraços que não se ajuntaram
aos anseios do amor
Caminhos sem direção,
barcos naufragados
nas águas da indecisão...
O que é realmente
essa caixinha de surpresa chamada vida?
Esse sonho que dificilmente acontece sem sofrer.
Minguados momentos de ternura
em meio a tantos desenganos...
Não haverão de me importunar as declarações,
que num misto de imposições inquisitórias
recheiam os diálogos com nãos, com se e com mas...
A vida tem sido uma constante
levada pelos detalhes
que mudam a história
sufocando o sonho...
É apenas irreal
o ser que não marca presença
ofuscado pela ganância
que quer sempre mais...
E nesse cenário onde campeiam as paixões humanas
as insignificâncias tomam forma
e correm como loucas
pelos caminhos do destino.
E a vida passa...
Vinhedo, Primavera de 2008.
PÁSSARO
Leve,
como pluma
baila no ar -
- ele paira na imensidão.
Leva os desejos.
Leva a vida.
Voa nas cantigas de ninar,
nas noites de solidão.
Quero-te livre,
para cantar nos sonhos,
aveludando os pensamentos
com tua canção.
Filho nobre das matas e florestas:
Quero-te livre
no coração!
Quero sempre te encontrar
nos versos da alegria.
E nas cores da tua presença
descansar minha saudade.
Na sombra dos meus dias
ser o arauto da esperança:
O amor está no ar!...
Vinhedo, Primavera de 2008.