Capítulo 5 POEMAS DE INVERNO

TEMPO DE AUSÊNCIA II

Muito cedo corrias pela vida a sorrir

Foste a rosa do meu coração

Agora, esse tempo que vive nas minhas lembranças

É apenas o que resta do riso e da flor.

Foste chuva em dias de estio

Aqueceste meu coração descrente e frio;

Levaste minha alma a cantar,

Tudo isto passou sem se dar conta,

O tempo é impiedoso e a tudo afronta.

Vivo de esquecer o meu próprio destino:

Vou nem sei para onde

Faço da solidão o meu hino...

Vinhedo, Inverno de 2009.

EU SOU FELIZ! (Cântico novo)

Eu sou feliz porque Te vejo nas manhãs

Quando o sol tinge de amarelo

O dia belo...

Sou feliz porque Tu me conheces

Tu sabes o meu querer

E há primavera no Teu olhar

Sou feliz porque

Trazes luar nas Tuas mãos

Repartido em sonhos de luz

Sou feliz porque sei o Teu caminho

Tua boca entende o meu silêncio

E porque há paz em mim...

Vinhedo, Inverno de 2009.

SEM MIM

Toco a vida sem assunto e sem promessas.

Meus dias não têm luzes nem flores;

Apenas um vento frio gela as minhas vontades.

Prisioneiro de meus egos loucos,

Vou morrendo aos poucos...

Paredes sem janelas,

Brancas, nuas, paralelas

Num labirinto sem lume...

Nesse cárcere de ilusão,

Entreguei meu coração

E dos meus ais

Nem sei mais ...

Às vezes sou rio que passa,

Outras sou vento,

Deixando meu pensamento

Pelos caminhos...

(Uma cigana leu minha sorte

E me deixou assim...)

Lembranças sussurram palavras no silêncio

...

Há tanto tempo que te amo

Que nem sei mais de mim...

Vinhedo, Inverno de 2009.

A PRIMEIRA VEZ

Eram de pedras

Os caminhos

Que me levavam ao mar...

Ainda sinto

A suavidade da brisa

O colorido do olhar

O azul do céu...

A primeira vez!...

Doces lembranças

Revivem

Amores longínquos

Mistérios

De areia

E água...

Resta

O sabor do sal

E esta saudade...

...

... São de pedras

Os caminhos...

Vinhedo, Inverno de 2009.

NOTURNO

Não caminhes

Pela rua

Na noite escura

Há sonhos desfeitos

Pelos becos escondidos

E as lágrimas da paixão

Tua alma entristecem...

Não caminhes

Pela rua

Na noite escura

O silêncio

Atrai fantasmas de vento

Que dançam

Como folhas adormecidas...

Não caminhes

Pela rua

Na noite escura

Aguarda mansamente

A lua

E o brilho das estrelas

Te dará sonhos para sonhar...

Vinhedo, Inverno de 2009.

Em tudo uma saudade doída

Essa ausência sem fim

Destino meu, minha triste vida!

Folha arrastada pelo vento

Vou pouco a pouco morrendo

Sem amor e sem alento.

Sozinho nessa noite fria

Pobre ser abandonado

Sem luar, sem companhia

Olho para a lareira apagada

Nesse frio na madrugada

Sou mais um na solidão...

Por mais que a vida ensina

Por tudo que a vida dá

Sou uma sombra do passado

Um eterno desprezado

Vou escrevendo, vou vivendo

Meus pobres versos sem rima...

Vinhedo, Inverno de 2009.

SINFONIA NOTURNA

Ao longe... uma doce canção

Enquanto flores espalham perfumes no ar...

O amor canta pelos caminhos

E a solidão não desperta com os sonhos...

Vou procurar a estrela

Do brilho mais belo

E serei feliz...

Vinhedo, Inverno de 2008.

MINHA SOLIDÃO

A noite trouxe

lembranças de um dia

outrora feliz...

Vislumbro sorrisos no meu pensamento

e os sonhos dançam

uma espécie de valsa

na minha alegria peregrina.

Sinto-me alfa e ômega

das minhas vontades,

que voam esperanças

nas asas da minha ilusão.

Bebo do cálice da sua ausência,

a transportar desejos

até o porto da minha ansiedade.

Na claridade da minha janela

amanheço a minha solidão...

Vinhedo, Inverno de 2008.

POR ONDE ANDEI

Não me falaram das lembranças

Não me contaram da saudade,

Não vi as andorinhas,

Nem tampouco beija-flores...

Nos retratos pendurados

não tinha meu nome,

nem minha história...

Na velha casa,

só restaram marcas

dos meus passos

perdidos na escuridão...

Vinhedo, Inverno de 2008.

BRINCAR DE SONHAR

Eu queria fazer um poema de amor,

com louvor.

Versos que contassem

e mostrassem

com rimas bem feitas,

quase perfeitas,

a razão da minha vida

querida,

a ternura do meu viver,

bem querer...

Eu queria um luar de prata,

iluminando a mata.

Música linda, e grata

serenata.

E de mãos dadas com alguém,

- meu bem,

espalhar alegria

harmonia,

ser feliz, amar:

Brincar de sonhar!...

Vinhedo, Inverno de 2008.

PEDAÇOS

De pedaço em pedaço

Sem dó, nem piedade

Ela foi levando tudo

e deixando atrás de si

só tristeza e solidão.

Levou consigo

o melhor dos meus dias,

minha vida de alegria,

minha alma

e meu coração.

Não me importa mais a saudade.

Não me importa a solidão.

Foram-se os tempos

que das janelas

se via a imensidão.

Hoje é viver de migalhas:

restos de sonhos vividos,

doces momentos de amor.

Não mais amores queridos,

apenas tristeza e dor...

Vinhedo, Inverno de 2008.

PARTILHA

Reparto os momentos

que me fizeram feliz,

... doces lembranças

que enfeitaram a vida

e acariciaram a alma.

A água que purifica,

o sal que equilibra.

Reparto o pão que vivifica

e o sonho,

que é toda razão

e todo o meu amor...

Vinhedo, Inverno de 2008.

POEMA DE AMOR

É preciso fazer poemas de amor

Para alegrar um coração solitário.

Para pintar novas cores na paisagem

E espantar o tormento e a dor.

Tem horas que é preciso cantar baixinho

Para não acordar um sonho de amor.

Sair caminhando de mãos dadas com o vento.

Para bem longe, nas asas do pensamento.

É preciso ter um coração cheio de amor e paz

E transformar a vida num eterno sonhar.

É preciso iludir a alma muitas vezes iludida

E fazer da vida, uma paixão infinita!

Vinhedo, Inverno de 2008.

CÂNTICO

São longos os dias de sofrimento

e a lembrança é companheira das noites vazias.

A saudade faz morada em tempos silenciosos

e enche de tristeza o coração solitário.

É necessário que se rejubile na abastança

entoando louvores à terra do acolhimento.

Como a estrela que ilumina

as noites com seu brilho de luz,

não tem maior amor aquele que sempre amou:

apenas ama, e esta é a razão de todo o seu viver.

Vinhedo, Inverno de 2008.

ESSÊNCIAS

Se o riso é pouco

As lágrimas caem

Como chuva miúda

Fecundam a terra

Trazendo bonança

Palavras elevam

Enquanto as guerras

Separam amores

Sem grito de adeus

No horizonte perdido

Desfolham poemas

Que o vento carrega

Sem direção...

Vinhedo, Inverno de 2008.

INVERNO

É frio. Densa neblina se avoluma,

e um vento cortante se avizinha.

Os pingos da chuva parecem neve

a gelar cada vez mais na natureza fria.

Nem um ruído é ouvido na vila deserta;

No céu, o sol ainda não surgiu.

Nem parece que já é tarde certa,

Nesta terra que faz muito frio.

Entre a névoa diviso ramagens e flores,

que ora surgem, ora se escondem,

e a friagem aumenta mais os meus tremores;

Eis que mais além avisto uma janela entreaberta,

e de lá, um som que estranhamente me acalma:

E é hilário dizer que é "frio en el alma"...

Vinhedo, Inverno de 2008.

                         

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