Capítulo 3 POEMAS DE VERÃO

RÉQUIEM PARA UM SONHO

Ultimamente

Tenho olhado o mundo

Através de um céu de vidro.

Quase todos os dias

A chuva acompanha

Minhas visões.

Pouco vejo o sol.

Há mística em meus passos

Quando torno a olhar pela janela.

Faço isto como uma marionete

E é nisto que envolve toda a minha expectativa.

Às vezes

Meu olhar se confunde

E vejo imagens como se saídas de um sonho.

Sigo-as,

Em meio à névoa

Quase mágica e lúdica

E o que acabo vendo

São apenas lembrancinhas coloridas de saudade.

A noite chega e nada mudou.

Restam somente

Perdidas palavras rabiscadas no papel...

Vinhedo, Verão de 2010.

LEMBRANÇAS DE UM TEMPO QUE FICOU

Chuva fininha caindo na mata

Cheiro de relva molhada

Nas manhãs de quieto sol...

Uma porteira abandonada

Recanto das brincadeiras

No corre-corre da infância

Perdida entre cantigas e poeira

Doce lembrança de um tempo feliz...

Um gado branco esparramado

Nas pastagens cobertas de verde

Onde, ao longe, balança uma rede

Nas sombras das árvores

Aroeiras, perobas, paineiras

Dança um vento caprichoso

Gostoso de sentir

E mais além, um regato

Silencioso

Contornando o mato...

Ah, que saudade!

Uma vontade doída

De voltar

De ficar

Com a alma repartida

De não querer ir

Nem sei mais onde

Nem sei mais por quê?

Morar na paisagem

E assim

Viver, sonhar

Nunca morrer...

Vinhedo, Verão de 2010.

PEDÁGIO

Há porteiras nos caminhos

Movidas a 'cobre'

E há em todo o percurso...

Que pena!

A paisagem é tão linda:

Pedras, lagos, rios, montes

E flores de açucena...

A estrada afunila,

Sigo a fila

E,

De repente

A moça sorridente da janela

Leva todo o meu dinheiro...

Houve um tempo

E isso já faz muitos janeiros

Que se pagava para o dono

E a gente ia pelas estradas empoeiradas

Hoje se paga para passar naquilo que é nosso

(E mesmo assim) não somos donos de nada

A caminhar por estradas

Às vezes sem eiras nem beiras

Infestadas de janelinhas

Controlando as porteiras

Que mais e mais

Aumentam a incapacidade

Dos administradores

Sem escrúpulos e sem piedade (...)

Há tanta roubalheira

Nesse 'vira-e-mexe'

Que o tempo passa

Vêm as urnas

E a gente se esquece...

Ipuã, Verão de 2009.

LONGE

Mais uma noite de espera,

O tempo passa...

Imagino sua imagem na noite escura

E um sorriso ilumina meu rosto.

Visões do passado se misturam

Com o vento da saudade

Que sopra lembranças tardias.

Sinto o longe um pouco mais perto

Quando tenho você na minha solidão...

Vinhedo, Verão de 2009.

MINHA RAZÃO DE VIVER

Abro minha janela

e vejo a lua sorrindo para mim.

Minha alegria se põe a brincar

enquanto há uma doce música no ar.

Baila no meu pensamento

uma saudade gostosa de sentir.

Entre flores e cores

lembranças tuas completam o meu viver.

Quando fala o coração

não há necessidade de palavras.

O teu amor vive em mim

como verdade e silêncio...

Isto é toda felicidade que se pode ter.

Vinhedo, Verão de 2009.

SOMBRAS

Por que este 'sim' vem sempre rodeado de 'nãos',

Estas mãos a acenar adeus?

Quero fugir do fantasma da solidão

E não encontro o caminho...

Tento libertar dos meus medos

Mas preciso de mim para atravessar a ponte...

Entre muros de silêncio vejo minha sombra

que vaga temerosa pelos abismos da indiferença...

Vinhedo, Verão de 2009.

CANTO DE AMOR E DE PAZ

I

Eu busco a luz da estrela distante,

que brilha nas mentes de amor e de paz.

As sombras da noite refletem meus medos,

das loucas histórias de tempos atrás.

Bem longe há um lugar que não é capaz

de saber tudo aquilo que quero contar:

Palavras estranhas num bravo gritar

chegam apressadas, rompendo correntes.

E um arco brilha nos parcos remansos

dos vales profundos de sombra e luar.

II

Num tempo e lugar entoam cirandas

com doce aroma de fruta silvestre;

na espera da boca de ares suaves

que lembra a paz da vida inocente:

gerando perguntas do ontem e de sempre

nas mesmas histórias e lendas do mar.

E jorram palavras do supremo altar,

no terreiro das sortes pintadas de luz,

que vivem na essência das almas

que choram cativas, nas névoas do ar.

III

Canções se unem aos tristes lamentos

que vão flutuando nas asas do tempo.

Mensagens de amor perseguindo destinos

levando ternura em suaves acalentos.

Por toda a terra se ouvem os hinos

Que elevam as mentes para louvar.

E os cantos se espalham na terra e no ar

mostrando a todos a luz verdadeira:

A vida enfim, é harmonia e beleza

num mundo repleto de amor e de paz!

Vinhedo, Verão de 2008.

QUANDO EU PARTIR

Quando eu partir

Não haverá adeus...

Apenas o silêncio mostrará a minha falta.

Quando eu partir

Deixarei minha lembrança nas árvores...

E o meu coração navegando pelos riachos.

Quando eu partir

Minha saudade tocará música no vento.

Como contas de vidro num colar,

Deixarei meu pensamento

E meus sonhos no ar...

Ipuã, Verão de 2009.

ABANDONO

Ah, como sinto esta saudade,

esta distância, esta solidão!

Nada mais vejo nesta estrada

nem flores, nem nada

somente o vazio da imensidão...

Vou em frente me arrastando

neste triste abandono

neste amargo sofrer.

Sou carta fora do baralho:

mais pareço um espantalho

quando fico sem você!

Cravinhos, Verão de 2008.

DESENCANTO

Deixo pra você

meu verso de amor

enquanto vai a lua

por entre nuvens, silenciosa e clara!

Por uns momentos

esqueço a escuridão

que se tornou minha alma

contemplando o luar da noite bela

a iluminar minha janela...

(Quanto tempo

ajuntando lembranças...

...doces e preciosos instantes

de raro brilho e fulgor!

Dias que se arrastam

numa vida sem destino...)

Entre dores e risos

procuro minha sombra

no espelho do amanhã

que poderá não vir...

Vinhedo, Verão de 2008.

MEU HOJE É VOCÊ

Hoje eu quero te amar mais do que antes,

E dar a ti mais do que um mero abraço,

E te envolver mais e mais nos meus afagos,

E te abrigar mais e mais no meu cansaço.

Hoje eu quero te olhar mais do que sempre,

E quero te sentir mais perto e mais real,

E fazer de mim servo de teus amores,

A sonhar ternuras na tua mansidão.

Hoje eu quero muito mais Você de novo,

E quero tanto e com tal vontade,

Que minha alma busca o impossível efêmero,

Que vive escondido nas cores da paixão,

Para caminhar contigo nas asas da magia,

E juntos vivermos o amor e a paz!

Vinhedo, Verão de 2008.

GUARDIÃO DA LUZ

Partir, repartir, ser dois, ser tantos...

Inventar horizontes, ganhar distâncias,

buscar histórias através dos ventos,

viver sonhos de muitas lembranças.

Ser galope em passos de música,

que verte remansos nas ondas do mar.

E no encontro das águas que seja única

a chance que se tem de rir e sonhar.

Fazer do amanhã guia e sentinela

a gerar eclipses de cor e palavra,

nos mundos distantes de luz e fulgor.

E que se façam clarões nas suas janelas:

acordando ilusões que não foram seladas,

nos lânguidos recantos de dor e de amor...

Vinhedo, Verão de 2008.

TARDE

As árvores estão quietas, o vento parado;

no ocaso o sol pinta um céu sangrento.

O pó dos caminhos se esconde nos barrancos.

E dentro de mim agita todo este tormento.

Penso em ti e não me sinto completo.

Dúvidas inquietas massacram meu ser.

E a todo momento deixam-me irrequieto,

Tirando-me toda a alegria de viver.

Ó sina dos amantes, capricho dos deuses:

Por que sufoca-me a alma com este sofrer,

que descolore a vida e turva a mente?

Por que dás o doce mel nas primeiras vezes,

e depois, com o tempo o ingrato padecer,

Que faz um coração penar amargamente?

Vinhedo, Verão de 2008.

QUIMERA

No desalento

de minha alma

encontrei forças

para seguir em frente

voltar a ser um cavaleiro andante

em busca do sonho, em busca do amor

Visões de um passado há tanto esquecido

turvaram-me coração, olhar e mente

refletindo espectros de quimera

envoltos na lembrança

de um amor

infeliz...

Vinhedo, Verão de 2008.

DEUSA

Um dia surgiste em minha vida

Trazendo ternura e luz em teu olhar

Tudo sorriu quando sorriste

E com teu riso foi-se o meu pesar.

E então vivemos num terno amor

E tudo era alegria, e um doce sonhar

Até que um dia, para a minha dor

Partiste para nunca mais voltar.

Contigo levaste todo meu prazer

Toda minha alegria de viver

Levaste tudo o que trouxeste

Se devia mesmo tão cedo te perder

Deixando em minha vida tanto sofrer

Pergunto, ó céus, por que vieste?

Vinhedo, Verão de 2008.

CATEDRAL

Volto à catedral onde deixei minha alma,

no solário perene de rosa e flores

E alegre busco encontrar com calma

o caminho que leva à fonte dos amores.

Lavei as mãos com água límpida e pura

e bebi da fonte um pouco de água fresca

E , em silêncio, aquietei-me na penumbra

À espera da luz, essência divina e plena.

Envoltos em suave névoa pressinto rostos

De almas queridas, há muito deixadas

Lembranças eternas de um passado feliz.

Vejo-te agora, na laje fria e dura

A me acenar adeus, num misto de ternura

A me fazer chorar, por aquilo que não quis.

Vinhedo, Verão de 2008.

POETA

Sou triste,

sou gente,

sou poeta

que sente a vida

que sente a morte

que inventa a luz ,

que busca o norte

e que nas noites frias

se encanta com a solidão...

e que chora

e que ri

e...

Vinhedo, Verão de 2008

FADA

Saudade eu tenho daquelas manhãs

Em que tênue névoa se desvanecia

E entre raios de sepulcral luz

Sua figura querida aparecia.

E ficávamos, os dois, embevecidos

Nos olhares contritos, emudecidos

A jogar no ar as nossas sortes

Estranha forma de vencer a morte.

Éramos felizes nas palavras sem fim

Feito cartas de amor eterno

Pirilampos de claras luzes.

Hoje não há mais você em mim

Tudo passou e só restou

Solidão em meio às cruzes.

Vinhedo, Verão de 2008.

VENDAVAL

Quem é

todo mundo

que diz

que não mais te quero

não te quero bem?

Quem é

todo mundo

que diz

que não te quero ver

não te quero ouvir

não te quero ter?

Direi a quem diz

que não te quero mais

que sem você

minha vida

não tem cor

não tem sabor

não tem amor...

Vinhedo, Verão de 2008.

            
            

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