/0/1325/coverbig.jpg?v=ba4e3dfa84c09c7a24c6c0083a6ab126)
RÉQUIEM PARA UM SONHO
Ultimamente
Tenho olhado o mundo
Através de um céu de vidro.
Quase todos os dias
A chuva acompanha
Minhas visões.
Pouco vejo o sol.
Há mística em meus passos
Quando torno a olhar pela janela.
Faço isto como uma marionete
E é nisto que envolve toda a minha expectativa.
Às vezes
Meu olhar se confunde
E vejo imagens como se saídas de um sonho.
Sigo-as,
Em meio à névoa
Quase mágica e lúdica
E o que acabo vendo
São apenas lembrancinhas coloridas de saudade.
A noite chega e nada mudou.
Restam somente
Perdidas palavras rabiscadas no papel...
Vinhedo, Verão de 2010.
LEMBRANÇAS DE UM TEMPO QUE FICOU
Chuva fininha caindo na mata
Cheiro de relva molhada
Nas manhãs de quieto sol...
Uma porteira abandonada
Recanto das brincadeiras
No corre-corre da infância
Perdida entre cantigas e poeira
Doce lembrança de um tempo feliz...
Um gado branco esparramado
Nas pastagens cobertas de verde
Onde, ao longe, balança uma rede
Nas sombras das árvores
Aroeiras, perobas, paineiras
Dança um vento caprichoso
Gostoso de sentir
E mais além, um regato
Silencioso
Contornando o mato...
Ah, que saudade!
Uma vontade doída
De voltar
De ficar
Com a alma repartida
De não querer ir
Nem sei mais onde
Nem sei mais por quê?
Morar na paisagem
E assim
Viver, sonhar
Nunca morrer...
Vinhedo, Verão de 2010.
PEDÁGIO
Há porteiras nos caminhos
Movidas a 'cobre'
E há em todo o percurso...
Que pena!
A paisagem é tão linda:
Pedras, lagos, rios, montes
E flores de açucena...
A estrada afunila,
Sigo a fila
E,
De repente
A moça sorridente da janela
Leva todo o meu dinheiro...
Houve um tempo
E isso já faz muitos janeiros
Que se pagava para o dono
E a gente ia pelas estradas empoeiradas
Hoje se paga para passar naquilo que é nosso
(E mesmo assim) não somos donos de nada
A caminhar por estradas
Às vezes sem eiras nem beiras
Infestadas de janelinhas
Controlando as porteiras
Que mais e mais
Aumentam a incapacidade
Dos administradores
Sem escrúpulos e sem piedade (...)
Há tanta roubalheira
Nesse 'vira-e-mexe'
Que o tempo passa
Vêm as urnas
E a gente se esquece...
Ipuã, Verão de 2009.
LONGE
Mais uma noite de espera,
O tempo passa...
Imagino sua imagem na noite escura
E um sorriso ilumina meu rosto.
Visões do passado se misturam
Com o vento da saudade
Que sopra lembranças tardias.
Sinto o longe um pouco mais perto
Quando tenho você na minha solidão...
Vinhedo, Verão de 2009.
MINHA RAZÃO DE VIVER
Abro minha janela
e vejo a lua sorrindo para mim.
Minha alegria se põe a brincar
enquanto há uma doce música no ar.
Baila no meu pensamento
uma saudade gostosa de sentir.
Entre flores e cores
lembranças tuas completam o meu viver.
Quando fala o coração
não há necessidade de palavras.
O teu amor vive em mim
como verdade e silêncio...
Isto é toda felicidade que se pode ter.
Vinhedo, Verão de 2009.
SOMBRAS
Por que este 'sim' vem sempre rodeado de 'nãos',
Estas mãos a acenar adeus?
Quero fugir do fantasma da solidão
E não encontro o caminho...
Tento libertar dos meus medos
Mas preciso de mim para atravessar a ponte...
Entre muros de silêncio vejo minha sombra
que vaga temerosa pelos abismos da indiferença...
Vinhedo, Verão de 2009.
CANTO DE AMOR E DE PAZ
I
Eu busco a luz da estrela distante,
que brilha nas mentes de amor e de paz.
As sombras da noite refletem meus medos,
das loucas histórias de tempos atrás.
Bem longe há um lugar que não é capaz
de saber tudo aquilo que quero contar:
Palavras estranhas num bravo gritar
chegam apressadas, rompendo correntes.
E um arco brilha nos parcos remansos
dos vales profundos de sombra e luar.
II
Num tempo e lugar entoam cirandas
com doce aroma de fruta silvestre;
na espera da boca de ares suaves
que lembra a paz da vida inocente:
gerando perguntas do ontem e de sempre
nas mesmas histórias e lendas do mar.
E jorram palavras do supremo altar,
no terreiro das sortes pintadas de luz,
que vivem na essência das almas
que choram cativas, nas névoas do ar.
III
Canções se unem aos tristes lamentos
que vão flutuando nas asas do tempo.
Mensagens de amor perseguindo destinos
levando ternura em suaves acalentos.
Por toda a terra se ouvem os hinos
Que elevam as mentes para louvar.
E os cantos se espalham na terra e no ar
mostrando a todos a luz verdadeira:
A vida enfim, é harmonia e beleza
num mundo repleto de amor e de paz!
Vinhedo, Verão de 2008.
QUANDO EU PARTIR
Quando eu partir
Não haverá adeus...
Apenas o silêncio mostrará a minha falta.
Quando eu partir
Deixarei minha lembrança nas árvores...
E o meu coração navegando pelos riachos.
Quando eu partir
Minha saudade tocará música no vento.
Como contas de vidro num colar,
Deixarei meu pensamento
E meus sonhos no ar...
Ipuã, Verão de 2009.
ABANDONO
Ah, como sinto esta saudade,
esta distância, esta solidão!
Nada mais vejo nesta estrada
nem flores, nem nada
somente o vazio da imensidão...
Vou em frente me arrastando
neste triste abandono
neste amargo sofrer.
Sou carta fora do baralho:
mais pareço um espantalho
quando fico sem você!
Cravinhos, Verão de 2008.
DESENCANTO
Deixo pra você
meu verso de amor
enquanto vai a lua
por entre nuvens, silenciosa e clara!
Por uns momentos
esqueço a escuridão
que se tornou minha alma
contemplando o luar da noite bela
a iluminar minha janela...
(Quanto tempo
ajuntando lembranças...
...doces e preciosos instantes
de raro brilho e fulgor!
Dias que se arrastam
numa vida sem destino...)
Entre dores e risos
procuro minha sombra
no espelho do amanhã
que poderá não vir...
Vinhedo, Verão de 2008.
MEU HOJE É VOCÊ
Hoje eu quero te amar mais do que antes,
E dar a ti mais do que um mero abraço,
E te envolver mais e mais nos meus afagos,
E te abrigar mais e mais no meu cansaço.
Hoje eu quero te olhar mais do que sempre,
E quero te sentir mais perto e mais real,
E fazer de mim servo de teus amores,
A sonhar ternuras na tua mansidão.
Hoje eu quero muito mais Você de novo,
E quero tanto e com tal vontade,
Que minha alma busca o impossível efêmero,
Que vive escondido nas cores da paixão,
Para caminhar contigo nas asas da magia,
E juntos vivermos o amor e a paz!
Vinhedo, Verão de 2008.
GUARDIÃO DA LUZ
Partir, repartir, ser dois, ser tantos...
Inventar horizontes, ganhar distâncias,
buscar histórias através dos ventos,
viver sonhos de muitas lembranças.
Ser galope em passos de música,
que verte remansos nas ondas do mar.
E no encontro das águas que seja única
a chance que se tem de rir e sonhar.
Fazer do amanhã guia e sentinela
a gerar eclipses de cor e palavra,
nos mundos distantes de luz e fulgor.
E que se façam clarões nas suas janelas:
acordando ilusões que não foram seladas,
nos lânguidos recantos de dor e de amor...
Vinhedo, Verão de 2008.
TARDE
As árvores estão quietas, o vento parado;
no ocaso o sol pinta um céu sangrento.
O pó dos caminhos se esconde nos barrancos.
E dentro de mim agita todo este tormento.
Penso em ti e não me sinto completo.
Dúvidas inquietas massacram meu ser.
E a todo momento deixam-me irrequieto,
Tirando-me toda a alegria de viver.
Ó sina dos amantes, capricho dos deuses:
Por que sufoca-me a alma com este sofrer,
que descolore a vida e turva a mente?
Por que dás o doce mel nas primeiras vezes,
e depois, com o tempo o ingrato padecer,
Que faz um coração penar amargamente?
Vinhedo, Verão de 2008.
QUIMERA
No desalento
de minha alma
encontrei forças
para seguir em frente
voltar a ser um cavaleiro andante
em busca do sonho, em busca do amor
Visões de um passado há tanto esquecido
turvaram-me coração, olhar e mente
refletindo espectros de quimera
envoltos na lembrança
de um amor
infeliz...
Vinhedo, Verão de 2008.
DEUSA
Um dia surgiste em minha vida
Trazendo ternura e luz em teu olhar
Tudo sorriu quando sorriste
E com teu riso foi-se o meu pesar.
E então vivemos num terno amor
E tudo era alegria, e um doce sonhar
Até que um dia, para a minha dor
Partiste para nunca mais voltar.
Contigo levaste todo meu prazer
Toda minha alegria de viver
Levaste tudo o que trouxeste
Se devia mesmo tão cedo te perder
Deixando em minha vida tanto sofrer
Pergunto, ó céus, por que vieste?
Vinhedo, Verão de 2008.
CATEDRAL
Volto à catedral onde deixei minha alma,
no solário perene de rosa e flores
E alegre busco encontrar com calma
o caminho que leva à fonte dos amores.
Lavei as mãos com água límpida e pura
e bebi da fonte um pouco de água fresca
E , em silêncio, aquietei-me na penumbra
À espera da luz, essência divina e plena.
Envoltos em suave névoa pressinto rostos
De almas queridas, há muito deixadas
Lembranças eternas de um passado feliz.
Vejo-te agora, na laje fria e dura
A me acenar adeus, num misto de ternura
A me fazer chorar, por aquilo que não quis.
Vinhedo, Verão de 2008.
POETA
Sou triste,
sou gente,
sou poeta
que sente a vida
que sente a morte
que inventa a luz ,
que busca o norte
e que nas noites frias
se encanta com a solidão...
e que chora
e que ri
e...
Vinhedo, Verão de 2008
FADA
Saudade eu tenho daquelas manhãs
Em que tênue névoa se desvanecia
E entre raios de sepulcral luz
Sua figura querida aparecia.
E ficávamos, os dois, embevecidos
Nos olhares contritos, emudecidos
A jogar no ar as nossas sortes
Estranha forma de vencer a morte.
Éramos felizes nas palavras sem fim
Feito cartas de amor eterno
Pirilampos de claras luzes.
Hoje não há mais você em mim
Tudo passou e só restou
Solidão em meio às cruzes.
Vinhedo, Verão de 2008.
VENDAVAL
Quem é
todo mundo
que diz
que não mais te quero
não te quero bem?
Quem é
todo mundo
que diz
que não te quero ver
não te quero ouvir
não te quero ter?
Direi a quem diz
que não te quero mais
que sem você
minha vida
não tem cor
não tem sabor
não tem amor...
Vinhedo, Verão de 2008.