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Chegamos ao colégio atrasados, e Gael não parou de falar um segundo sequer durante todo o caminho. Eu assentia com a cabeça, mas, para ser sincera, não conseguia reter nenhuma palavra que ele dizia. Minha mente era um redemoinho de pensamentos, todos girando em torno de uma única frase que Dimitri disse: "Não mordo, a menos que você queira." Essa sentença ecoava na minha cabeça, insistente, quase como uma provocação. Um frio me percorreu ao pensar que ele pudesse estar... interessado. Que eu pudesse, de alguma forma, ter chamado a atenção dele.
Afastei esses pensamentos, sacudindo a cabeça, tentando empurrá-los para longe. Eu não podia me dar ao luxo de sentir nada por ele. Ele além de ser irmão da minha melhor amiga, tinha uma péssima fama – quantas vezes eu mesma vi aquelas garotas saindo de seu quarto, de manhã cedo, sem nem olhar para trás? Eu jamais seria só mais uma. Não mesmo.
- Ei!!!- Gael estalou os dedos diante do meu rosto - Ela está num tipo de transe - afirmou me sacolejando, afim de me trazer de volta.
Eu pisquei algumas vezes, me dando conta de que já estávamos no intervalo. Gael tinha conseguido engajar todos em um debate sobre relacionamentos com irmãos de amigos, é claro. Mas... quanto tempo eu fiquei absorta, perdida em pensamentos? Ele havia levantado essa pauta especialmente para me provocar, insinuando o "interesse" que ele achava que eu tinha em Dimitri. E que, na cabeça dele, era recíproco.
Tay deu sua opinião. Disse que não se importaria se alguma amiga sua namorasse seu irmão, mas que tinha pena de quem caísse no charme dele. Afinal, a pessoa provavelmente sairia com o coração partido, depois de ser mais uma na lista dele. Eu tentei disfarçar o desconforto, mas estava óbvio que minha máscara estava caindo.
- Então, você namoraria o Dimitri, amiga? - perguntou Gael, com um sorriso desafiador. - Porque eu, particularmente, acho que vocês formam um casal fofo. Não acha, Tay?
Ele nem esperou minha resposta, e Tay, claro, não perdeu a chance de me provocar também.
- Seria um sonho, na verdade! - disse ela, rindo. - Assim, eu não precisaria ver uma garota nova saindo do quarto dele todo dia. E pensa só... a gente cresceu juntas! Seria perfeito se fossemos cunhadas.
Eu sentia o olhar debochado de Gael e o brilho animado nos olhos de Tay, enquanto meu coração acelerava. Eles estavam determinados a me ver com Dimitri. E eu? Eu lutava para não me render ao que sentia, mas com aquela frase ainda martelando em mim, começava a duvidar que conseguiria.
Voltamos para a aula, e, logo de cara, a professora anunciou que formaríamos grupos de quatro para um trabalho sobre fisiologia humana. Tentei focar no que ela dizia, mas flashes do encontro com Dimitri ainda me perseguiam, invadindo minha mente quando eu menos esperava. A lembrança dele ali, tão perto, ainda causava arrepios e me tirava o foco. "Será que isso é o tal amor que sempre li nos livros?", me perguntei, inquieta. "Ou estou só me deixando levar pelos devaneios do Gael, acreditando que ele também sente algo por mim?"
Antes que eu pudesse resolver o tumulto em minha cabeça, Clara, nossa colega de grupo, interrompeu meus pensamentos:
- Por que não fazemos o trabalho na sua casa, Tayane? - disse ela, com um sorriso malicioso ,cheia de segundas intenções. - Eu adoraria passar a tarde inteira admirando o gato do seu irmão.
Senti o rosto esquentar, não sei se de ansiedade por vê-lo novamente ,ou será que eu estava sentindo ciúmes dele? Revirei os olhos, tentando disfarçar, e um suspiro escapou antes que eu pudesse conter. Sabia que Gael não deixaria barato. Ele olhou para mim com aquele sorriso provocador e, pegando a deixa, riu enquanto falava:
- Concordo plenamente! Acho que deveríamos nos reunir na sua casa, Tay. Pelo jeito, essa tarde vai ser muito... produtiva.
A risada dele ecoou pela sala, e eu quis desaparecer. O olhar dele me provocava, esperando alguma reação minha, como se ele soubesse exatamente o que eu tentava esconder, como se pudesse ler cada pensamento meu. Engoli em seco, tentando manter a postura impassível, mas a ideia de passar a tarde na casa de Tay, com Dimitri por perto, fazia meu coração disparar. Sabia que, por mais que eu tentasse, não seria uma tarde qualquer.