Capítulo 4 A despedida

O restante da tarde passou como um borrão. Cada vez que eu tentava me concentrar no trabalho, sentia o olhar de Dimitri me observando de algum canto da sala, me analisando, como se pudesse enxergar além das barreiras que eu insistia em erguer. Gael e Clara pareciam cada vez mais convencidos de que algo estava rolando, trocando risinhos e sussurros que me deixavam com as bochechas queimando. E Tay... bem, ela provavelmente sabia mais do que deixava transparecer, mas fingia não notar para nos dar algum espaço.

Quando finalmente terminamos o trabalho, a tarde já havia se transformado em crepúsculo, o céu lá fora tingido de tons laranja e dourado. Tay nos acompanhou até a porta para nos despedir. Eu suspirei de alívio ao pensar que a provocação estava chegando ao fim. Meus nervos estavam à flor da pele.

Mas, claro, Dimitri não deixaria eu sair tão facilmente.

- Vou acompanhar vocês até o elevador, - disse ele, casual, como se fosse o irmão atencioso que só queria garantir a segurança de todos. Porém, o sorriso no rosto dele denunciava suas intenções.

Já havia um elevador aguardando no andar, Clara e Gael já estavam mais adiantados, conversando e rindo sem perceberem o que acontecia atrás deles. Tay deu um aceno rápido e seguiu na frente com eles, deixando-me sozinha ao lado de Dimitri, os três entraram rapidamente no elevador e antes que eu pudesse alcançá-los o elevador fechou me deixando sozinha com ele.

Eu me virei caminhando em direção às escadas, afinal eram só dois lances de escada , não fazia sentido eu ficar aguardando outro elevador, mas, antes que eu pudesse chegar a porta de acesso às escadas, Dimitri deu um passo à frente, invadindo o espaço que eu tentava manter entre nós. Ele estava tão perto que eu podia sentir o calor do corpo dele, e o cheiro suave e inebriante do seu perfume parecia me cercar, me puxando para ele sem eu perceber.

- Parece que você foi deixada pra trás. - Ele falou com um ar mistério. -Acho que foi melhor assim, agora você pode se despedir de mim. - Ele murmurou, sua voz rouca e baixa.

- Eu... Eu estava só... - A frase morreu nos meus lábios quando os olhos dele se prenderam aos meus, intensos e desafiadores, como se esperasse uma última chance para testar minha reação.

Sem aviso, ele levantou uma mão e segurou meu rosto, seu polegar roçando minha bochecha em um gesto suave, mas cheio de intenções. Meu coração parecia martelar no peito, e eu queria dizer algo, qualquer coisa, mas o toque dele me deixou sem palavras. Ele se aproximou ainda mais, e, antes que eu pudesse sequer processar o que estava acontecendo, seus lábios tocaram os meus.

Foi um beijo lento, mas carregado de uma intensidade quase avassaladora. A boca dele era suave e provocante, como se ele quisesse explorar cada segundo, prolongar o momento, me desafiar a resistir. Um arrepio percorreu meu corpo inteiro, e, por um instante, deixei-me levar, me perdendo completamente naquele beijo. A sensação era tão arrebatadora que eu mal conseguia pensar, apenas sentir.

Quando ele finalmente se afastou, eu ainda estava sem fôlego, os olhos semicerrados e o coração disparado. Ele sorriu, satisfeito, como se tivesse conquistado algo que desejava há muito tempo.

- Era só isso que eu queria saber, - ele disse, com aquele sorriso de canto que eu já conhecia tão bem. - Agora tenho certeza... você não é tão indiferente assim, não é?

A frase ecoou em mim, e eu me senti dividida entre a raiva e a vontade de prolongar aquele momento. Antes que eu pudesse responder, Dimitri deu um último olhar provocador, recuando devagar, como se soubesse o efeito que causara.

-Boa noite Maymay, a gente se esbarra por aí. -Saiu sorrindo, como se houvesse ganhado um prêmio.

E então ele desapareceu dentro da casa, deixando-me ali, com as pernas trêmulas, o coração acelerado e a certeza de que algo dentro de mim havia mudado para sempre. Eu não sabia o que viria a seguir, mas tinha uma sensação irresistível de que aquele era só o começo.

            
            

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