Capítulo 2 POEMAS DE VERÃO

CORAÇÃO

Ah, coração cigano

Que culpa tenho eu -

- Se me mostras as belezas da vida –

As paixões

Os amores

As lembranças queridas?...

E assim vou eu,

Pé na estrada,

De cara pro vento,

Coração aberto,

Rumo nem sempre certo...

Felicidade,

Um trem de ferro na colina verdejante

Margeando um rio que corre

Caprichoso, sinuoso

Cujos olhos teimam em ficar!

Ah, coração

Se me amas tanto

Abranda de meu peito esta saudade

Dá-me de teus sonhos para sonhar

Abriga-me em tua ilusão

Agora e sempre

Para toda a vida

Eternamente...

Vinhedo, Verão de 2009.

OFERENDA (das horas sem tempo...)

Se quiseres

[Ó dúvida cruel

Por que esse desdém

Se até as flores têm

A dádiva do querer?...]

Serei água cristalina

Do riacho mais distante

Escondido da vazante

Que brota do teu olhar...

Se quiseres

Posso te ofertar

A estrela derradeira

Que um dia foi a primeira

Que no céu eu vi brilhar...

Se quiseres

A vida inteira

E mais além

Nossas almas serão companheiras

Por todos os séculos dos séculos

Amém...

Vinhedo, Verão de 2010.

INÚTIL

Queria dizer tantas coisas;

Outras tantas fazer.

O tempo passa...

A vida passa...

E há flores no jardim.

Vinhedo, Verão de 2009.

NÁUFRAGO

Onde será que deixei

aquela saudade doída

que tanto me fez sofrer

noite e dia sem parar?...

Ainda guardo doces recordações daquela tarde

O sol tingia de bordado as nuvens do céu

Éramos um só coração a caminhar entre as flores

E você era minha ternura e meu doce mel.

A felicidade acompanhava nossos passos

Em todos os cantos reinava a alegria

Havia muito amor, eram tantos os laços

E entre os abraços, uma suave sinfonia.

Tudo agora ficou tão distante

Não há mais tardes como aquela

Você deixou uma saudade lancinante

Neste navio naufragado, sem porto, sem vela...

Cravinhos, Verão de 2009.

ESSE AMOR

O amor que trago em mim

É uma suave canção

É bálsamo para a minha alma

É minha certeza e meu querer.

Acorda-me com as manhãs

E enfeita meu dia com risos.

Pinta meu horizonte

com as cores do infinito

E se põe a brincar.

À noite, traz-me poesia

Enche-me de sonhos e de alegria

E me convida para sonhar...

Às vezes penso

que a vida é mesmo assim

Vou vivendo iludido

Das dores e mágoas esquecido

Amando esse amor em mim...

Vinhedo, Verão de 2009.

DEFINITIVAMENTE...

Minhas manhãs

não têm mais canto de pássaros

não têm mais o odor das flores

não têm mais meu sol de maravilhas...

Meus dias

perderam a cor

perderam o candor

e meu tempo é passado

sem nenhum valor...

Há muito minhas janelas se fecharam

deixando-me um mundo solitário e triste.

Houve um tempo...

Agora...

Não há mais tempo

Não há mais alegria

Há somente essa ausência dolorida

de você na minha vida.

Não mais canto de pássaros...

Não mais o perfume das flores...

Vinhedo, Verão de 2009.

MINHA CANOA

Minha canoa

Navega por rios profundos

Vai em busca de outros mundos

Minha canoa vive a navegar...

Como sempre tem um rumo

Jamais perde o prumo

E quando sai

Não tem vontade de voltar...

Ela singra rios e lagos

É levada pelos ventos

Ela lê meus pensamentos

E me leva pra pescar...

E assim

Quando me ponho a sonhar

A saudade até

Arruma tempo pra ficar...

Vinhedo, Verão de 2009.

MEU MEDO

Se algum dia eu me perder de mim é porque não tenho

mais você na minha vida...

Sabe...

Tem hora que eu tenho medo:

Medo da vida.

Medo da morte.

Medo de não ser mais eu.

Medo de não ter você!

Às vezes sonho

e tudo se confunde

porque não consigo enxergar você na minha vida...

Tenho medo dos costumes tardios

que não mais despertam paixões adormecidas...

Tenho medo do amor.

Faz muito tempo

que já nem sei mais falar

das manhãs que acordava com flores

na minha janela.

Esqueci-me por completo

das cores do pôr-do-sol.

Em dias de cinza,

um vento manhoso

arrasta meus pensamentos

que voam como folhas arrancadas

do livro do destino.

Tenho medo de tudo!

Estou prisioneiro das minhas emoções

e esta solidão de você machuca-me a alma

levando para longe de mim, teus carinhos e teu amor.

Velhas canções despertam lembranças doces

[ e amargas

e povoam, impiedosamente, meus dias de solidão.

Estou só...

E sem você,

tenho medo de mim...

Cravinhos, Verão de 2008.

DIAMANTE DE LUZ

Ainda lembro, na mais tenra idade,

o desvelo terno e doce com que me cuidavas.

E depois ainda já na mocidade,

maior era o amor que me dedicavas.

E assim foi pela vida afora:

cheia de cuidados e de amores.

Até que um dia, serena, foste embora,

levada pelos céus, deixando apenas dores.

Ser querido, síntese da bondade.

Essência suprema do Amor Maior.

O mais precioso bem que se tem na vida.

Tesouro de luz infinita a rutilar,

para todo sempre hás de brilhar,

no meu coração, minha mãe querida!

Vinhedo, Verão de 2008.

PACTO DO AMOR DISTANTE

Acho que vivemos de espera,

Acho que fizemos um pacto

em outras eras...

Acho... que sei eu, para dizer acho,

deste amor por quem eu me racho

e me esborracho?

...

E este medo de amar

esta indecisão,

que coloca dúvidas na vida

e tranca o coração!

Mas...

Até quanto

isto tem de real?

E quem sabe dizer se é amor?

Se o que sei

é que o poeta é um fingidor...

É preciso sorrir nas tardezinhas

E depositar os nossos cansaços

nas distâncias que separam os sonhos

enquanto é tempo

no instante pequeno...

Acho...

Vinhedo, Verão de 2008.

ASAS DO TEMPO

Ah, essa vontade louca de ficar...

A vida inteira, se pudesse eu ficaria,

e a teu lado feliz eu viveria,

horas e horas, sem ver o tempo passar.

Ah, se pudesse, mas tudo me impede

e me arrasta, e me sufoca numa histeria,

que o espírito grita e o corpo cede,

prostrando-me nesta sofrida agonia:

Nas asas do tempo me faço refém,

pedaços de sonho de coisas esquecidas,

confundem-me a mente e a alma também.

Aceno um adeus e vou seguindo além;

como farrapos da vida enlouquecida,

parto e reparto e já não sou ninguém.

Vinhedo, Verão de 2008.

MALDIÇÃO

Quem se vê abandonado, sem amor

Por todos desdenhado e sem carinho:

Quem sofre a mais atroz e triste dor,

Quem, em silêncio, chora as mágoas sozinho.

Quem não pode descartado e esquecido

Buscar carinho entre todos deste mundo.

E a chorar vive como um vagabundo,

Sem ter quem lhe chame de querido.

Descansará desta vida tão ingrata,

Cheia de dias vazios, de tristeza infinda,

Que só aumenta a saudade que maltrata.

E lá naquele lugar soturno e triste:

Terá abrigo, numa fria e funda cripta,

Ao lado de tantos que a vida foi madrasta!

Vinhedo, Verão de 2008.

ELA

I

Quem é aquela

de nome bonito

que chega airosa

Tão bela,

singela,

desfilando encantos

na passarela

do meu olhar?

II

É a mesma

de ares benditos,

que passa depressa,

levando consigo,

meu coração...

Vinhedo, Verão de 2008.

VELA

Há uma vela

naquela janela...

Quem será

que ela vela?...

Quisera

ser ela...

A vela

que vela

aquela donzela...

Vinhedo, Verão de 2008.

INÚTIL POESIA

Sou simplesmente

um ser,

que ama,

que sofre,

e que canta,

que nasce mil vezes,

e morre outras tantas,

que busca seu lume,

no clarão das estrelas,

que escreve saudades,

no portal das lembranças,

que anda sem pressa,

mas que corre e que dança,

e que,

por isso,

não sabe,

se chora,

ou se ri...

Vinhedo, Verão de 2008.

SANTUÁRIO

Caminho por uma estrada florida

Envolta de ternura e graça

Até chegar a uma praça

Onde se ergue tão bela ermida.

Extasiado, quedo-me, de pé

E adentrando em tão belíssimo templo

Sinto aumentar a minha fé

Enquanto ouço um suave alento.

Mãe Rainha, és pioneira

Nesta terra ínclita e ordeira

Nesta Orlândia que admiro tanto.

Sê Rainha de nossos corações

Doce Mãe, sempre Altaneira

Mãe do meu mais puro encanto!

(para Celina, com amor e fé)

Vinhedo, Verão de 2008.

AMADA IMORTAL

Por mais que o céu me condene

Por mais que hajam castigos e dores

Por mais que tudo neste mundo

Seja um inferno de horrores

Não hei de, em momento sequer

Deixar marcas, nem rumores

Mesmo que para isto houver

Tesouros, riquezas e valores

O que guardo no coração

Recôndito perene da alma sofrida

É aquilo que levarei na partida:

Doces momentos de infinita paixão

Amada minha, eterna ilusão

Razão maior de toda minha vida!

Vinhedo, Verão de 2008.

            
            

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