Capítulo 4 POEMAS DE INVERNO

AUTOPLAGIA*

No meio da noite acordo

Com uma voz a sussurrar:

- Acorda porque é hora

Levanta e vai escrever...

De quem é essa voz

Que me ordena,

Mas calma e serena

No meio da noite, sem ser um açoite?...

A quem devo o que escrevo...

Meus versos são realmente meus?

Ou já foram teus?

Tudo isso, se for, eu não nego.

Há outra vida dentro de mim?

Ou serei eu a minha sorte

A viver com minha própria morte?

(* Autoplagia - Possivelmente um neologismo.

Capacidade que o indivíduo tem de copiar a si próprio.)

Vinhedo, Inverno de 2009.

A BRILHAR

Vem!

Vamos caminhar os nossos mesmos passos

Eu te prometo os mesmos versos

E a poesia primeira que lembra

A última vez que vi teu olhar...

Que nosso brilho seja sol claro da manhã

E que haja dança pelo caminho

Todo enfeitado de nuvens

Até chegarmos lá

Onde não haverá estranhos entre nós

Só você e eu

Juntos, no silêncio

A brilhar...

Vinhedo, Inverno de 2009.

SIMPLES

festa

sorrisos

cantos,

e encantos

nos recantos...

A alegria

contagia,

o amor

encanta.

A praça

toda dança

e enche

de ternura

e graça

A vida

enfim...

Vinhedo, Inverno de 2009.

PALAVRAS AO VENTO

Ditas

Escritas

Vividas...

Raros momentos

De felicidade e prazer

Instantes de sonho e de amor...

...

Palavras arrastadas pelo vento

Espalhadas entre flores

Silenciadas entre espinhos

[Que ferem...

E há,

Na quietude das tardes

[Que morrem

Palavras de ausência

Borboletas silenciosas

Na suavidade do vento que passa...

[Asas e cores

Palavras amantes

Entre paredes mudas

Que despertam lembranças distantes...

[Amores...

...

Joguei

Ao

Vento

As minhas palavras

Mas o vento não sabe ler...

Vinhedo, Inverno de 2009.

PARA NÃO ESQUECER

Como poderia...

Se foram momentos

De raro prazer...

Mostraram que,

Realmente,

Há alegria,

Há gana de viver...

Não,...

Seria injusto demais...

Iria às profundezas

Da vilania,

Da infâmia,

Da covardia...

Ah,...

Ingrato coração

Que olvida

Lembranças tão caras e doces...

Será que houve

Um desvario

Que

Fez-me taciturno,

Melancólico,

Sorumbático,

Descrente das ilusões,

Enganador de mim,

Tolo, fútil, insensato,

Apocalíptico,

Resto de incertezas,

De fugas,

Idas e voltas,

Sem fim...

Mudou o mundo

Ou...

Nem sei

Qual o meu norte,

A minha sorte...

Só sei

Que em algum lugar,

De um tempo qualquer

Há uma flor

Um bem-me-quer...

Enquanto, à parte,

Espreita-me

Algo mais forte:

A morte!

Vinhedo, Inverno de 2009.

CANTIGA DE OUTRO TEMPO E LUGAR

Carrego comigo uma canção que parece não ter fim

Ora ela me faz rir de felicidade

Outras vezes me enche de saudade

É uma lira que mora no meu peito

A sussurrar poesias no meu sonho

Embalando doces cantigas nas minhas noites

É um torvelinho que não acaba

É um vendaval que vai e volta

Têm dias que me envolve de carícias

Faz do meu viver um paraíso de delícias

Mas têm noites que, então minha alma chora

Derramando saudades pela vida afora...

Essa canção que se aninha em minha alma

Muitas vezes renova meu caminho

Conduz meus passos quando estou sozinho

É luz quando de cegueira me cubro

Nas noites escuras é farol e refúgio

É bálsamo suave que me cura as dores

Quando o coração suspira de amores

É meu norte, aponta-me o rumo, é minha guia

É estrela que brilha, é conforto e alegria

No atropelo das horas, me acalma e revigora

Dá-me as mãos estendendo suas rimas

É razão para mais de uma vida...

O tempo passa, renascem as esperanças

E ao meu lado essa canção dolente

Que ora diz coisas de antigamente

Ou sopra-me aos ouvidos as novas do agora

Ela se metamorfoseia nas minhas palavras

Confundindo-me o pensamento e a mente

Faz de mim, prisioneiro de suas melodias

Que rodopia feito dança num salão de fadas

Há versos que dizem de sina aventureira

A perambular histórias de fogo e de paixão

Nas marcas do tempo ela deixa sua escrita

O seu nome vagueia nas asas da ilusão...

"Ah, se a saudade pudesse

De repente, sair de 'fininho'

E, em silêncio, deixar meu coração sozinho

Até esqueceria as vivas lembranças

Que moram comigo, na rua do amor...

Mas, então doravante

Seria um autômato andante

Entre o sim e não, seria ninguém

E isso eu não quero, porém

Se de saudades viver carente..."

Torno a sentir a canção que vive dentro de mim

E enxergo vivas a bailar as minhas saudades

Reflito minhas vivências e olho meu passado

Sou viajante de um tempo que não tem fim

No vento que passa esqueci as vozes do ontem

Na brisa de outros tempos projetei meu amanhã

Vivo na encruzilhada das minhas indecisões

Por onde vou muitas vezes nem quero ir

E, densa, suave e bela ela vaga pelas minhas horas

Abre as portas dos meus sonhos, prediz minhas dores

Destino meu que pulsa nas entranhas do mundo

Eterna canção de todos os meus amores...

Vinhedo, Inverno de 2008.

ALMA PRISIONEIRA

O grito que ecoa nas entranhas da minha alma

Transporta a minha saudade,

E o silêncio não abre as portas do amanhã.

Não tenho forças para dizer aos passantes

Que minha vida é um barco naufragado

No porto das ilusões.

Do alto da montanha sopra um vento

Que impele meu desejo para as colinas.

São verdejantes as propostas

Que me trazem anjos caídos,

E a vontade de partir

Não está nos meus alforjes.

Meus olhos contemplam as distâncias azuis,

E a cumplicidade do passado me impede

De ver o fim da estrada.

Sou retirante da minha própria seca.

Nos confins da existência esqueci minha sombra.

Nos retratos amarelecidos guardaram meu sorriso.

Trago nas mãos resquício da fonte dos amores

Cuja água lavou eternidade de corações.

Dança suave música a bailarina das jóias;

O pensamento ousa trair minhas verdades,

Iguais precioso tesouro há muito enterrado

No labirinto das minhas indecisões.

Vinhedo, Inverno de 2008.

DIAS DE SOLIDÃO

Era o terceiro ciclo de toda a espera,

quando chegou aos meus ouvidos,

partindo dos montes,

das colinas e das fontes,

das ruas desertas,

em gritos, em polvorosa,

qual chilrear de pássaros,

o anúncio do novo dia...

Não era para ser uma manhã, dos conflitos

deixados na noite das fadas,

que surgiram com as lendas cantadas,

à beira dos rios, e em meio às várzeas e banhados...

Enquanto caminhava pelas calçadas nuas,

contemplava as portas das casas adormecidas.

E o silêncio em torno de mim

vagava com minha indecisão...

Frio, muito frio soprava o vento

neste fim de inverno bolorento!

Densa neblina escondia

folhas, galhos e árvores no meio do nada...

E a caminhar prosseguia,

enquanto o gelo da alma

marcava com ares de nostalgia,

o coração e o pensamento.

Sigo, vou andando...

Muitas vezes sem querer

ir para lugar algum.

Sou cria do tempo,

testemunha do vento e das tempestades.

Não me tocam as flores nem os odores

que, em todas as primaveras,

não me enxugaram as lágrimas.

Diviso curvas na estrada do invisível.

Giro meus passos me afastando da escuridão.

Tomo-me pela transparência de rostos perdidos,

na lembrança de tempos memoráveis.

Sou fugitivo da minha própria alma,

mestre e aprendiz de imortal paixão.

Afasto cada vez mais da cruz dos tempos

e me afogo na chuva da minha solidão...

Vinhedo, Inverno de 2008.

ANDARILHO

Caminho

à procura de minha alma.

Entre lembranças distantes

perco meu rumo

no cansaço de meus passos.

Eu fujo do tempo

e me escondo da vida,

como folhas ao vento

nas margens do destino.

Nas estradas cansadas,

adormeço meu corpo andarilho

e sonho feliz...

Vinhedo, Inverno de 2008.

FLOR BELA

Naquela janela

tem uma flor,

sinal de amor

a enfeitar a vida dela!...

Quem dera

que essa flor fosse

meu farol,

meu rumo,

meu norte,

meu aprumo,

minha vida,

minha sorte...

Vinhedo, Inverno de 2008.

SEMPRE O AMOR...

Tem certos dias

que a alma da gente,

qual infância dourada,

baila cantigas

nos salões da vida,

que, em abraços

se encontram

nos versos da esperança,

com solfejos recheados

de rimas de amor...

Há outros, porém

que a alma se esconde

e, triste se perde

na escuridão da dor,

e chora e sofre

horas de solidão,

qual abandono,

no porto da vida,

sem mar,

sem nau,

sem direção...

Como são belas

as manhãs

silenciosas,

que trazem recados

de anjos adormecidos,

nos sonhos de ternura e de paz!...

Sem sonhos não há como viver

e todas as conquistas de uma vida

não valem um sonho de amor.

Ah, se algum dia

pudesse voltar

naquele mesmo jardim

que nos viu nascer

para o amor...

O amor faz-me companhia:

Não me deixa só pelos caminhos.

E também porque

já não sei andar sozinho...

O amor é e sempre será a medida:

O começo e o fim.

A razão maior

de toda uma vida...

Vinhedo, Inverno de 2008.

ATÉ QUEM SABE,,,

Vai bela e alta

a lua no céu.

Cheia de todas as cores.

Cheia de todos os amores.

Quem sabe, um dia...

Cantem amores à luz do luar;

esqueçam as dores.

Só de canções se fazem os sonhos...

e com as rimas nascem os amores

que, aos pares, se dão as mãos.

Quem sabe, um dia...

Nos luares prateados

suspiram sonhos distantes.

Do coração nascem versos

que transportam a alma dolente.

E canta nas folhas

um vento de antigamente.

Quem sabe, um dia...

No doce abrigo das nuvens

descansa a lua;

enquanto na rua

dançam mil vozes

na minha solidão.

Quem sabe, um dia...

Vai alta e bela

no céu a lua,

enquanto suave luz

invade minha janela.

Até quem sabe, um dia...

Vinhedo, Inverno de 2008.

NÃO É PRECISO DIZER ADEUS

No relógio da sala suspira o tempo

enquanto a madrugada vai fria e quieta.

Penso em você e não me sinto só,

pois sei que o seu pensamento

é meu alento e confiança.

Vão longe os dias de inquietação

e as noites vazias de sonhos esquecidos.

É doce acreditar nas auroras

que surgem cantando sinfonias

nas asas da esperança.

Eis que é chegada a hora esperada

e as crenças que escondiam os sorrisos

se desvanecem nas lembranças:

O amor, fonte de todo bem

respira alegrias da eterna presença.

Vinhedo, Inverno de 2008.

VIDA, ESTRANHA VIDA!

A vida é uma caminhada,

algumas vezes prazerosa,

outras nem tanto...

Até aqui cheguei

e espero escalar montanhas,

ficar pertinho das estrelas...

O ar é rarefeito,

mas o que quero é voar!

Ver terras que nunca vi,

rostos que nunca olhei,

corações que nunca amei.

Semear flores de esperança,

enfeitar os caminhos...

Sentir a cada manhã

que sou mais eu:

tenho comigo um Deus

que me guia e me protege

e me leva até as alturas!

...

Quem sabe,

um dia qualquer,

estaremos caminhando

pelas madrugadas,

com o coração cheio de sonhos

a repartir alegrias...

Sair de cara pro vento,

sem lenço, nem documento

semeando Amor e colhendo Paz!

...

Que coisa estranha é a vida!

A gente acaba muitas vezes,

sem querer,

se esquecendo das pessoas...

E o tempo passa...

E a vida passa...

E nós passamos...

Quando viemos,

de mãos vazias chegamos

e de mãos vazias um dia

haveremos de retornar...

...

Precisamos não esquecer

de quem nós somos;

É muito mais difícil

ser algo que não se é...

...

O que realmente valerá

é o que estamos fazendo

desta caixinha de surpresas

chamada vida.

Da minha, da sua, da nossa vida.

Será o nosso legado

a nossa fé e

a nossa lembrança!...

Vinhedo, Inverno de 2008.

FELICIDADE

Chegaste como manhã silenciosa

E trouxeste a ternura e a esperança.

Deste-me a paz de uma vida vitoriosa

E preencheste os meus dias com bonança.

Contigo tenho vivido sonhos de amor

Comigo tens caminhado pelos recantos da vida.

És para mim brilhante do maior valor

E para ti eu sou aquele que te dá guarida.

Assim vivemos entre sonhos e encantos

Neste paraíso repleto de puro prazer.

Sei o teu nome e bendigo os momentos

Que juntos passamos a amar e viver.

Vinhedo, Inverno de 2008.

POR ONDE ANDOU O MEU CORAÇÃO

Por onde andou o meu coração

Passou a vida, passou a saudade

Ficaram lembranças, restos de ilusão

A vagar por toda a eternidade.

Meu coração, ora rio silencioso,

Ora cachoeira de lamentos

Passou por aqui, por ali... teimoso

Levado pela brisa, arrastado pelos ventos.

Cenas vividas de encanto e poesia

E turvos reflexos de sofrimento e dor

Dois extremos de uma mesma vida

Resquícios da passagem do amor.

Vinhedo, Inverno de 2008.

            
            

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