Mesmo que agora, eu saiba exatamente como se deu o acidente e que ele esteja isento de culpa, nada vai adiantar se essa garota nunca acordar.
Se for necessário culpar alguém, tem que ser eu.
É ilógico pensar assim? Claro, mas quem trouxe a maldita da Emilly para nossas vidas foi eu. Sempre que nós conhecemos alguém, somos muito sinceros, em alguns casos, até taxados como grosseiros. Mas ninguém pode nos julgar. Toda e qualquer mulher que decide se envolver, está ciente que não estamos procurando amor, somente casos passageiros, curtição, prazer. Nunca nada sério. Somos solteiros convictos.
Quando conheci a Emilly no bar do Tentacion, pensei que ela era diferente, até por que, o que uma mulher sozinha faria em um clube de fetiches? Ela não era submissa, já que não se portou como tal, o que ela procurava? Foi o que questionei assim que me aproximei. Ela muito receptiva me falou que não procurava amor nem compromisso, mas que queria sanar uma curiosidade. Tinha visto na primeira vez que foi ao clube, uma mulher ser adorada por dois homens, desde então, nenhum parceiro que ela encontrou supriu suas necessidades. Vi ali uma oportunidade. Já que eu e Oliver gostávamos de compartilhar mulheres, embora não fosse algo rotineiro. Não eram todas que queriam tentar o trio. Mas as que queriam, eram muito bem tratadas. Então a convidei para se juntar a nós, avisei que eu e meu amigo podíamos ajudar nessa curiosidade.
Foi aí que começou nosso tormento.
No início, era uma delícia. Ela era muito receptiva, o sexo era enlouquecedor. Aguentava várias na mesma noite, aguentava nós dois, não tinha do que reclamar. Mas passou a febre da luxúria. Ela se tornou pegajosa, possessiva. Aparecia quando a gente menos esperava, fazia escândalos, tinha crises e mais crises de ciúmes. Decidimos, depois de uma longa conversa, que era hora de terminar tudo entre nós.
Para mim foi um alívio, já não sentia prazer com ela. Oliver não sabia como terminar as coisas pacificamente, mas também não aguentava mais. Então dei um basta. Ela chorou, fez drama, chorou de novo, brigou, berrou, apareceu na delegacia e brigou com colegas de profissão. Era um verdadeiro caos. Depois ela sumiu, pensei que finalmente tinha seguido em frente e desistido. Nem no clube eu e Oliver voltamos por um tempo, para evitá-la e deixar que fosse em frente. Aí ela apareceu no escritório de novo, fez um escarcéu de novo que terminou naquele acidente, que deixou meu amigo isolado no hospital na expectativa da garota acordar.
Ela vai acordar.
Vai melhorar e nossa vida vai voltar aos eixos.
Já sinto falta das nossas aventuras, preciso voltar ao clube para me desestressar, mas para isso preciso do Oliver. E para ter o Oliver, a garotinha precisa despertar do seu sono de beleza.
Lembro como se fosse ontem, a primeira vez que entramos no Tentacion.
Foi a aproximadamente 10 anos que Oliver e eu descobrimos um mundo muito diferente do qual estávamos habituados. Sendo bem honesto, eu descobri e arrastá-lo comigo foi consequência, já que fazíamos tudo juntos, exceto sexo. Já tive várias namoradas no decorrer dos anos. Nós tínhamos uma vida sexual ativa desde que fizemos 14 anos. Diversas mulheres passaram por nossa cama e ainda assim, nós dois sempre estava à procura de mais. Sem compreender o que significava esse mais. A vida era boa, tranquila, sempre em bares durante as folgas, encontrando a foda da vez e seguíamos assim. Mas foi no meu aniversário de 23 anos, que tudo mudou. Por ironia do destino, um dos meus casos me guiou até o Tentacion, onde estava um dos suspeitos de homicídio.
***
Já tinha lido sobre BDSM e os clubes de fetiches, e admito que era um universo que me atraía, mas nunca pesquisei a fundo e quis me envolver mais. Tinha em mente uma ideia muito antiquada do que se tratava, na minha ignorância era somente sobre dominação e submissão, sendo o público jovens que queriam brincar de cinquenta tons de cinza. Isso não me atraía, não gostava de ideia de ensinar uma mulher fazer o que eu queria ou ter que ficar dando ordens, gostava de mulher ativa que fosse desafiadora tanto na cama quanto fora dela.
Por isso, estava dirigindo até o clube Tentacion já com um pré-conceito geral sobre o lugar.
Só ia até lá, porque o bendito do Ramon decidiu passar mais tempo lá do que em qualquer outro lugar e eu precisava observá-lo melhor, pegar alguma falha na sua postura sempre tão impecável. Era quase certo que matou aquela jovem, agora sabendo o local que ele frequenta, minhas suspeitas ficam ainda maiores, já que ela foi localizada amarrada a cama. Fetiches, eles disseram.
O Tentacion era um clube muito exclusivo e era difícil conseguir um passe de entrada, seu público era diversificado. Depois de lutar pelos passes, consegui convencer Oliver para ir comigo. Eu precisava ir à paisana, como melhor despistar do que uma noite de farra com meu amigo?
Quando estacionei na frente do local, parecia somente uma casa de veraneio afastada de tudo. Nada muito extraordinário a princípio.
- Tem certeza de que é aqui? - Oliver questionou, também estranhando o local. Nada se ouvia do lado de fora.
- Tenho.
Chegando próximos ao local de entrada, um segurança apareceu na portinha de acesso solicitando nossos passes - organizados - após sua verificação, nossa entrada foi liberada. Já no corredor de acesso minha opinião mudou, ali não tinha nada de comum. O corredor era escuro, com detalhes em dourado que se destacavam e com os jogos de luzes até brilhavam, chamando atenção e guiando o caminho. No final do extenso corredor, aí que fiquei deslumbrado, o ambiente se expandia em uma sala imensa, com sofás duplos, triplos, pufes, um palco central e um bar na lateral. Tudo na mesma coloração do corredor, a diferença era que a luz era pouca coisa mais forte e o som da música era ambiente.
Pode-se dizer que o local já estava bem movimentado àquela hora da noite.
Tinham diversos casais espalhados pelo local, alguns sentados e conversando alegremente entre si. Havia outros já mais animados, fazendo carícias públicas em seus companheiros. E tinha também aqueles que já estavam no auge, com seus membros para fora se masturbando para valer enquanto observava uma mulher no pole dance. Ou recebendo boquetes enquanto chupava o seio de outra mulher que estava sentada ao lado. Tinha casais transando sem nenhuma vergonha, próximo de outros que só observavam com luxúria em seus semblantes.
Porra, o que era aquilo?
Fiquei surpreso.
Mudando meu foco, localizei um outro grupo que estava em um sofá com estofado vermelho. Havia três homens conversando tranquilamente, bebendo seus drinks, meu sobressalto foi quando percebi que as mulheres estavam ajoelhadas ao lado, com coleiras no pescoço ligadas ao uma longa corrente de ferro, que ficava presa no punho do respectivo companheiro.
Dominador e Submissa.
Porra que loucura, como pode uma mulher se deixar tratar dessa forma? Era surreal, porém consensual. Diferente de se observar, já que eu não aceitaria uma postura dessa forma, mulher quieta não me atrai.
- Que porra é essa? - Oliver resmungou, quando olhei para ele, percebi que estava fixo olhando as mulheres ajoelhadas.
- Cara, é tudo consensual. Elas sentem prazer em estar dessa forma. - Respondi.
- Que loucura. - Ele soltou um sibilo baixo.
Soltei um riso baixo, me divertindo com sua cara de espanto. Mesmo que eu nunca tenha pisado num lugar assim, tenho a mente aberta e por mais surpreso que fique, ainda acho instigante.
Me distrai observando o bar e pensando em qual drink iria tomar aquela noite, já que seria longa até avistar o filho da puta do Ramon. Estava divagando quando ouvi um grito raivoso vindo de um dos homens e quando voltei minha atenção até eles, percebi que se dirigia a sua mulher ajoelhada no chão.
- Você pediu permissão para me tocar? - Ele esbravejou
- Não senhor. - Ela respondeu, com a cabeça baixa.
- O que acontece quando você me desobedece? - Ele questiona já puxando-a pela coleira.
- Sou punida senhor.
Ouvi o bufo descontente de Oliver ao meu lado e fui obrigado a segurar o riso. Era chocante de observar, mas não deixava de ser excitante também, a mulher estava totalmente a sua disposição, parecia até que desejava tudo o que estava acontecendo. Desejava ser punida. Enquanto observava, o homem fez a mulher se dobrar em seus joelhos e sem cerimônia nenhuma, começou estapear a bunda nua sem dó.
O semblante de contentamento da mulher foi algo inacreditável. Como podia gostar de apanhar daquela forma? Será que era masoquista? Como um estalo, percebi que aquele mundo era muito mais interessante do que eu pensava a princípio. A submissa tinha poder sim. Ela provavelmente sentiu falta da atenção do seu dominador e do seu jeito, conseguiu ela de volta.
Ela o desobedeceu de propósito.
Depois de aproximadamente 5 minutos de batidas, em que ela contava baixinho cada tapa que levou e gemia descontroladamente, ele enfiou a mão no meio de suas pernas, rosnou e pegou-a no colo rapidamente. Sem falar nada com ninguém, se retirou do local para umas portas que estavam no fundo.
Porra.
- Cara, isso foi... - Archie não completou
- Diferente. - Completei
Ele riu e não falou mais nada.
Mudando o foco, nos direcionamos ao bar, onde o barman rapidamente veio nos atender. Com nosso drink em mãos, encostei no balcão e circulei o olhar pelo ambiente e me deparei com outra cena.
Senti uma leve fisgada no meu pau.
De frente para nós no bar, em um sofá de três lugares tinha dois homens e uma mulher. Os dois homens estavam completamente absortos no que faziam, concentrados no prazer dela, que gemia descontroladamente. Um dos homens acariciava seu seio exposto com uma mão e enquanto chupava e mordiscava o outro, e seguia falando com ela baixinho. Já o segundo homem, estava concentrado na parte inferior de seu corpo. Ela estava parcialmente nua, com seu vestido embolado cintura. O homem que estava no meio de suas pernas, dedilhava seu clitóris com lentidão enquanto passava a língua por sua fenda molhada.
Era excitante demais.
Meu pau que já estava animado, ficou ereto de vez quando observei a mulher se contorcendo de prazer e abocanhando o pau daquele que anteriormente estava mordiscando seus seios. Ela chupava com gosto, como se não houvesse nada melhor no mundo.
Meu corpo vibrava.
Minha boca secou.
Era uma energia surreal, parecia até que era eu que estava sendo chupado com vontade por aquela boca pecaminosa. Estava tão atento, que notei o exato momento que ela gozou arrastando o homem com ela. Seu corpo todo tremia incontrolavelmente, seu gemido ficou mais audível e ela agarrou os cabelos daquele que lhe dava prazer.
Caralho.
Foi impactante.
Assim que os dois voltaram do clímax, logo se retiraram do salão.
A noite daqueles três seria muito interessante.
Precisava provar aquela experiência, sentir na pele se eu ia aprovar e esquentar do jeito que fiquei somente observando três desconhecidos sentindo prazer.
Despertei do meu transe, quando Oliver suspirou ao meu lado e quando me virei, percebi que ele observava a cena com afinco, provavelmente sentindo aquele mesmo comichão que me afligia no momento.
Seu olhar era predatório.
Ele se virou lentamente para mim.
- Porra!
A partir desse momento, toda nossa perspectiva do ato sexual mudou. Para melhor.
***
É, aquele dia foi um divisor de águas.
Não que eu e Oliver não fiquemos com ninguém individualmente, mas na maioria das vezes, o trio é o que nos atrai. É raro a parceira que não queira testar o trio.
Suspirei.
Precisava retomar minha vida.
Cheguei no hospital e me informaram que Oliver estava no quarto cinco do corredor leste, no vigésimo quarto andar. Era o andar familiar. Eu devia ter imaginado que ele não pouparia nada. Me direcionei ao local imaginando o que eu encontraria e já calculando medidas para solucionar problemas, em especial se meu amigo estivesse desolado próximo a cama.
Me aproximei da porta do quarto e dei uma batida leve, fiquei em dúvida se entrava direto ou aguardava ele vir abrir. Fui salvo do meu questionamento quando Oliver apareceu sorridente.
- Ei cara, entra aí
- Tá tudo bem? - Questionei
- Claro, a Pandora finalmente acordou e está muito bem, tirando o punho e a perna. Meu pai avisou que daqui trinta minutos vem buscá-la para a bateria de exames que precisa ser feita agora que ela está consciente.
- Que maravilha.
Entramos no quarto juntos e eu não sei exatamente o que esperava, mas não era o que vi. Oliver comentou que ela era novinha, que tinha por volta da idade da minha irmã, mas essa menina na minha frente, devia ser até mais nova.
Ela tinha um semblante assustado, como se fosse fugir a qualquer momento. Parecia pequena demais naquela cama que caberia cerca de três dela. Sua cabeleira loira foi o que chamou minha atenção em um primeiro momento, por mais descuidado que estivesse já que ela estava no hospital, não deixava de ser ondulado e cheio. Sua pele tinha um viso lindo, bochechas naturalmente coradas dando uma corzinha de saúde, mas seus olhos eram extraordinários. Agora entendi o deslumbramento de Oliver com os olhos da garota.
Eram únicos.
- Olá Pandora, como vai? Eu me chamo Archie White. - Me apresentei.
- Sou a Pandora, mas isso você já sabe. - Ela respondeu baixinho.
- Como se sente? - Questionei
Ela enrugou o nariz, me olhando com desconfiança e Oliver começou rir.
- Cara, se continuar assim, ela vai pensar que está em um interrogatório.
- E não estou? - Ela perguntou.
Não aguentei e me juntei a Oliver na risada.
- Claro que não, só estava preocupado com você. Oliver me contou tudo sobre o acidente e como foi o processo pós cirurgia, só queria saber realmente como você se sentia. - Falei calmamente.
Ela corou furiosamente.
Ficou muito vermelha, que cheguei a pensar que estava passando mal.
- M-me de-desculpa - Gaguejou. - Pe-pensei que veio aqui me interrogar. - Respondeu olhando fixamente para minha cintura, então entendi a sua reação. Ela estava olhando minha arma.
- Não estou aqui a serviço senhorita. - Sorri.
- Entendi, bom, novamente perdoe-me pelo meu jeito. - Ela retribuiu o sorriso. - Só sinto uma dor forte na cabeça, mas acho que deve ser normal. O médico disse que bati muito forte no chão.
- Sim, por isso precisa refazer os exames. - Oliver respondeu.
- Sem problemas. Só quero sair logo daqui.
- Bem agora que nos conhecemos, já quer ir embora senhorita? Para que a pressa? - brinquei.
- Odeio hospitais - resmungou.
- Perdoe minha indelicadeza, mas quantos anos tem?
- Recentemente completei 19.
- Era meu palpite, você me lembra a minha irmã.
- Sua irmã também tem 19?
- Sim, e é a causa da maioria dos meus cabelos brancos.
Ela riu baixinho e não fez nenhum comentário.
Nesse momento, tio Alexander entrou no quarto e sorriu quando me viu.
- Archie, que bom que ver. - ele me abraçou
- Digo o mesmo. - Respondi retribuindo o abraço. Sempre me senti muito bem na presença dos pais de Oliver, eram como meus pais também. Me sentia abençoado, porque tinha quatro pessoas a quem recorrer quando necessário. Sempre me apoiavam em tudo. Me criaram juntos.
- Olá mocinha, depois do susto, precisamos fazer os exames. Está pronta? - Se dirigiu a Pandora.
- Sim, após esses exames, já consegue saber quando vou ter alta? - Ela questionou ansiosamente. Tio Alexander soltou um suspiro alto, como se já esperasse esse questionamento.
- Somente quando eu examinar tudo com precisão posso te dar essa resposta.
Ela bufou, mas ficou quieta.
Era ainda mais linda fazendo birra.
Assim que a levaram para os exames, me sentei na poltrona próximo de Oliver para aguardar seu retorno e aproveitei para conversar com meu amigo, que estava visivelmente exausto.
- Cara, você precisa ir para casa. Tomar um banho, comer bem, dormir uma noite inteira.
- Não conseguia ir para casa, pensando que ela podia piorar a qualquer momento sem eu estar presente para ajudar e chamar alguém com urgência.
- Posso ficar com ela essa noite, você precisa de uma noite de descanso.
- Eu aguento.
- Sei que sim, mas precisa de saúde também, se quiser ajudá-la.
- Acho que ela vai adorar a Liv. - Ele sorriu
- Não duvido, e as duas juntas vão acabar que embranquecer o que me resta de fios pretos. - Respondi rindo
- Ela está escondendo alguma coisa Archie, percebi isso quando perguntei de onde ela era. - Ele revelou, isso me deixou surpreso. O que uma garota de 19 anos podia esconder? Mal começou a viver. - Ela é de outro país, isso já deve ter ficado claro a você, mas eu não identifiquei qual. Não compreendi a língua que ela fala.
- Isso é fácil de descobrir, só preciso do sobrenome dela.
- Benedict
- Ora, mas esse sobrenome é inglês.
- Sim, também achei estranho.
- Bom, deixa comigo, descobrir essas coisas é uma das minhas habilidades. Agora você, vai para casa, qualquer novidade eu te aviso rapidamente.
- Não, vou esperar ela...
- Cara, você vai cair de exaustão a qualquer momento, larga de ser teimoso porra, vai para casa e eu te ligo quando ela voltar. - Interrompi.
- Ok, ok - Ele resmungou. Com visível descontentamento, juntou suas coisas e foi embora.
Depois que Oliver saiu, me esparramei na poltrona e fiquei divagando sobre a garota. Quem, com 19 anos recém completados, ficaria sozinha por Londres, possivelmente nem conhecendo o país? Só havia duas opções, ou ela era alguém muito aventureira que não se importava em estar sozinha, sempre almejando conhecer novos lugares, novas culturas, novas pessoas e depois, partia para uma nova aventura. Ou, ela estava fugindo de algo ou alguém.
Seria ela alguma vítima de abuso?
Já vi tantas, que quando me deparo com jovens desconfiadas como ela, ariscas, acredito que estou lidando com mais uma vítima de um abusador filho da puta, que não tem culhão para encontrar mulher de forma tradicional e consensual, decide que por ser homem, pode enfiar o pau em qualquer uma que passar pela sua frente, dizendo sim ou não para ele. E na maioria dos casos, a negativa o induz ainda mais.
Estupradores são a escória do mundo.
Deviam ser extintos.
Vou descobrir o que essa garota esconde, torço muito para ser aventureira e não fugitiva. Só de imaginar essa menina frágil na mão de um traste, a bile sobe do estômago. É inadmissível uma porra dessa. Fico puto só de pensar sobre.
Saquei meu celular e iniciei uma pesquisa básica sobre Pandora Benedict. Não demorou muito e eu tinha uma ficha de quem ela era.
Brasileira, morava em São Paulo, órfã de pai e mãe aos 17 anos, vivia com o namorado Matheus Silva, policial de 45 anos.
Porra, o que esse cara queria com uma garota tão jovem? Ele tinha idade para ser o pai dela.
Imediatamente refiz a pesquisa, agora procurando algo sobre o babaca do ex-namorado.
A ficha dele era grande, policial corrupto. Envolvido em lavagens de dinheiro, tráfico de drogas e tráfico de mulheres.
A minha surpresa foi descobrir que as mulheres traficadas eram enviadas ao completarem 21 anos.
Sádico filho da puta.
Ele se envolvia com elas sendo muito jovens, e mantinha um relacionamento até chegar na maioridade, assim se adequando para serem vendidas. Depois disso, sumiam. Ninguém nunca mais descobriam seu paradeiro. Normalmente, eram jovens vulneráveis. Sem família, sem amigos.
Como essa pequena conseguiu fugir? Era como um ciclo de pirâmide, impossível de escapar, ela foi a primeira que conseguiu.
Preciso ir mais a fundo nessas pesquisas, mas para isso, necessito do meu computador que está na delegacia. Amanhã tiro toda essa história a limpo.
Estava distraído pensando em tudo o que eu seria capaz de fazer com esse arrombado, quando a porta do quarto abriu e a equipe de enfermagem trouxe Pandora de volta.
Ela olhou em volta, ficou tensa e me questionou.
- Cadê o Oliver?
- Despachei ele para casa, precisava de um banho. Não sei como você não notou o cheiro desagradável que estava emanando dele. - Respondi com um sorriso.
- Não percebi. - Ela respondeu sem jeito.
- Oh, então você está realmente muito mal, estava insuportável querida. - Continuei. - Além do banho, ele precisava dormir, estava parecendo um zumbi. Não saiu desde hospital desde que a senhorita deu entrada. Amanhã ele retorna.
Ela soltou um muxoxo baixo.
- Ele não precisava ter ficado aqui comigo, você também não precisa.
- Sim, não precisamos, mas vamos ficar mesmo assim. Acostume-se. - Retruquei.
Por um momento, pensei que a pequena iria revidar ficando brava e me expulsando do quarto, mas depois de alguns segundos em completo silêncio, ela soltou uma risadinha.
- Ok, melhor ter companhia mesmo.
Não aguentei e ri junto com ela.