Capítulo 6 O casaco manchado

Um olhar perplexo estampou o rosto de Sonya ao avistar Yelena. "Mãe, o que Yelena está fazendo aqui?"

Tatiana soltou uma risada aguda e desdenhosa. "Ela provavelmente veio satisfazer sua vaidade. Só olhando sem comprar, tenho certeza."

"Ela não é de uma vila pobre? Por que não fica lá? Ela ainda acha que pode voltar para nossas vidas como se nada tivesse acontecido?"

Acenando com a mão desdenhosamente, como se quisesse descartar a ideia, Tatiana respondeu: "Mesmo que ela queira, não vou deixar isso acontecer. Enfim, não deixe que ela estrague nosso dia. Viemos encontrar roupas fabulosas para você." Com isso, Tatiana levou Sonya para dentro da boutique Moda Style, voltando a se concentrar nas suas compras.

No entanto, Sonya não estava disposta a deixar o momento passar sem dar seu golpe. Se virando abruptamente, ela caminhou em direção a Yelena, sua voz carregada de zombaria. "Yelena, que surpresa te encontrar aqui! Tem certeza de que está no lugar certo? Por acaso sabe quanto custam essas roupas?"

Yelena parou no meio do movimento, seus dedos passando levemente pelo tecido de um vestido que ela cogitava levar. Ela nem teria saído de casa se soubesse que o dia seria assim!

"Não sabe ler? Os preços estão bem ali", disse Yelena friamente, mal olhando para Sonya enquanto continuava a percorrer as prateleiras.

"Ah, estou os vendo muito bem", respondeu Sonya, seus lábios curvados num sorriso de escárnio. "Mas, vamos ser sincera, Yelena. Você tem condições de comprar qualquer coisa aqui? Pelo menos tem o suficiente para comer ultimamente?"

Yelena, por sua vez, apenas mantinha o foco nas roupas, se recusando a cair nesse papo.

Nesse momento, o olhar de Sonya se desviou para o casaco de Yelena, cuja elegância discreta e costura precisa praticamente anunciavam sua exclusividade. Uma pontada de inveja se apoderou dela, a fazendo apertar o copo de café, sua mente começando a fervilhar de perversidade.

Se aproximando, Sonya assumiu uma voz zombeteiramente doce ao falar: "Yelena, só estou tentando ser gentil. Sabe, me preocupo com você."

Antes que Yelena pudesse reagir, Sonya estendeu a mão e segurou seu braço. O movimento fez com que o café espirrasse no casaco branco de Yelena.

Não se tratava apenas um casaco qualquer, mas um presente de Donna e Callum e uma peça de edição limitada da Moda Style. Cada costura e curvatura do tecido carregavam a lembrança da sua dedicação no design. Essa peça era uma parte da sua história.

Yelena olhou para as manchas que se espalhavam, seus dedos passando pelo tecido como se ela quisesse se convencer de que não estava danificado. Esse casaco era mais do que uma referência de moda, mas uma parte dela. Um símbolo do amor dos seus pais e um resultado tangível da sua visão criativa.

Agora, manchas marrons grandes se espalhavam pelo casaco, outrora impecável, sua elegância comprometida.

Yelena olhou para as marcas com uma expressão indecifrável.

Já Sonya, deu um passo para trás, e seus lábios se curvaram num sorriso triunfante antes de ela exclamar dramaticamente, colocando a mão no peito. "Ah não, Yelena! Sinto muito. Que acidente terrível."

Revirando a bolsa com uma urgência exagerada, Sonya tirou uma nota amassada e a jogou com desprezo para Yelena, o dinheiro flutuando até o chão como lixo descartado.

Com um tom de falsa generosidade, ela disse: "Aqui. Compre um novo casaco, se isso der para comprar onde você faz compras. Talvez até sobre para um café no Starbucks."

O olhar de Yelena permaneceu brevemente na nota caída antes de voltar para Sonya, calmo e firme.

"Yelena, orgulho não enche barriga, sabia disso? Já que está de volta à sua cidadezinha, isso deve valer alguma coisa. Pegue antes que outra pessoa seja mais rápida."

Após dizer isso, seu sorriso sarcástico se alargou, mas logo se dissipou ao ver como Yelena estava imperturbável, sem sequer um lampejo de indignação no rosto.

Então, sem dizer uma palavra, Yelena estendeu a mão e seus dedos envolveram o copo de café pela metade de Sonya.

Quando o café atingiu o rosto de Sonya, sua presunção se transformou numa incredulidade atônita. O líquido escuro manchou sua base, borrou seu rímel e soltou seus cílios postiços, deixando seu rosto como uma tela caótica de vaidade perdida.

"Sua...!" Sonya gaguejou com sua voz estridente, a raiva e o constrangimento ilustrando sua expressão. Ela encarava Yelena com os punhos trêmulos, como se estivesse prestes a atacá-la.

Nesse momento, Tatiana voltou com uma pequena pilha de amostras de tecido na mão, mas paralisou no meio do caminho, com os olhos fixos em Sonya e Yelena.

Então, ela atravessou o local, sua compostura se desfazendo a cada passo. Sua voz estalou como um chicote ao exclamar: "Yelena, sua ingrata! Você perdeu o juízo?"

Sua fúria irradiava enquanto ela, indignada com o insulto à sua filha, se aproximava de Yelena.

Sonya baixou a voz para um sussurro trêmulo e frágil: "Mãe, só tentei fazer as pazes com ela. Cometi um acidente e lhe ofereci dinheiro, mas ela... não quis aceitar."

O olhar de Tatiana ficou ainda mais sombrio ao desviá-lo para Yelena. Enfiando a mão na bolsa num gesto dramático, ela tirou uma pilha de notas. "Agora que não temos nada a ver mais, você não pode nos extorquir! Aqui! Pegue isso e vá embora. Mas ouça bem, se você causar o menor problema novamente, chamarei a polícia antes que você sequer pisque."

Sem se mover, Yelena respondeu num tom gélido e firme: "Isso não é suficiente."

Diante das palavras ousadas de Yelena, a mão de Tatiana tremia em fúria.

"Não é suficiente? Como ela ousa exigir mais?!", a mulher pensou, incrédula.

"Você sabe que marca é essa? Este é um casaco de edição limitada da Moda Style. O dinheiro que você me deu não cobriria sequer algumas costuras dele", disse Yelena, sua voz incisiva.

Tatiana revirou os olhos e riu desdenhosamente. "Você? Usando edição limitada? Você deve achar que sou idiota. Não finja que seu lixo de liquidação é de grife. Isso não passa de uma tentativa patética de chantagem."

Yelena inclinou a cabeça ligeiramente, sua postura calma só aumentando a frustração de Tatiana. "Estamos na Moda Style. O balcão de informações está a alguns passos daqui. Você pode simplesmente verificar."

Tatiana esbravejou: "Ótimo! Vamos verificar e dar um fim a essa farsa ridícula."

Logo, uma vendedora foi chamada. Ela examinou o casaco com uma exatidão prática, seus dedos traçando o tecido e a etiqueta. "Esse casaco é realmente uma edição limitada da Moda Style. Ele é único e está entre nossos modelos mais exclusivos."

Então, a vendedora assumiu um tom firme ao dar seu golpe final: "Além disso, devido ao tecido delicado dos materiais, essas manchas exigirá limpeza profissional na nossa unidade."

Ouvindo isso, Tatiana e Sonya congelaram, sua confiança se desfazendo. O casaco de fato era da marca, e agora não havia como negar.

Ansiosa para encerrar esse assunto, Tatiana acenou com desdém. "Ótimo. É só limpá-lo então. Passe no meu cartão. Estou sem tempo para essas bobagens." Ela estendeu seu cartão para a vendedora com irritação, sua impaciência palpável.

Após pegá-lo, a vendedora se afastou para processar o pagamento. Alguns minutos se passaram até que ela retornou com uma expressão apologética. "Sinto muito, senhora, mas o cartão não tem saldo suficiente."

Tatiana piscou, sem conseguir absorver essas palavras. Arrancando o cartão das mãos da vendedora, ela o olhou como se o problema estivesse nele. "O quê?! Deveria haver mais de cem mil nessa conta! Está me dizendo que isso não é suficiente para limpar um casaco?"

O profissionalismo da vendedora não vacilou ao responder: "Infelizmente, não, senhora. A taxa de limpeza para este item é de duzentos mil."

"Duzentos mil?!" A voz de Tatiana se elevou em descrença, suas palavras estridentes o suficiente para chamar a atenção na loja. "Para limpar um casaco?!"

Com o rosto vermelho de indignação, Sonya se manifestou: "Que absurdo! Só pode ser algum tipo de golpe, sem dúvida!"

A vendedora olhou para Sonya com uma autoridade calma. "Nossos preços são transparentes, senhora. Esse tecido requer cuidados especiais. Fique tranquila, pois forneceremos uma fatura que atestará as cobranças."

Em meio a essa situação, o rosto de Tatiana se obscureceu, sua raiva transparecendo na sua fachada controlada.

Yelena manteve a voz firme, mas uma pontada incisiva atravessou seu tom calmo: "O quê? Não tem condições para pagar a taxa de limpeza? Se duzentos mil for muito, sempre há outra opção."

Após dizer isso, ela fez uma pausa, seu olhar frio e implacável. "Ajoelhe-se e lata como um cachorro. Faça isso e talvez, apenas talvez, eu considere abrir mão dessa taxa."

O rosto de Tatiana ficou vermelho, sua fúria transbordando. "Como se atreve? Acha que somos tão miseráveis quanto você? Duzentos mil não é nada para nós!" Suas mãos tremiam enquanto ela pegava o celular e ligava para seu marido, Jonathan, a única pessoa em quem acreditava conseguir resolver essa confusão.

A ligação foi atendida quase que instantaneamente, mas ao invés de receber a voz tranquilizadora que ela esperava, Jonathan rugiu no receptor: "Onde diabos vocês estão? Voltem aqui agora mesmo. Aconteceu uma coisa!"

Ao ouvir isso, Tatiana paralisou, seu sangue gelando. A urgência no tom dele a atingiu como um trovão, fazendo seu aperto no celular vacilar, mal conseguindo segurá-lo antes que ele escorregasse da sua mão.

Algo havia acontecido? O que poderia ser?