- A mansão D'Arganville? Para Sebastian D'Arganville?
Alden acena com um sorriso satisfeito.
- Exato. Ele adquiriu uma pintura rara, e confia apenas em alguém com sua atenção aos detalhes para transportá-la. Não me decepcione.
Chloe engole em seco e assente. Ela quer protestar, mas algo dentro dela, talvez curiosidade, talvez aquele inexplicável fascínio, a impede.
Horas depois, já escurecendo, Chloe está no banco traseiro de um carro preto fornecido pela galeria, com a pintura cuidadosamente embalada ao seu lado. A estrada sinuosa que leva à mansão D'Arganville é envolta por árvores altas, que parecem segredos sussurrados na escuridão.
Quando o carro finalmente para diante dos portões de ferro ornamentado, Chloe sente seu coração disparar. A mansão se ergue diante dela como um gigante adormecido, majestosa, mas envolta em sombras.
Um mordomo de expressão séria a recebe e a conduz pelo extenso corredor de mármore negro e colunas imponentes. O ar é frio, carregado por um perfume amadeirado que Chloe imediatamente associa a Kael.
Ele a espera no salão principal, ao pé de uma lareira imensa. Sebastian veste um suéter escuro sob um blazer elegante, e a luz do fogo projeta sombras afiadas em suas feições. Quando seus olhos se encontram, Chloe sente um arrepio percorrer sua espinha.
- Senhorita Martin - ele diz, sua voz grave ecoando pelo salão.
- Senhor D'Arganville - Chloe responde, tentando parecer firme, mas sua voz falha levemente.
Sebastian se aproxima com passos lentos, e ela percebe mais uma vez como ele ocupa o espaço, como se cada centímetro da mansão lhe pertencesse.
- A pintura está intacta? - ele pergunta.
- Sim - Chloe assente. - Cuidamos dela com o máximo cuidado.
Sebastian faz um gesto para que o mordomo leve a pintura. Chloe se prepara para ir embora, mas Sebastian fala antes que ela possa se virar.
- Fique para jantar.
A proposta paira no ar entre eles. Chloe hesita.
- Não quero incomodar, senhor D'Arganville.
Os lábios de Sebastian se curvam em a um meio sorriso, mas seus olhos permanecem intensos.
- Não é incômodo. Considere isso um agradecimento pela sua dedicação.
Chloe não consegue recusar.
O jantar é servido em uma mesa longa, iluminada por candelabros prateados. O ambiente é elegante e silencioso, exceto pelo estalar ocasional da lenha na lareira próxima. Chloe está consciente de cada movimento de Sebastian, cada olhar furtivo que ele lança em sua direção.
Eles conversam, mas há uma tensão invisível no ar, uma linha tênue que parece prestes a se romper. Sebastian faz perguntas sutis sobre a vida de Chloe, mas evita falar muito sobre si mesmo.
- E você, senhor D'Arganville? - Chloe finalmente pergunta. - Por que escolheu se isolar aqui?
Sebastian olha para ela por um longo momento antes de responder.
- Às vezes, solidão é uma escolha mais segura... para todos os envolvidos.
Chloe sente que há muito mais por trás daquela frase, mas decide não pressioná-lo.
Quando terminam o jantar, Sebastian a acompanha até a porta principal. O ar frio da noite faz Chloe estremecer, e Sebastian percebe.
- A noite está gelada. Deixe-me acompanhá-la até o carro.
Eles caminham juntos pela escadaria de pedra, o silêncio entre eles é preenchido apenas pelo som dos sapatos tocando o mármore. Chloe sente o calor da presença de Sebastian ao seu lado, mesmo sem tocá-la.
Antes de entrar no carro, Chloe olha para ele uma última vez. A luz suave do portal da mansão ilumina seu rosto, destacando as sombras que dançam em suas feições.
- Obrigada pelo jantar, senhor D'Arganville - ela diz.
- Sebastian - ele corrige suavemente.
Chloe sorri timidamente antes de entrar no carro.
Enquanto o veículo se afasta pela estrada escura, Sebastian permanece parado, observando até que as luzes vermelhas desapareçam por completo.
Um vento forte sopra de repente, fazendo as árvores ao redor sussurrarem em protesto. Um uivo distante corta o silêncio, e os olhos de Sebastian se estreitam e se tornam amarelos, colocando-o em guarda.
Algo está errado. Algo mudou.
Ele olha para o céu nublado, sentindo um peso no peito. A fera dentro dele rosna, inquieta.
- Isso foi um aviso - ele murmura para si mesmo.
Sebastian aperta os punhos, os olhos dourados cintilando sob a luz fraca.
No carro, Chloe olha pela janela, observando as árvores retorcidas passarem como borrões. Ela toca os lábios com os dedos, como se tentasse capturar algo intangível.
Ela sabe que algo naquela noite mudou. Algo que ela não consegue explicar, mas que, de alguma forma, a conecta a Sebastian D'Arganville.
Na mansão, Sebastian permanece imóvel diante da entrada, encarando o horizonte como se esperasse que a noite respondesse suas perguntas. O destino está agindo, e ele sabe que não deveria ter se aproximado ela, mas agora não poderá mais se afastar.
A lua surge por entre as nuvens, iluminando a silhueta solitária de Sebastian, que já não consegue mais ignorar o chamado do inevitável.