Capítulo 4 À Beira do Controle

A manhã é fria e enevoada quando Chloe recebe a mensagem de Alden. O chefe pede que ela vá novamente à mansão D'Arganville para acompanhar Sebastian em uma avaliação particular de algumas peças recém-adquiridas. Seu coração dispara ao ler aquelas palavras. Ela hesita por um instante, com os dedos pairando sobre o teclado do celular, mas acaba concordando.

A viagem até a mansão parece mais longa desta vez. Cada curva da estrada sinuosa aumenta o peso no peito de Chloe. Ela aperta a alça de sua bolsa, olhando pela janela enquanto árvores retorcidas deslizam como sombras fantasmas. Quando o carro finalmente para diante dos portões de ferro, Chloe respira fundo antes de sair.

Sebastian a recebe na entrada principal, sem o sobretudo formal que usava antes. Ele veste apenas uma camisa de mangas dobradas até os cotovelos, o tecido escuro esticado sobre seus ombros largos. Seus cabelos estão um pouco desalinhados, como se tivesse passado horas perdido em pensamentos. Quando seus olhos encontram os dela, Chloe sente um calor subir pelo rosto.

- Senhorita Martin - ele diz, sua voz mais baixa que o habitual.

- Senhor D'Arganville - ela responde, mas Sebastian franze levemente o cenho.

- Sebastian - ele corrige, suavemente.

Chloe assente com um pequeno sorriso, o coração batendo forte no peito.

Ele a conduz para dentro da mansão, desta vez em direção a uma ala diferente. As portas duplas de madeira maciça se abrem para uma biblioteca colossal. As paredes são cobertas por estantes que alcançam o teto abobadado, cheias de livros antigos com capas de couro desgastado. Uma janela imensa, adornada por cortinas pesadas, permite que a luz prateada da manhã nublada entre no cômodo.

- Esta é minha coleção mais pessoal - Sebastian diz, enquanto anda até uma das mesas centrais, onde algumas peças estão cuidadosamente dispostas.

Chloe caminha lentamente pela sala, admirando cada detalhe. O cheiro de madeira antiga e papel envelhecido se mistura com o perfume amadeirado de Sebastian, criando uma atmosfera quase hipnótica.

- É... impressionante - ela murmura, seus olhos vagando pela grandiosidade do lugar.

Sebastian observa-a por um momento, os braços cruzados sobre o peito. Há algo em sua expressão que Chloe não consegue decifrar. Um peso, talvez. Ou um segredo.

- Preciso que me ajude a catalogar essas peças - ele finalmente diz, apontando para as obras sobre a mesa.

Chloe se aproxima, assentindo. Ela ajusta seus óculos e começa a analisar a primeira peça, uma escultura antiga, de pedra escura e com símbolos entalhados ao longo de sua superfície. Sebastian fica próximo, observando seus movimentos, sua respiração quase audível.

Em um momento, enquanto Chloe examina um detalhe minúsculo na peça, suas mãos se tocam. Um choque percorre o corpo dela, e ela sente a pele arder sob o contato. Sebastian congela, seus olhos fixos nos dela. Chloe se afasta ligeiramente, mas a tensão já se instalou entre eles.

- Desculpe... - ela murmura.

Sebastian dá um passo para trás, os músculos tensos sob o tecido fino da camisa.

- Não foi nada - ele responde, sua voz mais rouca do que antes.

Eles continuam trabalhando, mas o ar está carregado. Chloe tenta se concentrar, mas pode sentir o olhar de Sebastian sobre ela a cada minuto. Ele parece uma tempestade prestes a explodir, uma força selvagem tentando manter-se contida sob uma fina camada de controle.

Em determinado momento, Chloe se inclina para alcançar um livro antigo sobre a mesa e tropeça em um degrau mal encaixado no chão. Antes que possa cair, Sebastian está ali. Suas mãos firmes seguram sua cintura, puxando-a para perto.

Eles ficam assim por um instante. Chloe sente o calor do corpo dele, sua respiração pesada contra seu rosto. Seus olhos se encontram, tão próximos que ela consegue ver cada detalhe dourado nas íris dele. Há algo selvagem ali, algo que parece prestes a emergir das profundezas.

Sebastian aperta os olhos, como se lutasse contra algo dentro de si. Ele solta Chloe abruptamente, afastando-se como se tivesse sido queimado. Seus ombros estão rígidos, e ele vira o rosto, evitando encará-la.

- Eu... preciso de um momento - ele murmura, a voz quase um rosnado.

Chloe fica imóvel, confusa e assustada. Ela percebe que suas mãos ainda tremem levemente. Algo em Sebastian a assusta, mas, ao mesmo tempo, ela não consegue ignorar a força da atração que sente.

- Sebastian - ela começa, mas ele levanta uma mão, pedindo silêncio.

- Por favor, Chloe - ele diz, finalmente olhando para ela. Seus olhos brilham em um tom dourado por um breve instante antes de ele piscar e desviá-los.

Antes que qualquer um dos dois possa dizer algo mais, um som distante interrompe o momento. Um uivo. Longo, cortante, ecoando pelas árvores que cercam a mansão.

Sebastian endurece. Seus punhos se fecham, e seus ombros se erguem levemente, como se ele estivesse se preparando para algo.

- Você precisa ir - ele diz com firmeza.

- O que foi isso? - Chloe pergunta, sua voz tremendo levemente.

- Nada que deva te preocupar. - Sebastian força um sorriso que não chega aos olhos. - Vá, agora.

Chloe hesita, mas algo no tom dele a faz obedecer. Ela se afasta lentamente, pegando sua bolsa enquanto Sebastian permanece imóvel, olhando para a janela.

Do lado de fora, o motorista a espera. Enquanto o carro se afasta, Chloe olha para trás, vendo a silhueta de Sebastian recortada pela luz fraca da biblioteca. Seu rosto está parcialmente oculto pelas sombras, mas seus olhos ainda brilham, mesmo à distância.

Dentro da mansão, Sebastian permanece sozinho. Seus olhos estão dourados novamente, e suas mãos tremem enquanto ele as aperta em punhos.

- Eu sei que estamos nos arriscando... - ele murmura, os dentes cerrados. - Inferno! - com o punho fechado, acerta a mesa de madeira maciça que se parte em duas.

Outro uivo corta o ar, mais próximo desta vez. A fera dentro dele rosna, faminta, e ele sente seu controle escorregar lentamente.

O destino parecia determinado a cruzar seus caminhos novamente, e Sebastian sabia que, desta vez, não haveria como escapar.