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ISABELA 🎭
A luz do sol atravessava as cortinas do quarto, mas eu sentia como se ainda estivesse mergulhada na escuridão. Minha cabeça latejava, e tudo ao meu redor parecia confuso. O cheiro de álcool e remédios era forte, e minha boca estava seca. Tentei me mover, mas meu corpo estava pesado, como se uma tonelada de peso estivesse me prendendo ao colchão.
- Ela está acordando - uma voz masculina e grave ecoou na sala.
Meus olhos se abriram devagar, ajustando-se à luz. Foi então que o vi. O homem que havia chamado meu nome no meio do caos. Ele estava parado ao lado de uma mesa, com uma postura rígida e um olhar tão intenso que me fez querer desviar os olhos. Ele era alto, com cabelos escuros perfeitamente alinhados e olhos frios, quase impassíveis. Não parecia mais velho que trinta e poucos anos, mas sua presença carregava um peso que me fez sentir pequena.
- Quem é você? - Minha voz saiu rouca, quase um sussurro.
Ele cruzou os braços, seu olhar analisando cada parte de mim, como se estivesse decidindo o que fazer.
- Meu nome não importa agora - ele disse, a voz firme. - O que importa é que você está segura. Pelo menos, por enquanto.
Minhas lembranças começaram a voltar como flashes desordenados: os tiros, o carro derrapando, o rosto do segurança ensanguentado. O pânico cresceu em meu peito, e eu tentei me levantar, mas ele deu um passo à frente, me impedindo.
- Fique deitada. Você sofreu um acidente e precisa descansar.
- Onde está minha mãe? - perguntei, minha voz agora carregada de urgência. - E o motorista?
O homem desviou o olhar por um momento, ponderando as palavras.
- Sua mãe conseguiu despistar os inimigos, mas o motorista... não resistiu.
Engoli em seco, um nó se formando na minha garganta. Meu coração afundou. Eu não conhecia o motorista, mas ele tinha arriscado a vida por mim. A culpa me invadiu, pesada como uma maré.
- Quem são vocês? - perguntei, minha voz quase um sussurro. - Por que essas pessoas estão me caçando?
Ele se aproximou, sua presença dominando o quarto. Sentou-se na cadeira ao lado da cama e me encarou diretamente.
- Você é mais importante do que imagina, Isabela. E não só para as pessoas que te criaram. - Ele inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. - Há famílias poderosas que dariam tudo para ter o controle que você representa.
- Controle? - repeti, confusa. - Eu não entendo. Do que você está falando?
Ele suspirou, passando uma mão pelos cabelos.
- O que você sabe sobre seus pais verdadeiros?
A pergunta me atingiu como um choque.
- Meus pais... - comecei, hesitante. - Eles disseram que precisavam me contar algo. Algo sobre a minha vida.
Ele balançou a cabeça.
- Seus pais adotivos... - Ele parou, corrigindo-se. - Marcos e Ana, ou, como são conhecidos no círculo deles, Laura e Garcia.
- Laura e Garcia? - repeti, confusa.
- Eles não são apenas as pessoas que te criaram. São agentes de alta vigilância, treinados para proteger algo... ou alguém extremamente valioso. Você.
Minha cabeça girava. Era difícil processar.
- Então... toda a minha vida foi uma mentira?
Ele assentiu, com um peso no olhar.
- Não por escolha deles. Foram instruídos a manter você segura, longe das pessoas que agora estão atrás de você. E acredite, Isabela, se elas colocarem as mãos em você, não haverá escapatória.
- Não, isso não pode ser verdade. Como minha vida foi chegar nesse ponto.
- É a realidade. - Ele parou e me encarou novamente. - E quanto mais cedo você aceitá-la, mais chances terá de sobreviver.
Eu queria gritar, chorar, pedir para tudo isso acabar. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouvi passos apressados do lado de fora da porta. Um homem entrou, segurando um tablet. Sua expressão era grave.
- Dante, temos um problema. - Ele mostrou a tela para o homem ao meu lado, que imediatamente ficou tenso.
Dante. Então esse era o nome dele. Algo sobre como ele reagiu fez minha respiração acelerar. Ele olhou para mim e depois para o homem.
- O que aconteceu? - perguntou, a voz baixa e perigosa.
- Localizaram o carro da mãe dela. Está cercado. Eles não a capturaram ainda, mas é uma questão de tempo.
Meu coração disparou. Minha mãe estava em perigo, e eu estava aqui, presa nesse quarto, incapaz de fazer qualquer coisa.
- Precisamos buscá-la! - exclamei, tentando me levantar novamente.
- Não. - Dante se virou para mim, os olhos frios como gelo. - Se você sair daqui, não vai durar nem cinco minutos. Eles estão atrás de você, Isabela, não dela.
- Ela é minha mãe! - gritei, sentindo a raiva borbulhar em meu peito. - Eu não posso simplesmente ficar aqui enquanto ela está lá fora, correndo risco de vida!
Dante se aproximou de mim, inclinando-se até que nossos rostos estivessem a poucos centímetros de distância.
- Você não entende, não é? - ele disse, a voz baixa e perigosa. - Se eles te capturarem, não será só sua mãe que vai morrer. Será muito pior do que isso. Eles vão usar você para destruir tudo o que sua verdadeira família construiu. E, acredite, você preferiria estar morta.
Suas palavras me atingiram como um golpe, mas antes que eu pudesse responder, ele se levantou, virando-se para o homem com o tablet.
- Mobilize a equipe. Quero todos os homens no perímetro. Se encontrarem algo, me avisem imediatamente.
O homem assentiu e saiu apressado. Dante se virou para mim, seu olhar mais suave agora, mas ainda carregado de uma autoridade que era impossível ignorar.
- Eu vou trazê-la de volta. Mas você precisa ficar aqui.
Eu queria lutar, queria gritar, mas algo em seus olhos me fez parar. Havia algo nele que me fazia querer acreditar, mesmo contra a minha vontade. Assenti devagar, embora cada parte de mim quisesse fazer o contrário.
Ele deu um último olhar em minha direção antes de sair pela porta, deixando-me sozinha com meus pensamentos e o peso de tudo o que eu acabara de descobrir.