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O silêncio no quarto parecia ensurdecedor. Eu estava sozinha, mas minha mente estava uma tempestade. Dante me disse para esperar, para não fazer nada imprudente, mas era difícil. Como eu poderia simplesmente ficar parada enquanto minha mãe estava lá fora, correndo perigo? Cada segundo que se passava era uma eternidade.
Tentei me levantar novamente, mas meu corpo ainda estava fraco, as pernas bambas e a cabeça pesada. Sentei-me na beira da cama, tentando clarear os pensamentos. Algo não fazia sentido. Como tudo isso poderia ser verdade? Marcos e Ana, meus pais adotivos, não eram apenas os cuidadores que eu pensava. Eram agentes secretos, e eu... eu era a peça de um jogo muito maior, um jogo de poder, controle e, aparentemente, destruição.
Meus olhos se fixaram no pequeno celular que estava sobre a mesa de cabeceira. Não tinha ideia de como tinha ido parar ali, mas sabia que eu precisava de respostas. Com um esforço, consegui pegá-lo e desbloqueá-lo. A tela estava cheia de notificações, mensagens não lidas e chamadas perdidas. Mas o que mais me chamou a atenção foi uma notificação de uma conversa recente de texto.
Era uma conversa entre Dante e uma pessoa desconhecida, com mensagens que estavam claramente fora de contexto, mas ainda assim, cheias de urgência.
Dante: "Ela não sabe ainda. Estamos preparando a fuga."
Desconhecido: "Não podemos arriscar. Você tem que mantê-la longe de tudo. O que for necessário."
Dante: "Eu sei. Mas ela não vai aceitar, e a verdade vai vir à tona logo."
A última mensagem me fez gelar. Eles estavam planejando algo. Eu sabia que estavam escondendo mais de mim, mas o que exatamente? O que era essa "fuga" que estavam preparando?
Fiquei ali por mais alguns minutos, refletindo sobre tudo o que tinha acontecido. Mas, antes que pudesse digerir mais alguma coisa, a porta se abriu abruptamente. Dante entrou novamente, seguido por um outro homem, mais velho, com um ar de autoridade que não conseguia ignorar.
- Você precisa vir conosco - disse Dante, sem rodeios.
Eu o olhei, desconfiada. Ele parecia sério, mas também havia algo de distante em sua expressão, algo que me fazia pensar que ele não queria que eu soubesse de mais nada. Antes que eu pudesse questioná-lo, ele se aproximou e me estendeu a mão.
- Você não vai gostar do que tem por vir, Isabela. Mas é necessário.
- Onde está minha mãe? - perguntei, ignorando a mão estendida, tentando manter a calma.
Dante não respondeu de imediato. Ele olhou para o homem ao seu lado, que parecia pronto para me conduzir a algum lugar.
- Ela está sendo protegida - foi tudo o que ele disse, sem dar mais explicações.
A verdade era que eu não acreditava em nada do que ele dizia. Protegida? Ela estava em perigo, e eles estavam me mantendo aqui, como se eu fosse uma prisioneira. O medo e a raiva começaram a tomar conta de mim novamente, mas, antes que eu pudesse fazer algo impulsivo, Dante levantou a mão.
- Isabela, acredite, você não vai conseguir ajudá-la se fizer algo estúpido agora. Eles sabem onde você está, e estamos a poucas horas de um confronto.
O tom de urgência em sua voz foi o suficiente para me calar por um momento. Eu queria confiar nele, mas algo em meu íntimo dizia que a verdade que ele estava escondendo era mais perigosa do que qualquer coisa que eu imaginasse.
Ele fez um gesto para que eu seguisse o homem ao seu lado. Eu hesitei, mas, ao olhar para ele, percebi que não tinha escolha. Não podia simplesmente ficar esperando aqui enquanto minha mãe estava em perigo. Respirei fundo e me levantei, sentindo uma onda de dor percorrer meu corpo. Cada movimento parecia um esforço. Mas não havia tempo para fraqueza.
Quando saí do quarto, vi que a casa estava em um frenesi silencioso, com homens em movimento, verificando cada canto como se esperassem um ataque a qualquer momento. O corredor estava escuro, e o ambiente pesava, como se todos soubessem que o pior estava por vir. Eu sabia que, ao cruzar aquela porta, minha vida mudaria para sempre.
O homem ao meu lado me conduziu até uma sala no final do corredor. Havia um computador ligado, e algumas telas piscavam, mostrando imagens de câmeras de segurança. Dante estava lá, de pé, observando as imagens. Ele me olhou com uma expressão impassível, como se fosse incapaz de demonstrar qualquer emoção.
- A situação está mais grave do que imaginávamos - ele disse, virando-se para mim. - Eles já sabem que você não é quem pensam que é. E agora vão atrás de você com mais ferocidade.
- Então o que você vai fazer? - perguntei, a raiva e o medo transbordando em minha voz. - Apenas me esconder aqui enquanto minha mãe e meu pai corre risco?
Dante se aproximou, sua presença opressiva invadindo o espaço.
- Não. Eu vou buscar ela e ele, mas você precisa entender uma coisa, Isabela. Eu sou o único que pode te proteger. Não seja tola, confie em mim.
Eu queria dizer mais, perguntar mais, mas a expressão em seu rosto me fez parar. Ele parecia estar lutando contra algo mais, algo que ele não estava me contando.
- Vai ser mais perigoso do que você imagina. Mas agora, você precisa decidir se vai confiar em mim ou não.
Eu sabia que, no fundo, ele estava certo. Não havia mais volta. Eu só não sabia o que aconteceria depois.
Dante respirou fundo, como se estivesse processando algo, antes de falar novamente, desta vez com um tom mais firme, mas também carregado de algo que eu não conseguia identificar.
- Eu vou te levar para um lugar seguro. Lá, você vai ter as respostas que precisa, e a chance de entender tudo o que está acontecendo. Mas, até lá, você precisa confiar em mim. Vai ser a única maneira de você sobreviver.
Eu fiquei em silêncio, processando suas palavras. O que mais eu poderia fazer? Eu não tinha escolha. Ele sabia mais do que eu, e, apesar de todas as dúvidas e desconfianças, ele era a única pessoa que parecia saber como me manter viva.
- Onde é esse lugar? - perguntei, finalmente.
Ele hesitou por um momento, seus olhos se fixando nos meus, como se pesasse se deveria ou não contar mais. Então, com um suspiro pesado, ele respondeu:
- Não posso te dizer exatamente. Mas é seguro. Estamos indo para uma instalação, um local fora do alcance deles. Um lugar onde ninguém vai encontrar você, onde você poderá se esconder até podermos lidar com a situação. Não confie em ninguém além de mim até lá.
Aquelas palavras ecoaram na minha mente. "Não confie em ninguém além de mim". Eu queria questionar mais, queria entender melhor, mas algo em sua voz me fez engolir as palavras. Eu estava começando a perceber que a verdade não seria revelada tão facilmente.
Dante fez um gesto para o homem que estava ao seu lado, e ele imediatamente começou a se mover, organizando alguns equipamentos e documentos sobre a mesa. Ele parecia tão calmo, tão determinado, e aquilo só aumentava minha ansiedade.
- Vamos sair por trás, sem chamar atenção. Eu não posso arriscar te expor, Isabela. Não agora.
Eu olhei para Dante, observando seus olhos frios, mas com algo mais por trás deles. Ele estava tentando me proteger, mas ao mesmo tempo, havia uma distância entre nós que eu não conseguia ignorar. Algo me dizia que ele estava segurando muito mais do que estava disposto a me contar.
O homem ao meu lado fez um gesto para que eu seguisse, e, sem mais palavras, comecei a andar atrás deles. Cada passo parecia pesado, como se eu estivesse indo para algo do qual não poderia voltar. Mas a única coisa que importava naquele momento era a minha sobrevivência. E, se isso significava confiar em Dante que eu nem ao menos sabia quem era, então era isso que eu teria que fazer.
Quando chegamos à porta dos fundos da casa, fui imediatamente envolvida por uma sensação de inquietação. Havia uma sensação de urgência no ar, uma tensão palpável. Eu não sabia o que esperar, mas sabia que a partir daquele momento, minha vida nunca mais seria a mesma, é eu já tinha que ter aceitado isso.
- Está pronta? - Dante perguntou, sua voz séria, mas agora com um tom de determinação que eu não havia percebido antes.
Eu olhei para ele, com a mente ainda confusa, mas a decisão já estava tomada.
- Sim. - Respondi, a palavra saindo mais firme do que eu me sentia.
Dante fez um sinal para o homem ao lado dele, que já estava indo na frente, vigiando a área. O caminho até o carro parecia uma eternidade. O que estava por vir? Eu não fazia ideia. Mas sabia que estava prestes a descobrir.
Quando entramos no carro, o silêncio se estendeu entre nós. Eu podia sentir os olhos de Dante em mim, mas ele não disse uma palavra. Apenas focava na estrada, com uma concentração assustadora. O homem ao nosso lado, que parecia estar em constante alerta, também não falava.
O carro começou a acelerar, e logo estávamos fora da propriedade, entrando em uma estrada deserta que parecia levar a lugar nenhum. O vento que batia contra o vidro me fazia sentir ainda mais isolada, como se tudo ao meu redor estivesse se distorcendo em uma realidade que eu não conseguia mais controlar.
Eu queria perguntar mais, queria entender o que estava acontecendo, mas algo me dizia que não era o momento certo. Eu precisava esperar. As respostas estavam chegando, mas até lá, eu teria que confiar em Dante e em tudo o que ele me dissera.
O futuro era incerto, mas uma coisa era clara: não havia mais volta.