Capítulo 4 Ava Radcliffe

Algum tempo depois...

Alguns dias haviam se passado, e chegou, finalmente, o tão esperado e-mail.

Flashback on.

Já é a sexta vez que leio o e-mail. Em choque, rindo e chorando, saio pulando igual a uma louca e desço as escadas gritando:

- Passei!

Vovó aparece me olhando com os olhos arregalados. Paro em frente a ela, sorrindo.

- Consegui, eu passei na entrevista, vovó.

A abraço e começo a pular e a girar abraçada a ela, na sala. Vovó solta uma gargalhada. Nós nos afastamos sorrindo, e ela me dá um beijo emocionada.

- Eu sabia que daria certo, minha linda! Eu sempre soube que você conseguiria, princesa. Você é dedicada e esforçada. Se não te dessem o emprego, eu iria lá dar na cabeça daquele homem para ver se ele acordava para a vida.

- Meu Deus, vovó! - Sorrio.

- Eu só lido com a verdade - diz e sorri. - Agora, vamos fazer algo gostoso para comemorar essa nova etapa em sua vida. - Ela pega em minha mão e me arrasta para a cozinha.

Flashback off.

Conquistei o cargo de curadora de arte no Museu de Arte Lockwood. A alegria que invadiu meu coração naquele momento era indescritível, e a primeira coisa que fiz foi segurar a pedra de apoio em minhas mãos. É claro que saí do quarto em um estado de êxtase, gritando como uma louca, chamando minha avó e contando haver passado na entrevista.

Foi assim que o homem gentil tornou-se um raio de luz em meu dia mais sombrio. Ele me ensinou que palavras gentis e gestos simples podem fazer toda a diferença e que, mesmo nos momentos de incerteza, sempre há alguém disposto a nos apoiar.

Hoje, enquanto contemplo com amor as preciosas obras de arte que agora tenho o privilégio de cuidar no museu, recordo nosso encontro casual no terraço. A pedra de apoio repousa sobre minha mesa, sendo um lembrete constante de que pequenas coisas podem ter um impacto imenso em nossas vidas. Mesmo que eu jamais descubra o sobrenome do homem por trás das palavras gentis e da pedra de apoio, ou que eu não o veja novamente, ele sempre terá um lugar especial em meu coração, como um verdadeiro anjo da guarda em meu momento de necessidade.

Sou tirada dos meus pensamentos quando Leila surge na porta da minha sala em um estado de desespero.

- Amiga, arrume-se, um dos candidatos a chefe está chegando.

- Oi?

- Tire essas luvas, arrume melhor seu cabelo... - Ela coloca a cabeça para fora da sala. - Oh, meu Deus! Lá vem o homem irresistível - diz, fechando a porta e se colocando ao meu lado, ajeitando o blazer e olhando para a porta. - Vamos, Ava, arrume-se, mulher.

Ela termina de falar justo quando batem na porta, que se abre.

Perco o fôlego... é ele! Mas...

Ele me olha e sorri, e eu fico paralisada, sem acreditar no que vejo.

- Como vão às coisas? - ele diz e me abraça, me pegando de surpresa. Ele se afasta:

- Eu disse que você conseguiria! Agora podemos nos apresentar oficialmente. Meu nome é Ravi Lockwood. - Ele estende a mão para mim e fico olhando para ele. Seus olhos cintilam, e ele realmente parece estar feliz por mim.

Continuo olhando para ele com a boca entreaberta, sem acreditar nos meus olhos, quando sou despertada do transe por um empurrão no meu ombro.

Olho para o lado e Leila me encara com os olhos arregalados, recobrando rapidamente a compostura e sorrindo para o homem à nossa frente. A mulher que estava atrás dele sai da sala, fechando a porta.

- Ah, me perdoe - digo, rapidamente tirando minha luva, limpando minha mão e apertando a sua para cumprimentá-lo.

Uau, que macia!

- Muito prazer, senhor. Como já sabe, meu nome é Ava Radcliffe. - Sorrio e solto sua mão.

- Não tem nada disso de "senhor", compartilhamos algo...

- Como assim compartilharam algo? - ouço Leila dizer, e ambos a olhamos.

Seu sorriso é estranho, e seu rosto está vermelho. Olho para o senhor Lockwood, que parece estar olhando para ela como se houvesse um enorme ponto de interrogação em sua frente. Ele cruza os braços e a atenção de Leila volta para ele. Ela força um sorriso.

- Com licença, irei voltar ao meu trabalho - diz, abrindo a porta e saindo sem olhar para trás.

- O que deu nela? - ele pergunta, apontando para trás com o polegar.

- Realmente não sei! - respondo.

Ele se aproxima e começa a admirar a pintura sobre a minha mesa de apoio.

- Esta pintura é realmente linda!

- Sim, além disso, é possível sentir a emoção que o pintor colocou ao retratar Viena.

- Realmente, é possível sentir - ele diz, olhando para mim com um sorriso.

Depois, seu olhar se desvia para a minha mesa, onde está a pedra de apoio. Ele caminha até ela, pega-a na mão e comenta:

- Fico feliz que esteja aqui!

- Eu não tive a oportunidade de lhe agradecer naquele dia - falo, me aproximando.

- Encontrei essa pedra quando ainda era criança. Fui com meu pai para a África e descobri que seria o seu sucessor, o que me assustou. Gritei, dizendo que não queria e que estava com medo de decepcioná-lo. Então, saí correndo e fugi para longe dali. Quando entrei na floresta que havia atrás da casa, acabei caindo em um pequeno buraco...

- Meu Deus! - exclamo, colocando a mão na boca.

- Então, um dos empregados me encontrou, mas, antes de sair de lá, vi esta pedra. Achei que tinha feito uma das maiores descobertas da minha vida e estava animado para voltar correndo e mostrá-la ao meu pai. Foi quando o senhor Joel me contou que essa pedra era uma pedra de apoio, que, mesmo não tendo valor algum, foi o meu apoio quando estava nervoso e aflito dentro daquele buraco.

- Por que me deu algo assim? - pergunto, sem entender.

- Ele me disse que, um dia, eu poderia ajudar alguém; que não devemos ver apenas as responsabilidades como algo ruim ou imposto, mas sim como uma pedra de apoio ou ajuda para alguém.

Fico olhando para a pedra em sua mão.

- Então, aqui é onde ela deve estar agora. E sei que, se um dia ela precisar ir para outra pessoa, você fará com que ela cumpra o seu papel - ele diz, colocando a pedra de volta no lugar.

Fico pensando no que ele me disse. Devo cumprir minhas responsabilidades com amor e dedicação, pois isso pode ajudar alguém no futuro.

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Alguns meses depois...

E assim os meses se passaram. Leila continua insistindo para que eu fale com Ravi e o convença a convidá-la para sair.

Flashback on.

Leila suspira ao ver Ravi.

- Aí vem o senhor, delícia! - Ravi passa sorrindo por nós e nos cumprimenta, seguindo para a sala de reuniões.

- Que homem, hein? Faria de tudo para o ter na minha cama - diz Leila.

As meninas ao nosso redor sorriem e fazem um alvoroço com o comentário dela.

- Por que não tenta, Leila? Você é linda e, com certeza, pode ganhar o coração dele - diz Felipa, sorrindo. Seus olhos brilham e tenho certeza de que ela está se imaginando no lugar da Leila.

- Bem que você poderia me ajudar, né? Ava, amiga! - Leila aponta para mim, e ela faz um gesto positivo com a cabeça.

- Por que eu?

- Você e ele vivem de papo, já se tornaram amigos. Não custa nada! - fala, segurando o meu braço.

- Não é porque falo com ele que vou virar santa casamenteira. Fala você com ele!

- Não daria certo, ele é muito certinho e nem olha para mim... quer dizer, não dessa forma - responde Leila, fazendo manha. Acho que ela já até tentou algumas cantadas sem sucesso.

- Para nenhuma de nós ele olha assim - comenta Bernice, arrumando alguns papéis.

Nem sei o que essas meninas pensam.

- Meninas, vou indo para a minha sala. Nos falamos depois. - Digo e sigo para o elevador.

Não sei se elas estão aqui para trabalhar ou dar em cima dos patrões.

Flashback off.