Finalmente, as portas se fecharam, cortando aquele momento de pura tensão. Meu peito subia e descia rapidamente, o medo ainda corroendo minha mente enquanto o elevador descia. Quando cheguei ao térreo, minha respiração ainda estava irregular, mas senti uma onda de alívio. Sem hesitar, corri para a guarita do prédio e relatei tudo ao segurança, detalhando o que havia visto e ouvido. Ele me ouviu com uma expressão intrigada e prometeu subir para verificar.
Enquanto ele subia, fiquei ali, sozinha na recepção vazia, sentindo o silêncio do prédio como uma entidade esmagadora. Quando ele voltou, sua resposta foi tão simples quanto frustrante.
- Não tem ninguém lá, senhorita. Verifiquei todo o andar. Deve ter sido impressão sua.
Impressão minha? Talvez fosse isso. Talvez o cansaço do trabalho estivesse afetando minha mente. Convenci-me de que era a explicação mais lógica. Ainda assim, o desconforto persistia enquanto eu caminhava até o carro. A noite parecia mais escura, mais pesada. Cada som ao meu redor parecia ampliado, desde o eco dos meus saltos até o ruído distante de carros na rua. Entrei no veículo e tranquei as portas imediatamente. Só quando comecei a dirigir, o asfalto deslizando sob as rodas, é que o pânico começou a diminuir.
Chegar em casa foi um alívio. O apartamento era meu refúgio, um mundo à parte do que havia acontecido. Mesmo assim, a solidão me atingiu com força. Deixei minhas coisas na entrada, fui direto para o chuveiro e deixei a água quente cair sobre meu corpo, lavando os resquícios de medo e tensão. Quando terminei, vesti uma calça de moletom e uma camiseta larga, buscando conforto.
No sofá da sala, tentei ocupar minha mente com tarefas simples. Peguei a correspondência que havia deixado de lado pela manhã. Entre contas e panfletos, havia um envelope diferente. Branco, elegante, com letras douradas. Franzi o cenho enquanto o abria, a textura do papel fino e refinado entre meus dedos.
Quando li o conteúdo, meu mundo pareceu congelar:
Vanessa Mary Ollivary e Caio Silva Crayn.
Demorei alguns segundos para processar. Minhas mãos começaram a tremer novamente, mas dessa vez não era por medo. Um convite de casamento... da minha irmã... com o meu ex-noivo.
Releio o texto, como se pudesse ter lido errado, mas as palavras continuam ali, fixas, imutáveis. Meu estômago se contrai. Não é o casamento em si que dói. Mas a traição de Vanessa? Minha própria irmã? Ela sabia o que ele significava na minha vida, o que ele representava. E ainda assim...
O envelope escorrega das minhas mãos, caindo no chão. Minha mente tenta entender o que isso significa. É um golpe deliberado, não tenho dúvidas. A audácia de me enviar o convite! Como se dissesse: "Veja, eu ganhei."
Minha espiral de pensamentos é interrompida pela campainha. O som parece distante, quase irreal. Levo alguns segundos para reagir, até que me lembro: Lexy. Ela havia dito que viria. Caminho até a porta como se estivesse no piloto automático, ainda absorvendo o choque. Quando abro, lá está ela, olhando diretamente para mim.
- Mel? - Sua expressão amistosa muda para preocupação imediata. - Meu Deus, você está pálida. O que aconteceu?
- Entra - digo com a voz baixa. - Eu... preciso te contar algo.
Sentamos no sofá, e as palavras começam a sair. Conto tudo, desde o convite até o turbilhão de emoções que sinto. Lexy me ouve com atenção, mas, aos poucos, vejo a indignação tomando conta dela.
- Eu não acredito! - ela diz, finalmente. - Sua irmã? Com o Caio? Eles realmente estão fazendo isso? E ainda planejaram uma semana inteira de festa?
- Pois é - murmuro, ainda tentando assimilar tudo.
Mas Lexy não se contenta com meu conformismo.
- Você vai.
Meu corpo congela, e minha cabeça gira em direção a ela.
- O quê? Não vou! - protesto, meu tom definitivo.
- Vai, sim! - Ela cruza os braços, irredutível. - Aquela cobra só te mandou esse convite para tripudiar em cima de você. Para te ver sofrer.
- Mas eu não estou sofrendo, Lexy... - Tento argumentar, mas ela me interrompe.
- Pode até não estar, mas ela acha que está! E você vai provar que ela está errada. Vai lá, mostrar que está por cima. E vai levar alguém.
- Lexy... - Minha voz sai exasperada. - Desde o Caio, você sabe que não me envolvi com ninguém. Quem eu levaria?
Ela sorri, aquele sorriso que sempre precede suas ideias mais loucas.
- Temos um mês ainda. Se não acharmos alguém, a gente aluga um namorado.
- O quê?!
- Isso mesmo. Não estou brincando.
Minha cabeça gira enquanto discutimos por minutos intermináveis. No final, como sempre, Lexy vence. Decido ir ao casamento, mas o problema maior ainda paira sobre nós: quem seria meu acompanhante?
Lexy, aparentemente já com um plano, se aproxima da mesa de centro onde meu notebook está. Seus dedos começam a digitar rapidamente no teclado.
- O que você está fazendo? - pergunto, exausta.
- Você já vai ver - responde ela, enigmática, sem desviar os olhos da tela.
Curiosa, levanto-me e me aproximo. Quando vejo o que está na tela, meus olhos se arregalam, e minha boca se abre em um "o" silencioso de espanto