Lexy cruzou os braços e me olhou com uma mistura de preocupação e determinação. Passamos mais algum tempo conversando sobre o que eu faria e então ela foi para casa.
Deixei o celular na mesa de cabeceira e me deitei. Mil pensamentos passavam pela minha cabeça: o casamento, Vanessa e Caio, Nicolas. Quem era ele, afinal? Como seria encontrá-lo? E, mais importante, como seria me encarar naquele casamento com um "namorado" de aluguel ao meu lado?
Fechei os olhos, tentando silenciar minha mente Mas não consegui dormir, o sono não veio, as preocupações eram demais em minha mente, juntamente com lembranças que eu não queria recordar, não agora. Quando consegui dormir já estava quase amanhecendo
Acordei algumas poucas horas depois sentindo os efeitos da falta de sono olhei para o relógio, 9h em ponto, e então liguei novamente. O mesmo ritual: o telefone tocou algumas vezes até que a mesma voz profissional me atendeu.
- Escritório da Accomply, bom dia.
Expliquei quem era e repeti minha solicitação, tentando soar o mais educada possível, mesmo já sentindo a irritação borbulhar em mim.
- Ah, senhora Ollivary, vou verificar novamente para a senhora. Um instante por favor
As mesmas teclas que ouvi ontem soaram ao fundo e após alguns instantes ouvia a resposta que não queria.
- Senhora ollivary, o senhor salvatore não teve nenhum compromisso desmarcado ainda, a sua data permanece a mesma.
- Certo... - murmurei, já derrotada, e desliguei.
A manhã estava cinza, como se o céu tivesse decidido refletir meu estado de espírito, liguei para Lexy e combinamos de nos encontrar em um café. O café estava a poucos minutos de distância, e mesmo com a brisa fria cortando meu rosto, eu não conseguia parar de pensar na conversa que havia tido ao telefone. A cada passo, a tensão aumentava. Eu sabia que precisava contar a Lexy, precisava dividir aquele peso, mas a dúvida ainda me consumia. Será que ela acharia uma solução? Ou seria mais uma confirmação de que eu estava perdendo a luta contra o tempo?
Assim que entrei no café, o aroma do grão torrado misturado com a suavidade do leite me envolveu, mas não conseguiu me acalmar. O local estava movimentado, mas não tanto a ponto de ser desconfortável. As mesas eram pequenas, decoradas com lâmpadas pendentes de estilo industrial, e as paredes com detalhes em madeira clara davam um toque acolhedor ao ambiente. Uma música suave tocava ao fundo, mas nem ela conseguia distrair minha mente.
Vi Lexy na mesa do fundo, sua postura sempre imponente, mas hoje seus olhos estavam fixos em alguma coisa, provavelmente no celular. Ela levantou o olhar assim que me aproximei, e o sorriso dela foi imediato, embora houvesse uma nota de preocupação no fundo. Sentando-me em frente a ela, ela não perdeu tempo.
- Como foi? - perguntou, com a voz leve, mas seu olhar atento não deixava margem para brincadeiras.
Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos antes de falar. Não queria que ela visse o quanto eu estava abaladíssima por dentro. Com os dedos trêmulos, coloquei a bolsa sobre a cadeira e segurei o copo de café que o garçom acabara de deixar à minha frente. Mas o gosto amargo não ajudou a amenizar o nó que se formava na minha garganta.
- Eu tentei - comecei, a voz baixa, quase quebrando. - Eles me disseram que... o senhor Salvatore só poderia me atender daqui a dois meses. A agenda dele está cheia até lá, não houve nenhum cancelamento.
Ela ficou em silêncio por um momento, seu olhar se intensificando à medida que absorvia a informação. A xícara de café na sua mão permaneceu intocada enquanto ela me observava, como se estivesse esperando que eu continuasse.
Lexy, ao meu lado, bufou. - Isso é brincadeira! Ele é algum tipo de celebridade ocupada?
- Parece que sim - respondi, desanimada.
Tentei novamente no mesmo dia à tarde, mas a resposta foi idêntica: Nicolas estava ocupado. Liguei no dia seguinte, e a secretária, com sua pontual gentileza robótica, me informou que ele estaria disponível "em breve".
Cada nova tentativa era frustrante, e Lexy já estava a ponto de ir até o tal escritório pessoalmente.
- Isso é absurdo, Mel! - ela disse, batendo a mão na mesa de centro. - sera que ele tem mesmo uma fila interminável de clientes:
- Talvez ele não esteja interessado nesse trabalho - murmurei, derrotada.
- Não! - Lexy declarou, decidida. - A gente vai dar um jeito de falar com esse homem. E se for preciso, vamos até ele!
Se não fosse tão desesperador, eu teria rido da expressão determinada dela.
No entanto, quando o dia do casamento começou a se aproximar perigosamente e ainda não havia conseguido sequer uma conversa com Nicolas, eu sabia que não tinha outra escolha.